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Que tipo de aliança? O governo Biden e
a Ucrânia diante do fator Rússia
What kind of alliance? e Biden government and Ukraine in the face of the Russia
factor
¿Que tipo de alianza? El gobierno Biden y Ucrania frente al factor Rusia
Gustavo Oliveira Teles de Menezes1
Reginaldo Mattar Nasser2
Recebido em: 01 de julho de 2022
Aprovado em: 23 de junho de 2023
DOI: 10.5752/P.1809-6182.2022v19n1p25-41
Resumo:
Este artigo analisa o posicionamento do governo Biden sobre a questão de uma aliança
EUA-Ucrânia. Argumenta-se que o apoio militar norte-americano à Ucrânia coincidiu
com hesitações sobre o tipo de garantias providas ao país frente a possíveis tensões com a
Rússia, dinâmica que perpassa as relações EUA-Ucrânia-Rússia no Pós-Guerra Fria.
Palavras-chave: EUA; Ucrânia; Rússia
Abstract:
is article analyzes the Biden administrations position on the issue of a US-Ukraine
alliance. It is argued that American military support for Ukraine coincided with
hesitations over the type of guarantees provided to Ukraine in the face of possible tensions
with Russia, a question that permeates Post-Cold War US-Ukraine-Russia relations.
Keywords: USA; Ukraine; Russia
Resumen:
Este artículo analiza la posición del gobierno Biden sobre una alianza EE.UU.-Ucrania.
Se argumenta que el apoyo militar estadounidense coincidió con vacilaciones sobre el tipo
de garantías ofrecidas a Ucrania ante posibles tensiones con Rusia, dinámica que permea
las relaciones EE.UU.-Ucrania-Rusia en el Posguerra Fría.
Palabras clave: EE.UU.; Ucrania; Rusia
1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp,
PUC-SP). Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INC-
T-INEU). Contato: gustavo.ot.menezes@unesp.br.
2 Professor Livre-docente na área de Relações Internacionais da PUC-SP e do Programa de Pós-Graduação em
Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp, PUC-SP). Coordenador do Grupo de Estudos sobre
Conitos Internacionais (GECI) da PUC-SP e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para
Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU). Contato: regnasser@pucsp.br.
Artigo
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INTRODUÇÃO
A invasão russa à Ucrânia em 2022 foi
recebida por diversos analistas, com razão,
como uma ação surpreendente. Embora, é
verdade, o acúmulo de tropas russas nos ar-
redores da fronteira ucraniana e os alertas dos
EUA indicassem a possibilidade de uma ação
de tal tipo, os ataques lançados pela Rússia
em fevereiro de 2022 excediam, em sua escala
operacional e objetivos políticos, os parâme-
tros das operações bélicas russas no Pós-Guer-
ra Fria. Ademais, apesar de um notório endu-
recimento das críticas ao governo ucraniano
em 2021, o governo russo, até poucos dias
antes da invasão de fevereiro de 2022, nega-
va ter quaisquer planos nesse sentido (Rússia,
2022). A crise em torno da Ucrânia no nal
de 2021 e início de 2022 poderia expressar
um clássico jogo de dissuasão, o que não ne-
cessariamente signica que o ato de ameaça
crível se concretizaria.
Por outro lado, deve-se ressaltar que a
Guerra Russo-Ucraniana é, em grande medi-
da, desdobramento de dinâmicas estruturais no
triângulo EUA-Ucrânia-Rússia que perpassam
o Pós-Guerra Fria. A conformação do sistema
de alianças dos EUA, em que se destaca o pro-
cesso de expansão da OTAN, aproximou-se
de uma Ucrânia que, periodicamente, se con-
siderava ameaçada pela Rússia. Já esta última
resistiu crescentemente às tentativas de avanço
dos EUA na esfera de inuência reivindicada
por Moscou no espaço pós-soviético. A reivin-
dicação ucraniana pela entrada na OTAN, que
teve avanços e recuos no Pós-Guerra Fria, e o
fortalecimento militar da Ucrânia por meio da
cooperação com os EUA e membros da OTAN
guram entre as principais motivações alegadas
pela Rússia para lançar a invasão de 2022.
Tendo em vista essas considerações, este
artigo objetiva analisar como o governo Biden
se posicionou quanto à questão de uma aliança
EUA-Ucrânia à luz tanto das questões de se-
gurança estruturais envolvendo EUA, Ucrânia
e Rússia, quanto das percepções das lideranças
desses países no Pós-Guerra Fria. Nesse senti-
do, pretendemos analisar comparativamente o
governo Biden e seus antecessores.3
A EXPANSÃO DA OTAN NO
PÓS-GUERRA FRIA
Desde o m da Segunda Guerra Mundial,
um dos elementos centrais da grande estratégia
dos EUA, voltada para a realização do status
de primazia internacional, tem sido uma rede
de aliados simultaneamente apoiados e conti-
dos por Washington (Porter, 2018). O colapso
da URSS e a perda de sua esfera de inuência
na área do antigo Pacto de Varsóvia ao nal da
Guerra Fria renovaram essas considerações, co-
locando os EUA diante de um dilema: atender
aos interesses de segurança de países do leste e
centro europeus - em variados graus, receosos
de uma possível agressividade russa e desejosos
de ingressar na OTAN - ou privilegiar a coope-
ração com a Rússia (Sarotte, 2022)
Diante das preocupações de Moscou, lí-
deres dos EUA e de países europeus deram
indicações a Mikhail Gorbachev e Boris Ielt-
sin de que a OTAN ou não se expandiria ou
que, caso se expandisse, o faria gradualmente e
considerando as posições soviéticas/russas (Sa-
vranskaya; Blanton, 2017; 2018). Em diversas
ocasiões, Moscou chegou a sinalizar não ver
3 Dessa maneira, o presente trabalho abordará as perspectivas
de outros atores somente em aspectos pertinentes para a dis-
cussão principal, dada a delimitação do objetivo do artigo e
suas limitações de escopo.
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problemas na expansão da OTAN, desde que
tal processo incluísse a Rússia ou respeitasse
seus interesses. Gorbachev, Ieltsin e Vladimir
Putin chegaram até mesmo a aventar o ingresso
da URSS/Rússia na OTAN (Radchenko, 2020;
Sarotte, 2022; Stent, 2014, p.75-78).
Nesse sentido, cabe ressaltar que a bus-
ca por relações equitativas com o Ocidente e
o reconhecimento de uma esfera de inuência
no espaço pós-soviético têm sido elementos ca-
racterísticos da política externa russa no Pós-
-Guerra Fria. Para atingir tais objetivos, a Rús-
sia avaliou diversas plataformas, mecanismos e
políticas, a depender do desenvolvimento das
relações com os EUA e os países europeus. De
início, na primeira metade dos anos 1990, o go-
verno russo propunha uma gestão da seguran-
ça na Europa em torno da Organização para a
Segurança e Cooperação na Europa (OSCE),4
organização da qual faz parte em conjunto com
os EUA. Posteriormente, com a expansão Pós-
-Guerra Fria da OTAN e da União Europeia
(UE) - e a concomitante marginalização da
OSCE -, a Rússia, da segunda metade dos anos
1990 até por volta da primeira metade dos anos
2000, privilegiou tentativas de estabelecimento
de mecanismos de consultas, decisões e ações
conjuntas com a OTAN e a UE. Por m, a par-
tir da primeira metade dos anos 2000, a Rússia
passou a concentrar esforços na efetiva xação
de uma divisão de esferas de inuência com os
EUA a partir da delimitação da atuação das es-
truturas políticas, econômicas e militares lide-
radas por Moscou, de um lado, e as lideradas
pelas potências ocidentais, do outro (Zagorskii,
2017, p.5-18).
As opções dos EUA, todavia, contribuíram
para afastar a possibilidade de entendimentos
4 Chamada de Conferência sobre Segurança e Cooperação na
Europa entre sua fundação, nos anos 1970, e 1995.
mais amplos com a Rússia. Já no processo de
unicação alemã, o presidente George H.W.
Bush considerava a OTAN um ativo geopolíti-
co crucial que os EUA não deveriam descartar
mesmo após o m da Guerra Fria. Desde en-
tão, uma regularidade da política dos EUA foi,
com avanços e recuos, a abertura à expansão da
OTAN a leste e o descarte da possibilidade de a
Rússia ter um poder de veto institucionalizado
sobre a aliança. Presidentes como H.W. Bush e
Bill Clinton acreditavam que as objeções rus-
sas poderiam ser simplesmente ignoradas ou
amortecidas por algum tipo de compensação
(Sarotte, 2022).
Assim, apesar de os EUA, nos anos 1990,
nominalmente não terem descartado a possi-
bilidade de a Rússia entrar na OTAN, nunca
houve uma genuína disposição de incluí-la,
pois temia-se que a Rússia, com sua indispo-
sição ou incapacidade de se subordinar a uma
organização liderada pelos EUA, poderia para-
lisar o funcionamento da aliança (Radchenko,
2020, p.808-809). O máximo que os EUA se
dispuseram a aceitar foram iniciativas de coo-
peração como o Ato Fundador OTAN-Rússia
(1997) e o Conselho OTAN-Rússia (2002),
que aproximavam os dois lados, mas sem dar o
poder de veto equitativo buscado pela Rússia.
A exclusão da Rússia e as intervenções da
OTAN nos Bálcãs - vistas em Moscou como
provas de um caráter crescentemente ofensivo
da aliança - zeram a Rússia crescentemente
enxergar a OTAN como uma latente ameaça
a seus interesses nacionais. A partir dos anos
2000, tal visão foi acentuada pela percepção de
intrusão estadunidense no espaço pós-soviéti-
co e por divergências em questões como o sta-
tus do Kosovo, as ações dos EUA no Oriente
Médio e planos norte-americanos que contra-
riavam as visões russas na área de controle de
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armamentos (Sakwa, 2017; Stent, 2014; Tsy-
gankov, 2019).
Já do ponto de vista dos EUA e de alguns
países que pretendiam entrar na OTAN, algu-
mas ações e processos políticos na Rússia, mes-
mo que involuntariamente, contribuíram para
alimentar desconanças sobre Moscou. Nos
anos 1990, o uso da força por Ieltsin contra
opositores e no conito secessionista checheno
contribuiu, em conjunto com o forte desempe-
nho eleitoral de nacionalistas russos, para forta-
lecer a percepção de que a expansão da OTAN
era necessária contra uma possível agressivida-
de russa futura. Assim, o caráter da expansão
da OTAN como uma possibilidade de “neo-
contenção” da Rússia, inicialmente considera-
da nos bastidores, passou a ser cogitada publi-
camente já nos anos 1990 (Radchenko, 2020;
Sarotte, 2022).
Pode-se dizer que as tensões entre os EUA
e a Rússia associam-se a dois princípios recor-
rentemente discutidos sobre a arquitetura de
segurança europeia: de um lado, o direito de
cada país de escolher seus acordos de seguran-
ça e alianças; do outro, a proposição de que
Estados não devem fortalecer sua segurança às
custas da segurança de outros Estados. Ape-
sar de tais princípios terem sido incorporados
simultaneamente ao arcabouço da OSCE en-
quanto partes componentes da concepção da
segurança indivisível” (OSCE, 2010), as po-
tenciais contradições práticas entre eles jamais
foram plenamente resolvidas. Desse modo, ao
longo do Pós-Guerra Fria, a OTAN passou
por diversas rodadas de expansão, incluindo
países que compunham o Pacto de Varsóvia
e as ex-repúblicas soviéticas do Báltico. Esse
processo enfrentou crescente resistência rus-
sa. Em agosto de 2008, a Rússia entrou em
guerra contra a Geórgia, aspirante a membro
da aliança, em torno da região separatista da
Ossétia do Sul, no que Sakwa (2017, p.153.
Tradução nossa) chamou de “a primeira guer-
ra para parar o alargamento da OTAN”. Desse
modo, as tensões EUA/OTAN-Rússia se con-
solidaram como um dos principais problemas
de segurança na Europa.
A UCRÂNIA ENTRE EUA E
RÚSSIA (1991-2021)
Setores do governo dos EUA, mesmo an-
tes do colapso da URSS, viam positivamente
o surgimento da Ucrânia independente como
um potencial contrapeso geopolítico à Rússia
(Pifer, 2017, p.13-14). Durante a administra-
ção Clinton, havia aqueles que consideravam
incluir a Ucrânia na OTAN de forma a não
deixá-la na esfera de inuência russa (Radchen-
ko, 2020, p.799).
Simultaneamente, as relações Ucrânia-
-Rússia surgiram sob o signo de tensões la-
tentes e complexidades que viriam a afetar a
orientação externa da Ucrânia e as visões dos
EUA sobre as relações com Kiev. De um lado,
Ucrânia e Rússia mantiveram uma signicativa
interdependência econômica. Em particular,
parte dos chamados “oligarcas” ucranianos, isto
é, os grandes empresários do país, desenvolveu
um interesse em manter relações econômicas
estáveis com a Rússia. Do outro, uma regula-
ridade das relações russo-ucranianas tem sido
o embate entre o desejo russo por manter uma
esfera de inuência no espaço pós-soviético e o
desejo da elite política ucraniana pelo resguar-
do da soberania de seu país, que historicamente
resistiu a tais aspirações russas. Assim, a partir
de 1991, a Ucrânia, sob diferentes governos,
buscava pragmaticamente extrair benefícios
econômicos das relações com a Rússia enquan-
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to evitava aderir a iniciativas de integração com
Moscou que limitassem a soberania do país
(D’anieri, 2019a).
Havia, ademais, tensões territoriais. A con-
solidação do controle da Ucrânia na região da
Crimeia, de maioria étnica russa, foi conturba-
da. Na primeira metade dos anos 1990, houve,
na Crimeia, iniciativas de autonomia regional
com potencial secessionista. Simultaneamente,
embora o governo Ieltsin (1991-1999) tenha se
comprometido com a integridade da Ucrânia,
o parlamento russo tomou diversas iniciativas
que questionavam o pertencimento da Crimeia
à Ucrânia. A Ucrânia só conseguiu estabilizar
sua soberania sobre a Crimeia a partir de 1995,
enquanto que acordos regulando as relações
Ucrânia-Rússia e a presença militar naval rus-
sa na Crimeia só foram nalizados em 1997
(D’anieri, 2019a; Sasse, 2007).
Nesse contexto, ainda no início dos anos
1990, a Ucrânia buscou contrapesos externos
à Rússia. Em troca da abdicação das armas nu-
cleares herdadas da URSS, a Ucrânia propunha
receber garantias externas de segurança e rei-
vindicou junto ao governo H.W. Bush o rece-
bimento de garantias aos moldes do artigo 5
da OTAN, que trata da defesa coletiva (PIFER,
2017, p.48-51). Os EUA reagiram cautelosa-
mente às propostas ucranianas, iniciando um
padrão que se reproduziria no futuro. Desde
antes do colapso da URSS, havia, nos EUA, a
noção das complexidades políticas internas da
Ucrânia e de sua importância geopolítica e cul-
tural para os russos (Sarotte, 2022).
Assim, os EUA dispuseram-se a oferecer
à Ucrânia garantias somente ao nível de assu-
rances - um tipo menos forte do que guarantees,
em particular no sentido de não implicar um
compromisso com o emprego da força mili-
tar estadunidense (Pifer, 2017, p.48-51). Tal
abordagem se desdobrou no Memorando de
Budapeste (1994), assinado por EUA, Reino
Unido, Rússia e Ucrânia. As partes declaram-
-se comprometidas com a soberania e a inte-
gridade da Ucrânia, mas, no que tange à segu-
rança, estipulou-se somente a possibilidade de
consultas em caso de questões pertinentes a tal
compromisso. Em caso de agressão ou ameaça
de agressão com armas nucleares, declarou-se o
compromisso com a mobilização de assistência
à Ucrânia via Conselho de Segurança da ONU
(EUA, 1994). Ociais ucranianos admitiam
aos EUA desconanças sobre se a Rússia, de
fato, respeitaria o memorando, e o viam como
base para solicitar apoio caso Moscou desres-
peitasse seus compromissos (Sarotte, 2022).
Outros importantes desdobramentos no
triângulo EUA-Ucrânia-Rússia ocorreram du-
rante o governo do presidente Leonid Kuchma
(1994-2005) em Kiev. Sob Kuchma, a Ucrâ-
nia desenvolveu a chamada política externa
multivetorial”, caracterizada pela tentativa de
equilibrar as relações com o Ocidente e a Rús-
sia econômica e geopoliticamente (D’anieri,
2019a, p.73-74) - política essa que teve ecos
futuros, em particular, como se verá adiante,
na presidência de Viktor Ianukovych (2010-
2014). Diante da frequente insegurança
quanto à Rússia, o governo Kuchma, no âm-
bito da política “multivetorial”, via as relações
com os EUA/OTAN como um contrapeso à
Rússia, apesar de, inicialmente, a busca pelo
ingresso na aliança não ter sido ocialmente
assumida (Pifer, 2017, p.89-100, 123). Ilus-
trando a visão sobre as relações com a OTAN
como uma espécie de seguro de longo prazo
para a Ucrânia diante das desconanças quan-
to à Rússia, Kuchma, em encontro com Clin-
ton em 1997, armou que “Estamos lidando
com a Rússia de Boris Nikolaievich [Ieltsin]
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hoje, mas pode haver alguém com uma po-
lítica completamente diferente no futuro. A
relação OTAN-Ucrânia é um aviso a todos
(EUA, 1997. Tradução nossa).
No governo Clinton, considerava-se que o
ingresso da Ucrânia na OTAN poderia garan-
tir denitivamente a desnuclearização do país,
mas havia relutância em oferecer as garantias
do artigo 5, considerando possíveis reações
negativas da Rússia e as extensas fronteiras e
conexões histórico-culturais russo-ucranianas
(Sarotte, 2022). Os EUA e a OTAN, apesar de
nominalmente abertos à entrada da Ucrânia na
aliança, dispunham-se a estabelecer uma rela-
ção sem os compromissos do artigo 5 (Pifer,
2017, p.89-100). Assim, Ucrânia e OTAN as-
sinaram a Carta sobre uma Parceria Distintiva
(1997), que estipulou a promoção da intero-
peracionalidade militar, bem como consultas
de segurança e exercícios militares (OTAN,
1997). Em paralelo, desenvolvia-se a coopera-
ção militar EUA-Ucrânia, incluindo exercícios
e treinamentos (Pifer, 2017, p.104-106, 147).
No início dos anos 2000, a Ucrânia, dis-
tanciando-se de sua declarada intenção de neu-
tralidade feita em 1990, assumiu o objetivo de
entrar na OTAN. Para Kuchma, o momento
de aproximação entre a aliança e a Rússia se-
ria propício para o avanço das relações Ucrâ-
nia-OTAN, embora houvesse o temor de uma
política russa expansionista sob Putin. Todavia,
questões como a ausência de reformas barra-
ram o encaminhamento do ingresso da Ucrâ-
nia (Pifer, 2017, p.180, 197-198, 222-223).
Em 2004, a entrada na OTAN foi removida da
doutrina militar ucraniana.
Esse mesmo ano viria a ser marcado, ain-
da, por importantes acontecimentos na relação
EUA-Ucrânia-Rússia. A eleição presidencial
ucraniana de 2004 pôs frente a frente Ianuko-
vych, apontado como candidato sucessor de
Kuchma e apoiado pela Rússia, e Viktor Iush-
chenko, candidato de orientação pró-ocidental
preferido pelos EUA. A ocorrência de fraudes
em favor de Ianukovych, anunciado como ven-
cedor, motivou a realização de protestos con-
tra os resultados eleitorais - uma pauta apoia-
da pelo Ocidente, mas criticada fortemente
pelo governo russo, que acusava as potências
ocidentais de estarem por trás dos protestos.
Um novo segundo turno foi realizado, do qual
Iushchenko saiu como vencedor. Os eventos
de 2004-2005 na Ucrânia, conhecidos como a
“Revolução Laranja”, zeram fortalecer-se, na
visão da Rússia, a percepção de uma interferên-
cia ocidental no espaço pós-soviético baseada
nas chamadas “revoluções coloridas”, conside-
radas por Moscou como episódios de manipu-
lação do tema da democracia como pretexto
para a consecução de objetivos geopolíticos.
Nesse sentido, a Ucrânia passou a ser vista
ainda mais como uma arena de projeção da ri-
validade entre as grandes potências (D’anieri,
2019a, p.126-137).
A presidência de Iushchenko (2005-2010)
foi caracterizada pela enfática busca pela entra-
da da Ucrânia na OTAN - apesar do apoio mi-
noritário a tal decisão na sociedade ucraniana
à época. Iushchenko, assim, distanciou-se dos
marcos da política “multivetorial” de Kuchma
(Arel; Driscoll, 2023). Contudo, dissensos na
OTAN levaram à não concessão à Ucrânia, na
Cúpula de Bucareste da aliança (2008), de um
Plano de Ação de Associação (Membership Ac-
tion Plan, MAP), importante passo para a ad-
missão de novos membros na OTAN. Entre os
motivos dos opositores do MAP para a Ucrâ-
nia, gurava o temor de reações negativas da
Rússia. Ainda assim, em Bucareste, a OTAN
armou, sem falar em prazos, que a Ucrânia se
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tornaria um membro da aliança (Pifer, 2017,
p.284-288; Stent, 2014, p.163-168).
Na época de Iushchenko, as ações rus-
sas contra a Geórgia e a iniciativa do governo
Obama de reaproximação à Rússia geraram
apreensão na Ucrânia. Em contatos com os
EUA, políticos ucranianos defendiam a neces-
sidade de garantias de segurança para o país
(EUA, 2009). Posteriormente, a presidência de
Ianukovych distanciou a Ucrânia da OTAN.
Mais amigável à Rússia, o governo Ianukovych
instituiu, em 2010, o status “extrabloco” (neu-
tralidade) da Ucrânia, isto é, a não participa-
ção em alianças políticas-militares. Em troca
da promessa de preços reduzidos para o gás
importado da Rússia, o governo Ianukovych
também acordou a extensão do período da pre-
sença militar naval russa na Crimeia (D’anieri,
2019a, p.182-185).
Objeções russas à entrada da Ucrânia na
OTAN já vinham, explícita ou implicitamente,
desde os anos 1990. Pelo Acordo de Amizade,
Cooperação e Parceria (1997), Rússia e Ucrâ-
nia se comprometeram a não entrar em acordos
com terceiros voltados contra um dos lados e a
não permitir que seus territórios fossem usados
em detrimento da segurança das partes assinan-
tes (Rússia, 1997). Em 1999, Ieltsin demandou
de Kuchma a assinatura de um documento li-
mitando as relações Ucrânia-OTAN. As posi-
ções russas também eram veiculadas aos EUA,
mas foram rechaçadas pelo governo Clinton
em nome do princípio de abertura da OTAN
a novos membros (Sarotte, 2022). As críticas
à expansão da OTAN e ao intervencionismo
da aliança também estiveram presentes em um
dos mais famosos discursos de Putin, realizado
na Conferência de Segurança de Munique de
2007, que adquiriu fama pelas duras críticas
do presidente russo à política global dos EUA
(Rússia, 2007). Na época da Cúpula de Buca-
reste da OTAN, Putin teria até mesmo insinua-
do a W. Bush que a Ucrânia corria o risco de
desintegração se ingressasse na OTAN (Stent,
2014, p.168). A forte oposição russa à entrada
da Ucrânia na OTAN, como de se esperar, era
de conhecimento dos EUA (EUA, 2008).
A assertividade russa na busca por impedir
a incorporação da Ucrânia à esfera de inuên-
cia norte-americana/ocidental foi demonstra-
da na crise ucraniana de 2013-2014. Durante
a presidência de Ianukovych, a Ucrânia vinha
sendo persuadida tanto pela UE quanto pela
Rússia para aderir a iniciativas de integra-
ção rivais lideradas pelas grandes potências.
Ecoando a política “multivetorial” de Kuchma,
Ianukovych, na tentativa de extrair benefícios
de Moscou e Bruxelas, buscava aproximar-se de
ambos os lados sem se comprometer em abso-
luto com nenhum de seus projetos (D’anieri,
2019a, p.187-210). Nesse sentido, o governo
Putin temia a assinatura de um Acordo de As-
sociação (AA) entre a Ucrânia e a UE, pois a
implementação desse acordo afastaria a Ucrâ-
nia do projeto da União Econômica Eurasiática
proposta por Moscou e poderia trazer prejuízos
econômicos para a Rússia (D’anieri, 2019a,
p.190-207). Além desse aspecto econômico,
cabe mencionar que o seguimento da adesão
da Ucrânia ao AA poderia se desdobrar no ali-
nhamento da política externa e de segurança da
Ucrânia, considerada um país chave nas con-
siderações de segurança e esfera de inuência
russas, à UE (Sakwa, 2015, p.72-80).
Diante de incertezas sobre os benefícios
da aproximação à UE, bem como de pressões
e ofertas de apoio econômico russas, Ianuko-
vych, no nal de 2013, anunciou a suspensão
das negociações sobre o AA com a UE. Essa de-
cisão, no entanto, provocou protestos de parte
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da população ucraniana, conhecidos como o
“Euromaidan”. Com a forte repressão policial,
os protestos cresceram para uma ampla con-
testação do governo Ianukoyvch, cujo autori-
tarismo e corrupção já causavam insatisfação
e temores em parte signicativa da sociedade
ucraniana. Cabe ressaltar, nesse sentido, que as
manifestações tiveram o apoio do governo e de
destacados parlamentares norte-americanos, o
que fomentou a percepção do governo russo so-
bre uma nova “revolução colorida” prejudicial
aos interesses russos na Ucrânia. A crise culmi-
nou na derrubada de Ianukovych em fevereiro
de 2014, episódio classicado pela Rússia como
um golpe de Estado com apoio ocidental. Por
outro lado, parte considerável da população
do leste e sul ucranianos, históricos redutos do
eleitorado pró-russo do país, via negativamente
o Euromaidan por conta de fatores como sua
orientação geopolítica e a presença de um ele-
mento nacionalista ucraniano em tais protes-
tos. Em 2014, a Rússia, instrumentalizando e
instigando tais insatisfações, anexou a Crimeia
e apoiou, inclusive militarmente, separatistas
pró-russos na região do Donbass, composta
pelas províncias de Donetsk e Luhansk.5
Assim, veio à tona, novamente, a questão
de uma aliança EUA-Ucrânia. Em meio à crise
na Crimeia, após a derrubada de Ianukovych,
membros do novo governo e políticos ucra-
nianos consideravam buscar apoio - inclusive
no campo da dissuasão militar - dos EUA e da
5 Uma discussão detalhada sobre o contexto geopo-
lítico e os fatores domésticos relacionados à crise de
2013-2014 na Ucrânia (como as divisões regionais do
país e as relações de atores políticos e econômicos lo-
cais com Ianukovych) foge ao escopo deste trabalho.
Para análises mais aprofundadas sobre essas questões,
bem como sobre a sequência de eventos em 2013-
2014 e as ações de atores relevantes nesse período, ver
Arel e Driscoll (2023), D’Anieri (2019a, p.175-252)
e Sakwa (2015).
OTAN para se contrapor ao que já julgavam
amplamente ser uma agressão russa contra seu
país (Ucrânia, 2014). Por outro lado, os EUA,
apesar de condenarem as ações da Rússia, aler-
tavam a Ucrânia a não tomar medidas que a
Rússia pudesse usar como justicativa para
realizar uma invasão em larga escala (D’anieri,
2019a, p.231; Ucrânia, 2014). Apesar do co-
medimento naquele momento, os EUA, pos-
teriormente, além de constantes declarações
defendendo a integridade da Ucrânia, intensi-
caram a cooperação em defesa e segurança com
Kiev. Conforme o Ukraine Freedom Support Act
(dezembro de 2014), os EUA declararam-se
comprometidos com a provisão de capacidades
militares para que a Ucrânia pudesse restaurar
sua soberania e integridade territorial diante
das ações russas (EUA, 2014). Paralelamente,
a OTAN deu início a um reforço de sua pre-
sença militar nas regiões do Báltico e do Mar
Negro, áreas de contato entre a aliança e a Rús-
sia (D’anieri, 2019a, p.232-233; Sakwa, 2017,
p.197-207; Zagorskii, 2017, p.125-126).
Apesar de tal momento ser um ponto
de inexão, é preciso lembrar de importantes
nuances. O auxílio militar oferecido no gover-
no Obama se restringia a treinamentos, con-
sultoria e equipamentos não letais, apesar das
demandas do governo ucraniano e do apoio
do então vice-presidente Biden à transferência
de armamentos letais - só providos a partir do
governo Trump (Arabia; Bowen; Welt, 2023;
Pifer, 2017, p.307-308; Seligman; Bertrand,
2021a). As escolhas de Obama foram creditadas
exatamente ao temor de tensões com a Rússia.
Nesse sentido, mesmo a política de Trump teve
limitações: por exemplo, armamentos antitan-
que providos pelos EUA deveriam ser armaze-
nados no oeste da Ucrânia, longe da Crimeia e
do Donbass (Seligman; Bertrand, 2021a).
33 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.19 n.2, p.25 - 41, jul. 2022
Os eventos de 2014 e o conito com a
Rússia tiveram signicativas consequências
para a política, a sociedade e o Estado ucrania-
nos nos anos que precederam a invasão russa
de 2022, com importantes desdobramentos
nos assuntos de política externa. Por exemplo,
a perda do controle territorial de Kiev sobre a
Crimeia e os territórios sob controle separatista
no Donbass signicou um enfraquecimento do
potencial eleitoral de forças políticas mais favo-
ráveis a uma aproximação à Rússia, visto que as
áreas em questão eram fortes redutos históricos
do eleitorado pró-russo na Ucrânia (D’anieri,
2019b). Paralelamente, em comparação com o
período pré-2014, observou-se um crescimen-
to, na elite e na sociedade ucranianas, do apoio
à entrada na OTAN e de visões negativas sobre
a Rússia, como mostram diversas pesquisas de
opinião pública. Cabe ressaltar, nesse sentido,
que, mesmo que as históricas divisões regionais
sobre identidade nacional e a orientação exter-
na da Ucrânia não tenham sido plenamente
superadas, tal fenômeno também foi registra-
do no leste e no sul do país (Kermach, 2017;
Zolkina; Haran, 2017; Kyiv International Ins-
titute of Sociology, 2022).6
Durante o governo de Petro Poroshenko
(2014-2019) a política extrabloco de Ianuko-
vych foi revogada e emendas constitucionais
deniram o ingresso na OTAN como objeti-
vo da Ucrânia, embora tal aspiração não fosse
6 Cabe mencionar que as ausências da Crimeia e das
partes do Donbass não controladas pelo Estado ucra-
niano nas pesquisas de opinião pública a partir de
2014 também contribuíram para tais transformações
de indicadores. Para maiores detalhes a respeito das vi-
sões sobre a OTAN e a Rússia na sociedade ucraniana
no período pré-invasão russa de 2022, ver, respectiva-
mente, as séries históricas da agência Rating (Rating
Group, 2013, 2023) e do Instituto Internacional de
Sociologia de Kiev (Kyiv International Institute of So-
ciology, 2022).
unanimidade no país. Em contraste com o pe-
ríodo pré-2014, em que houve tendências de
negligência das forças armadas e de segurança
da Ucrânia, o período de conito com a Rús-
sia, a partir de 2014, caracterizou-se por um
processo de reestruturação, modernização e
fortalecimento das forças armadas do país que
contou com apoio dos EUA e da OTAN. De
um lado, esse processo viria a ser fundamental
para elevar a capacidade de resistência contra os
ataques russos lançados a partir de fevereiro de
2022 (Kudelia, 2022, p.253-255). Do outro, a
Ucrânia não recebeu todos os armamentos soli-
citados junto aos EUA, o que viria a constituir
um problema para as forças ucranianas dian-
te da invasão russa de 2022 (D’anieri, 2022,
p.77-78).
Conforme dados do Stockholm Internatio-
nal Peace Research Institute (SIPRI), os gastos
militares anuais da Ucrânia saltaram de uma
média de 2,7 bilhões de dólares, durante o go-
verno Ianukovych, para 4,2 bilhões de dólares
no período 2014-2021 (Banco Mundial, s.d.a).
Em termos proporcionais, comparando esses
dois períodos, os gastos militares anuais da
Ucrânia elevaram-se de uma média de 1,65%
para 3,16% do PIB (Banco Mundial, s.d.b).
Com envolvimento dos EUA, o setor de defesa
e as forças armadas da Ucrânia passaram por
iniciativas de reformas e interoperacionalidade
conforme padrões da OTAN. Entre 2014 e o
início da invasão russa de 2022, a chamada “as-
sistência de segurança” dos EUA à Ucrânia por
meio dos Departamentos de Estado e Defesa
atingiu mais de 2,7 bilhões de dólares (Arabia;
Bowen; Welt, 2022). Embora tal processo não
tenha levado à entrada da Ucrânia na OTAN
ou a mudanças na postura dos EUA sobre ga-
rantias de segurança, seu desenvolvimento,
concomitante à elevação da inuência política
34 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.19 n.2, p.25 - 41, jul. 2022
dos EUA na Ucrânia, fez tornar-se frequente,
no discurso da elite política russa, a descrição
da Ucrânia como um país hostil sob “adminis-
tração externa” (vneshnee upravlenie) dos EUA.
O GOVERNO BIDEN E A
UCRÂNIA
Em janeiro de 2021, portanto, Biden as-
sumiu a presidência dos EUA herdando sig-
nicativas tensões no triângulo EUA-Ucrâ-
nia-Rússia. Em março-abril de 2021, o novo
governo dos EUA foi posto sob teste com a
crise ocasionada por novos incidentes milita-
res no Donbass e o acúmulo de tropas russas
próximas à fronteira ucraniana, situação que
reacendeu o espectro de uma guerra em larga
escala. Em meio à crise, o presidente ucraniano
Volodymyr Zelensky, que assumiu o cargo em
2019, argumentou que a entrada da Ucrânia
na OTAN seria um meio para acabar com o
conito no Donbass e se contrapor à Rússia
(Ucrânia, 2021).
A crise foi contornada pela diplomacia.
Biden teve conversações com Putin e propôs
a realização de uma cúpula bilateral, realizada
na Suíça em junho de 2021. Paralelamente, te-
mendo tensões com a Rússia, os EUA cancela-
ram a passagem de navios militares pelo Mar
Negro (Seligman; Bertrand, 2021b). Dias após
a conversa com Biden, o governo russo anun-
ciou uma redução dos contingentes militares
nos arredores da fronteira com a Ucrânia. Após
a renovação, em janeiro de 2021, do New Start
(acordo de limitação de armamentos nuclea-
res), Biden e Putin assinaram, em junho, uma
declaração conjunta repudiando um cenário de
guerra nuclear (EUA, 2021a).
O tema de uma aliança EUA-Ucrânia
continuou em pauta. Face à insistência de
Zelensky em fazer a Ucrânia entrar na OTAN,
Biden chegou a armar que o conito terri-
torial com a Rússia não seria um impeditivo
para o ingresso, mas enfatizou que a Ucrânia
deveria cumprir requisitos de combate à cor-
rupção para entrar na aliança. Sem mencionar
garantias de segurança, Biden armou que os
EUA se comprometeriam a capacitar a Ucrânia
a resistir a agressões russas (EUA, 2021b). Essa
postura reetiu-se na Declaração Conjunta
sobre a Parceria Estratégica EUA-Ucrânia, de
setembro de 2021, que reiterou o compromisso
dos EUA com a integridade da Ucrânia e o
combate à “contínua agressão russa”. Estipulou-
se a continuidade da cooperação em segurança
e defesa, incluindo a provisão de armamentos
à Ucrânia, e o apoio às suas “aspirações Euro-
-Atlânticas” (EUA, 2021c). A possibilidade de
entrada da Ucrânia na OTAN, portanto, con-
tinuou viva enquanto princípio, mas não teve
encaminhamentos especícos.
Meses depois, as tensões em torno da
Ucrânia voltariam a ganhar notoriedade. A
liderança russa intensicou o discurso sobre
a Ucrânia como uma ameaça dirigida pelos
EUA. Por exemplo, Putin, em polêmico artigo
de julho de 2021, questionou os fundamentos
históricos do território da Ucrânia pós-soviéti-
ca e acusou os grupos governantes ucranianos
e as potências ocidentais de terem feito do país
uma “anti-Rússia” fortalecida militarmente
pelo Ocidente e submissa aos interesses geopo-
líticos deste último (Putin, 2021). Em linha
com o discurso russo sobre o vneshnee upravle-
nie ocidental sobre a Ucrânia, o ex-presidente e
ex-primeiro-ministro Dmitrii Medvedev, líder
do partido putinista Rússia Unida e vice-pre-
sidente do Conselho de Segurança da Rússia,
armou que a Ucrânia havia se tornado um
vassalo” do Ocidente cujo governo, composto
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por políticos não conáveis e sem autonomia,
não seria um interlocutor razoável para Mos-
cou (Medvedev, 2021). No nal de 2021, o
governo russo, em paralelo à realização de exer-
cícios militares e um novo acúmulo de tropas
nos arredores da Ucrânia - ações que os EUA
denunciaram como indicativos de uma possível
invasão - propôs projetos de acordos aos EUA
e à OTAN.
Anunciados nos moldes de um ultimato,
os projetos russos continham demandas perti-
nentes à Ucrânia. A Rússia buscou dos EUA
compromissos de não expansão da OTAN para
países da ex-URSS e de não desenvolvimento
da cooperação militar norte-americana com
Estados dessa região não incorporados à alian-
ça, incluindo o não estabelecimento de bases
militares e o não uso de infraestrutura para
ns militares (Rússia, 2021a). Similarmente, a
Rússia propôs que os membros da OTAN se
comprometessem a não promover a expansão
da aliança, mencionando a Ucrânia nesse sen-
tido, e a não conduzir atividades militares no
território ucraniano (Rússia, 2021b). Ambos
os documentos invocaram as referidas propo-
sições da segurança indivisível e a de que os Es-
tados não devem adotar políticas prejudiciais
à segurança de outros Estados (Rússia, 2021a;
2021b). Os EUA mostraram disposição para
negociar o não estabelecimento de sistemas
de mísseis ofensivos e forças na Ucrânia, mas
não abdicaram da possibilidade de expansão da
OTAN. O governo Biden mencionou, nesse
sentido, o referido princípio da liberdade de es-
colha de acordos de segurança e alianças (EUA,
2022). Assim, Biden comportou-se em linha
com os referidos princípios da política exter-
na norte-americana armados nos anos 1990,
negando um institucionalizado poder de veto
russo sobre a OTAN.
A Rússia não se satisfez com a resposta
do governo Biden (Rússia, 2022). Tal insatis-
fação se somou a outros fatores domésticos na
Ucrânia - para além dos já mencionados acima
- para acentuar as incongruências de interes-
ses no triângulo EUA-Ucrânia-Rússia. Apesar
de eleito com a promessa de estabelecer a paz
no Donbass, Zelensky, à semelhança de Po-
roshenko, não se dispôs a implementar certos
elementos do Acordo de Minsk de 2015 (a
plataforma de negociações para a resolução do
conito na região) à maneira preferida pela Rús-
sia. Isso diz respeito particularmente à questão
da reintegração dos territórios então sob con-
trole separatista (os quais a Ucrânia considera-
va como efetivamente ocupados pela Rússia),
com autonomia político-administrativa, ao
Estado ucraniano. Com a concretização dessa
medida, a Rússia esperava ter um reduto de
inuência pró-russa dentro da Ucrânia capaz
de inuenciar os rumos políticos deste país,
incluindo no que tange à sua política externa,
em um sentido consonante com os interesses
de Moscou. Entretanto, diante da rejeição e de
pressões de parte da elite política e da sociedade
ucranianas, os governos em Kiev não se dispu-
seram a implementar a autonomia no Donbass
como a Rússia desejava (Arel; Driscoll, 2023;
D’anieri, 2022).
Ademais, durante o governo Zelensky, se-
tores considerados pró-russos da Ucrânia sofre-
ram pressões políticas e jurídicas que evidencia-
ram tendências de cerceamento de sua atuação
no país. Entre os alvos dessas ações, estava o
então deputado Viktor Medvedchuk, que atua-
va como um dos líderes do partido Plataforma
de Oposição - Pela Vida. Conhecido por sua
proximidade à elite putinista, Medvedchuk era
o principal aliado do governo russo na Ucrâ-
nia (D’anieri, 2022). As ações mencionadas
36 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.19 n.2, p.25 - 41, jul. 2022
acima punham em questão elementos chave
da estratégia política russa quanto à Ucrânia,
o que certamente inuenciou - em conjunto
com a manutenção das divergências em torno
das relações Ucrânia-EUA/OTAN - a decisão
de Putin pela invasão de 2022 enquanto meio
voltado para a imposição do controle político
russo sobre a Ucrânia.
Em meio à crise de 2021-2022, o gover-
no Biden enviou sucessivos pacotes de equi-
pamento militar à Ucrânia. Iniciada a invasão
russa, os EUA tomaram a dianteira entre os
países que se dispuseram a auxiliar a Ucrânia,
inclusive no sentido militar. Somente nos doze
primeiros meses subsequentes à invasão russa
de 2022, o montante de “assistência em segu-
rança” destinado pelos EUA à Ucrânia alcan-
çou 31,7 bilhões de dólares. Nesse período, os
EUA comprometeram-se a enviar à Ucrânia,
entre outros, helicópteros, munição, obuses,
lançadores de mísseis e sistemas antiaéreos e
antitanque (Arabia; Bowen; Welt, 2023). Cabe
ressaltar, ademais, que os EUA têm provido
apoio em inteligência à Ucrânia (Khurshudyan
et al., 2023). Por outro lado, o governo Biden,
à semelhança de outros momentos na política
dos EUA para a Ucrânia, tem exibido limites
que expressam uma cautela típica das ambigui-
dades entre as grandes potências. Isso pôde ser
observado principalmente em duas questões:
as garantias de segurança para a Ucrânia e a
transferência de armamentos a Kiev.
O tema das garantias de segurança foi res-
gatado com destaque nas discussões sobre uma
solução da Guerra Russo-Ucraniana. Zelensky
chegou a sinalizar disposição para o status de
neutralidade militar ucraniana favorecido pela
Rússia, desde que, como contrapartida, a Ucrâ-
nia recebesse garantias externas de segurança
legalmente vinculantes. Em março de 2022,
um plano de garantias produzido pelo gover-
no ucraniano propôs que os possíveis Estados
garantidores, entre os quais os EUA (e a Rús-
sia), se comprometessem a prover auxílio, in-
cluindo na forma de possíveis transferências de
armamentos e do uso da força, em caso de um
ataque à Ucrânia (Rustamova, 2022). Nos me-
ses iniciais da invasão russa de 2022, os gover-
nos ucraniano e russo teriam avançado, ainda
que de maneira preliminar, em considerar um
possível acordo segundo o qual a Ucrânia re-
nunciaria à busca pela entrada na OTAN em
troca da retirada de tropas russas dos territó-
rios ucranianos ocupados em 2022. A Ucrânia,
ademais, receberia garantias de segurança de
outros países (Hill; Stent, 2022).
Durante a guerra, os EUA chegaram a ar-
mar que aceitariam qualquer decisão da Ucrâ-
nia sobre a OTAN (Chernenko, 2022), mas,
conforme informações da mídia norte-ameri-
cana, mostraram relutância em oferecer o tipo
de garantia buscado pela Ucrânia (Bertrand,
2022). Uma das marcas do posicionamento
dos EUA e da OTAN sobre a guerra tem sido
exatamente a indisposição para o combate di-
reto em território ucraniano com vistas a evitar
um choque militar direto com a Rússia.
As negociações de paz russo-ucranianas
estagnaram a partir de abril de 2022. O go-
verno ucraniano se afastou das negociações,
o que tem sido atribuído à revelação de cri-
mes de guerra cometidos por forças russas e à
persuasão do ex-primeiro-ministro britânico,
Boris Johnson, que se opunha a negociações
com Putin (Romaniuk, 2022). O tema das ga-
rantias de segurança, contudo, continuou em
voga, embora com signicativas reformulações
em relação às ideias iniciais das negociações
russo-ucranianas. Em setembro de 2022, o
governo ucraniano publicou o chamado Pacto
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de Segurança de Kiev (Kyiv Security Compact),
um projeto de garantias de segurança para o
país. No documento, o governo ucraniano su-
geriu que os possíveis fornecedores de garan-
tias - entre os quais, novamente, os EUA (mas
não a Rússia) - se comprometessem a contri-
buir para a provisão de capacidades militares
para a autodefesa da Ucrânia - via, por exem-
plo, treinamentos, transferências de armamen-
tos e investimentos na indústria militar ucra-
niana. Adicionalmente, distanciando-se da
ideia da neutralidade, a entrada na OTAN foi
mencionada como aspiração de longo prazo da
Ucrânia (Ucrânia, 2022). O desejo de ingres-
so na OTAN foi publicamente enfatizado por
Zelensky (Zelensky, 2022).
No que tange ao apoio militar à Ucrânia,
a administração Biden, buscando minimizar
o risco de escalada de tensões com a Rússia,
demonstrou hesitação e cautela na questão da
transferência de diversos tipos de armamentos
à Ucrânia (Mcleary; Banco; Seligman, 2022).
Por exemplo, o governo Biden limitou o al-
cance de mísseis providos à Ucrânia de forma
a evitar ataques que atingissem o território rus-
so com equipamento transferido pelos EUA.
Nesse sentido, obteve-se garantias da Ucrânia
de que ações desse tipo não seriam tomadas
(Shear, 2022). Após declarações de altos o-
ciais estadunidenses de que a guerra na Ucrânia
seria aproveitada para enfraquecer estrategica-
mente a Rússia, Biden declarou que os EUA
não desejavam “prolongar a guerra apenas
para inigir dor à Rússia” nem habilitariam
ou encorajariam a Ucrânia a “atacar além de
suas fronteiras” (Biden, 2022. Tradução nos-
sa.). Há, contudo, a questão das divergências
de interpretação com a Rússia, que carregam
potenciais de tensão. Diante do apoio políti-
co e militar norte-americano à Ucrânia, o go-
verno russo acusou reiteradamente os EUA de
escalarem a guerra e classicou o envolvimento
estadunidense no conito como direto (Rússia,
2023a). Deve-se mencionar, ademais, a questão
territorial: os EUA e a Ucrânia não reconhecem
as anexações russas da Crimeia (2014) e de ter-
ritórios nas províncias ucranianas de Donetsk,
Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia (2022). O
governo ucraniano declarou que a recuperação
de tais áreas, que Moscou considera como parte
do Estado russo, é um objetivo de guerra.
No que tange às questões das garantias de
segurança e da entrada da Ucrânia na OTAN,
o governo Biden, apesar de ocialmente não
ter abdicado da chamada política de “portas
abertas” da aliança, tem considerado, confor-
me informações da mídia ocidental, ainda não
haver condições para um encaminhamento do
ingresso da Ucrânia na OTAN. O governo dos
EUA, ademais, ainda teria relutância sobre um
aprofundamento das relações de Kiev com a
aliança durante a guerra. O temor de uma es-
calada de tensões com a Rússia permaneceria
um dos motivos por trás de tal postura (Foy;
Schwartz, 2023). Em abril de 2023, a posi-
ção ocial da OTAN era a de que a promessa
da Cúpula de Bucareste não foi abandonada.
Por outro lado, conforme o secretário geral da
aliança, Jens Stoltenberg, a concretização do
acesso da Ucrânia dependeria, além da reali-
zação de adaptações aos padrões operacionais
e doutrinários da OTAN, do encerramento da
guerra com sucesso militar ucraniano frente à
invasão russa (OTAN, 2023).
No contexto da guerra, o governo Biden
elevou como nunca antes o apoio militar es-
tadunidense à Ucrânia. Dessa maneira, a ad-
ministração Democrata sinalizou uma maior
exposição ao risco de tensões com a Rússia em
comparação com as administrações precedentes
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no Pós-Guerra Fria - sejam elas do Partido De-
mocrata ou do Republicano.7 Por outro lado,
considerando o mesmo histórico dos governos
dos EUA no Pós-Guerra Fria, pode-se dizer que
a política do governo Biden sobre uma aliança
com a Ucrânia se alinhou, em grande medida,
a parâmetros precedentes. O governo Biden,
como visto, não abriu mão, enquanto princí-
pio, da possibilidade de expansão da OTAN
para a Ucrânia, novamente rejeitando um po-
der de veto da Rússia sobre a aliança. Por outro
lado, questões práticas, com destaque para o
temor de tensões diretas com a Rússia, conti-
nuaram a moderar as visões dos EUA sobre três
variáveis cruciais para uma aliança com Kiev:
o status da Ucrânia frente à OTAN; a questão
das garantias de segurança à Ucrânia; e os tipos
de apoio militar a Kiev.
CONCLUSÃO
A invasão russa à Ucrânia em 2022 oca-
sionou as maiores tensões no sistema interna-
cional Pós-Guerra Fria. Como visto acima, essa
situação, em grande parte, é um desdobramen-
to de disputas no Pós-Guerra Fria que não só
não foram resolvidas, como se agravaram e se
remodelaram de modo a culminar na Guerra
Russo-Ucraniana.
Os EUA exerceram um papel crucial nesse
processo histórico. A aproximação dos EUA à
Ucrânia, estimulada pela busca ucraniana por
contrapesos à Rússia, historicamente provocou
7 Cabe lembrar que certas correntes do Partido Repu-
blicano manifestaram posições mais vocais no sentido
de controlar ou limitar (em alguns casos, até mesmo
encerrar) o apoio militar e econômico dos EUA à
Ucrânia. Eleitores desse partido também tendem a ser
mais relutantes do que os do Partido Democrata sobre
a questão do apoio norte-americano à Ucrânia (Fox;
Zanona, 2023).
sensações de insegurança na Rússia, engen-
drando uma espécie de dilema de segurança
envolvendo os três países. Em meio ao estado
de confrontação entre Ucrânia e Rússia desde
2014, a permanência da abertura da OTAN à
Ucrânia e o fortalecimento militar da Ucrânia
promovido pelos EUA e aliados foram dois dos
motivos que pautaram as ações militares russas
em 2022.
Diante da herança histórica e de fatores
conjunturais, o governo Biden, como se bus-
cou demonstrar neste trabalho, exibiu grande
continuidade com o histórico da política dos
EUA para a Ucrânia. De um lado, manteve-se
formalmente aberto à entrada da Ucrânia na
OTAN, mas, em especial diante da invasão rus-
sa, exibiu cautela quanto à provisão de garantias
de segurança a Kiev. Biden também expandiu o
apoio militar dos EUA à Ucrânia, mas tentou
gerir tal política de modo a mitigar o risco de
tensões com a Rússia. Em ambas as dimensões,
observa-se uma tensão entre a possibilidade de
ampliar a esfera de inuência dos EUA, por
meio da expansão de seu sistema de alianças e
parcerias, e a busca por evitar choques diretos
com outra grande potência, comportamento
típico da era nuclear.
Os eventos de 2022 aumentaram as per-
cepções ocidentais sobre uma Rússia com in-
tenções agressivas, intensicando a rationale de
neocontenção” à Rússia fortalecida na OTAN
desde a crise de 2014 na Ucrânia. O Conceito
Estratégico da OTAN publicado na cúpula de
Madri da aliança (junho de 2022) classicou
a Rússia como a ameaça mais direta e signi-
cativa aos membros da OTAN e reiterou a de-
cisão da Cúpula de Bucareste sobre a Ucrânia
(OTAN, 2022). Kiev, por sua vez, armou o
contínuo interesse em entrar na OTAN. No
contexto de crise e guerra, observa-se inicia-
39 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.19 n.2, p.25 - 41, jul. 2022
tivas de intensicação da presença militar dos
EUA e da OTAN no chamado anco oriental
da aliança.
Já Moscou, no contexto das tensões rela-
cionadas à Guerra Russo-Ucraniana, acusou os
EUA de terem desencadeado uma “guerra hí-
brida” e executado políticas que constituem ris-
cos à segurança da Rússia. O governo russo ar-
mou, ainda, ter interesse em uma “coexistência
pacíca” com os EUA, mas ressaltou que a con-
cretização de tal cenário dependeria do grau de
disposição dos EUA para respeitar os interesses
russos (Rússia, 2023b). Diante das possíveis
reações russas às políticas dos EUA/OTAN na
Europa, e caso permaneçam as incompatibi-
lidades históricas nas visões de EUA e Rússia
sobre a segurança europeia, o triângulo EUA-
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