
55 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.18 n.1, p.50 - 56, mai. 2021
sinalizam para a obtenção de consenso quanto
ao nanciamento climático via Acordo de Paris.
É possível contrapor a posição norte-
americana à proposta chinesa: enquanto Xi
Jinping mencionou, em seu discurso durante
a cúpula, a importância da cooperação – tanto
em nível internacional, quanto regionalmente
– além do papel central do “princípio das res-
ponsabilidades comuns, porém diferenciadas”
(PRCPD), da cooperação sul-sul e da Belt and
Road Initiative na promoção do desenvolvi-
mento sustentável6; o discurso de Biden, por
outro lado, enfatizou os investimentos nacio-
nais em infraestrutura, inovação e na geração
de empregos. Essa diferença entre as propostas
chinesa e estadunidense evidencia a contrapo-
sição de duas diferentes estratégias observadas
no processo de negociação do Acordo de Pa-
ris e nas negociações subsequentes relativas à
sua implementação. De um lado, a defesa da
cooperação internacional como estratégia de
combate às mudanças do clima, a partir do
PRCPD; de outro, a ênfase em contribuições
nacionais e em diferenciação “sutil”, que coloca
em segundo plano a possibilidade de coordena-
ção de políticas e de promoção da cooperação
em nível internacional.
Em uma análise preliminar, é possível en-
tender a posição do governo norte-americano
como reexo dos desaos domésticos no país.
A crescente polarização interna demanda um
balanceamento complexo entre a necessidade
de reassumir a liderança multilateral, com as
mudanças do clima como pedra angular nesse
processo, e sinalizar para as demandas e neces-
sidades domésticas, de geração de empregos e
crescimento econômico. Esse difícil equilíbrio
6 Discurso completo disponível em: http://www.xinhuanet.
com/english/2021-04/22/c_139899289.htm. Acesso em
30 de abril de 2021.
foi endereçado no primeiro discurso do Secre-
tário de Estado, Anthony Blinken, em março
desse ano:
o governo estabeleceu as prioridades de políti-
ca externa da administração Biden a partir de
questões simples: ‘o que nossa política externa
representa para os trabalhadores americanos e
suas famílias? O que precisamos fazer ao redor
do mundo para tornar-nos mais fortes aqui,
em casa? E o que precisamos fazer domestica-
mente para nos fortalecer no mundo? Onde
quer que as leis para a segurança internacional
e a economia global estiverem sendo escritas,
a América estará lá e o povo americano será
a frente e o centro das nossas decisões’. (US
DEPARTMENT OF STATE, 2021).
Segundo Shapiro (2021) a necessidade de
adotar uma política externa para a classe mé-
dia não seria compatível com a estratégia de
assumir a liderança global multilateral, ao me-
nos não na mesma medida – o governo Biden
terá de priorizar uma ou outra dimensão. As
decisões da COP 26 serão importantes, nesse
sentido, para que seja possível compreender em
que medida os Estados Unidos assumirão a li-
derança na agenda do clima e contribuirão para
a obtenção de consenso na implementação do
Acordo de Paris.
Referências
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