
10 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.16 n.3, p.7 - 14, dez. 2019
A divisão da Igreja na China provocou dis-
sensos em questões que para o Vaticano deve-
riam ser somente de sua responsabilidade, como
a nomeação de bispos, tarefa exclusiva dessa en-
tidade, mas que passou a ser executada pelo PCC
(LEUNG; WANG, 2016, p. 5). Apesar das di-
vergências entre o Vaticano e a RPC, no governo
de Deng Xiaoping surgiu a possibilidade de mu-
danças em relação à Igreja Católica na China,
pois nesse período o país experimentava trans-
formações sociais. A política de “portas abertas”,
implementada no governo de Deng Xiaoping,
possibilitou, na década de 1970, a reabertura de
Igrejas Católicas na China que se encontravam
fechadas (CARLETTI, 2008, p. 127). Nes-
se contexto, a Santa Sé visava se aproximar da
Igreja Católica na RPC, tentativa que fracassou
(LEUNG; WANG, 2016). Como consequência
desse insucesso, a Santa Sé buscou dialogar com
os católicos de Taiwan e Hong Kong (LEUNG;
WANG, 2016, p. 8), aproximação vista com
desconfiança pelas autoridades chinesas.
O primeiro obstáculo para as relações
diplomáticas entre a Santa Sé e a RPC reside
justamente no fato dessa entidade reconhecer
Taiwan, questão relevante para a RPC, devi-
do ao seu histórico conflituoso com Taiwan
3
(VUKIĆEVIĆ, 2015, p. 75). Por isso, pode-se
afirmar que Taiwan representa “um elemento
que influencia diretamente as prolongadas ne-
gociações sino-vaticanas” (LEUNG; WANG,
2016, p. 15). Outro obstáculo ao reatamento
de laços entre China e Vaticano consiste na in-
tenção de Pequim em designar bispos, o que é
3 Durante a Revolução chinesa na década de 1940, o conflito
entre Partido Nacionalista e Partido Comunista levou Chiang
Kai-shek fugir para Taiwan junto com seus aliados quando o
PCC chegou ao poder (VUKIĆEVIĆ, 2015, p. 75). Nesse
período, Taiwan se declarou um país e Kai-Shek se tornou o
seu líder, obtendo o reconhecimento de alguns atores inter-
nacionais, como a Santa Sé (CARLETTI, 2008, p. 10).
considerado um desrespeito à soberania do Va-
ticano (TURZI, 2013, p. 24). Por isso a Igreja
Católica na China ainda continua dividida, e os
laços entre o Vaticano e a RPC rompidos desde
1951. Essas relações sofrem atualmente trans-
formações desde quando Papa Francisco chegou
ao papado, mas em especial nos últimos dois
anos, contexto em que o governo chinês se mos-
trou mais aberto ao diálogo com o Vaticano.
Argumenta-se que Papa Francisco repre-
senta o principal elo entre o Vaticano e a China.
Segundo Turzi (2013), por ser jesuíta, na condu-
ção do diálogo sino-vaticano o pontífice é tanto
simbólico quanto significativo, tendo em vista
que os jesuítas possuem uma história longa com
a China. Para esse autor, “o carisma jesuíta busca
construir pontes, adaptar e trabalhar com a rea-
lidade, em vez de se impor contra ela” (TURZI,
2013, p. 24). Observa-se que Papa Francisco
busca justamente construir uma ponte entre o
Vaticano e a China com o principal objetivo de
unir a Igreja no país, dividida há mais de cinco
décadas (SUMMARY OF BULLETIN, 2018).
As negociações entre Papa Francisco e a Chi-
na têm provocado divergências na Instituição ca-
tólica, tendo em vista o histórico de perseguições
a clérigos da Igreja e a nomeação de bispos fei-
ta pelo PCC (CARLETTI, 2008). A “oposição
significativa do hemisfério ocidental” à abertura
do pontífice para um diálogo com a RPC não
impediu que o Papa se mantivesse firme na bus-
ca pelo objetivo pastoral de unir a Igreja naquele
país (FAGGIOLI, 2016). O primeiro passo para
uma reconciliação pode ser atribuído a assinatura
do Acordo Santa Sé-China de 2018 atinente à
questão dos bispos. Na mensagem aos católicos
chineses divulgada em 28 de setembro de 2018,
o pontífice declarou que esse é um momento
significativo para a vida da Igreja, especialmen-
te porque a presença da instituição na China é