
3 • Conjuntura Internacional • Belo Horizonte, ISSN 1809-6182, v.19 n.2, p.2 - 4, jul. 2022
Mota levanta alguns elementos de retomada
parcial de liderança multilateral na esfera econô-
mica, apesar da manutenção do protecionismo,
e no âmbito mais amplo da cooperação inter-
nacional, como nas agendas climática e de Di-
reitos Humanos. Por m, a consideração sobre
a Guerra na Ucrânia é interpretada como um
evento que pode angariar retornos positivos no
reposicionamento da liderança estadunidense
em uma ordem liberal internacional renovada.
Em um balanço sobre os dois primeiros
anos do governo Biden, Cristina Pecequilo e
Clarissa Forner, apontam as contradições entre
a política externa da classe média, diante das
transformações econômicas recentes, e a agenda
de intervencionismo global dos Estados Unidos.
Para as autoras, apesar de transparecer certo fôle-
go no primeiro ano de governo, a política exter-
na da classe média, plasmada nos planos de re-
cuperação econômica, perde tração, em grande
medida, em favor do intervencionismo global,
cujos contornos podem ser observados na Guer-
ra da Ucrânia. Este conito, ainda que em con-
texto de fragmentação internacional, mostrou a
importância da geopolítica na busca, tanto pela
manutenção de elementos da ordem liberal in-
ternacional, em convergência com a análise de
Mota, como de consensos domésticos.
Seguindo na conexão entre política ex-
terna do governo Biden e o lugar da Rússia
na geopolítica mundial, Gustavo de Menezes
e Reginaldo Nasser descortinam o posiciona-
mento deste governo na extensão de garantias
concedidas à Ucrânia, no conito vigente.
Para os autores, a continuidade do convite ao
ingresso da Ucrânia na OTAN, bem como o
auxílio militar fornecido pelos Estados Unidos
ao país, após 2014, foram centrais para o acir-
ramento das tensões e da escalada da estratégia
russa. O governo Biden não demonstrou indí-
cios de alteração nestas duas frentes, apesar de
não se comprometer com garantias de seguran-
ça, pleiteadas por Kiev. Dadas as posições dos
Estados Unidos, Rússia e Ucrânia no conito,
os autores entendem que o conito ucraniano
tende a se prolongar.
Também tomando a Guerra na Ucrânia
como ponto de vista de análise de conjuntura,
no âmbito da política externa estadunidense
para a América Latina, Pedro Cícero e Lucas
Leon analisam a exibilização do embargo
imposto à Venezuela. Se dentro de uma tem-
poralidade mais larga, os autores associam a
política de embargos à Venezuela ao aumento
da inuência chinesa na região, a recentíssima
exibilização é entendida como decorrente das
alterações na geopolítica do petróleo, decorren-
tes do conito na Ucrânia.
Olhando para a questão Israel/Palestina,
ainda que antes da deagração da Guerra Is-
rael/Hamas, Bruno Huberman e Reginaldo
Nasser identicam mais continuidades do que
rupturas na política externa estadunidense para
a região. Essa avaliação é sustentada por fato-
res como a perda relativa de importância do
Oriente Médio na agenda de política externa
dos Estados Unidos, que se desloca para o Leste
Europeu e para a Ásia; a reorganização geopo-
lítica da região, com aproximação entre Israel
e alguns países árabes; e a forte inuência do
lobby israelense em Washington, que mina os
esforços de grupo progressistas, apoiadores da
candidatura de Biden, ligados à causa palestina.
Igualmente com foco no Oriente Médio
e, como outras contribuições do dossiê, levando
em conta os desaos geopolíticos da China e da
Rússia para a política externa estadunidense, José
Vieira Lima, assim como Huberman e Nasser,
observa uma modulação na posição do governo
Biden, mas não ruptura com relação ao governo