juntamente com outros fatores como choques
econômicos e eventos climáticos extremos, será
um dos principais impulsionadores do agra-
vamento da insegurança alimentar
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em 2020.
Além disso, projeta que o número de pessoas
em situação de insegurança alimentar pode do-
brar em consequência da pandemia. Por essa ra-
zão, a FAO estima que o impacto da pandemia
na insegurança alimentar será, provavelmente,
o aumento do já elevado número de pessoas
atualmente nessa situação, e a insegurança ali-
mentar poderá atingir cerca de 265 milhões de
pessoas até o fim deste ano (FSIN, 2020).
Acesso a víveres é uma das dimensões mais
seriamente afetadas nas condições da atual crise
sanitária. Isso porque, além da pandemia da CO-
VID-19 e em decorrência dela, verifica-se dra-
mática combinação entre aumento dos preços,
com redução da disponibilidade dos alimentos,
e aumento do desemprego, com redução do po-
der de compra, todos fatores que comprometem
seriamente o acesso aos alimentos.
No caso da epidemia do Ebola, ocorrida
em 2014 (FAO, 2014a), houve escassez de co-
mida e impacto na segurança alimentar devido,
principalmente, à interrupção do fluxo comer-
cial de commodities alimentares. Outra con-
sequência importante é o aprofundamento de
vulnerabilidades já existentes:
O impacto na segurança alimentar pode le-
var famílias vulneráveis a recorrer a estratégias
negativas de enfrentamento, que terão efeitos
duradouros em suas vidas e meios de subsis-
tência, incluindo redução no número de re-
feições, aumento da taxa de abandono escolar,
meios reduzidos para cobrir gastos com saúde,
violência de gênero, venda de ativos produti-
vos, etc (FAO, 2020a, p. 4, tradução nossa).
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Importante notar que o preço dos alimen-
tos é uma questão também ligada à dimensão
acesso, por se tratar de uma variável que sofre
muita flutuação em momentos de crise, seja
pelo aumento do preço ao consumidor final ou
pela redução do valor das commodities alimen-
tares devido à contração da demanda. Segun-
do o índice de preços dos alimentos divulga-
do pela FAO, em março houve queda de 7.8
pontos em comparação com o mês de fevereiro.
As maiores quedas foram observadas no açúcar
(40,1 pontos) e nos óleos vegetais (19 pontos).
No que diz respeito ao açúcar, medidas de iso-
lamento social têm reduzido a demanda por
retração do consumo; além disso, a baixa no
preço dos combustíveis estimula a produção de
açúcar ao invés de etanol (FAO, 2020c).
Há, ainda, um choque na oferta em termos
de logística de alimentos, registrando-se redu-
ção na força de trabalho em países africanos,
por exemplo, com possível repercussão em áreas
como a agricultura, setores de produção e pro-
cessamento de alimentos. Com as medidas de
quarentena adotadas pelos países, há restrições
nos transportes, o que pode impedir o acesso
dos agricultores a insumos, produtos e merca-
dos, além do risco de maior perda de alimen-
tos e desperdício nas cadeias de suprimentos
(CULLEN, 2020a; 2020b). A África é um
continente que inspira especial preocupação
pelo fato de que muitos países já afetados por
crises alimentares lá estão localizados, porém a
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A FAO define insegurança alimentar como “ingestão insufi-
ciente de alimentos devido à impossibilidade de os adquirir,
seja por falta de abastecimento dos mercados locais, por falta
de capacidade para os comprar ou produzir, ou por ambas as
circunstâncias simultaneamente.” (FAO, 2014b, p. 6).
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impact on food security may lead vulnerable
house- hold to resort to negative coping strategies,
which will have lasting effects on their lives and
livelihoods,
including
re- duction in number of meals,
increased school dropout rate, decreased means to cover
health expenditures, gender-based
violence, selling of
productive assets, etc.