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Conjuntura Internacional Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.20 n.1, p.51 - 53, abr. 2023
Review: The architects of international
relations: building a discipline, designing
the world, 19141940/ Jan Stöckmann
(2022)
Resa: Los arquitectos de las relaciones internacionales: construyendo una disciplina,
diseñando el mundo, 1914-1940/ Jan Stöckmann (2022)
Resenha: Os arquitetos das relações internacionais: construindo uma disciplina, proje-
tando o mundo, 19141940/ Jan Stöckmann (2022)
DOI: 10.5752/P.1809-6182.2023v20n1p51-53
Recebido em: 02 de fevereiro de 2024
Aceito em: 18 de março de 2024
Horácio de Sousa Ramalho1
O livro “The architects of international
relations: building a discipline, designing
the world, 1914–1940”, de Jan Stöckmann,
foi publicado em 2022 e traz uma nova vi-
são sobre o início das Relações Internacionais
(RI’s) enquanto um campo de conhecimento.
O autor, professor de História Moderna na
Helmut-Schmidt Universität, de Hamburgo
um dos primeiros centros de estudo das RI
faz uso de extensa documentação pessoal,
institucional e arquivos oficiais para recons-
truir os esforços de determinados homens e,
não por um acaso de negligenciadas mulhe-
res, que participaram ativamente do início
da disciplina. Os escritos dessas mulheres
cobriam rios tópicos, bem como suas pro-
postas, mas desde a sua não participação na
Conferência de Paris, seus atos sempre foram
ofuscados pelo preconceito, seja na participa-
ção dos eventos da disciplina ou lecionando
em instituições.
Mas isso não impediu a organização e
realização de aulas e conferências, publicação
de livros e panfletos. Possuíam o intuito de
educar tomadores de decisão e a população
em geral e criar um controle democrático so-
bre a política externa dos países, sob os aus-
pícios de uma nova organização internacio-
nal, a Liga das Nações e foram apoiados por
instituições como o Carnegie Endowment for
1
Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Bacharel
em Relações Internacionais (UFPB). Email: horaciosramalhon@hotmail.com
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Artigo
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International Peace e a Rockefeller Founda-
tion e indivíduos, como Montague Burton e
David Davies2.
A Segunda Guerra Mundial é fundamen-
tal para o entendimento do começo da disci-
plina, pois muitos são rotulados de “idealistas”
justamente por não terem sido capazes de en-
tender ou prever como os acontecimentos da-
quele período entre guerras resultariam em um
novo confronto mundial. Com os documentos
pessoais desses acadêmicos, como cartas e diá-
rios, o autor mostra não pessoas ingênuas e com
valores desconectados da realidade da power po-
litcs, mas suas aspirações estavam em entender
das causas da guerra e como seria possível li-
mitar as ações erráticas de líderes que, de acor-
do com eles, havia causado a então chamada
Grande Guerra. A diplomacia secreta, o mili-
tarismo e as alianças precisavam ser combatidas
com a transparência política, a educação e uma
ordem internacional fundada em instituições e
sob a ideia de segurança coletiva.
O livro é dividido em oito capítulos, com
a introdução e conclusão não numerados. Na
introdução, conhecemos Fannie Fern Andrews,
que em 1915 fez parte da Central Organisation
for a Durable Peace (CODP), uma organização
que almejava encontrar respostas para a guerra
iniciada em 1914. Tal fato demonstra as pri-
meiras mobilizações, antes mesmo de 1919,
data delimitada como o princípio do campo
das RI. No capítulo 1 temos as origens da dis-
ciplina “na” guerra, e não após ela e como mui-
tos dos arquitetos participaram da conferência
de Paris, como consultores das delegações de
2 Montague Burton: empresário do ramo de vestuá-
rio e patrocinador de disciplinas de RI’s nas univer-
sidades de Oxford, Edimburgo e London School of
Economics; David Davies: industrialista, membro do
parlamento britânico e benfeitor da Universidade de
Aberystwyth.
seus países, e tentaram imprimir suas marcas na
nova ordem global. O capítulo 2 mostra como
o estudo das RI se expandiu nos dois lados do
Atlântico e, apesar das conexões entre vários
personagens e instituições, era afetado pelo co-
lonialismo, racismo e eurocentrismo da disci-
plina em seus primeiros momentos.
O capítulo 3 traz os empreendimentos
e constrangimentos, especialmente financei-
ros, para criar instituições que dariam suporte
para a Liga das Nações, sob a forma de coope-
ração intelectual em vários temas. O capítulo
4 expõe as tentativas de professores atuarem
na elaboração de tratados que buscavam evitar
ou limitar a possibilidade da guerra, através de
seus contatos com diplomatas de vários países.
O capítulo 5 traz os testes para o conceito de
segurança coletiva, com vistas em incutir em
vários governos uma
confiança
institucional
na Liga das Nações para a solução de contro-
vérsias que não pela força. Temos as propostas
de um sistema de sanções, inclusive feitas por
várias mulheres que trazem uma perspectiva
feminista das RI desde o amanhecer da dis-
ciplina, entre elas Emily Greene Balch, Lucy
Mair, Mary Sheepshanks, Rosika Schwimmer,
Lida Gustava Heymann e Anna B. Eckstein;
além das crises do entre guerras na Manchúria
e Abissínia.
O capítulo 6 fala sobre o fim dos assun-
tos globais, e foca nos ataques à academia, ex-
pondo como os arquitetos das RI lidaram com
a ascensão do fascismo na Itália e do nazismo
na Alemanha. Acadêmicos de ideais liberais e
democráticos foram exilados, auxiliados por
uma rede de apoio formada por seus colegas e
instituições filantrópicas e outros se tornaram
porta-vozes de governos autoritários e a reação
dos acadêmicos, ao criarem a ideia de “mudan-
ça pacífica”, pela qual Estados poderiam ser
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apaziguados por compensações territoriais e a
insuficiência desta medida.
Na conclusão, o autor defende que as am-
bões dos arquitetos das RI foram maiores que
o progresso analítico, em função de como eles
construíram este campo: tentando influenciar
a ordem internacional, não criaram teorias,
definições e métodos que pudessem auxiliar a
descrição, explicação ou previsão de fenômenos
internacionais. O esforço foi direcionado para
fazer, em vez de analisar assuntos internacio-
nais, cobrando um preço para estes acadêmi-
cos: o esquecimento ou colocados sob o rótulo
pejorativo de idealistas. Apesar dos enganos e
equívocos, os arquitetos das RI deixaram um
legado que continuou crescendo.
E a julgar pelo fato de que a guerra ain-
da é persistente, ou de haver questionamentos
sobre a eficácia de saões, questões presentes
até hoje, foi o trabalho desses acadêmicos que
fez dos assuntos internacionais temas de inte-
resse blico e de um pensamento crítico sobre
as decisões de governos. Longe de considerar
esse legado um insignificante, o livro de Jan
Stöckmann é uma janela para um passado ain-
da a ser desvendado.
Referências
STÖCKMANN, Jan. The Architects of International Rela-
tions: Building a Discipline, Designing the World, 1914-
1940. Cambridge University Press, 2022.