UMA QUESTÃO RACIAL:
A cidadania em contexto de políticas neoliberais.
DOI:
https://doi.org/10.5752/P.2595-7716.2021v3n2p168-194Palavras-chave:
Afrocentricidade. Cidadania. Raça. Desigualdade. NecropolíticaResumo
O objetivo dessa pesquisa é analisar a racialização da cidadania, particularmente no atual contexto histórico de políticas neoliberais, que se dá a partir da década de 1980, no Brasil. Para esta análise será esboçado a concepção de cidadania, interligada à construção discursiva na ideia de raça e de gênero, sobretudo na permanência do discurso do mito da democracia racial. Estas narrativas legitimam as desigualdades raciais e sociais, bem como a segregação e a política de morte sobre os sujeitos racializados. Para tal contexto, analisaremos a partir do paradigma da Afrocentricidade, visto como uma “crítica à dominação cultural e econômica europeia”, tendo como paradigma a “correção no reposicionamento do africano como sujeito de sua própria história”. Este ponto de vista se legitima devido ao fato de que o “deslocamento físico dos africanos durante o comércio europeu de escravos, fomos afastados de nossos centros culturais, psicológicos, econômicos e espirituais e colocados à força na cosmovisão e no contexto europeus (ASANTE, 2016, p. 10)”. Compreendemos que ela nos ajuda a analisar a historicidade dos problemas sociais que tangenciam assuntos não somente econômicos e políticos, como também as questões culturais, as relações raciais, as relações de classe e as relações de gênero. Fontes derivadas das análises desenvolvidas pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Atlas da Violência 2019, serão de suma importância, já que possibilitam compreender o índice de violência e de desigualdades, no Brasil. A perspectiva tomada por Achille Mbembe, de necropolítica, em que a soberania do Estado limita-se a quem deve viver e a quem deve morrer, será também nosso suporte para a análise. Diante dos levantamentos bibliográficos colocamos em sobre a possibilidade e a necessidade de reformulação de um novo conceito ou paradigma e aplicabilidade de Cidadania a partir de perspectivas e referências não eurocêntricas. Isso significa que é necessário “retornar às civilizações clássicas da África para inspiração e orientação (ASANTE, 2016, p. 13).”