28 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
Inserção da celulose brasileira e de seus
principais concorrentes no mercado
internacional
Inserting the brazilian wood pulp and its main competitors in the international market
Insertando de celulosa brasileño y sus principales competidores en el mercado internacional
Mateus Monteiro Piedade Lyrio 1
Naisy Silva Soares 2
Lyvia Julienne Sousa Rêgo 3
DOI: 10.5752/P.1809-6182.2021v18n1pX
Recebido em: 26 de novembro de 2020
Aprovado em: 03 de julho de 2021
Resumo
O presente artigo teve como objetivo classicar a inserção do segmento brasileiro de celulose
no comércio internacional, entre 1970 e 2019, e de seus principais concorrentes mundiais:
Estados Unidos, China e Canadá. Vericou-se que o Brasil foi o único país que apresentou
alta eciência em todas as décadas analisadas.
Palavras-chaves: posicionamento; competitividade; setor de celulose e papel.
Abstract
is article aimed to classify the insertion of the Brazilian wood pulp segment in
international trade, between 1970 and 2019, and of its main global competitors: the
United States, China and Canada. It was found that Brazil was the only country that
showed high eciency in all the analyzed decades.
Keywords: positioning; competitiveness; wood pulp and paper sector.
Resumen
Este artículo tuvo como objetivo clasicar la inserción del segmento de celulosa brasileño en
el comercio internacional, entre 1970 y 2019, y de sus principales competidores globales:
Estados Unidos, China y Canadá. Se encontró que Brasil fue el único país que mostró alta
eciencia en todas las décadas analizadas.
Palabras Clave: posicionamiento; competitividad; sector de la celulosa y el papel.
1 Economista e mestrando em economia regional e políticas públicas na Universidade Estadual de Santa Cruz. E-mail: mateus_
monteiro123@hotmail.com. Orcid: 0000-0002-7589-8455
² Economista e doutora em Ciência Florestal. Professora doutora do departamento de ciências econômicas da Universidade Estadual
de Santa Cruz. E-mail: naisysilva@yahoo.com.br. Orcid: 0000-0001-6855-0218
³ Engenheira orestal e doutora em Ciência Florestal. Professora da Universidade Federal do Sul da Bahia. E-mail: lyviajulienne@
hotmail.com. Orcid: 0000-0001-7043-6860
Artigo
28 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte,
ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
29 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
Introdução
A produção de celulose tem se consolida-
do como um dos principais produtos da indús-
tria orestal. De acordo com Zaeyen (1986),
foram três os fatores que consolidaram as bases
da indústria de celulose e papel brasileira: (i) a
política de incentivos scais de 1966 (Lei nº
5.106), que, ao permitir a dedução de Impos-
to de Renda para investimentos em projetos de
reorestamento aprovados pelo Instituto Bra-
sileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF),
propiciou a expansão dos maciços orestais
de espécies exóticas no Brasil, especialmente
de pinus e eucalipto; (ii) a xação pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social(BNDES), em 1968, de níveis mínimos
de escala de produção para projetos que dese-
jassem apoio nanceiro; e (iii) a xação pelo
Conselho de Desenvolvimento Econômico
(CDE), em 1972, de novos níveis mínimos de
escala de produção, os quais foram adotados
também pelo BNDES e resultaram no aumen-
to expressivo da produção brasileira e no início
das exportações.
Dentre os programas do governo federal
para o segmento de celulose e papel que se des-
tacaram, citam-se: Primeiro Programa Nacio-
nal de Papel e Celulose (I PNPC) e Segundo
Programa Nacional de Papel e Celulose (II
PNPC). O I PNPC foi criado em 1974 para
impulsionar o aprimoramento da tecnologia
orestal e alcançar a autossuciência tanto em
papel quanto em celulose, possibilitando a ge-
ração de excedentes exportáveis (JUVENAL;
MATTOS, 2002),to de celulose e papel (II de-
ral para o setor que se destacaram, citam-se .
Data de 1985, a criação do II PNPC com
principal objetivo de obter linhas de nancia-
mento de longo prazo do BNDES para viabi-
lizar um novo ciclo de investimentos (SOTO,
1992). Foi com o II Programa Nacional de
Desenvolvimento que foram ampliadas as ba-
ses para a indústria nacional de celulose, a m
de reduzir a dependência em relação a fontes
externas (JUVENAL; MATTOS, 2002).
Assim, até meados da década de 1950 cer-
ca de 70% da celulose necessária para a pro-
dução de papel ainda era importada. A partir
da década de 1960 o país passou a gerar exce-
dentes exportáveis, e na década seguinte o país
passou a obter saldos positivos na balança co-
mercial do setor de celulose (HILGEMBERG
e BACHA, 2000).
Em 2019, o Brasil passou a ser o segundo
maior produtor de celulose do mundo, pro-
duzindo 20.277 mil toneladas, cando atrás
apenas dos Estados Unidos, sendo que 74% da
produção nacional foi destinada ao comércio
internacional (FOODAND AGRICULTURE
ORGANIZATION - FAO, 2020; INDÚS-
TRIA BRASILEIRA DE ÁRVORES - IBA,
2019).
O crescimento das exportações brasilei-
ras de celulose está associado também ao efei-
to competitividade do segmento no comercio
internacional e o crescimento da produção é
resultado do investimento em tecnologia e pes-
quisa e do crescimento da demanda internacio-
nal (ROCHA e SOARES, 2014).
Observando os principais concorrentes do
Brasil na produção de celulose é possível obser-
var diferentes tendências. O setor de celulose
no Estados Unidos apresentou baixo cresci-
mento entre 2010 e 2019, em média a pro-
dução de celulose do país cresceu 0,645% ao
ano, enquanto que no Brasil cresceu em média
4,17% ao ano e no Canadá recuou em média
0,27% ao ano. Em 2019, os Estados Unidos
exportou US$ 5.596.710 mil, tendo uma re-
30 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
tração de 6,04% em relação a 2018, o Canadá
exportou 6,06% menos em relação a 2018, ob-
tendo US$ 47.576,37 mil (FAO, 2020).
Em contraste aos países da América do
Norte, a produção de celulose na China vem
crescendo. Entre 2010 e 2019 a produção do
país cresceu em média 10,85% ao ano, uma taxa
de crescimento superior à evidenciada no Brasil
no mesmo período (4,17% ao ano). No comer-
cio internacional o país obteve US$ 122.693,00
mil em exportações de celulose (FAO, 2020).
O Brasil nos últimos anos tem mostrado
capacidade de competir em um nível cada vez
mais elevado, mesmo que não haja políticas
públicas destinadas ao setor. Entretanto, o ce-
nário externo nem sempre é favorável ao cres-
cimento da atividade produtiva. É necessário
realizar uma classicação especica levando em
consideração a participação do país no comer-
cio mundial do produto bem como a impor-
tância do produto para comércio mundial.
Diante disto, o presente trabalho tem
como objetivo classicar a inserção do segmen-
to brasileiro de celulose no comércio interna-
cional, de 1970 a 2019, e de seus principais
concorrentes no mercado mundial: Estados
Unidos, China e Canadá; e destacar o posicio-
namento e a eciência do segmento de celulose
para cada país no mercado internacional.
Métodos e dados
Para exercício de classicação utilizou-se a
metodologia de Fajnzylber e Mandeng (1991),
que analisaram a estrutura exportadora de países,
levando em consideração sua competitividade e
eciência no comércio internacional utilizando
como medida de competitividade a participa-
ção de determinado setor produtivo nas impor-
tações mundiais. E em termos de eciência os
autores ponderam a participação relativa de um
país nas vendas de determinado segmento pro-
dutivo (FAJNZYLBER E MANDENG, 1991).
As posições e as variações em termos de
competitividade e eciência na “matriz de com-
petitividade” conguram uma situação favorável
ou desfavorável, enquanto a variação de eciên-
cia de um país expressa alta ou baixa eciência
relativa (FAJNZYLBER E MANDENG, 1991;
SANTOS et al., 2016).
Assim, há quatro situações possíveis para
o posicionamento de um país: ótima, onde a
posição relativa do produto é favorável e o país
possui alta eciência; vulnerabilidade, onde o
país possui alta eciência relativa, mas a posi-
ção do produto é desfavorável; oportunidade
perdida, quando a posição do produto é favo-
rável mas o país possui baixa eciência relativa;
e em retrocesso, onde associada a uma posição
desfavorável do produto o país apresenta baixa
eciência relativa (Figura 1) (FAJNZYLBER,
MANDENG, 1991; SANTOS et. al., 2016).
Figura 1 – Matriz de competitividade
EFICIÊNCIA RELATIVA
DO PAÍS
RELATIVA POSIÇÃO DO PRODUTO
SITUAÇÃO DE
VULNERABILIDADE
SITUAÇÃO ÓTIMA
SITUAÇÃO DE
RETROCESSO
SITUAÇÃO DE
OPORTUNIDADES
PERDIDAS
DES FÁ VORA VEL
FA VORÁ VEL
ALTA
BAIXA
Fonte: Fajnzylber e Mandeng (1991)
Segundo Carvalho e Silva (2005) a posição
relativa do produto é expressa por si, e refere-se à
participação das importações mundiais produto,
aqui a celulose , nas importações mundiais:
31 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
Uma variação positiva ou igual a zero em
representa um aumento ou manutenção da par-
ticipação da celulose nas importações mundiais,
congurando uma posição favorável. Uma va-
riação negativa reete um posicionamento des-
favorável em virtude da perda de participação
no comércio internacional.
A eciência para Carvalho e Silva (2005)
é expressa por , e signica a participação relati-
va das exportações de determinado produto de
um dado país nas vendas mundiais do produ-
to. Para celulose tem-se:
Uma variação positiva ou igual a zero
de reete um ganho de competitividade no
mercado internacional da celulose. Caso ocor-
ra uma variação negativa no o país teve uma
baixa eciência na comercialização da celulose.
Tal metodologia avalia a inserção de de-
terminado país no mercado internacional num
certo instante no tempo, captando modica-
ções em curto prazo e explicando determinadas
tendências do segmento do país. As variações
observadas indicam ganhos ou perdas de merca-
dos, que ocorrem simultaneamente com modi-
cações nas tendências mundiais de demanda e
oferta por determinado produto (PENA, 2004).
Os dados foram obtidos por meio da base de
dados FAOSTAT disponibilizada pela Food and
Agriculture Organization e na Organização Mun-
dial do Comércio (OMC). O período de análise
foi 1970 a 2019 (FAO, 2020; OMC, 2020).
A análise dos resultados foi realizada por
décadas para vericar a evolução de uma década
para outra no comércio internacional da celulose.
Assim, os valores de si e sij foram estimados para
cada ano e, posteriormente, foi feita uma média
desses indicadores para cada década. Em segui-
da, foi estimada a variação desses indicadores de
uma década para outra. Os resultados apresenta-
dos sobre a variação dos indicadores iniciam-se a
partir da década de 1970, pois as estimativas do
si e sij iniciam-se em 1960, devido à indisponibi-
lidade de dados de períodos anteriores.
Buscou-se realizar a classicação dos qua-
tro maiores produtores e exportadores mun-
diais de celulose nos últimos anos, sendo res-
pectivamente Estados Unidos, Brasil, China e
Canadá, conforme FAO (2020).
Resultados e discussão
O segmento mundial de celulose vem
apresentando uma trajetória ascendente desde
a década de 1960, com um crescimento médio
anual de 2,01% ao ano (Figura 2).
Figura 2 – Produção mundial de celulose entre 1961 e 2019.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da FAO (2020).
32 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
Foi possível observar diferentes tendências
produtivas do segmento em cada país. A parti-
cipação dos Estados Unidos e Canadá na pro-
dução mundial de celulose diminuíram ao lon-
go dos anos, enquanto a participação de países
como Brasil e China cresceu (Figura 3).
O Brasil a partir de 2015 passou a ter
maior peso na produção total mundial de celu-
lose superando o Canadá. A China segue apre-
sentando uma tendência semelhante e tende a
também superar o Canadá nos próximos anos.
Na década de 2010 a produção de celulose na
China cresceu em média 4,60% ao ano, en-
quanto o Canadá tem apresentado um decres-
cimento de 1,17% ao ano (Tabela 3).
Figura 3 – Participação percentual dos Estados Unidos, Canadá, Brasil e China na produção
mundial total de celulose, entre 1961 e 2019.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da FAO (2020).
Em 1970 as importações de celulose re-
presentaram, aproximadamente, 0,80% das
importações mundiais, mostrando que a celu-
lose havia ganhado notoriedade no comércio
internacional. Porém, desde a década de 1970
a participação da celulose nas importações
mundiais vem apresentando uma trajetória,
que embora apresente oscilações, expressa uma
nítida tendência de queda (Figura 4). A parti-
cipação da celulose no comércio internacional
vem diminuindo ao longo dos anos.
Figura 4 – Participação percentual das importações de celulose nas importações mundiais
entre 1961 e 2019.
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da OMC (2020) e FAO (2020).
33 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
A década de 1970 representou o período
de maior participação da celulose no comercio
internacional, em média as importações de ce-
lulose nessa década corresponderam a 0,59%
das importações mundiais. Essa participação
da celulose no comercio internacional dimi-
nuiu nas décadas seguintes chegando na déca-
da de 2010 a representar em média 0,23% das
importações mundiais (Figura 4). Isso pode ser
explicado pelo crescimento da produção nos
principais países consumidores mundiais, bem
como pelas barreiras comerciais.
Sobre o posicionamento, eciência e situa-
ção do Brasil e de seus principais concorrentes
no comércio internacional de celulose, de 1960 a
2019, por década, estes se encontram na Tabela 1.
Tabela 1 – Posicionamento, eficiência e situação do Brasil e de seus principais concorrentes
no comércio internacional de celulose de 1970 a 2019, por década.
Década Itens Brasil Estados Unidos Canadá China
1970
∆Si médio 0,289 0,289 0,289 0,289
Posicionamento Favorável Favorável Favorável Favorável
∆Sij médio 0,01 -0,06 0,10 0,0014
Eciência Alta Baixa Alta Alta
Situação Ótima Oportunidades
Perdidas Ótima Ótima
1980
∆Si médio -0,123 -0,123 -0,123 -0,123
Posicionamento Desfavorável Desfavorável Desfavorável Desfavorável
∆Sij médio 0,03 0,03 -0,004 0,001
Eciência Alta Alta Baixa Alta
Situação Vulnerabilidade Vulnerabilidade Retrocesso Vulnerabilidade
1990
∆Si médio -0,115 -0,115 -0,115 -0,115
Posicionamento Desfavorável Desfavorável Desfavorável Desfavorável
∆Sij médio 0,02 0,01 -0,02 -0,0004
Eciência Alta Alta Baixa Baixa
Situação Vulnerabilidade Vulnerabilidade Retrocesso Retrocesso
2000
∆Si médio -0,115 -0,115 -0,115 -0,115
Posicionamento Desfavorável Desfavorável Desfavorável Desfavorável
∆Sij médio 0,04 -0,04 -0,06 -0,0012
Eciência Alta Baixa Baixa Baixa
Situação Vulnerabilidade Retrocesso Retrocesso Retrocesso
2010
∆Si médio -0,016 -0,016 -0,016 -0,016
Posicionamento Desfavorável Desfavorável Desfavorável Desfavorável
∆Sij médio 0,05 0,00 -0,07 0,0007
Eciência Alta Alta Baixa Alta
Situação Vulnerabilidade Vulnerabilidade Retrocesso Vulnerabilidade
Fonte: Resultados da Pesquisa.
34 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
Na década de 1970, Brasil, Estados Uni-
dos, Canadá e China estavam em uma posição
favorável no comércio internacional da celulo-
se. Esses países apresentaram alta eciência nes-
sa década e se enquadraram em uma situação
ótima no comércio internacional da celulose,
exceto os Estados Unidos que apresentou bai-
xa eciência se enquadrando numa situação de
oportunidade perdida (Tabela 1).
O bom desempenho do Brasil no co-
mércio internacional da celulose na década de
1970 caracterizando uma situação ótima, pode
estar associado às políticas públicas destinadas
ao segmento orestal e de celulose como a polí-
tica de incentivos scais ao reorestamento que
vigorou de 1966 a 1988, ao aproveitamento
de novas espécies orestais e ao uso da celulose
de bra curta de forma integral na produção
de papel. Destacando que na década de 1970
o governo brasileiro implementou o I Progra-
ma Nacional de Papel e Celulose que buscou a
auto suciência produtiva do setor e a geração
de excedentes exportáveis, ainda havia o incen-
tivo as plantas produtivas que apresentassem
condições favoráveis para participar no comér-
cio internacional (BNDES, 1991; HILGEM-
BERG e BACHA, 2000; ANTONANGELO
E BACHA, 1998; SOTO, 1992).
A alta eciência e a situação favorável do
Canadá no comércio internacional da celulose
resultando numa situação ótima, pode ser re-
sultado de mudanças no segmento de celulose
do país a partir da Segunda Guerra Mundial
onde houve o crescimento da fabricação quí-
mica da celulose possibilitando o uso de ou-
tras espécies orestais na produção de celulose.
Além da diversicação da produção e do mer-
cado, impulsionada, especialmente, pelo cres-
cimento da demanda por celulose por parte da
Europa e da Ásia (BOGDANSKI, 2014).
Embora a China tenha apresentado alta
eciência, posicionamento favorável e situação
ótima no comércio internacional da celulose
na década de 1970, o segmento possuía como
característica a produção em maior quantida-
de de celulose provenientes de insumos não
lenhosos como bamboo, cana e palha de ar-
roz, baixa escala produtiva e baixa tecnologia
de processamento. Contudo, por um fator es-
trutural do país, a partir do nal da década de
1970 a China passa a ter maior participação
no comércio internacional. Em meados da dé-
cada o país passou por reformas na economia,
um processo de modernização na indústria e
agricultura, maior interesse em investimentos
estrangeiros e crescimento da participação no
comércio exterior o que pode está explicando o
bom desempenho da China no comércio inter-
nacional da celulose (LI, LOU E MCCARTY,
2002; ZHUANG, DING E LI, 2005; AN-
DRADE, NARETTO E LEITE, 2015).
Os Estados Unidos, por sua vez, foi o úni-
co país que apresentou uma situação de opor-
tunidades perdidas, na década de 1970 (Tabela
1). Nesse período, o volume de celulose expor-
tado pelo país caiu. Em 1979 a produção de
celulose do país foi de 45.318 mil toneladas,
21,44% maior do que 1970, mas o volume
exportado no ano de 1979 foi de 2.624,4 mil
toneladas, 6,55% menor em relação ao início
da década (INCE et. al., 2001; FAO, 2020).
Isso pode ser devido a produtividade orestal
nos Estados Unidos ser menor e o tempo de
produção maior que em países como o Brasil
(SOARES, 2010).
Na década de 1980, o posicionamento da
celulose passou a ser desfavorável no comércio
internacional para os países em análise. Nessa
década o Estados Unidos apresentou alta e-
ciência na produção de celulose, assim como
35 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
Brasil e China. Esses três países se enquadraram
em uma situação de vulnerabilidade. O Canadá
apresentou baixa eciência produtiva, apresen-
tando uma situação de retrocesso (Tabela 1).
Embora a celulose tenha apresentado me-
nor participação no comércio internacional o
segmento no Brasil estava em ascensão, apresen-
tando maquinário compatível a tecnologia em-
pregada no mundo e com maior integração ao
segmento orestal. Nessa década a indústria ain-
da contou com a implementação do II Progra-
ma Nacional de Papel e Celulose que propiciou
um novo ciclo de investimento ao setor (SOTO,
1992; BNDES, 1991; HILGEMBERG E BA-
CHA, 2000). Esses fatores podem estar expli-
cando a alta eciência brasileira no comércio
internacional de celulose na década de 1980.
A China, embora ainda produzisse celulo-
se em maior parte proveniente de materiais não
lenhosos, ainda era favorecida pela ascensão eco-
nômica e maior inserção no comércio interna-
cional. A China possuía uma grande demanda
interna por celulose, em 1989 o país produziu
2.077 mil toneladas de celulose, volume 54,6%
maior em relação 1980, sendo 96% consumida
no mercado interno. As exportações de celulose
da China cresceram ao longo da década 1980
e em 1989 o país exportou 83 mil toneladas
de celulose, cerca de 4% da produção nacional,
obtendo US$ 59,94 mil em exportações. Esse
volume exportado foi 276,67% maior em rela-
ção a 1980 (FAO,2020).
As exportações de celulose do Estados
Unidos seguiram uma trajetória ascendente ao
longo da década de 1980. Em 1989, o país des-
tinou 10% da sua produção nacional ao mer-
cado internacional, isto é US$ 3.520,71 mil.
Reexo da expansão produtiva evidenciada en-
tre 1970 e 1980, período onde a capacidade
produtiva dos setores de papel e celulose teve
crescimento a uma taxa de 2,4% ao ano (INCE
et. al., 2001).
O Canadá apresentou uma situação de
retrocesso inuenciado por um processo de es-
tagnação do segmento de papel entre meados
da década de 1970 e 1980. O efeito é sentido
a partir de uma queda das exportações de celu-
lose para o Estados Unidos e também pelo uso
de papel reciclado para produção de papel na
indústria (BOGDANSKI, 2014).
Na década de 1990 todos os países em
análise apresentaram posicionamento desfa-
vorável no comércio internacional da celulose.
Porém, Brasil e Estados Unidos apresentaram
alta eciência produtiva e estiveram em uma
situação de vulnerabilidade desfavorável no
comércio internacional da celulose. Enquanto
Canadá e China apresentaram baixa produtivi-
dade e uma situação de retrocesso desfavorável
no comércio internacional da commodity (Ta-
bela 1).
Nesse período o volume de exportação do
Brasil cresceu expressivamente, em 1999 o país
exportou 1.033,4 mil toneladas de celulose,
um crescimento de 301% em relação a 1990.
O segmento ainda contava com o apoio do II
Programa Nacional de Papel e Celulose. Em
1990 cerca de 24% da produção nacional foi
exportada, em 1999 esse percentual passou a
ser de 43,7% (FAO, 2020), o que pode estar
explicando a situação do país no comércio in-
ternacional da celulose nessa época.
O Estados Unidos manteve a competiti-
vidade no comércio internacional de celulose,
que foi impulsionada muito mais pela alta do
preço a partir da segunda metade da década do
que pelo volume comercializado. O país apre-
sentava um mercado pulverizado, atendia cerca
de 100 países, sendo o principal destino a Eu-
ropa e Ásia (USITC, 2002).
36 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
A situação de retrocesso do Canadá pode
estar associada a maior comercialização de bra
reciclada e da celulose química. O país teve au-
mento no volume exportado ao longo da década,
em 1999 foram 11.649 mil toneladas de celulo-
se exportadas, 47,8% superior a 1990, renden-
do US$ 5.018,15 mil, valor 4,12% inferior a
1990 (BOGDANSKI, 2014; FAO, 2020).
A China passou a perder competitividade
em virtude da baixa qualidade de sua celulose ain-
da em grande parte produzida por material não
lenhoso que prejudicavam o país no comércio
internacional da celulose. A falta de insumos o-
restais é um dos principais fatores para produção
de produtos de menor qualidade no país, isso afe-
tava inclusive a indústria de papel, que passou a
demandar maior volume de celulose no mercado
internacional (ZHUANG, DING E LI, 2005).
Nas duas primeiras décadas do século XXI
a celulose apresentou um posicionamento des-
favorável no comércio internacional da celulose
para todos os países considerados na análise. De
2000 a 2009, apenas o Brasil apresentou alta
eciência no comércio internacional da celulo-
se e os seus principais concorrentes no comér-
cio internacional apresentaram baixa eciência.
Assim, o Brasil encontrou-se numa situação de
vulnerabilidade e os seus concorrentes em si-
tuação de retrocesso nesse comércio (Tabela 1).
No caso brasileiro, ao longo da década, em
média, 51,27% da produção anual da celulose foi
destinada ao comercio internacional. O segmen-
to deixou de ter apoio direto de políticas públicas,
mas passou a ter apoio do Programa Nacional de
Florestas que possui como instrumento a criação
de linhas de crédito para a atividade orestal no
país. A competitividade do segmento está atre-
lada a capacidade de investimento das empresas
do segmento em tecnologia e pesquisa (BRASIL,
2000; FAO, 2020; ROCHA E SOARES, 2014).
Os Estados Unidos, China e Canadá apre-
sentaram baixa eciência e se enquadraram em
uma situação de retrocesso. No caso dos Esta-
dos Unidos uma justicativa se dá pela desace-
leração do segmento de papel, papelão e celulo-
se. A taxa de crescimento anual da capacidade
produtiva americana da celulose reduziu de
2,4% entre 1970 e 1980 para 1,9% entre 1990
e 2000. A capacidade reduzida do segmento e a
força da moeda no comércio internacional in-
uenciaram as exportações do país. No nal da
década o país ainda foi inuenciado pela forte
recessão entre 2007 e 2009 (INCE et al, 2001;
BOGDANSKI, 2014).
A China apresentava limitações em termos
de produtividade, o que resultou na intervenção
estatal no processo de reorestamento como
uma alternativa a produção de celulose. Entre-
tanto, os subsídios diretos e indiretos por parte
do governo podem resultar na competitividade
das empresas (BARR e COSSALTER, 2004).
A situação de retrocesso do Canadá pode
ser devido à recessão global entre 2007 e 2009,
mas também a mudanças no consumo de pa-
pel na América do Norte, especialmente na de-
manda de papéis grácos em virtude do cresci-
mento da concorrência da mídia digital, pelas
ações de conservação de papel e alterações nos
hábitos de leitura (BOGDANSKI, 2014).
De 2010 a 2019, o Brasil e seus principais
concorrentes no mercado internacional da ce-
lulose apresentaram posicionamento desfavo-
rável no comércio internacional deste segmen-
to. Por outro lado, o Brasil, Estados Unidos e
China apresentaram alta eciência e estiveram
em uma situação de vulnerabilidade. Já o Ca-
nadá apresentou baixa eciência e situação de
retrocesso (Tabela 1). O segmento da celulose
no Brasil conseguiu manter sua competitivi-
dade em virtude dos investimentos privados
37 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
em pesquisa e tecnologia, praticamente não
contando com apoio estatal nessa área. O país
atingiu o patamar de maior exportador do pro-
duto apoiado em investimentos em tecnologia
e pesquisa que buscam o aumento de produ-
tividade e considerável aumento da comercia-
lização para países como a China (SOARES,
2014; FAO, 2020).
No caso do Estados Unidos a alta eciên-
cia pode ser associada a reorganização do seg-
mento produtivo no país atendendo a deman-
da interna e tornando-se mais ativa no cenário
internacional. Enquanto na China pode ser
pelo fomento do plantio em larga escala de es-
pécies orestais como o eucalipto por parte das
empresas e pelo próprio governo nacional que
buscava reduzir o décit proporcionado pela
importação de celulose pelo segmento de papel
ainda na década anterior. O segmento também
foi favorecido pelo crescimento econômico
vivenciado pelo país ao longo de toda década
(BARR E COSSALTER, 2004; MORRISON,
2019).
O Canadá foi o único país nessa década a
apresentar baixa eciência e se enquadrou em
uma situação de retrocesso. Essa situação se dá
pela dependência que se tinha do mercado do
Estados Unidos que continuou a demandar
menor quantidade do produto canadense ao
longo da década. O segmento ainda sentia os
efeitos negativos da crise do nal da década an-
terior (BOGDANSKI, 2014).
Considerações finais
Com base nos resultados obtidos, eviden-
ciou-se que o Brasil, Estados Unidos, China e
Canadá apresentam classicações distintas no
comércio internacional da celulose ao longo
das décadas analisadas.
Vericou-se que o Brasil foi o único país
que apresentou alta eciência em todas as déca-
das analisadas e que apenas na década de 1970
o Brasil e seus principais concorrentes no co-
mércio internacional da celulose apresentaram
posicionamento favorável.
Em outras palavras, o Brasil foi o único
país dentre os analisados que apresentou ganho
de competitividade no mercado internacional
da celulose em todo o período considerado. Es-
tados Unidos, Canadá e China apresentaram-
-se competitivos em alguns períodos.
Referências
ANDRADE, I. de O.; NARETTO, N. de A.; LEITE, A. W.
A dinâmica das relações econômicas entre Brasil e China: uma
análise do período (2000-2015). Boletim de Economia e Po-
lítica Internacional, Brasília, n. 21, set-dez, 2015.
ANTONANGELO, A.; BACHA, C. J. C. As fases da Silvi-
cultura no Brasil. Revista Brasileira de Economia: Rio de
Janeiro, 1998.
BARR, C.; COSSALTER, C. Chinas development of a plan-
tation-basead wood pulp industry: government policies, nan-
cial incentives, and investment trends. Internacional Forestry
Review, v. 6, n. 3-4, p. 267-281, 2004.
BNDES. A participação do Sistema BNDES na evolução do
setor de papel e celulose no Brasil. BNDES: Rio de Janeiro,
1991.
BOGDANSKI, B. E. C. e rise and fall of the Canadian pulp
and paper sector. e Forestry Chronicle, Mattawa, v. 90, n.
6, 2014.
CARVALHO, M. A. de. SILVA, C. R. L. da. Vulnerabilidade
do Comércio Agrícola Brasileiro. Economia e Sociologia Ru-
ral, Brasília, v. 43, n. 1, 2005.
FAJNZYLBER, F. International insertion and institutional re-
newal. CEPAL Review, v. 44, p. 137-166, 1991.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF
THE UNITED NATIONS (FAO). Forestry Production and
Trade. 2014. Disponível em: http://www.fao.org/faostat/en/#-
data/FO. Acesso em: ago. 2020.
HILGEMBERG, E. M.; BACHA, C. J. C. A evolução da in-
dústria brasileira de celulose e sua atuação no mercado mun-
dial. Análise Econômica, Porto Alegre, v. 19, n. 36, 2000.
INCE, P. J.; et. al. Uniteed States paper, paperboard, and Mar-
ket pulp capacity trends by process and location, 1970-2000.
Research Paper FPL-RP, v. 602, n. 32, 2001.
INDÚSTRIA BRASILERIA DE ÁRVORES (IBA). Relatório
2019. São Paulo: IBA. Disponível em: https://iba.org/data-
les/publicacoes/relatorios/relatorioiba2019-nal.pdf. Acesso
em: ago. 2020.
JUVENAL, T. L.; MATTOS, R. L. G. O setor de celulose e
papel. In: SÃO PAULO, E. M. de; KALACHE FILHO, J.
38 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.28 - 38, mai. 2021
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
50 anos: histórias setoriais. Rio de Janeiro: Dba, 2002.
LI, H.; LUO, J.; McCARTHY, P. Economic transition and
demand pettern: evidence from Chinas paper and paperboard
industry. Georgia Institute of Technology: Atlanta, 2002.
MORRISON, W. M. Chinas economic rise: history, trends,
challeges, and implications of the United States. Congressional
Research Service, 2019. Disponível em: https://www.everycr-
sreport.com/les/20190625_RL33534_088c5467dd11365d-
d4ab5f72133db289fa10030f.pdf. Acesso em: out. 2020.
PENA, H. W. A. Brasil e Coréia do Sul: uma análise compa-
rativa da dinâmica das exportações no comércio internacional,
1985-2002. Dissertação (Magister Scientiae) – Programa de
Pós-Graduação em Economia, Belém, 2004.
ROCHA, A. P. A.; SOARES, N. S. Desempenho das exporta-
ções brasileiras do setor de papel e celulose, entre 1997 e 2011.
Informações Econômicas, São Paulo, v. 44, n. 6, 2014.
SOARES, N. S. Análise da competitividade e dos preções da
celulose e da madeira de eucalipto no Brasil. Tese (Doctor
Scientiae) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Flores-
tal, Viçosa, 2010.
SOTO BAQUERO, F. A. Da indústria de papel ao comple-
xo orestal no Brasil: o caminho do corporativismo tradi-
cional ao neocorporatismo. Tese – Instituto de Economia da
UNICAMP, Campinas, 1992.
U.S. INTERNATIONAL TRADE COMMISSION –
USITC. Wood Pulp and Waste paper. Industry & Trade
Summay: Washington, 2002. Disponível em: https://www.
usitc.gov/publications/332/pub3490.pdf. Acesso em: out.
2020.
ZAEYEN, A. Estrutura e desempenho do segmento de celu-
lose e papel no Brasil. 1986. 64 f. (Tese de mestrado) - Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1986.
ZHUANG, Z.; DING, L.; LI, H. Chinas pulp and paper in-
dustry: a review. Georgia Institute of Technology: Atlanta,
2005. Disponível em: https://cpbis.gatech.edu/les/papers/
CPBIS-FR-08-03%20Zhuang_Ding_Li%20FinalReport-
-China_Pulp_and_Paper_Industry.pdf. Acesso em: out. 2020.