O romance A casa da água e a representação dos afro-brasileiros na África em finais do século XIX
Resumo
No ano de [1889] 1900 ocorreu a viagem de retorno da ex-escravizada africana Catarina Pereira Chaves, e de seus familiares brasileiros à cidade nigeriana de Lagos. Esta viagem foi recriada pelo escritor Antonio Olinto, nas linhas do romance A casa da água (1988). Nesta obra, a narrativa da experiência de brasileiros descendentes de ex-escravizados, na condição de estrangeiros na África, envolve temáticas como a estranheza, a hospitalidade e os conflitos decorrentes do ingresso desses indivíduos na ordem social, política e econômica das cidades da Costa dos Escravos, de onde anteriormente haviam sido trasladados, durante a diáspora, os seus ascendentes. Em Lagos, a comunidade brasileira organizou-se em torno dos seus grandes homens, negociantes ricos com quem se abasteciam e de quem dependiam as famílias mais desfavorecidas, constituindo uma rede de clientela, cujo sentido de unidade veio a resultar na organização e na ocupação de um bairro brasileiro denominado Brazilian Quarter. Nesse sentido, abordamos a relação entre os afro-brasileiros e os africanos que os receberam, sob o ponto de vista do binômio estranheza/hospitalidade. Tal abordagem se dá com base nos apontamentos de Jacques Derrida, a partir das noções de hospitalidade e de “hos-ti-pitalidade”, termo criado pelo filósofo para se referir às circunstâncias em que a hospitalidade é pervertida pela hostilidade. Com base nesses elementos, a partir da narrativa da mencionada obra olintiana, discorremos sobre os percursos de brasileiros na cidade de Lagos.
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