O EXCLUÍDO E O ESCANCARADO:

reflexões sobre a morte em Belo Horizonte

Autores

  • Daniela Veloso de Abreu e Matos PUC Minas

DOI:

https://doi.org/10.5752/P.2595-7716.2025v7n2p4-31

Palavras-chave:

Morte, Ariès, Kovács, Belo Horizonte

Resumo

Este artigo reflete sobre a invisibilização e a exposição da morte em Belo Horizonte, iniciando esta reflexão a partir da chegada da Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC). Observa-se um movimento de afastamento da morte do espaço público, conforme descrito por Ariès, que a define como parte do fenômeno da "morte excluída" nas sociedades modernas. Sob os princípios modernizadores da CCNC, a morte foi deslocada para os arrabaldes urbanos ou tornada invisível nos cemitérios-parque. No entanto, em contraste, emerge o fenômeno da "morte escancarada", descrito por Kovács, no qual as mortes violentas ganham visibilidade por meio da espetacularização midiática, especialmente em programas policialescos e de True Crime, em que as vítimas pertencem a grupos marginalizados. Esse fenômeno revela uma dualidade social: enquanto procuramos esconder a morte do nosso cotidiano, consumimos sua exposição como entretenimento, frequentemente desrespeitando a dignidade das vítimas. Essa contradição destaca a complexidade do relacionamento contemporâneo com a temática, entre o desejo de controlá-la socialmente e o impulso pela morte como conteúdo a ser consumido.

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Publicado

2025-08-22

Como Citar

Matos, D. V. de A. e. (2025). O EXCLUÍDO E O ESCANCARADO: : reflexões sobre a morte em Belo Horizonte. Em Sociedade, 7(2), 4–31. https://doi.org/10.5752/P.2595-7716.2025v7n2p4-31

Edição

Seção

Artigos