Entrevista com o Professor Rubens Adorno

Autores

  • Antônio Claret PUC Minas
  • Marcelo Braga De Freitas PUC Minas

DOI:

https://doi.org/10.5752/P.2595-7716.2018v1n1p10-23

Resumo

Rubens de Camargo Ferreira Adorno é professor na Universidade de São Paulo e vice-presidente da ABRAMD – Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas. Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas, com especialização, mestrado e doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo. Atua nas linhas de pesquisa relacionadas à Saúde Pública, Ciências Sociais e Sociedade Contemporânea. O trabalho científico que desenvolve procura levar uma contribuição da Antropologia Crítica ao campo da Saúde, através de estudos que abordam as transformações que ocorrem nas vidas das populações, considerando os seus recortes sociais, a diversidade cultural dos diferentes atores e a complexidade que estas experiências de vida envolvem. Os seus estudos recentes tratam de questões relacionadas às drogas “lícitas, ilícitas ou prescritas”, nas sociedades contemporâneas.
O entrevistado, a partir do estudo de um caso específico na cidade de São Paulo, cujo objetivo de partida era investigar a relação de homicídios de jovens com o tráfico de drogas, nos apresenta uma série de argumentos e observações empíricas que desnudam e desmistificam visões preconceituosas e construtoras de estigmas relacionados ao universo das “drogas” na sociedade brasileira. Além da importância do trabalho científico, a publicação desta entrevista vem a calhar dado o momento de crise pelo qual passa o país, surpreendido pelo decreto presidencial de fevereiro de 2018, aprovado pelo Congresso, que autorizou a intervenção federal na segurança do estado do Rio de Janeiro, através da ação das Forças Armadas Nacionais e que se encontra em andamento.
O entrevistado nos convida a olhar para as periferias das grandes cidades brasileiras não como espaços onde o Estado se faz ausente, mas, pelo contrário, onde a atuação das forças de segurança e o exercício do controle são uma constante. Essa presença, tensa e conflituosa, não raras vezes amplia as estatísticas de violência. A pesquisa coordenada pelo Professor Rubens, realizada em região considerada periférica da cidade de São Paulo, investigou em profundidade as principais causas de homicídios de jovens nesse território, inclusive de homicídios por intervenção policial. As descobertas empíricas vão de encontro ao raciocínio difundido no Brasil de que há sempre uma relação entre homicídios e tráfico de
ENTREVISTA
REVISTA DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS – PUC MINAS – V. 1, N. 1; P. 10 – 23, 2018.
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drogas. Há sim, muitas vezes, relação com atos criminosos, porém de outras naturezas. A hipótese explicativa para a particularidade paulistana, inspirada também nos achados de outras pesquisas no mesmo campo de conhecimento, tange o processo de cartelização do negócio da droga pelo PCC, que domina a cadeia produtiva e impõe regras e procedimentos menos violentos e mais eficientes de comercialização.
Diante dessa realidade, o mercado e o consumo social da droga se dão de forma “protegida”. Existiria, e essa é outra hipótese contundente e original do trabalho, toda uma trama ao redor do universo de consumo e comercialização das drogas que envolveria, inclusive, o Estado, desde a polícia até a política de saúde, e que compreenderia fases distintas, desde o consumo até o tratamento dos dependentes químicos. Acontece que todo esse enredo se desenrola em meio ao sofrimento dos envolvidos e, em muitos casos, tendo como fim a morte dos jovens por decorrência do uso dessas drogas.
Hoje, nos alerta Adorno, a reflexão sobre caminhos mais promissores para a superação dessa crise generalizada esbarra no proibicionismo, uma lógica que, ao censurar e impor o tabu social, dá carta branca ao comércio liberado. É preciso acreditar, porém, na capacidade das Ciências Sociais, da Psicologia Social e da Antropologia em produzirem conhecimentos mais próximos do real e que sejam capazes de desmistificar e desvendar processos escamoteados e pouco visíveis.
As reflexões teóricas sobre drogas, saúde e segurança ora compartilhadas, bem como os insights, a descrição de experiências de campo, a reflexão sobre ética em pesquisa, o relato da criação de um novo conceito e a importância da utopia são alguns dos elementos presentes nesta entrevista. Nas próximas páginas, Rubens Adorno não apenas comprova que é possível fazer ciência de alta qualidade, mas também nos aponta caminhos e nos convence do porquê. Boa leitura.

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Biografia do Autor

Antônio Claret, PUC Minas

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC Minas

Marcelo Braga De Freitas, PUC Minas

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC Minas

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Publicado

2018-10-10

Como Citar

Claret, A., & De Freitas, M. B. (2018). Entrevista com o Professor Rubens Adorno. Em Sociedade, 1(1), 10–23. https://doi.org/10.5752/P.2595-7716.2018v1n1p10-23