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Desempenho do comércio da celulose
brasileira para a China, 1990 a 2016
Brazilian pulp trade performance for China, 1990 to 2016
Desempeño del comercio brasileño de celulosa a China, 1990 a 2016
Letícia Soares Viana
1
Naisy Silva Soares
2
Lyvia Julienne Sousa Rego
3
DOI: 10.5752/P.1809-6182.2020v17n2p11
Recebido em: 08 de março de 2020
Aceito em: 22 de junho de 2020
Resumo
Este estudo analisou o fluxo de comércio do setor brasileiro de celulose com a China,
utilizando os Índices de Intensidade de Comércio, Orientação Regional, Grubel e Lloyd e
Menon e Dixon. Os resultados indicaram que o padrão de comércio neste setor mostrou-se
interindustrial em quase todos os anos.
Palavras-chave: Setor de celulose. Intensidade do comércio. Economia internacional.
Abstract
is study analyzed the flow of trade in the Brazilian pulp industry with China, using
the Trade Intensity Index, Regional Orientation, Grubel and Lloyd and the Menon and
Dixon. e results indicated that the pattern of trade in this sector showed inter in almost
every year.
Keywords: Cellulose industry. Intensity of trade. International economy.
Resumen
Este estudio analizó el flujo comercial del sector brasileño de celulosa con China, utilizan-
do los Índices de Intensidad Comercial, Orientación Regional, Grubel y Lloyd y Menon y
Dixon. Los resultados indicaron que el patrón comercial en este sector resultó ser interin-
dustrial en casi todos los años.
Palabras clave: Sector de la celulosa. Intensidad del comercio. Economia internacional
1 Mestre em Economia Regional e Políticas Publicas pela Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia, Brasil. ORCID:
0000000283979298 .E-mail: leticiasoaresviana@hotmail.com.
2 Doutora em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa. Professora do departamento de ciências econômicas da
Universidade Estadual de Santa Cruz. Ilhéus, Bahia, Brasil. ORCID: 0000-0001-6855-0218E-mail: naisysilva@yahoo.com.br.
ORCID: 0000-0001-6855-0218
3 Doutora em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa. Professora da Universidade Federal do Sul da Bahia. Itabu-
na, Bahia, Brasil. E-mail: lyviajulienne@hotmail.com. ORCID: 0000-0001-7043-6860
Artigo
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Introdução
Em 2001, o economista Jim O’Neill afir-
mou em um relatório para um dos maiores
bancos de investimentos, Goldman Sachs, que
países como Brasil, Rússia, Índia e China apre-
sentavam um elevado crescimento econômico e
que poderiam superar os países ricos até 2050.
Assim sendo, em 2009 esse grupo de países
se consolidou em uma aliança política, e dois
anos depois, em 2011, contou com a entrada
da África do Sul, sendo representada pela letra
S do inglês South Africa formando o BRICS
(FERNANDES; CARDOSO, 2015).
Todos os anos, os cinco países se reúnem,
através de cúpulas, para debaterem e definirem
acordos e medidas consideradas relevantes, a
partir disso, ao longo dos anos, o grupo vem
ganhando força e se destacando no cenário in-
ternacional.
Contudo, apesar da relação dos BRICS se
iniciar em 2009, o vínculo entre Brasil e China
começou ao final do século XIX, com intuito
de promover a imigração chinesa ao Brasil, e
foi a partir das relações diplomáticas, em 1974,
que as trocas bilaterais evoluíram de forma ace-
lerada, chegando a um crescimento de 65% de
um ano para outro.
Segundo o e Observatory of Economic
Complexity (OEC), em 2014, o Brasil se des-
taca por ocupar a 21
a
posição no ranking dos
maiores exportadores mundiais, sendo conside-
rado um dos maiores produtores agrícolas. Os
principais produtos exportados foram a soja,
o minério de ferro, o petróleo bruto, o açúcar
bruto e as carnes de aves, já a cesta dos produtos
importados consiste nos petrolíferos refinados,
petróleo bruto, peças de veículos e carros. Os
principais destinos de exportação do Brasil são
a China, os Estados Unidos, a Argentina, a Ho-
landa e a Alemanha. Já as origens de importação
são a China, os Estados Unidos, a Alemanha, a
Argentina e a Coreia do Sul (OEC, 2014).
Já a China, a fim de recuperar a economia,
vem recebendo maior destaque nos indicadores
de desenvolvimento e volume de exportação,
principalmente nos bens de consumo e tecno-
logia. É considerada como a maior economia
de exportação do mundo. Dentre os produtos
exportados estão as unidades de disco digital,
os equipamentos de transmissão, os circuitos
integrados e as peças de máquinas de escritó-
rio, com destaque para os países de destino, os
Estados Unidos (EUA), Japão, Alemanha e a
Coreia do Sul. Já em relação aos produtos im-
portados, temos o petróleo bruto, os circuitos
integrados, ouro, minério de ferro e carros,
com origens principais da Coreia do Sul, EUA,
Japão e Alemanha (FERNANDES; CARDO-
SO, 2015).
Ao especificar as relações comerciais bila-
terais entre Brasil e os produtos comercializa-
dos para a China, têm-se a soja em grãos, mi-
nério de ferro e a celulose.
No caso específico da celulose, ao longo
dos anos, o Brasil potencializou uma indústria
de papel e celulose diversificada com uma gran-
de capacidade de crescimento futuro, tanto para
abastecimento do mercado interno quanto do
mercado externo. “O país ocupa o quarto lugar
no ranking dos países produtores de celulose de
todos os tipos e como primeiro produtor mun-
dial de celulose de eucalipto” (IBÁ, 2018 s/p).
E, a China também vem se destacando mun-
dialmente neste setor por conseguir, basicamen-
te, transformar a celulose importada, principal-
mente proveniente do Brasil, em papel para
exportação, além de oferecer um preço menor
e mais atraente para outros países, alcançando a
posição de maior produtor global de papel.
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No geral, cerca de 20% da celulose mun-
dial é vendida por indústrias de celulose e com-
pradas por indústrias de papel, como é o prin-
cipal caso do mercado entre Brasil e China.
De acordo com dados da Food and Agri-
culture Organization of the United States (FAO),
em 2016, a produção nacional de celulose che-
gou a quase 19 milhões de toneladas e um vo-
lume exportado de celulose alcançou quase 12
milhões de toneladas. O principal destino da
celulose Brasileira foi os países asiáticos, princi-
palmente, para a China. Esse crescimento das
exportações brasileiras para a China se deve à
alta qualidade da celulose brasileira reconheci-
da no mercado internacional (FAO, 2017).
Contudo, mediante os valores expressivos
da celulose, justifica-se a escolha da execução
deste trabalho que tem como proposta analisar o
desempenho brasileiro para a China na comercia-
lização do segmento da celulose, e questiona-se,
houve crescimento do comércio da celulose brasi-
leira para a China depois da formação do BRICS?
Para verificação dessa questão, tem-se
como objetivo central desse trabalho analisar
o desempenho comercial da celulose brasileira
para a China. E como objetivos específicos, i)
analisar o desempenho das exportações brasi-
leiras de celulose para os a China, no período
de 1990 a 2015; ii) verificar a importância dos
fluxos de comércio de celulose, bem como a
orientação das exportações brasileiras do se-
tor; iii) avaliar a evolução do comércio intra-
-indústria e interindústria no setor de celulose
e as consequências dessas mudanças para os
segmentos produtivos do setor; iv) analisar o
crescimento do fluxo de comércio da celulose
brasileira para a China comparando o período
antes e depois da formação do BRICS.
Posto isto, essa pesquisa poderá contri-
buir para a implementação de políticas voltadas
para a comercialização específica do setor, bem
como estimular as exportações e reduzir as im-
portações brasileiras, contribuindo para o de-
senvolvimento das regiões em que atua e ainda
reforçar a importância do mesmo para a China,
auxiliando os agentes ligados ao setor na toma-
da de decisão sobre produção e comercialização.
Além dessa introdução, os tópicos seguin-
tes da presente pesquisa são: material e método,
resultados e discussões, conclusão, agradeci-
mentos e referências.
Material e método
Índice de Intensidade de Comércio
(IIC)
Desenvolvido por Anderson e Norheim
(1993), o Índice de Intensidade de Comércio
(IIC) observa o progresso dos interesses co-
merciais, além de demonstrar a tendência dos
países a realizarem trocas ou comercializarem
entre eles baseados em dados de exportação e
importação mundial.
Para analisar apenas a celulose, setor foco
do estudo, usa-se uma versão adaptada, onde o
IIC do país i para o país j considera o setor k na
seguinte expressão:
(Eq.1)
Em que representam as exportações
brasileiras do setor de e celulose para a China;
, as exportações totais do Brasil deste mes-
mo setor; , as importações totais do setor de
celulose da China; e , as importações totais
mundiais do mesmo.
Desse modo, um indicador maior do
que 1 (um) mostra que os fluxos bilaterais
de comércio são maiores do que o esperado,
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dado o peso do parceiro comercial no comér-
cio mundial, portanto é um mercado impor-
tante para o Brasil. No entanto, se o IIC for
menor ou igual a 1 (um) indica que peso das
exportações brasileiras para a China é igual
ao peso da China no total das importações
mundiais, ou seja, exportar ou não para esse
país se torna indiferente.
Índice de Orientação Regional de
Comércio (IOR)
Para estimar o peso de um produto ou
seção nas exportações totais em comparação ao
peso de suas exportações totais para o restante
do mundo, isto é, a efetividade da China em
exportar para outros países, usa-se o Índice de
Orientação Regional (IOR). Esse índice é obti-
do pela seguinte expressão:
(Eq.2)
Onde, representa o valor das exporta-
ções do Brasil da celulose no comércio com a
China; , o valor das exportações totais bra-
sileiras também no comércio com a China; ,
o valor das exportações do Brasil da celulose no
comércio com o restante do mundo; e para o
valor das exportações totais brasileiras no comér-
cio com os demais países.
Em que, valores maiores que 1 (um)
apontam uma orientação vantajosa ao comér-
cio regional, ao passo que, valores menores que
1 (um) indicam uma orientação conveniente
às relações do Brasil com terceiros mercados.
Ou seja, valores elevados mostram uma inten-
sidade maior de comércio entre Brasil-China
e, como resultado, haverá reorientação das
exportações brasileiras em direção aos demais
parceiros comerciais.
Índice de Grubel e Lloyd (GL) e
Índice de Menon e Dixon (CT)
Segundo Grubel e Lloyd (1975), o co-
mércio intra-indústria (CII) é deliberado como
o valor das exportações compensado exatamen-
te pelas importações da mesma indústria. As-
sim, o nível de cada indústria pode ser concebi-
do pela seguinte maneira:
(Eq.3)
Em que, e indicam, respectiva-
mente, o valor das exportações e importações
da indústria i; representa o comércio
total da indústria i; , o comércio inter-
-indústria e , o comércio in-
tra-indústria como um todo.
O índice é zero quando o comércio for
explicado pelo comércio inter-indústria (CEI),
contudo, quando o comércio for intra-indús-
tria, o índice é igual a 1 (um) (quando o valor
das exportações é igual ao valor das importa-
ções). Vale destacar que quanto mais próximo
do 1 maior será o nível de agregação setorial.
O Índice Grubel e Lloyd (GL) seria uma me-
dida estática, que detêm apenas o índice intra-in-
dústria em um determinado período de tempo,
de acordo com Hamilton e Kniest (1991). Con-
tudo, o primordial não seria o quanto o comércio
intra-indústria vem crescendo, mas sim o quanto
esse crescimento contribuiria para o comércio no
total. Menon e Dixon (1995), pensando a respei-
to da mensuração do CII e da colaboração para
uma mudança no comércio total, simplificam
este mesmo comércio total da indústria k entre os
países i e j, na soma do comércio intra-indústria
com o de inter-indústria. Assim, o valor de cres-
cimento do comércio total (CT) é definido por:
(Eq.4)
Em que:
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(Eq.5)
(Eq.6)
Sendo que, e indicam, res-
pectivamente, o comércio inter-indústria e o
comércio intra-indústria. As equações (5) e (6)
medem, respectivamente as contribuições do
crescimento do comércio inter-indústria e intra-
-indústria para o crescimento total do comércio.
Fontes de Dados
Para o cálculo dos índices, foram utiliza-
dos dados da Food and Agriculture Organization
of the United States (FAO) e os valores totais das
exportações do Brasil para a China, do Ministé-
rio de Desenvolvimento, Indústria e Comércio –
Comex Sat (COMEX SAT, 2016; FAO, 2017).
Ressalta-se que a definição do intervalo
de análise, 1997 a 2016, foi posto em virtude
da abertura da economia a partir da década de
90, bem como da estabilização da economia
com o plano real, da disponibilidade de dados e
da formação dos BRICS. Assim, foi possível es-
tudar e comparar o cenário comercial brasilei-
ro do setor de celulose com o período anterior
ao surgimento do BRICS, sendo que o perío-
do anterior a formação dos BRICS foi 1997 a
2008 e o período pós-BRICS foi 2009 a 2016.
Resultados e discussões
Índice de Intensidade de Comércio
Ao observar o Gráfico 1, é possível notar
que durante todo o período, com exceção dos anos
de 2005, o IIC entre Brasil e China foi inferior
ou igual a 1, não ultrapassando o valor de 1,1 o
que de modo impreciso ou sem grande rigor para
análise resultaria em um mercado indiferente para
o Brasil, já que o peso das exportações para o país
segue igual as importações mundiais (Figura 1).
Constatou-se no período de 1997 a
2016, o IIC médio foi de 0,81 (Figura 1).
Antes da formação dos BRICs, mais
precisamente de 1997 a 2008, o IIC médio foi
de 0,68 (Figura 1).
De 2009 a 2016, período pós-BRICS,
o IIC setorial Brasil-China alcançou uma mé-
dia igual a 1 (Figura 1).
Assim, depois da formação dos BRICS,
o Índice de Intensidade do Comércio aumen-
tou cerca de 47%, até o ano de 2016 (Figura 1).
Deste modo, pode-se observar que o flu-
xo bilateral de comércio de celulose entre Brasil
e China cresceu. Portanto, pode-se considerar
a China como um mercado de destino impor-
tante para a celulose Brasileira, assim como a
formação dos BRICS no período analisado.
Figura 1 – Evolução do Índice de Intensidade de Comércio (IIC)
do setor de celulose entre Brasil e China, de 1997 a 2016
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados da FAO (2017).
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Índice de Orientação Regional
Os IORs calculados para o segmento
da celulose mostraram-se, em todo o período,
valores maiores que 1, que supõe relações co-
merciais vantajosas entre Brasil e China no mer-
cado de celulose. Supõe-se também orientação
conveniente às relações do Brasil com a China
no mercado de celulose do que com o restante
do mundo no período sob análise (Figura 2).
No período de 1997 a 2016, o IORs
médio foi de 2,39, sendo que no período anterior à
formação dos BRICS este índice apresentou média
de 2,63 e após a formação dos BRICS o IORs
médio foi de 2,01 (Figura 2). Assim, observou-se
uma redução no IORs médio após a formação dos
BRICs de, aproximadamente, 30% (Figura 2).
Isso pode ser explicado, pela maior in-
tegração comercial com a Rússia nesse mesmo
período, tendo um aumento nas relações bila-
terais de mais de 1000%. O comércio entre as
duas nações se estreitou não apenas no segmen-
to da celulose, mas também, no setor de carne,
adubos e fertilizantes e até no que diz respeito à
cooperação espacial. Segundo a Agence France
Presse (2018), esse número tende a aumentar
já que em 2017 o investimento nessa relação
econômica foi 329% maior que o ano de 2016.
Depois de uma recessão provocada pela queda
no preço do petróleo e pelas sanções ocidentais
causadas pela crise em 2009, a Rússia começa
a se reerguer em 2015, voltando a um cresci-
mento real no PIB de 1,5% ao ano, o que pode
explicar o crescimento da economia e a inten-
sificação bilateral do comércio com o Brasil
(AGENCE FRANCE PRESSE, 2018).
Entretanto, mesmo o IORs tendo re-
duzido após a formação dos BRICS, pode-se
afirmar uma intensidade de comércio de celu-
lose entre Brasil-China no período analisado.
Figura 2 - Evolução do Índice de Orientação Regional (IOR)
do setor de celulose entre Brasil e China, de 1997 a 2016
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados da FAO (2017).
Índice de Grubel e Lloyd (GL)
Em resumo, verificou-se que o fluxo
de comércio Brasil-China seguiu um padrão
crescente do comércio interindústria, tendo o
GL alcançando um máximo de 0,1 em 2001,
evidenciando ainda valores em CEI cada vez
maiores e o CII quase imperceptível.
Isso ocorreu devido ao CII se basear
nas trocas de bens semelhantes entre os paí-
ses, necessitando diferenciação e industrializa-
ção do produto em questão, que, por sua vez,
tende a aumentar quanto mais diferenciado
for. Considerando que na pauta comercial da
produção de celulose predomina a comercia-
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lização da commodity pasta química de ma-
deira, o baixo grau de diferenciação atribui
baixo comércio intra-indústria no segmento
(GUIMARÃES, 2007). O padrão de comér-
cio dos países de clara natureza interindustrial,
exportam basicamente commodities (minério
de ferro, soja e derivados, produtos de couro,
celulose...) e importa majoritariamente produ-
tos industrializados (equipamentos elétricos,
produtos químicos inorgânicos, instrumentos
óticos, material fotográfico...), como é o caso
do Brasil (IPEA, 2011).
Figura 3 - Evolução do fluxo de comércio interindústria (CEI) e intra-indústria (CII) do setor de
celulose, no período de 1997 a 2015, entre o Brasil e China
Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados da FAO (2017). *CEI = Comércio Interindústria,
CII = Comércio Intra-indústria, GL= Índice de Grubel e Lloyde
Índice de Menon e Dixon
Segundo os resultados obtidos, foi possí-
vel constatar que a grande maioria das taxas de
crescimento do fluxo de comércio do setor de
celulose, ao longo do período analisado, apre-
sentou uma maior contribuição por parte do
índice Contribuição percentual do comércio
interindústria (CCEI), o que mostrou a predo-
minância do comércio interindústria em rela-
ção à contribuição do comércio intra-indústria
(Tabela 1).
O CCEI médio da China, durante todo
o período de 1997 a 2016 foi de 37,71. Antes
dos BRICS o CCEI médio era de 51,53 e de-
pois da formação dos BRICS o CCEI reduziu
para 16,98, isto é, uma redução de 67% (Ta-
bela 1), o que pode ser devido ao crescimen-
to do comércio inter-indústria pós BRICS no
segmento brasileiro de celulose. Além disso, o
Brasil praticamente não importa produtos des-
te segmento da China, e sim exporta. Ressal-
ta-se que a nível mundial o Brasil é o maior
exportador de celulose de fibra curta derivada
do eucalipto e é o terceiro maior exportador
mundial de celulose de todos os tipos. Para a
China não é diferente (IBÁ, 2018).
Tabela 1 - Contribuição percentual
do comércio interindústria (CCEI)
e intra-indústria (CCII) para o
crescimento do fluxo de comércio
entre Brasil e China, de 1997 a 2016
Ano CCEI CCII CTI
1997 0,00 0,00 0,00
1998 -13,48 0,00 -13,48
1999 35,40 0,00 35,40
2000 -2,32 0,00 -2,32
2001 126,96 0,00 126,96
2002 -26,02 -0,07 -26,09
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Ano CCEI CCII CTI
2003 -44,25 -0,04 -44,28
2004 406,31 0,00 406,31
2005 88,68 0,00 88,68
2006 4,67 0,00 4,67
2007 -19,01 0,00 -19,01
2008 61,53 0,00 61,53
2009 59,61 0,00 59,61
2010 2,16 0,00 2,16
2011 16,34 0,07 16,41
2012 -4,77 0,00 -4,77
2013 28,10 0,00 28,09
2014 9,60 0,00 9,60
2015 7,58 0,00 7,58
2016 17,11 0,00 17,11
Média (%) 37,71 0,00 37,71
Fonte: Elaborada pelas autoras a partir de dados da FAO (2017).
Conclusão
O estudo acerca do fluxo comercial dos
BRICS, possibilitou verificar que a formação
do grupo influenciou diretamente na comer-
cialização de celulose entre Brasil e China. Ou
seja, a hipótese implícita nesse trabalho de que
o segmento da celulose apresentaria desempe-
nho diferente entre 1997/2008, antes da for-
mação dos BRICS e 2009/2016, depois dos
BRICS, foi confirmada.
Verificou-se que após a formação dos
BRICS, o Índice de Intensidade do Comér-
cio aumentou, indicando que o fluxo de co-
mércio da celulose brasileira para a China
cresceu no período considerado na análise e
que a China se apresentou como um mercado
importante para a celulose Brasileira, com a
formação dos BRICS.
Houve um comércio intenso da celulose
brasileira para a China no período analisado,
mesmo o IORs tendo reduzido após a forma-
ção dos BRICS.
Verificou-se que o fluxo de comércio Bra-
sil-China seguiu um padrão crescente do co-
mércio interindústria em relação ao comércio
intra-indústria.
Sugere-se que trabalhos futuros sejam reali-
zados no sentido de verificar se outros fatores in-
fluenciaram o comércio do Brasil com a China
no período sob análise, como os preços da celu-
lose, acordos comerciais e a formação dos BRI-
CS, já que os indicadores utilizados no trabalho
o levam em consideração estas questões.
Sugere-se, ainda, a atualização desse tra-
balho para continuar verificando o comporta-
mento do comércio Brasil e China pelos indi-
cadores estimados.
Agradecimentos
À CAPES pela concessão da bolsa de mes-
trado à primeira autora
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