Do leitor fantasma da obra ao leitor ficcional da obra Macunaíma, de Mário Andrade
Resumo
O leitor como instância literária vem sendo alvo de estudo há décadas, mas no que diz respeito à literatura brasileira pouco interesse tem despertado. Uma pesquisa aqui, outra ali, as exceções apenas confirmam a regra. O objetivo deste trabalho é, portanto, tratar da ficcionalização do leitor em Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, de Mário de Andrade, posto que há uma ampla base de sustentação desta tese, começando pelo fato de Mário de Andrade ter efetuado uma mudança/troca/modificação nada desprezível ao definir o gênero literário de seu livro, chamando-o rapsódia e não romance. A ficção foi inequivocamente afetada na medida em que o rapsodo passou a ser o elemento estruturante da narrativa e não mais o narrador (do romance). À opção pela rapsódia, que privilegia a presença do leitor de um modo muito particular, somaram-se outros modos de ficcionalização, derivados das manifestações folclóricas (o brinquedo do Boi) e das várias práticas experimentadas pelo povo brasileiro em vários âmbitos da criação. Assim, as diversas experiências ficcionais e formas de saber ficcional, com ênfase na comunicação com o leitor (são inúmeros os recursos fáticos), utilizados para a estruturação da narrativa criaram um modo de ficção originalíssimo, no qual reside o sempre renovado interesse pela obra.
Palavras-chave: Ficcional. Ficcionalizado. Modernismo brasileiro.
Downloads
Referências
ALENCAR, José de. O Guarani. 2.ed. Apresentação e notas
de Eduardo Vieira Martins. Cotia: Ateliê Editorial, 2000. 525p.
AMARAL, Amadeu. Tradições populares. São Paulo: Instituto
Progresso Editorial, 1948. 418p.
ANDRADE, Mário de. : Herói sem nenhum caráter.
Edição crítica: Telê Ancona Lopez. Paris: AALLCA; Brasília:
CNPq, 1988. 488p.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento. Trad. Yara F. Vieira. São Paulo: HUCITEC;
Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1987. 419p.
CHAMIE, Mario. A rapsódia macunaímica. In: Intertexto. São
Paulo: Práxis, 1974. 509p.
ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção.
Tradução Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras,
158p.
GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de
Assis: O romance machadiano e o público de literatura no
século 19. São Paulo: Nankin Editorial; EDUSP, 2004. 510p.INGARDEN, Roman. A obra de arte literária. Lisboa: Fundação
Kalouste Gulbenkian, 1973. 403p.
ISER, Wolfgang. A interação do texto com o leitor. In: LIMA,
Luís Costa. A leitura e o leitor. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
, p.83-132.
LIMA, Rossini Tavares. Folguedos populares do Brasil. São
Paulo: Ricordi, 1962. 221p.
JOLLES, André. Formas simples. Trad. de Álvaro Cabral. São
Paulo: Cultrix, 1976. 222p.
NOVAIS, F. Costa et alii. Vamos brincar de roda. Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1946. 112p.
PROENÇA, M. Cavalcanti. Roteiro de Macunaíma. 3a.ed., RJ:
civilização Brasileira; Brasília: INL, 1974. 316p.
SOUZA, Gilda de Mello e. O tupi e o alaúde, uma interpretação
de Macunaíma. São Paulo: Duas Cidades, 1979. 105p.
STIERLE, Karlheinz. Que significa a recepção dos textos
ficcionais? In: A literatura e o leitor: Textos de Estética da
Recepção. Seleção, coordenação e tradução de Luiz Costa
Lima. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: Paz e Terra, 2002. p. 119-
The author detains permission for reproduction of unpublished material or with reserved copyright and assumes the responsibility to answer for the reproduction rights.