Diversidade e complexidade entre justificação e aplicação: uma pedagogia democrática da religião, uma pedagogia religiosa da democracia – reflexões desde a exortação pós-sinodal Amoris Laetitia, do Papa Francisco
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Resumo
Argumentamos que a Encíclica Amoris Laetitia, do Papa Francisco, assume como seu núcleo estruturante o hiato entre doutrina e pastoral, justificação e aplicação, através do reconhecimento de que a pluralidade humana e suas contingências prático-históricas imprimem indelevelmente a marca da complexidade como base orientadora da compreensão e da ação institucionais. Como consequência, tem-se um fosso entre teoria e prática que somente pode ser resolvido pela primazia do amor frente à verdade e, assim, pela relativa autonomia da pastoral frente à doutrina, de modo que a aplicação direta e sem mediações do credo dá lugar às mediações próprias a cada situação e a cada sujeito concretos. Argumentaremos, a partir disso, que se gesta uma pedagogia democrática da religião marcada pela afirmação, pelo reconhecimento e pela valorização da diversidade, que leva à moderação institucional, à minimização do fundamentalismo e à sensibilização para com as diferenças enquanto alteridades irredutíveis. Dessa pedagogia democrática da religião, por sua vez, gesta-se uma pedagogia religiosa da democracia em que a instituição religiosa assume uma perspectiva antifacista, antitotalitária e não-fundamentalista que tem como objetivo básico a defesa intransigente da diversidade, dos direitos humanos e do Estado democrático de direito.
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