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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 7, n. 1, (abr. 2019), p.129 - 131
dos cidadãos chineses que trabalham em países africanos assolados por
instabilidade política, violência e, no limite, guerra civil.
O livro permite uma compreensão dos desaos vivenciados pela
China em seu engajamento no continente africano. A percepção de que
a política de não intervenção nos assuntos domésticos de outros Estados
não mais poderia ser sinônimo de não envolvimento, ou indiferença, vai
sendo sedimentada ao longo de cada capítulo. Assim, apesar de a não in-
tervenção permanecer como um dos “Cinco Princípios da Coexistência
Pacíca” que nortearam a política externa chinesa desde os anos 1950, ca
evidente que a China passa a ter uma abordagem mais ampla e exível
quanto a sua participação nas questões de segurança dos seus parceiros
africanos. Essa participação se dá por meio das missões de paz sob a égide
das Nações Unidas.
A leitura sequencial dos capítulos permite que o leitor perceba
como a China ajustou sua postura em relação à África de forma coinci-
dente com a avaliação da expansão dos seus interesses econômicos, bem
como com a sua crescente capacidade de projeção militar.
É pertinente observar que as análises feitas pelos autores, apontan-
do para a mudança em relação ao princípio da não intervenção, são con-
vergentes com o Defence White Paper divulgado pelo governo chinês em
2015, no qual não existe uma única menção aos outrora basilares “Cinco
Princípios da Coexistência Pacíca”.
Fica também evidenciado que a atual postura da China em relação
à África está alinhada tanto com os interesses econômicos e comercias
chineses, quanto com as crescentes responsabilidades assumidas pela
China como potência global emergente. Tal como analisado no capítulo
sete da primeira parte do livro, o caso da participação da China nas ope-
rações de combate à pirataria no Golfo de Aden sintetiza essa nova postu-
ra. Essa missão sob a égide das Nações Unidas, iniciada em 2008 e ainda
ativa, conta com a signicativa participação de meios navais e aeronavais
da Marinha do Exército Popular de Libertação (PLAN).
As operações em terra, desenvolvidas no Sudão, Mali, Libéria e Con-
go, analisadas nos capítulos da segunda parte do livro, também evidenciam
o envolvimento da China nas questões de segurança africana, de forma
consonante com seus interesses econômicos, comerciais e com a crescente
responsabilidade como potência global. Nesse contexto, vale observar que,
desde 2013, a China é o membro permanente da ONU com o maior núme-
ro de militares engajados nas missões de paz das Nações Unidas.
A cooperação militar dos Estados africanos também é analisada em
diversos capítulos. Sudão, Tanzânia, Angola, Zimbábue, África do Sul e
Namíbia, por exemplo, são Estados que têm acordos militares com a Chi-
na abordados ao longo do livro.
A grande reexão proporcionada em China and Africa: Buiolding
Peace and Cooperation on the Continent se encontra na ideia da articulação
de uma política externa que concilia a defesa dos seus interesses com uma
projeção de força militar, respaldada pelo direito internacional, e aplicada
sob mandato da Organização das Nações Unidas.
Vale observar que o número de publicações acadêmicas sobre a
China cresce tão rápido quanto a própria China. No entanto, existe uma