Viagem ao centro de si mesmo: exílio, busca da identidade e autoria em A chave de casa e Opisanie Swiata
Resumo
O artigo analisa os romances A chave de casa, de Tatiana Salem Levy, e Opisanie Swiata, de Veronica Stigger, duas obras recentes da Literatura Brasileira cujo foco é o deslocamento de protagonistas que previamente já passaram pela experiência de desenraizamento. As narrativas salientam a necessidade de uma nova viagem para os dois personagens. No primeiro romance, o avô da protagonista sugere a ela que vá até a sua casa em Esmirna, Turquia, entregando-lhe a chave da porta da frente da residência. Essa experiência gera um processo de autoconhecimento e uma obra literária sobre a protagonista, que pode ser também a própria autora. Na segunda obra, Natanael, filho brasileiro do protagonista polonês, solicita a ele, através de carta, uma visita em seu leito de morte, o que faz o pai, Opalka, vir de navio da Europa até a América do Sul. Essas vivências proporcionam ao protagonista uma visitação interior, o que também resulta em uma obra literária. O objetivo deste trabalho é mostrar como os personagens principais das duas narrativas experimentam uma epifania causada pelo próprio ato de se deslocar e qual é o resultado disso. Sob a luz de Reflexões sobre o exílio e outros ensaios, de Edward Said, e Teoria da viagem, de Michel Onfray, examina-se como, nas obras, ir a Esmirna e à Amazônia brasileira é uma forma tanto de intensificar quanto de amenizar as feridas do exílio anterior que nunca poderão ser, de fato, esquecidas. É, acima de tudo, uma tentativa de reconexão, de profunda ligação consigo mesmo, com a família e a sociedade ao redor, processos que têm na escrita de si sua mais profunda manifestação.
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Referências
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