6 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.6 - 15, mai. 2021
Relações Internacionais: o estado da
disciplina
International Relations: the state of the discipline
Relaciones Internacionales: el estado de la disciplina
Felipe Leal Albuquerque1
DOI: 10.5752/P.1809-6182.2021v18n1pX
Recebido em: 09 de setembro de 2020
Aceito em: 15 de março de 2021
Resumo
Ao longo de quase um século de desenvolvimento das Relações Internacionais, alunos e
acadêmicos deparam-se com uma variedade de campos teóricos, métodos e temas de pesquisa.
Este artigo resume a evolução histórica da disciplina, aponta os principais métodos utilizados
e identica debates contemporâneos, buscando auxiliar estudantes recém-ingressos no curso.
Palavras-chave: Relações Internacionais. Teoria das Relações Internacionais. Metodologia
Abstract
Students and academics have come across various theoretical elds, methods and research
topics over the course of the last century, when International Relations developed. With
the aim to support new students of the discipline, this article summarizes its historical
evolution, indicates the main methods used and identies the contemporary debates.
Keywords: International Relations. International Relations eory. Methodology.
Resumen
En el transcurso de casi un siglo de desarrollo de las Relaciones Internacionales,
estudiantes y académicos tienen a disposición variados campos teóricos, métodos y temas de
investigación. Este artículo resume su evolución histórica, señala los principales métodos e
identica los debates contemporáneos, buscando ayudar a los nuevos estudiantes del curso.
Palabras clave: Relaciones Internacionales. Teoría de las Relaciones Internacionales.
Metodología
1 Especialista (PUC-Rio, 2009) e mestre (UERJ, 2013) em Relações Internacionais e doutor em Ciência Política pelo Instituto de
Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL, 2020). Foi Marie Curie Fellow (2014-2017) do programa da Comissão
Europeia “Power and Region in a Multipolar Order (PRIMO-ITN)” e professor colaborador do mestrado em Ciência Política da
Universidade de Salamanca. Em 2016, foi Doctoral Researcher na Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, e no German
Institute of Global and Area Studies (GIGA), em Hamburgo. Foi professor substituto de Política Internacional do IFCS-UFRJ e
assistente de pesquisa no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas
(CPDOC-FGV), também tendo atuado na Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). Seus principais interesses são análise
de política externa e processo decisório, métodos qualitativos e regimes multilaterais (especialmente mudança do clima, segurança
alimentar, paz e segurança internacionais e migrações).
Artigo
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O que são as Relações
Internacionais?
Relações Internacionais é a disciplina ver-
tente da Ciência Política que visa ao estudo das
interações políticas, econômicas e sociais que
se realizam principalmente entre Estados, mas
também entre esses e atores como organizações
internacionais, empresas, organizações não
governamentais (ONG), grupos terroristas e
narcotracantes, indivíduos, entre outros. Em
outras palavras, a disciplina de Relações Inter-
nacionais (com letra maiúscula) inquire sobre
as relações internacionais (com letra minúscu-
la). Entre seus objetivos, estão o entendimento
de eventos passados, a compreensão do con-
texto hodierno e o diálogo interdisciplinar com
a História, a Economia, o Direito, a Sociologia
e a Antropologia.
Em virtude dessa amplitude, a disciplina
de Relações Internacionais envolve variadas
abordagens ontológicas, epistemológicas e me-
todológicas. Devido a sua versatilidade, a dis-
ciplina inuencia tomadores de decisões tanto
no que diz respeito à promoção da cooperação
entre os povos quanto à maximização do poder
estatal. O objeto de estudo das Relações Inter-
nacionais está num estado de constante inte-
ração entre as relações estratégico-diplomáticas
dos Estados e os vários tipos de transações per-
tinentes a um mundo cada vez mais globaliza-
do (BROWN; AINLEY, 2009).
Burchill e Linklater apontam seis dimen-
sões para a compreensão das dinâmicas interna-
cionais: (i) as relações entre os Estados, tradi-
cionalmente centrais para o campo de estudo, e
os outros atores; (ii) as relações entre as grandes
potências e os laços de ascendência dessas sobre
as nações em desenvolvimento; (iii) questões
empíricas, que não somente envolvem a distri-
buição de poder militar, domínio territorial e ta-
manho das economias, mas temas como direitos
humanos, mudanças climáticas e saúde global;
(iv) discussões éticas, a exemplo de justicações
para intervenções humanitárias; (v) disputas
metodológicas sobre a natureza das Ciências
Sociais e a adequação da análise positivista; e, -
nalmente, (vi) a interdisciplinaridade como ins-
trumento de compreensão de fenômenos inter-
nacionais (BURCHILL; LINKLATER, 2005).
Quais são os “grandes
debates”?
No decurso da história, os agrupamentos
humanos estabeleceram relações com as comu-
nidades vizinhas através da prática do comér-
cio, da diplomacia e da guerra. A este respei-
to, Tucídides descreveu, no século V a.C., o
conito entre Atenas e a vitoriosa Esparta para
racionalizar sobre o uso da guerra como ins-
trumento de poder estatal. Nicolau Maquiavel
defende, no século XVI, a moralidade diferen-
ciada do líder e enfatiza o imperativo de sobre-
vivência do Estado. omas Hobbes completa,
um século mais tarde, a base de pensamento do
realismo, campo teórico visto mais à frente, ao
argumentar a inexistência de autoridade com
monopólio do poder legítimo do uso da vio-
lência em âmbito internacional.
Somente no século XVIII é que se come-
ça a olhar para as relações entre coletividades
com base nas prerrogativas dos Estados nacio-
nais, então em processo de formação, graças a
lósofos como Jean-Jacques Rousseau e Imma-
nuel Kant, que, juntamente com John Locke
e John Stuart Mill, compõem os alicerces do
pensamento liberal da disciplina. Já o termo
“Relações Internacionais” surge com Jeremy
Bentham em 1789.
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As Relações Internacionais ganham esta-
tura de disciplina acadêmica com a fundação,
em 1919, do departamento de Política Inter-
nacional da Universidade de Aberystwyth, no
País de Gales. Ainda com o mundo sob o trau-
ma da Primeira Guerra Mundial, a nova disci-
plina foi inspirada pelo ideário do presidente
norte-americano Woodrow Wilson e teve por
propósito inicial o desenvolvimento de estudos
sobre guerra e paz, bem como de instrumental
teórico que pudesse evitar novos conitos. A
escola diplomática Edmund A. Walsh da Uni-
versidade de Georgetown e a London School
of Economics, situadas nos Estados Unidos e
no Reino Unido, também fazem parte dos es-
forços iniciais de conguração de uma discipli-
na organizada, mais tarde estudada em outras
instituições europeias e norte-americanas. Para
além do interesse acadêmico, portanto, o avan-
ço das Relações Internacionais como discipli-
na ocidental estava diretamente relacionado
aos interesses político-estratégicos desses paí-
ses. Com o tempo, a disciplina passa a ganhar
maior escopo temático e diversidade.
A evolução das Relações Internacionais
é marcada por quatro grandes debates, carac-
terizados pelo diálogo entre distintas corren-
tes teóricas. Essas teorias têm como objetivo
principal constituir métodos e conceitos que
permitam explicar e entender a ocorrência de
determinados fenômenos. É possível inferir as
teorias como “lentes” através das quais o ana-
lista busca perceber o contexto abstrato que o
cerca e os conceitos daí derivados como meios
de operacionalização da realidade. Por sua pró-
pria amplitude e interdisciplinaridade, a disci-
plina aborda uma pluralidade de aspectos que
vão desde o equilíbrio de poder e o estudo da
guerra até discussões sobre agentes, estruturas
e preferências individuais. Paradoxalmente, a
riqueza teórico-conceitual das Relações Inter-
nacionais diculta o estabelecimento de deno-
minadores comuns e de pontos de contato que
perpassem todos os momentos de evolução da
disciplina.
O primeiro grande debate (i) dá-se entre
o realismo e o liberalismo, as correntes teóricas
fundacionais das Relações Internacionais. Con-
comitante ao momento que vai de 1919 a 1939
ao período imediatamente posterior à Segunda
Guerra Mundial, o debate centrou-se em diver-
gências ontológicas. A abordagem realista parte
de uma leitura pessimista da natureza humana
e tem como premissas a centralidade de Esta-
dos unitários e “racionais”; a ausência de Le-
viatã em ambiente internacional anárquico, o
que faz com que cada Estado objetive ampliar a
sua segurança em relação aos demais; e a busca
pela sobrevivência. Medo, prestígio, guerra e a
procura de garantir o “interesse nacional” de-
terminam o comportamento estatal. Entre os
variados modelos de análise do realismo, desta-
ca-se o “dilema do prisioneiro”, uma ilustração
da teoria dos jogos que denota como a ausência
de informações claras e a desconança mútua
podem impedir a cooperação. Edward Carr,
Hans Morgenthau, Raymond Aron e Kenneth
Waltz são os principais expoentes dessa verten-
te teórica.
A tradição liberal, por sua vez, advém
da contribuição de teóricos contratualistas
europeus do século XVIII, preocupa-se com
as relações entre indivíduos, sociedades e go-
vernos e pondera como essas podem afetar a
vida internacional. A existência de governos
democráticos e a interdependência gerada pelo
livre comércio contribuem para a consecução
da “paz perpétua” entre os Estados (KANT,
2003). Além disso, para autores como Norman
Angell, Alfred Zimmern e o próprio Woodrow
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Wilson sociedades podem autorregular-se por
meio de instituições, o que garantiria regras
mínimas de convivência entre os Estados e evi-
taria o surgimento de ameaças. A realização de
interesses individuais levaria, pois, a ganhos co-
letivos. O pensamento liberal é qualicado de
“idealista” pelos teóricos realistas e perde força
com o início das hostilidades que levaram à Se-
gunda Guerra Mundial. A sua inuência, no
entanto, é perceptível com o estabelecimento
das Nações Unidas, a evolução do Direito In-
ternacional e a aplicação do princípio de auto-
determinação dos povos.
O pensamento liberal também inuencia
a teoria funcionalista, que advoga pela integra-
ção e pela governança coletiva como formas de
superação de discórdias. A importância do fun-
cionalismo é renovada com os escritos de Ernst
B. Haas. Principal expoente do neofunciona-
lismo nos anos 1950 e 1960, o autor defendia
que a integração regional em áreas especícas
– como a economia – dinamizaria, por meio
de um processo de “spill-over”, as possibilidades
de cooperação em outros setores (E. HAAS,
1958). O atingimento da paz ocorreria por
meio da constituição de agências especializadas
e organismos internacionais – por exemplo, a
Comunidade Europeia do Carvão e do Aço –
que assumiriam funções até então exclusivas
dos Estados.
O segundo grande debate (ii) ocorre en-
tre os tradicionalistas, como eram comumente
chamados os realistas e liberais, e os behavio-
ristas, inspirados pelas ciências naturais. Nos
anos 1950 e 1960, a “revolução” behaviorista
dene as abordagens clássicas como demasiado
normativas e propõe mudanças metodológicas.
Com foco em análises quantitativas, na pro-
cura de conclusões “generalizáveis” e baseado
no positivismo, o behaviorismo trata a ciência
como algo neutro e técnico, de modo que fe-
nômenos sociais deveriam ser explicados indi-
vidualmente e testados de forma empírica. Se,
para autores como os da Escola de Frankfurt o
behaviorismo era uma abordagem conservado-
ra e reducionista, para outros representou um
modo de avançar a produção de conhecimento
de acordo com parâmetros replicáveis e dota-
dos do rigor cientíco. O behaviorismo teve
inuência na evolução metodológica das Rela-
ções Internacionais, notadamente na academia
norte-americana.
O terceiro grande debate (iii) retoma o
primeiro. Faz referência à reedição da disputa
entre realismo e liberalismo, atualizados como
neorrealismo e neoliberalismo. O contexto era
o dos anos 1970, quando ocorria a détente entre
Estados Unidos e União Soviética. A teoria rea-
lista não conseguiu prever e tampouco forne-
ceu ferramentas analíticas que explicassem sa-
tisfatoriamente o porquê do colapso da União
Soviética. Além disso, não abrangia a multipli-
cidade de atores internacionais que operavam
por meio do Estado e à margem dele, como
organizações não governamentais (ONG), or-
ganizações internacionais e empresas. Já os li-
berais precisavam superar a imagem de serem
demasiado idealistas e distantes do fato de que
o tabuleiro internacional era também palco de
jogos de força entre as grandes potências.
Neoliberais (também conhecidos como
institucionalistas neoliberais) como Joseph
Nye e Robert Keohane enfatizam a relevância
de atores não estatais e armam que proble-
mas econômicos, políticos e sociais não são
somente causados pelo comportamento dos
Estados ou plenamente controlados por esses
(KEOHANE; NYE JR., 1977). Ainda que
permanecesse importante, o poder militar era
complementado pelas conexões entre socieda-
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des, aumento dos uxos transnacionais e am-
plitude das temáticas internacionais. Em con-
cessão ao pensamento realista, os neoliberais
reconhecem a existência da anarquia em nível
sistêmico. No entanto, por estarem interde-
pendentes em ambiente anárquico, os Estados
buscariam implementar canais de cooperação,
estabelecer instituições e tratados e limitar a
possibilidade de conito. Ao contrário da visão
realista, que considera as instituições interna-
cionais como reexos da distribuição de poder
entre os estados e subprodutos da ação desses,
a vertente neoliberal observa-as como mecanis-
mos de coordenação que têm poder de agência
e minimizam os jogos de soma zero e o “dilema
do prisioneiro”. Organizações internacionais,
portanto, para a promoção de parâmetros mí-
nimos para a regulação da vida internacional.
A inuência do neoliberalismo também é per-
ceptível na obra de autores como John Ruggie,
que desenvolve o conceito de multilateralismo.
Posteriormente, a matriz liberal expande
seu escopo teórico com a incorporação de novas
perspectivas provenientes, por exemplo, da So-
ciologia e da História, e amplia o diálogo com
a escola construtivista. Os estudos sobre paz e
segurança internacionais são renovados, com
especial enfoque em temas como intervencio-
nismo humanitário e uso da força e o papel de
instituições internacionais e regionais no pós-
-Guerra Fria. Em contínuo debate com autores
realistas, trabalhos como os de John Ikenberry
rearmam a resiliência da ordem liberal esta-
belecida pelos Estados Unidos e minimizam o
declínio relativo de Washington. Já Joseph Nye
reinterpreta concepções sobre poder com os
conceitos de soft e smart power.
O neorrealismo (ou realismo estrutural)
reforça cânones realistas clássicos, como a cen-
tralidade estatal, a desconança mútua e a anar-
quia. Destaca, no entanto, a inuência do siste-
ma internacional como variável chave. O foco
está na estrutura e não em atores individuais,
não sendo relevante a realidade doméstica dos
Estados. Em obra paradigmática, Kenneth
Waltz argumenta que o sistema internacional
é denido pela distribuição de capacidades
(WALTZ, 2010). Como bolas de uma mesa
de bilhar, os Estados têm seu comportamen-
to limitado pela estrutura. Mudanças, quando
ocorrem, são raras e connadas à conguração
anárquica ou hierárquica. Também referência
no campo neorrealista, Robert Gilpin discute
como mudanças sistêmicas dependem da atua-
ção do Estado hegemônico e da concentração
de poder desse frente aos demais.
O realismo ganha diversidade nos anos
1990 com o surgimento de derivações conheci-
das como realismo ofensivo e realismo defensi-
vo, desenvolvidas por nomes como John Mear-
sheimer. Ademais, é possível distinguir outra
vertente recente do realismo, conhecida como
realismo neoclássico, associada a Fareed Zaka-
ria e Gideon Rose. Diferentemente do neor-
realismo, o realismo neoclássico faz concessões
ao campo liberal e inclui o nível de análise do-
méstico como essencial para a compreensão das
decisões estatais.
Apesar das diferenças, neorrealismo e
neoliberalismo aproximam-se na importância
conferida à variável sistêmica como princípio
orientador, ao positivismo como teoria losó-
ca e aos Estados como entidades mais relevan-
tes. Essa proximidade levou autores como Ole
Waever (1996, p. 161) a dizer que o debate era
articialmente construído, inventado por con-
ta de propósitos ilustrativos e didáticos. Na
mesma direção, Robert Keohane e Lisa Martin
(1999, p. 3) armam que os dois campos teóri-
cos são “meios-irmãos”.
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O debate entre o neorrealismo e o neolibe-
ralismo inuencia o desenvolvimento da teoria
de regimes e da Escola Inglesa. Regimes refe-
rem-se a normas, princípios, regras e processos
decisórios por meio dos quais as expectativas
estatais convergem quanto a uma determinada
área temática. Ainda que mais próxima da pers-
pectiva neoliberal, a teoria de regimes também
atraiu a atenção de autores mais próximos do
realismo, como Susan Strange e Joseph Grieco.
A Escola Inglesa tem como principais ex-
poentes Hedley Bull, Adam Watson e Martin
Wight e apresenta-se como uma via media en-
tre as correntes realista e liberal. Inspirada pelo
estudo da história e pelo “racionalismo” de
Hugo Grotius, um dos precursores do Direito
Internacional, a Escola Inglesa tem perspecti-
va evolucionista das Relações Internacionais.
Os Estados fazem uso de, portanto, interesses,
valores, regras, instituições, normas e práticas
compartilhados que possibilitam o convívio
cooperativo e a moderação da anarquia, o que
Adam Watson dene como “raison de système
(WATSON, 1992, p. 14). Conceitos como or-
dem e justiça são centrais para a Escola Inglesa
e dialogam com concepções de sociedade inter-
nacional que Hedley Bull nomeou “pluralista
e “solidarista”. A corrente teórica ganhou novas
interpretações a partir de autores como Barry
Buzan, Edward Keene e Andrew Hurrell que
discutem, por exemplo, a integração de países
não-ocidentais e o papel de regiões na socieda-
de internacional criada pelo Ocidente.
O construtivismo torna-se uma das prin-
cipais escolas de pensamento das Relações In-
ternacionais na transição das décadas de 1980
e 1990. Considera a realidade como social-
mente construída por atores e estruturas, de
modo que não há antecedência ontológica en-
tre eles (ONUF, 1989). Para Nicholas Onuf,
por exemplo, a linguagem é o meio pelo qual
interpretam-se e estabelecem-se as relações en-
tre indivíduos e sociedades, produzindo atos
de fala e tendo impactos na prática política.
Atores, como é o caso dos Estados, agem não
apenas no contexto de, mas também sobre as
instituições/estruturas, o que faz com que o
construtivismo rejeite condições pré-determi-
nadas e privilegie a mudança. Ideias, valores e
crenças atribuem signicado ao mundo mate-
rial, o que ajuda a esclarecer as várias formas
de comportamento estatal e de congurações
sistêmicas. Por isso, Estados que compartilham
características comuns, como forma de gover-
no ou modelo econômico, tendem a ver-se de
modo positivo (WENDT, 1987).
Para além desses elementos unicadores,
é possível dizer que o construtivismo se di-
vide em vertentes mais próximas das teorias
tradicionais e em abordagens mais pluralistas.
Autores como Alexander Wendt, Martha Fin-
nemore, Kathryn Sikkink e Peter Katzenstein
fazem parte do primeiro grupo. Em geral, eles
mantêm as mesmas bases epistemológicas e
metodológicas das teorias de matriz realista e
liberal e dialogam criticamente com o campo
mainstream da disciplina. Essa tentativa de
criação de canais de diálogo e de manutenção
de aparência “cientíca” é questionada por au-
tores como Richard Ashley, Michael Shapiro e
R. B. J. Walker, considerados por realistas e li-
berais como radicais e associados ao pós-estru-
turalismo por negarem a existência de teorias
neutras e por defenderem a inclusão de múlti-
plas narrativas na construção do conhecimen-
to e de temas como subjetividade, relativismo,
intertextualidade e culturas de resistência e de
emancipação. Autores clássicos como Michel
Focault, Jacques Derrida e Pierre Bordieu in-
uenciam os escritos pós-estruturalistas.
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A diculdade das teorias tradicionais de
explicarem o m da Guerra Fria abriu espa-
ço não só para a organização do pensamento
pós-estruturalista, mas também para aborda-
gens como a da teoria crítica. A teoria crítica
mantém a importância do caráter estrutural
das Relações Internacionais, partindo de fun-
damentos do marxismo e das ideias de Antonio
Gramsci e da Escola de Frankfurt para analisar
e propor mudanças emancipatórias. A teoria
crítica dialoga com o materialismo da teoria de
sistema-mundo2 de Immanuel Wallerstein e da
teoria da dependência de Fernando Henrique
Cardoso e Enzo Falleto e preserva conteúdos
como mecanismos de dominação e de exclusão
e relações de dependência como neoimperialis-
mo e neocolonialismo. Teóricos críticos como
Robert Cox e Andrew Linklater propõem que
o conhecimento seja repensado a partir de con-
tribuições sociológicas, antropológicas, losó-
cas e psicológicas.
O quarto grande debate das Relações In-
ternacionais (iv) está centrado na disputa me-
todológica e epistemológica entre positivistas e
pós-positivistas, aqui incluídas as experiências
teóricas do pós-estruturalismo, ambientalis-
mo,3 pós-modernismo,4 teoria crítica e de abor-
2 A teoria de Wallerstein observa o mundo como sistema
social no qual há uma divisão territorial do trabalho hierar-
quizada em centro, semiperiferia e periferia e estabelecida de
acordo com relações de produção. Tem relação direta com a
teoria de dependência, abordagem teórica neomarxista que
explica as relações desiguais entre centro e periferia como
reprodutoras do subdesenvolvimento.
3 A teoria ambientalista, também conhecida como “green
theory”, tem por base discussões sobre meio ambiente e cará-
ter interdisciplinar, englobando de perspectivas próximas ao
institucionalismo neoliberal até visões críticas ao sistema ca-
pitalista como um todo e ao modo como estados e atores in-
ternacionais operam e agem frente a problemas de ação cole-
tiva, advogando pela descentralização de estruturas de poder.
4 Como matriz teórica, o pós-modernismo questiona as ba-
ses pretensamente racionais, cientícas e delimitadas no
tempo e no espaço das relações internacionais, buscando
ultrapassar limites disciplinares e desconstruindo visões tra-
dicionais. Autores como James Der Derian defendem que
teorias individuais são incapazes de explicar a complexidade
dagens do feminismo.5 Divide, de um lado,
autores “racionalistas”, que buscam fatos ob-
serváveis e que são afeitos ao positivismo como
método cientíco e, de outro, os “reexivis-
tas”, ou refratários ao paradigma metodológi-
co dominante por considerarem-no supercial
e predeterminante. Os pós-positivistas refu-
tam a existência de uma “realidade objetiva”,
acreditam que valores e intencionalidade não
podem ser dissociados da produção do conhe-
cimento e, por essa razão, buscam desenvolver
estudos que incluam a visão do “outro”. Obras
que abordem lentes de gênero, classe e raça
(CHOWDHRY; NAIR, 2004; TICKNER,
1992), além de modelos de análise alternativos,
são privilegiados pelos pós-positivistas.
Quais são os métodos
utilizados?
Afora as discussões teóricas e epistemoló-
gicas, a evolução das Relações Internacionais
envolve o debate entre diferentes abordagens
metodológicas. Em termos gerais, é possível
identicar as tradições metodológicas quantita-
tiva e qualitativa como as principais no campo
de estudos das Relações Internacionais.
das relações internacionais, especialmente em circunstância
marcada por maior interpenetração e porosidade de limites
e fronteiras institucionais. Para Richard Devetak, conceitos
como o de soberania estatal são anacrônicos e funcionam
como profecias autorrealizáveis, devendo abrir espaço para a
temas como diversidade étnica, multiculturalismo, e o papel
de grupos indígenas e minorias.
5 As abordagens feministas têm em comum o uso do gênero
como categoria de análise, a partir da armação do gênero
como identidade socialmente construída e passível de per-
petuar desigualdades, hierarquias e opressões, visto que é
sujeita a disputas de poder. Ponto comum entre as aborda-
gens feministas é a ideia de que as correntes teóricas tradi-
cionais ignoraram as discussões sobre gênero e sua dimensão
política. Além disso, autoras como Lori Handrahan trazem
a relevância de visões interseccionais que incluem debates
sobre raça, classe e etnia. Essas agendas transbordam para
temas como, por exemplo, construção da paz e situações de
pós-conito, estudados por nomes como Cynthia Enloe.
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A tradição quantitativa envolve, como
exemplos mais comuns, o método estatístico
(inclui-se a análise bayesiana) e o método expe-
rimental.6 Baseia-se na aplicação de técnicas e
raciocínio das ciências naturais, do uso da ma-
temática e de softwares de pesquisa quantitati-
va. Insere-se, portanto, na corrente losóca do
positivismo. Entre seus objetivos estão o teste
de hipóteses, o estabelecimento de padrões, a
manipulação de variáveis e, no caso do método
experimental, o uso de grupos de controle. Fa-
ceta comum do método quantitativo é o exame
de grande quantidade de casos (Large-N).
A tradição metodológica qualitativa en-
contra-se tanto no campo do positivismo quan-
to no do pós-positivismo. No que diz respeito
a métodos qualitativos positivistas usados nas
Relações Internacionais, cita-se o process-tra-
cing e o método comparativo. O process-tracing
vale-se da reexão quantitativa sobre o teste de
hipóteses para aplicá-la à análise qualitativa de
um caso especíco (within-case analysis) (BEA-
CH; PEDERSEN, 2013). Analistas buscam
observar como fatores explicativos e resultados
(outcomes) estão inter-relacionados pela existên-
cia de mecanismos causais. O “caminho” entre
fatores e resultados é identicado por meio de
técnicas de recolha de dados como entrevistas e
trabalho de arquivo. Já o método comparativo
pretende comparar mais de um caso (small-N)
a partir das suas variáveis e/ou resultados. Am-
bos os métodos são úteis para a identicação e o
desenvolvimento de novas hipóteses e teorias7.
Mais recentemente, esforços têm sido
envidados para aproximar as tradições quanti-
tativa e qualitativa do campo positivista. São
6 A análise bayesiana utiliza-se da estatística para responder pergun-
tas de pesquisa que tenham por base o estudo de probabilidades.
7 O método histórico-comparativo origina-se como subpro-
duto do método comparativo.
os chamados métodos mistos (mix methods),
a exemplo do método de análise qualitativa
comparativa (em inglês, qualitative comparative
analysis ou QCA) (RAGIN, 2008). Diversos
autores têm conjugado o uso de ferramentas
estatísticas com a análise qualitativa de casos es-
pecícos e produzido estudos faseados que rela-
cionam a análise inicial de muitos casos (large-
-N) com a investigação aprofundada de poucos
ou apenas um caso (small-N ou within-case
analysis). Métodos como a análise de discurso e
a análise de conteúdo também podem situar-se
na conjunção entre perspectivas quantitativas e
qualitativas (GOERTZ, 2017).
Por m, ressalta-se o uso de métodos
oriundos de outras disciplinas, como é o caso
da etnograa. O uso de entrevistas não estrutu-
radas (abertas) e de observação participativa e a
construção de histórias de vida são técnicas de
coleta de dados habitualmente associadas à An-
tropologia e à Geograa. Por meio desta abor-
dagem, pesquisadores podem examinar como
indivíduos e grupos humanos interpretam a
realidade, rejeitando a existência de uma “reali-
dade concreta e replicável”. No curso do traba-
lho, o analista inuencia e é ao mesmo tempo
inuenciado pela atividade de investigação.
Debates contemporâneos
As Relações Internacionais enfrentam
uma série de desaos no século XXI. Além da
necessidade de compreender e explicar o difuso
contexto internacional hodierno, a disciplina
precisa transpor a histórica vinculação ao mun-
do ocidental e, particularmente, aos Estados
Unidos. Ademais, é necessário avaliar critica-
mente se ainda faz sentido estudar as Relações
Internacionais de acordo com os grandes de-
bates e/ou com áreas teóricas bem delimitadas,
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bem como repensar os avanços metodológicos
realizados até o presente momento.
Em primeiro lugar, os estudiosos das Re-
lações Internacionais encontram um mundo
muito mais complexo do que durante o perío-
do de vigência do conito bipolar. O mundo
pós-Guerra Fria é marcado pela proliferação e
aumento da importância de temas como o ter-
rorismo, a saúde global, os direitos humanos, os
uxos de refugiados, a segurança cibernética e
as tecnologias de informação e de comunicação,
as mudanças climáticas, a segurança alimentar e
a não proliferação nuclear, entre outros. O de-
clínio relativo dos Estados Unidos no âmbito
econômico mas a sua ainda primazia militar,
associado à mudança do centro de gravidade
mundial para a Ásia, especialmente em função
da ascensão de países como a China e a Índia,
faz com que analistas de variadas tradições teóri-
cas questionem-se em que realidade estaríamos
vivendo: se em um mundo unipolar, bipolar,
multipolar, uni-multipolar (HUNTINGTON,
1999), multi-multipolar (FRIEDBERG,
1994), multimodal (WOMACK, 2016), mul-
tiplex (ACHARYA, 2014), pós-Americano
(ZAKARIA, 2008), pós-ocidental (STUEN-
KEL, 2016), policêntrico (DERICHS, 2014),
G-zero (BREMMER, 2013), ou sem polarida-
des denidas (R. HAAS, 2008). Autores tam-
bém dividem-se entre aqueles que acreditam na
continuidade e resiliência da ordem liberal em
vigor, como John Ikenberry (2018), e outros,
como John Mearsheimer (2019), que observam
a emergência de um mundo multipolar capita-
neado por Estados Unidos e China e marcado
por dinâmicas de conito e cooperação entre
suas visões de ordem internacional.
O segundo desao enfrentado pelas Re-
lações Internacionais relaciona-se diretamente
com essa incerteza. Uma vez que a congura-
ção sistêmica se torna menos norte-americana
e menos ocidental, como readequar a produção
de conhecimento da disciplina? Como tornar
as Relações Internacionais realmente “interna-
cionais”? Ainda dominada por publicações no
eixo anglo-saxão, a disciplina tem iniciado um
lento processo de interlocução com perspecti-
vas e autores e autoras não-ocidentais. Um dos
principais elementos desse “encontro” é o fato
de que há perspectivas fora do eixo transatlân-
tico que questionam conceitos, teorias e epis-
temologias que foram criadas a partir do pen-
samento e da história ocidentais (ACHARYA;
BUZAN, 2007; SIKKINK, 2014). Outra
questão relevante é investigar se de fato existe
um diálogo de iguais ou se vigora uma visão
condescendente do eixo Europa-Estados Uni-
dos, voltada não para a troca de perspectivas,
mas para a mera incorporação do que é “di-
ferente” (TICKNER; WAEVER, 2009; BIL-
GIN, 2008; ZARAKOL, 2011). Igualmente,
deve-se evitar o risco de se criarem novas es-
sencialidades, como “escolas nacionais” de Re-
lações Internacionais, e efetivamente pluralizar
a produção do conhecimento.
Por m, uma terceira vertente da agenda
de investigação atual é sobre métodos e inter-
disciplinaridade. Por um lado, observa-se um
crescimento do número de trabalhos que li-
dam com o realismo cientíco, o que contribui
para o pluralismo metodológico e para a busca
de um caminho intermediário entre métodos
quantitativos e qualitativos. Processo seme-
lhante tem ocorrido com autores que buscam
ampliar a comunicação entre visões raciona-
listas e reexivistas. Por outro lado, a evolução
das Relações Internacionais tem-na aproxima-
do de outras disciplinas, o que amplica o seu
escopo de atuação e favorece o surgimento de
novas estratégias de investigação.
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