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Marcelo Pereira Fernandes Resenha: Imperialismo, Estado e Relações Internacionais
No politicismo estariam de um lado Hard e Negri, defendendo a
existência de um império acima dos Estados e politicamente dominado
pelos capitais, e de outro lado autores como Panich e Gindin e a histo-
riadora Ellen Wood assumindo a centralidade do Estado, e o poder dos
EUA como império informal, baseado na noção de hegemonia desenvol-
vida por Gramsci. Na vertente denida como politicismo parcial insere-se
elementos do politicismo com questões econômicas, numa forma inter-
mediária entre o economicismo e o politicismo. Entre os autores que es-
tariam nessa vertente, encontraríamos Nicos Poulantzas, David Harvey,
Alex Callinicos. Por último a vertente que Osório identica como plena
crítica ou materialista do imperialismo, e que do meu ponto de vista é a
principal contribuição do livro. A plena crítica estaria inserida no movi-
mento do novo marxismo relacionado à teoria do Estado em que não se
admite a separação entre política e economia. Apresenta-se distinta do
economicismo, do politicismo, como também do politicismo parcial.
A plena crítica nasceria a partir de uma releitura de “O Capital”
empreendida nos anos 1960, destacando as categorias da economia polí-
tica, da forma do capital e das relações de produção capitalistas a m de
entender as estruturas políticas do capitalismo. A questão de fundo desse
debate seria a pergunta do jurista soviético Pachukanis sobre o porquê a
dominação de classe se apresentaria com um aparato estatal público coer-
citivo, e não como um aparelho privado da classe dominante.
As categorias como mais-valor, taxa de lucro, valor, salário etc., de-
senvolvidas em “O Capital”, além do debate econômico seriam funda-
mentais para entender a estrutura de classes no capitalismo e as formas
e concepções desta estrutura. Não se tratariam de conceitos estritamente
econômicos ou políticos, mas sim conceitos que permitiriam compreen-
der os conteúdos políticos e econômicos das relações sociais.
Ainda na plena crítica o leitor poderá ter acesso a autores menos
conhecidos do público brasileiro, como Christel Neusus, Klaus Busch e
Claudia von Braunmuhl. Segundo Osório, esses são autores que ao bus-
car analisar o mercado mundial na obra de Marx, compreenderiam que
esse seria a forma universal da existência do capitalismo, e o Estado o
condutor da competição intercapitalista no mercado mundial.
Um último ponto. Acompanhando a vertente da plena crítica, Osó-
rio arma que um dos problemas sobre os teóricos pioneiros do imperia-
lismo seria o economicismo. Realmente existe uma polêmica que remon-
ta os fundadores do marxismo sobre um suposto economicismo na teoria
marxista. Sobre isso é conhecida a armação de Engels (1890, s/p) de que,
de acordo com a concepção materialista da história, o elemento determinante
nal na história é a produção e reprodução da vida real. Mais do que isso, nem eu
e nem Marx jamais armamos. Assim, se alguém distorce isto armando que o
fator econômico é o único determinante, ele transforma esta proposição em algo
abstrato, sem sentido e em uma frase vazia.
Entretanto, não restam dúvidas que pelo menos parte da tradição
marxista não se livrou totalmente do economicismo. Entre eles, Kaus-
tsky desenvolveu uma concepção mecânica já longamente debatida. No
entanto, essa noção indubitavelmente não foi compartilhada por Lenin.
De fato, os dois autores estão distantes na análise sobre o imperialismo e