Machado de Assis e a crônica: “O punhal de Martinha” – o debate dialógico da memória
Resumo
A publicação propõe-se a refletir sobre a orientação social da memória como espaço de debate dialógico entre os fatos que se constituem, na contraposição e no confronto, como material de lembrança ou de esquecimento. Do ponto de vista das forças centrípetas há, axiologicamente, fatos que devem ser lembrados, mas há fatos que devem ser esquecidos como restos. Contraditoriamente, as forças centrífugas, ao tomarem, desse modo, o esquecimento, apropriam-se, axiologicamente, de tal material semiótico, rearticulando a sua lembrança como festa de ressurreição de seu sentido social. Em face desse quadro de divisão ideológica, assumindo uma certa exterioridade e uma certa excedência em relação à crônica, “O Punhal de Martinha”, do autor-criador de Machado de Assis, o texto desta publicação analisa as refrações que esse autor propõe ao tomar a defesa axiológica do esquecimento como lugar social de ação das forças centrífugas. Nisso o punhal, como signo, ou resposta social que ocorre na contraposição e no confronto das vozes sociais, passa a ser considerado como metonímia das respostas da valoração/avaliação social que as forças centrípetas e centrífugas atribuem à posição ideologizada para a mulher nas relações que axiologicamente situam o homem como figura dominante. Nas refrações do autor-criador, torna-se importante a lembrança do que seria esquecido, ou seja, a posição social de independência e assertividade da mulher. Por isso é impossível esquecer Martinha como desejam as forças centrífugas, ainda que se possa lembrar de Lucrécia como pretendem as forças centrípetas ao privilegiarem, para a mulher, a posição social de dependência e não-assertividade.
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