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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 7, n. 3, (dez. 2019), p.7 - 27
Relações Estados Unidos- Irã (2009-2018): Um estudo de caso
Alguns antecedentes históricos são de suma importância para com-
preender a política-externa estadunidense com relação ao Irã. Faz-se uma
breve linha do tempo para auxiliar na compreensão do período mais recente
tratado aqui. Posteriormente, discute-se a política externa do governo Oba-
ma para o Irã e, em especial, o acordo nuclear iraniano. Por m, analisa-se
os motivos de ruptura no tratamento com o Irã por parte de Donald Trump,
enfatizando a saída do referido acordo por parte dos Estados Unidos.
Antecedentes históricos
Em 1951, Mohammad Mosadeq, de vertente nacionalista, assume
como Primeiro-Ministro no Irã. Poucos dias após a sua posse, Mosedeq na-
cionalizou o petróleo. Tal falto, marcou o início das tensões entre o Irã e
os Estados Unidos. No entanto, apenas dois anos depois, as inteligências
britânica e estadunidense apoiaram um coup por uma cúpula militar para
restituir o poder dos Xáas
11
. Os anos que se seguiram foram de alinhamento
com os Estados Unidos por parte do Irã, inclusive na área nuclear, quando,
por exemplo, em 1968, o Irã assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear
(TNP). As relações se deterioraram de fato, quando, em 1979, a Revolucão
Iraniana forçou para o exílio os Xáas apoiados pelos Estados Unidos e o exi-
lado há 14 anos no Iraque, o líder religioso Ayatollah Ruhollah Khomeini re-
tornou ao Irã e se tornou o Líder Supremo. Ao mesmo tempo, demandando
a volta dos Xáas para julgamento, estudantes iranianos sitiaram a embaixa-
da estadunidense e mantiveram lá sessenta e três reféns, crise que iria durar
mais de um ano, até a posse de Ronald Reagan no dia 21 de janeiro de 1981.
A partir da Revolução Iraniana as relações entre os dois países nunca
mais viriam a se normalizar. Os anos 1990 são marcados por inúmeras san-
ções impostas pelos Estados Unidos, quando, a partir de 1995, o presiden-
te Bill Clinton acusou o Irã de patrocinar o terrorismo e planejar adquirir
armamentos de destruição em massa. As sanções se destinavam ao comér-
cio com o Irã, e principalmente, à exportação de petróleo. Em 1996, Clinton
anunciou que iria penalizar qualquer empresa que investisse mais de $40
milhões de dólares anuais no Irã. Nos anos de George W. Bush, as tensões
se acirram ainda mais devido do programa nuclear iraniano e o desenvolvi-
mento de fato de reatores nucleares. Bush acusou o Irã de fazer parte do “eixo
do mal” juntamente com a Coréia do Norte e o Iraque, em 2002. Durante
os anos Bush, em diversos discursos, o presidente não abriu mão da possível
utilização da força contra o Irã. Em setembro de 2008, na disputa eleitoral,
o então candidato Barack Obama prometeu uma espécie de “recomeço” nas
relações com o Irã e disse que estava aberto a negociações. Quando Obama
foi eleito, o então presidente iraniano Almadinejad o parabenizou
12
.
Obama, Trump, o Irã e o acordo nuclear
Na Plataforma do Partido Democrata, de 2008, está expresso que
“o mundo precisa prevenir que o Irã adquira armas nucleares. Isso come-
ça com sanções mais duras e diplomacia de alto nível, sem pré-condições”
(PPD, 2008, p. 31). O documento apresenta para o Irã duas opções:
11. Os fatos históricos da presen-
te sessão são retirados de duas
linhas do tempo a primeira preparada
pelo jornal Al Jazeera disponível
em: <https://www.aljazeera.com/
FOCUS/IRANAFTERTHEREVOLU-
TION/2009/02/2009249123962551.
HTMLL.Acesso em: 14 de jun. 2018.
E a segunda pela agência Reuters
disponível em: <https://www.reuters.
com/article/iran-nuclear-usa-timeline/
timeline-u-s-iran-relations-from-
-1953-coup-to-2016-sanctions-relief-
-idUSL2N1500R1>. Acesso em: 14 de
jun. 2018.
12. O presente estudo não possuí como
objetivo desenvolver uma análise his-
tórica das relações Estados Unidos- Irã.
Para tal, recomenda-se Murray (2016);
Kinch (2016).