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O regionalismo na América do Sul no
início do Século XXI: uma análise de
suas inflexões práticas e da produção
intelectual brasileira
Regionalism in South America at the beginning of the 21
st
Century: an analysis of its practical inflections and of the
Brazilian intellectual production
El regionalismo en Sudamérica a principios del siglo XXI:
un análisis de sus inflexiones prácticas y de la producción
intelectual brasileña
Patrícia Nasser de Carvalho
1
Fernanda Cimini
2
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2019v7.n3.p83
Recebido em: 26 de outubro de 2018
Aceito em: 30 de abril de 2019
R
Este artigo identica os principais fatores que impulsionam as inexões práticas
do regionalismo na América do Sul no início deste século e discute quais são os
seus principais desdobramentos e inovações em relação a períodos anteriores.
Além disso, busca analisar como essa nova realidade tem afetado a produção
intelectual brasileira de Relações Internacionais (RI) sobre essa temática. Como
hipóteses, o artigo sustenta que as mudanças observadas no regionalismo na
América do Sul decorrem de fatores sistêmicos e internos à região, que não pro-
jeta mais o seu desenvolvimento no tradicional modelo europeu de integração
regional aprofundada e que há preponderância das análises temáticas que privi-
legiam questões políticas do regionalismo em detrimento da agenda econômica.
Além de ampla revisão do contexto e das principais inexões práticas sobre o
regionalismo sul-americano, a análise da produção intelectual brasileira contou
com uma amostra de mais de 60 artigos cientícos, que tratam da temática.
Palavras-chave: Regionalismo. América do Sul. Integração regional. Brasil.
A
This article identies the main factors that drive the practical inections of
regionalism in South America at the beginning of this century and discusses
its main developments and innovations with regard to previous periods. In
addition, it seeks to analyze how this new reality has aected the Brazilian
1. Professora Adjunta do Departamento
de Ciências Econômicas, Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo
Horizonte, Brasil. Doutora em Economia
Política Internacional pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil.
Belo Horizonte/Brasil. ORCID: 0002-
8152-9779.
2. Professora Adjunta Departamento
de Ciências Econômicas, Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo
Horizonte, Brasil. Doutora em Sociologia
pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Brasil. Belo Horizonte/
Brasil. ORCID: 0000-0003-2170-6443.
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International Relations (IR) intellectual production on this subject. As working
hypotheses, the article supports that the changes observed in regionalism in
South America derive from systemic and internal factors to the region, that does
no longer projects its development as the traditional European model of deep
regional integration and that there is a preponderance of the thematic that favor
political issues of regionalism to the detriment of the economic agenda. In addi-
tion to a broad review of the context and the main practical inections on South
American regionalism, the analysis of the Brazilian intellectual production had
taken a sample of more than 60 scientic articles that deals with the theme.
Keywords: Regionalism. South America. Regional integration. Brazil.
R
Este artículo identica los factores clave que impulsan las inexiones prácticas
del regionalismo en América del Sur a principios de este siglo y analiza sus
principales desarrollos e innovaciones en relación con períodos anteriores.
Asimismo busca analizar cómo esta nueva realidad ha afectado la producción in-
telectual brasileña de Relaciones Internacionales (RRII) sobre este tema. Como
hipótesis, en este artículo se argumenta que los cambios observados en el regio-
nalismo en Sudamérica son el resultado de factores sistémicos e internos en la
región, los que no se proyectan su desarrollo en el modelo europeo tradicional
de integración regional profunda pero preponderan las análisis temáticas que
privilegian los problemas políticos de regionalismo en detrimento de la agen-
da económica. Además de uma amplia revisión del contexto y las principales
inexiones prácticas del regionalismo sudamericano, el análisis de la producción
intelectual brasileña incluyó una muestra de más de 60 artículos cientícos que
tratan el tema para vericar las hipóteses.
Palabras clave: Regionalismo. Sudamérica. Integración regional. Brasil.
Considerações inicias
Este artigo identica e discute os principais fatores que impulsio-
nam as inexões práticas e quais são os principais desdobramentos e ino-
vações do regionalismo na América do Sul no início do Século XXI. Além
disso, busca analisar como essa nova realidade tem afetado a produção
intelectual brasileira na área de Relações Internacionais (RI) sobre essa
temática. As perguntas de pesquisa que norteiam o trabalho são: i) quais
fatores impulsionam as transformações do regionalismo na América do
Sul nesse período? ii) quais são as suas principais características? (iii) como
a produção intelectual brasileira tem interpretado essa nova realidade?
O trabalho propõe três hipóteses. A primeira sustenta que as mu-
danças observadas no regionalismo na América do Sul decorrem de fato-
res sistêmicos e internos à região, os quais conformam uma conjuntura
crítica desde o início deste século. A segunda está relacionada às caracte-
rísticas do regionalismo recente na América do Sul e destaca que ele não
projeta mais o seu desenvolvimento no tradicional modelo europeu de
integração regional aprofundada. Ao contrário, a proliferação de arranjos
regionalistas indica a busca por uma trajetória própria pelos países da
região, resultando em renovados esquemas regionalistas e inovações ins-
titucionais. Por m, no que diz respeito à interpretação brasileira sobre
esses arranjos, observa-se a preponderância das análises temáticas que
privilegiam questões políticas do regionalismo em detrimento da agenda
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Patrícia Nasser de Carvalho e Fernanda Cimini O regionalismo na América do Sul no início do Século XXI: uma análise de suas
inexões prácas e da produção intelectual brasileira
econômica, e que esse processo é fundamentalmente protagonizado pelo
Estado. Essa preponderância está relacionada ao contexto externo e inter-
no à região, às próprias características e ao desenvolvimento recente do
regionalismo sul-americano neste início de século.
Para essa alise, além de ampla revisão do contexto e da discussão
acerca das inexões práticas sobre o regionalismo na América do Sul, foi
selecionada uma amostra, composta por mais de 60 artigos cientícos,
que tratam de regionalismo na América do Sul, publicados em cinco pe-
riódicos selecionados da área, no período entre 2008 e 2018. Os trabalhos
foram classicados por ano, país de liação institucional do autor, idioma
e tema. Foram identicados 8 categorias temáticas, sendo que a categoria
que mostrou-se mais frequente foi a de “estratégias de integração”. Por es-
tarem situados na tênue fronteira entre economia e política, os trabalhos
classicados nessa categoria foram analisados em maior profundidade.
Neste artigo, regionalismo engloba fenômenos distintos, abrangen-
tes e diversos, ligados a uma determinada região, onde diferentes ato-
res e processos se relacionam. Por isso, pode compreender várias áreas
e processos, estar ligado à interação econômica e/ou social, à identidade
regional e seus atores podem ou não ser Estados Nacionais que cooperam
em diferentes níveis (HURRELL, 1995). Integração regional é denida
como um processo dimico e parte do regionalismo, e, portanto, menos
amplo do que o primeiro porque implica em que os Estados comparti-
lhem interesses comuns, tenham compromissos políticos de longo prazo
no sentido de uma integração – e não uma cooperação – cada vez mais
convergente e aprofundada, geralmente resultando na formação de orga-
nizações regionais.
O artigo está divido em três seções, além dessa introdução e das
considerações nais. A primeira seção explica os principais fatores que in-
uenciam as transformações o regionalismo na América do Sul no início
do Século XXI. A segunda apresenta um breve panorama sobre os des-
dobramentos do regionalismo na região e as suas principais inovações,
ou seja, as inexões práticas do regionalismo sul-americano. Finalmente,
a terceira seção analisa a amostra de artigos cientícos publicados nos
periódicos brasileiros selecionados e discute os seus principais resultados
em termos de produção intelectual.
O Regionalismo na América do Sul no icio do Século XXI
No início do século XXI, o regionalismo na América do Sul expe-
rimenta mudanças em decorrência de fatores sistêmicos e internos à re-
gião. No âmbito do Sistema Internacional, questões relacionadas à políti-
ca externa norte-americana, à crise do projeto de integração regional da
Europa, à emergência de novos pólos econômicos regionais e aos entra-
ves ao comércio internacional multilateral resultaram na reconguração
dos arranjos institucionais regionalistas.
Nos Estados Unidos, os atentados terroristas de 11 de setembro de
2001 e a decorrente guerra global contra o terror no âmbito da sua polí-
tica externa unilateral, além da recessão da sua economia, resultado do
estouro da bolha das empresas ponto.com, implicaram na busca dos nor-
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 7, n. 3, (dez. 2019), p.83 - 102
te-americanos por soluções urgentes nessas áreas. Alguns anos depois, a
grande recessão, consequência direta da crise nanceira 2007-2008, ini-
ciada no mesmo país e efeito da crise da globalização nanceira (PAULA;
FERRARI FILHO, 2011), demandou um grande esforço dos líderes nor-
te-americanos para superá-la. O alto grau de endividamento do governo
e das famílias, o crescente décit comercial e o lento ritmo de geração de
empregos, em contraposição aos elevados gastos militares realizados pelo
país, também exigiram medidas agressivas para a recuperação cíclica de
sua economia nos primeiros anos do novo século.
Além disso, os obstáculos políticos enfrentados pelas economias
desenvolvidas para alcançar seus interesses nas negociações da Rodada
Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), iniciada em 2001, e
os vários desacordos na Organização das Nações Unidas (ONU) (SATO,
2003), junto a outros fatores geopolíticos desestabilizadores, dentre eles,
as incursões militares norte-americanas mal sucedidas no Oriente Médio,
contribuíram para o enfraquecimento do poder relativo dos Estados Uni-
dos no Sistema Internacional no início deste século (FIORI, 2008).
Do outro lado do Atlântico, o projeto de integração regional da Eu-
ropa se ocupou dos processos de alargamento e de aprofundamento que
geraram menos otimismo do que desconanças sobre seus progressos,
assim como das suas condões de continuar sendo modelo para outros
projetos integrativos. Depois de 2008, a crise nanceira norte-americana
claramente afetou os rumos desse processo, tornando mais evidentes as
assimetrias entre os Estados membros da União Europeia (UE), o dé-
cit democrático das suas instituições, os conitos distributivos entre os
governos e as diculdades de coordenação política em várias instâncias,
para além da redução da identicação dos cidadãos com o projeto de inte-
gração regional. Assim, afora a crise econômica e os desaos exigidos por
ela, os europeus tiveram que trabalhar procurando solucioná-la ao mes-
mo tempo em que buscavam conciliar os seus próprios interesses, e, mais
à frente, precisaram enfrentar os reveses da onda de ataques terroristas,
da crise imigratória e dos conitos políticos e geopolíticos no seu entorno
geográco. A crise de múltiplas dimensões colocou as fragilidades da UE
em evidência e abriu mais espaço para o declínio em curso da Europa no
Sistema Internacional (AGUIAR, 2005). Neste contexto, a insatisfação por
parte dos Estados membros da UE e da população europeia tem no exem-
plo da votação do Reino Unido pelo “sim” ao Brexit, em 2016, um dos seus
traços mais marcantes.
As mudanças na distribuição de poder no Sistema Internacional
neste início de século também conrmam a ascensão de novos pólos. Os
diversos e ascendentes mercados da Ásia, em curso desde os anos 1990,
tornaram-se o eixo mais dimico do capitalismo global (BASTOS; HI-
RATUKA; 2017; SERBIN; VIGEVANI; HERSHBERG, 2014; LAYNE,
2012), concentrando grande parte das potências emergentes do mundo
3
,
as quais, junto a outras que apresentavam tendência de altas taxas de cres-
cimento econômico, como Brasil e Índia, passaram a questionar a ordem
global liberal do pós-Guerra Fria. Um dos grupos formados para tanto e
talvez um dos mais importantes, o BRICS, composto pelas duas econo-
mias citadas mais Rússia e África do Sul, em 2009, dada a sua capacidade
3. Potências emergentes podem ser
reconhecidas pelo tamanho da sua
economia, mas também das suas ideias
que enfatizam o seu direito (muitas
vezes historicamente frustrado) de se-
rem reconhecidas como potência e por
sua política externa que visa cada vez
mais o aumento do seu poder, da sua
influência e do seu prestígio (HURRELL,
2013, p. 204).
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Patrícia Nasser de Carvalho e Fernanda Cimini O regionalismo na América do Sul no início do Século XXI: uma análise de suas
inexões prácas e da produção intelectual brasileira
para contribuir com a gestão da ordem internacional em termos globais
ou regionais (HURRELL, 2009), buscou maior participação na formula-
ção das normas e das regras internacionais.
Inevitavelmente, os mercados industrializados tradicionais – Esta-
dos Unidos, UE e Japão – tiveram de reagir à estratégia comercial agres-
siva das economias emergentes, em especial, às estratégias de inserção
externa da China, que ingressou na OMC em 2001, mas já era membro
permanente do Conselho de Segurança da ONU, e no início de século
mostrava todas as condões para ser uma das maiores potências globais.
Ao mesmo tempo, os chineses se empenharam em estabelecer fortes la-
ços de comércio e de investimentos com países industrializados e tam-
bém com os em desenvolvimento da África e da América Latina, além
de que se dedicaram a construir uma ordem regional asiática com uma
gica diferente da ocidental (ACHARYA, 2014).
As regiões periféricas do mundo por sua vez mantiveram estraté-
gias de inserção externa aproveitando-se do ciclo expansivo da economia
mundial, que impulsionou o seu crescimento ao alavancar o comércio de
produtos agrícolas e minerais para abastecer os mercados em expansão dos
Estados Unidos, da China e até mesmo da Índia (FIORI, 2010). Essa forte
demanda aumentou os preços desses tipos de bens (BASTOS, 2012) durante
pouco mais que a primeira década deste século. No entanto, mais recente-
mente, a desaceleração da economia chinesa e a persistente crise econômica
europeia acarretaram na redução signicativa do volume de importações
desses mercados periféricos, inclusive da América do Sul, e consequente-
mente dos preços de bens pririos, com efeitos deletérios sobre os seus
uxos de comércio e de investimentos (BASTOS; HIRATUKA, 2017).
De forma ampla, é possível reconhecer não somente a maior im-
portância das economias emergentes como pólos de poder no Sistema
Internacional no início do Século XXI, mesmo que suas alianças estraté-
gicas sejam questionáveis, mas que as regiões também alcançaram papel
central nas relações interacionais (HETTNE, 2005; ACHARYA, 2009).
Elas adquiriram “autonomia” substancial em relação às potências globais
tradicionais após o m do conito bipolar e no início do século ganharam
mais espaço para conferir respostas aos desaos da globalização.
Neste contexto, as regiões também ganharam maior relevância.
Muitas delas deram amplo sentido ao regionalismo, processo que já vinha
acontecendo desde o nal da Guerra Fria. Ademais, as regiões demons-
traram condições de organizar as suas interações econômicas, políticas,
culturais e sua identidade para construir uma ordem regional voltada à
segurança e à defesa da região e para se colocar no espaço global, con-
gurando “um mundo de regiões” (ACHARYA, 2009).
Em cada uma das regiões se destacaram países com capacidade para
se tornar potência regional, dado seu poder superior em relação aos seus
vizinhos. As potências regionais são aquelas possuem recursos materiais,
econômicos, demogcos, organizacionais e ideológicos para projeção
de seu poder regional, visto que inuenciam uma determinada delimi-
tação geográca e a construção política e ideacional da região de forma
signicativa, exercem inuência por meio de estruturas de governança
regional, proveem bens coletivos para a região e têm uma posição de lide-
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 7, n. 3, (dez. 2019), p.83 - 102
rança reconhecida pelos demais atores regionais e extrarregionais (NOL-
TE, 2011). Ao buscar inuenciar a ordem mundial e tornar as instituições
internacionais mais “previsíveis” em nível global (WOMACK, 2007), as
potências regionais procuram primeiramente o seu espaço de inuência
na região. Dessa forma, a estabilidade da hierarquia de poder e as insti-
tuições de governança regionais são inuenciadas por elas. No caso da
América do Sul, Brasil e Venezuela no início do século foram os países
que demonstraram ter mais condições e ativismo para serem potências
regionais no início do novo século (FLEMES, 2010; MALAMUD, 2012).
O aumento da imporncia do papel das corporações transnacio-
nais como ator no Sistema Internacional também constitui uma destacada
consequência das transformações da economia internacional globalizada.
No Século XXI, os processos produtivos se tornam mais internacionali-
zados e formam cadeias globais de valor (CGV), representando o movi-
mento internacional e global no qual as empresas transnacionais criam
redes regionais e globais de subcontratação, associação ou terceirização
produtiva ou de prestação de serviços no mercado internacional para a
produção de bens complexos. Os custos reduzidos de mão-de-obra, trans-
portes e comunicações contribuem para a crescente integração dos mer-
cados em termos de uxos de comércio e de investimentos (BALDWIN,
2014). Essa fragmentação produtiva é um fenômeno que vem ocorrendo
em regiões em desenvolvimento, sobretudo no Sudeste da Ásia, e, em
menor medida na América Latina, onde fragmentação ainda é limitada,
embora crescente, e as cadeias globais de valor precisam ser fortalecidas
(ZHANG; SHIMANSKI, 2014).
No comércio internacional, as frustrações de muitos países com
relação aos resultados da liberalização do comércio no âmbito da OMC,
onde última rodada de negociações dura mais de 17 anos sem conclusão,
implicaram na sua preferência pelos esquemas regionalistas no formato
de Acordos Preferenciais de Comércio (APCs), pressupondo que as suas
negociações seriam mais ágeis e poderiam ser mais ecientes. Os APCs
têm como m compensar os poucos resultados alcançados em nível mul-
tilateral também diminuir os desgastes com acordos de integração re-
gional mais “profundos”, como o mercado comum e a união aduaneira
(HEYDON; WOOLCOCK, 2009).
As supostas facilidade e exibilidade desse tipo de acordo em re-
lação aos acordos da OMC se reetem no aumento do número de APCs
bilaterais no mundo, os quais geralmente são acordos de livre comércio
ou de complementação econômica (FIORENTINO; CRAWFORD; TO-
QUEBOUEF, 2012). Eles fazem parte do processo de regionalismo, mas
não necessariamente se propõem a ser projetos de integração regional,
de criar instituições ou mesmo de ampliar a agenda de negociações para
além do comércio. Dadas as diferentes escolhas dos países sul-americanos
em termos de esquemas regionalistas na área comercial, aqueles voltados
para o Pacíco (Chile, Colômbia e Peru) são os que vêm mais se dedican-
do a projetos de integração paralelamente às negociações e à realização
de APCs com diversos parceiros do mundo.
Além do comércio, estratégias regionais de cooperação em defesa,
segurança, infraestrutura e na área técnica, além das ideias e das questões
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Patrícia Nasser de Carvalho e Fernanda Cimini O regionalismo na América do Sul no início do Século XXI: uma análise de suas
inexões prácas e da produção intelectual brasileira
fronteiriças ampliam a agenda em várias regiões do mundo, buscando
prover Estados e outros atores não estatais com poder de barganha. Na
concepção sul-americana, a preocupação com a proteção dos seus recur-
sos naturais, as mudanças climáticas, as imigrações, o tco de drogas,
etc. estimularam consensos regionais sobre defesa, com o intento de, no
longo prazo, consolidar uma identidade sul-americana nesse tema (OLI-
VEIRA; MARIANO; BARRETO, 2014).
Entre os fatores internos à região que inuenciaram o regionalismo
na América do Sul no início do Século XXI, a ascensão de vários gover-
nos progressistas na região implicou na sua busca por superar a ideologia
neoliberal, traço comum das políticas econômicas adotadas por líderes
entre o m dos anos 1980 e durante os anos 1990 na região. Governos de
esquerda, que assumiram mandatos executivos nos países sul-americanos
– Venezuela (1998), Brasil (2002), Argentina (2003), Uruguai (2004), Bolí-
via (2005), Equador (2006), Paraguai (2008) e Peru (2011) – prometeram
acomodar economias mistas (RIGGIROZZI; GRUGEL, 2015), uma vez
que percebiam as consequências da globalização de forma pessimista em
temas relacionados ao desenvolvimento e às clivagens entre os hemisfé-
rios Norte e Sul (VEIGA; RÍOS, 2007). Ademais, questionavam a ordem
internacional assimétrica na qual os países desenvolvidos e as potências
mundiais tradicionais buscavam consolidar por meio de tratados e pela
difusão de ideologias que lhes eram favoráveis (BASTOS; HIRATUKA,
2017) e pelas estruturas de governança global através das quais almeja-
vam preservar o seu status quo (ACHARYA, 2017).
Na esteira desse processo, as críticas ao caráter exclusivamente “co-
mercial” dos esquemas do “novo regionalismo”, cuja “onda” teve início
no nal dos anos 1980, foram uma forma de confrontar o neoliberalismo
e as reformas propostas pelo Consenso de Washington. Elas repercutiram
no desejo dos governos sul-americanos de colocar lado a lado as dimen-
sões produtivas, socais e de desenvolvimento dos esquemas regionalistas
(VEIGA; RÍOS, 2007), ao mesmo tempo em que entendiam a sociedade
deveria lhes conferir maior legitimidade (SANAHUJA, 2017).
Por essa razão, no início deste século, o objetivo desses governos
era fortalecer a região como espaço geopolítico (PECEQUILO, 2013) e
não apenas geoeconômico, como havia acontecido anteriormente, cujo
período também havia sido marcado por certa homogeneização das ex-
periências nacionais dos países sul-americanos (LIMA, 2014). Para isso,
eles reviram as suas estratégias de política externa (SERBIN; VIGEVANI;
HERSHBERG, 2014) e a sua crença otimista no regionalismo aberto do
momento anterior, procurando promover o desenvolvimento dos países
da região, marcados pelos efeitos das crises nanceiras que aconteceram
na Ásia e na América Latina no nal dos anos 1990.
Por conseguinte, a etapa do regionalismo do início do século da A-
rica do Sul caracterizou-se por novos esquemas regionalistas e inovações
institucionais com o objetivo de responder ao desejo comum dos países de
melhorar sua governança regional (SANAHUJA, 2017), envolvendo a coo-
peração setorial de áreas como infraestrutura, energia, saúde, segurança,
defesa, bem como o dlogo político e a gestão de crises. Essas iniciativas
admitiram que os esquemas regionalistas deveriam envolver a provisão de
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bens públicos regionais, como democracia, direitos humanos e erradicação
da pobreza, redistribuição de renda, e envolver servos sociais (RIGGI-
ROZZI; GRUGEL, 2015), na procura tanto por parte dos Estados quanto
da própria região (SANAHUJA, 2017) por maior autonomia em relação ao
mercado e ao processo de globalização, à política externa dos Estados Uni-
dos e aos demais atores hegemônicos (RIGGIROZZI; TUSSIE, 2012).
Inflexões práticas: as novas experiências regionalistas na América do Sul
Há muitas leituras críticas e interpretações sobre os resultados do
regionalismo na América do Sul, que se dedicam a analisar os alcances e
os limites das diversas iniciativas regionalistas. As perspectivas e os pon-
tos de vista são inúmeros e divergentes. De qualquer modo, grande parte
da literatura sobre o tema converge na ideia de que a etapa do regionalis-
mo na América Latina (não somente na América do Sul), iniciada no iní-
cio deste século, caracteriza-se por importantes inovações institucionais
e estratégias em esquemas caracterizados por acordos “pós-liberais” ou
“pós-hegemônicos” (MOTA; RÍOS, 2007; SANAHUJA, 2009; RIGGIROZ-
ZI; TUSSIE, 2012; SANAHUJA, 2017), cujo foco se afasta da economia ao
criticar as reformas neoliberais e apresentar uma postura ideogica (MA-
LAMUD, 2013), e volta-se à cooperação e ao diálogo político (SANAHU-
JA, 2017), caracterizando-se por ser segmentado em subregiões (MALA-
MUD, 2013). Neste caso, a estrutura de governança regional tem como
resultado um mosaico onde acontecem diferentes políticas, identidades
e formas de cooperação e concorrência. Neste sentido, a América do Sul
é uma das subregiões da América Latina e, por isso, a reconguração da
governança regional da América do Sul se apresenta de forma distinta.
Em sintonia com as mudanças do regionalismo na subregião Amé-
rica do Sul, a expansão do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) foi
marcada pela entrada da Venezuela como membro pleno, cujo processo
de raticação pelos Estados partes terminou em 2012. A Bolívia teve o
seu processo de adesão ao bloco mercosulino ndado em 2017 e tem
quatro anos para se adequar às suas regras e normas. Com a Guiana
e o Suriname foram assinados acordos-quadros de associação em 2013.
Além do seu alargamento, o MERCOSUL buscou a integração voltada
para a complementação produtiva e a criação de instituições para com-
pensar e/ou diminuir as desigualdades entre os países membros do blo-
co (BOTTO, 2015). Nesta linha, o Fundo para Convergência Estrutural
do MERCOSUL (FOCEM) foi concebido em 2004 com o objetivo de -
nanciar programas destinados a reduzir as assimetrias socioeconômicas
dos parceiros menores e menos desenvolvidas em relação aos maiores e
mais desenvolvidos, devendo ser um passo imprescindível para respon-
der à diversidade territorial e econômica entre os membros do bloco.
A inclusão de temas sociais na agenda de negociações do MERCOSUL
também se tornou um traço dessa nova fase: o MERCOSUL Social pro-
curou maior aproximação da sociedade civil, criando mecanismos para
ampliar a participação e a coordenação dos membros em temas sociais,
como direitos humanos, meio ambiente, previdência, saúde, cultura,
educação, etc. (VELASCO JÚNIOR, 2013).
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Patrícia Nasser de Carvalho e Fernanda Cimini O regionalismo na América do Sul no início do Século XXI: uma análise de suas
inexões prácas e da produção intelectual brasileira
Desde 2007, o bloco passou a contar com o do Parlamento do MER-
COSUL (PARLASUL), criado um ano antes, com o objetivo de estabe-
lecer regras, procedimentos decisórios e atividades que condicionassem
o comportamento de seus participantes no âmbito regional, guiando as
interações entre eles, e, ao mesmo tempo, reetindo suas características
domésticas permitindo uma identicação com a nova instituição. A expe-
riência europeia serviu como parâmetro para a proposta do PARLASUL
porque era a mais avançada e conhecida, mas houve o reconhecimento de
que os contextos e características de cada processo deveriam ser levados
em conta na formulação da proposta dos países do mercado comum do
Cone Sul, a m de alcançar maior interação com a sociedade. Ademais, a
institucionalização do Poder Legislativo poderia resultar em uma maior
facilidade em obter o aprofundamento do processo de integração, ao di-
minuir a dependência com relação à vontade política governamental e
aos interesses imediatos (MARIANO, 2015; p. 127).
O compromisso com a democracia também foi uma preocupação
que levou à consolidação de novas condicionalidades de caráter mais
dissuasivo no MERCOSUL. O Protocolo de Montevideo, concluído em
2011, rearmou o conteúdo do Protocolo de Ushuaia, de 1998, e incluiu o
Art. 1, o qual deveria ser implementado não somente em caso de ruptura
democrática, mas também em caso de ameaça de ruptura e violação da
ordem constitucional, ou de qualquer outra situação que colocasse em
risco o exercício legítimo de poder e dos valores e princípios democráti-
cos. Chamado de Protocolo Ushuaia II, ele expandiu os casos nos quais a
cláusula democrática do MERCOSUL poderia ser implementada (HOF-
FMANN, 2016).
Na área comercial, o MERCOSUL diversicou parcerias extrarre-
gionais, rmando acordos de livre comércio com alguns parceiros: Israel
(2007), Índia (2004), União Aduaneira da África Austral (2008), Palesti-
na (2008) e Egito (2010). Desses, todos foram raticados, com exceção do
acordo com a Palestina. As negociações do acordo de livre comércio do
MERCOSUL com a UE para a conformação e uma área de livre comér-
cio, as mais antigas em processo de barganha, iniciadas em 1999, eviden-
ciaram uma postura muito mais resistente do bloco sul-americano em
aceitar o acordo de temas considerados sensíveis (VEIGA; RÍOS, 2007),
tanto que, a despeito da forte pressão europeia, o acordo não foi concluí-
do após quase duas décadas. Essa atitude também se reetiu nas coalizões
de maior poder político dos países do Sul Global na OMC e havia sido
externalizada na negativa de diversos países das Américas ao Acordo de
Livre Comércio das Américas (ALCA), em 2004, proposto pelos Estados
Unidos dez anos antes. Os países do MERCOSUL entendiam que os u-
xos para Estados Unidos e UE já tinham alcançado um valor-limite e que
seus incrementos seriam marginais (CAVALCANTE; LIMA, 2014). Acima
de tudo, cou claro aos países desenvolvidos que os países do Sul Global
não cederiam mais tão facilmente quanto as suas antigas coalizões.
A Aliança Bolivariana para os Povos das Américas (ALBA), instituí-
da em 2004, foi uma das primeiras iniciativas que caracterizaram a nova
dimica geopolítica da região. Impulsionada pelos então presidentes da
Venezuela, Hugo Chávez, e de Cuba à época, Fidel Castro, seu projeto
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 7, n. 3, (dez. 2019), p.83 - 102
teve caráter antihegemônico e forte viés ideogico. Em seu discurso, -
cou clara a abordagem de desenvolvimento no espectro das relações ex-
teriores de seus membros e no processo regionalista, no qual o Estado de-
veria agir contra as forças de mercado e o modelo de regionalismo aberto
do período anterior, uma vez que o neoliberalismo foi interpretado como
uma expressão máxima de ameaça imperialista e/ou de intervenção es-
trangeira (SANAHUJA, 2017).
Assim como a ALBA, a constituição da União Sul-Americana de
Nações (UNASUL), em 2008, em substituição à Comunidade Sul-Ameri-
cana de Nações (CSN), lançada com a Declaração de Cusco de 2005, foi
outra estratégia de contenção da inuência dos Estados Unidos da região
e uma grande inovação regional e de “retorno da política” às relações
exteriores e à política de desenvolvimento (SANAHUJA, 2012). A Amé-
rica do Sul ainda não contava com uma organização que abrangesse os
12 Estados da região e que fosse um fórum privilegiado para discussão
e mediação dos problemas regionais. A UNASUL nasceu especicamen-
te voltada à promoção do desenvolvimento e de uma identidade política
e mais diretamente preocupada com o estado da democracia na região,
vinculando esforços na formulação de políticas baseadas em direitos re-
lacionados às necessidades dos cidadãos mais vulneráveis da América do
Sul (RIGGIROZZI; GRUGEL, 2015).
No âmbito da UNASUL, o Conselho de Desenvolvimento Social
(CDES) foi fundado com a meta de contribuir para a consolidação de so-
ciedades mais justas e promover mecanismos de cooperação para o de-
senvolvimento integral com redução de assimetrias. Ele também contou
com uma cláusula democrática, na forma de um protocolo assinado em
novembro de 2010, que entrou em vigor desde 2014 (Protocolo Adicional
ao Tratado Constitutivo sobre o Compromisso com a Democracia) cuja
função era reforçar o engajamento com a proteção e a promoção da or-
dem democrática, dos direitos humanos e liberdades fundamentais e do
estado de direito (HOFFMANN, 2016).
Também foram criados importantes órgãos para tratar da coope-
ração em diferentes áreas na UNASUL, como o Conselho de Defesa Sul-
-Americano (CDS), uma iniciativa pragmática de contestação da partici-
pação dos Estados Unidos nos assuntos de defesa regional, que até então
havia sido coordenada pela Organização dos Estados Americanos (OEA),
claramente liderada pelos Estados Unidos. Em outras palavras, o CDS
sinalizou a tentativa e a intenção dos países sul-americanos de promover
uma nova arquitetura regional no que se refere às questões relacionadas à
defesa e à segurança do subcontinente, em detrimento daquelas surgidas
ainda no período da Guerra Fria, na qual os Estados Unidos desempenha-
vam um papel preponderante (MALAMUD; SCHEONI, 2015; SERBIN,
2009). Primando pelo dlogo político e a cooperação em defesa, o CDS
foi pensado com base em um conceito integrado de segurança cooperati-
va e segurança democrática (SANAHUJA, 2012).
O projeto do Banco do Sul, lançado em 2007, e que se tornou uma
instituição jurídica internacional em dezembro de 2011, foi apresentado
como parte do projeto nanceiro regional da Venezuela para a América
do Sul e uma alternativa contra-hegemônica às instituições criadas em
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Patrícia Nasser de Carvalho e Fernanda Cimini O regionalismo na América do Sul no início do Século XXI: uma análise de suas
inexões prácas e da produção intelectual brasileira
Bretton Woods no pós-Segunda Guerra e ao Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID). Seu m era nanciar os eixos de integração fí-
sica, projetos de desenvolvimento econômico e a redução da pobreza na
América do Sul. Para isso, o Banco do Sul deveria conferir maior capaci-
dade de mobilização e alavancagem de recursos, e especialmente agregar
os mais diversos tipos de instituições e mecanismos de nanciamento
com o objetivo de compatibilizar políticas econômicas e de inserção in-
ternacional divergentes, estimulando cadeias regionais de valor (PADU-
LA, 2011).
Por esse motivo, seria o Banco do Sul o responsável, em um pri-
meiro momento, por dar respaldo à criação do Conselho Sul-Americano
de Infraestrutura e Planejamento, o COSIPLAN, criado em 2009 na III
Reunião Ordiria de Chefes de Estado e de Governo da UNASUL. Apro-
veitando o capital institucional acumulado em dez anos de experiência
da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana
(IIRSA), fundada em 2000, como órgão técnico o COSIPLAN teria como
função conferir um caráter político-estratégico para a infraestrutura na
região agregando o maior número de atores possíveis (PADULA, 2014).
Na contramão dos esquemas regionalistas sul-americanos mais
voltados à promoção da cooperação, do desenvolvimento e do dlogo
político, a Aliança do Pacíco, criada em 2012, procurou garantir a in-
serção internacional dos seus membros através de acordos comerciais
com os Estados Unidos, a UE e outros parceiros comerciais na região da
Ásia-Pacíco (SANAHUJA, 2012; RIGGIROZZI; TUSSIE, 2012). Formada
por três países sul-americanos (Colômbia, Peru, Chile) mais o México, os
objetivos da Aliança são a construção de uma área de livre-comércio e de
uma plataforma de cooperação política, econômica e comercial que auxi-
liasse a projeção desses países no plano internacional, sobretudo na Ásia e
no Pacíco, regiões com crescente imporncia geoeconômica e geopolí-
tica global (PADULA, 2014), embora também tenham potencial de fazer
um contrapeso político ao MERCOSUL e/ou à UNASUL na região. Os
membros da Aliança do Pacíco têm proximidade com os Estados Unidos
em relação aos demais dos esquemas sul-americanos anteriormente cita-
dos, não só em termos comerciais senão também em termos do dlogo
político-diplomático (LIMA, 2014) e com expectativa de obter benefícios
comerciais com a Parceria Transpacíco (Trans-Pacic Partnership – TPP),
concluída em 2015 e que até 2017 foi liderada pelos Estados Unidos.
Com exceção do México, os membros da Aliança do Pacíco são
economias pequenas, não dotadas de grande mercado interno ou plano
regional para industrialização e estão claramente orientadas para a re-
gião Ásia-Pacíco, em particular, para China, desde o início deste século,
(PADULA, 2014; SANAHUJA, 2017). Também de forma diversa do que
ocorre no MERCOSUL, as visões dos governos e dos grupos de interesses
das economias da Aliança do Pacíco se mostram mais voltadas à defesa
do mercado livre.
Os resultados de todos esses projetos regionalistas são muito contes-
táveis, embora seja perceptível que o desenvolvimento das iniciativas do re-
gionalismo político tenha avançado mais do que o do regionalismo econô-
mico e que o projeto de integração regional da Europa não é um elemento
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 7, n. 3, (dez. 2019), p.83 - 102
norteador do mesmo tipo de processo na América do Sul. Houve a criação
novos projetos regionais e de um arcabouço de governança regional em
várias áreas com o intuito de promover uma forma própria de regionalis-
mo, sem alinhamento automático com os Estados Unidos, menos voltada à
promoção do comércio do que nos anos 1990, constituindo um espaço para
seus membros conferirem respostas aos desaos da globalização.
A despeito dos seus alcances e limites, desde 2015, as transforma-
ções no Sistema Internacional e na América do Sul não parecem apontar
para a continuidade de mudanças inovadoras dos processos regionalistas
na direção que vinham seguindo, isto é, no sentido de redenição de suas
fronteiras geogcas e ideogicas e de fomento de novos consensos,
como ocorreu no início do século (RIGGIROZZI; TUSSIE, 2012). A queda
das taxas de crescimento de várias economias, dentre outros motivos em
razão do declínio da demanda chinesa por commodities e bens agrícolas, a
instabilidade política vivida, sobretudo na Venezuela, e a substituição de
governos de esquerda por lideranças progressistas, são elementos novos
no contexto regional. Neste âmbito, os discursos políticos atuais indicam
uma provável retomada da narrativa contrária para o regionalismo (SA-
NAHUJA, 2017), que privilegia novamente a agenda neoliberal com ên-
fase em acordos econômicos. Desse modo, é possível que o regionalismo
sul-americano se encontre no início de um novo rumo, que somente os
anos vindouros mostrarão se e como ocorrerá.
No que tange ao papel do Brasil nos esquemas regionalistas citados,
as percepções e alises também são inúmeras e divergentes. Dada a sua
maior capacidade material na região, uma vez que o país tem o maior
Produto Interno Bruno (PIB), população e território, diversas pesquisas
se dedicaram a discutir as mudanças da sua política externa na gestão dos
governos petistas, Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousse
(2011-2016), tendo em vista que o Brasil teve papel de destaque em muitas
iniciativas regionalistas, tanto na proposta como no processo de institucio-
nalização e no seu funcionamento. Alguns trabalharam com a hipótese de
que o Brasil foi e ainda é uma potência regional; outros armaram, além
de potência na América do Sul, que o país exerceu liderança na região du-
rante os governos citados, ainda que com ressalvas para o período do úl-
timo mandato de Rousse. Há ainda aqueles que discordam de ambas as
teses. Com efeito, seguindo a nova tendência política na região, após o m
do governo Rousse, em 2016, o Brasil vem experimentando um período
conturbado em várias questões e frentes, que parece conduzi-lo a novas al-
terações na orientação de sua política externa, e cujas repercussões, ainda
que não totalmente denitivas, afetam os projetos regionalistas na Améri-
ca do Sul de maneira diferenciada em relação ao período anterior.
Análise da produção intelectual brasileira sobre regionalismo na
América do Sul
As transformações e novidades vivenciadas pelos processos de re-
gionalismo na América do Sul, nas primeiras décadas do Século XXI, não
passaram despercebidas pelos acadêmicos brasileiros que se dedicam aos
estudos das Relações Internacionais (RI). A reconguração da geometria
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Patrícia Nasser de Carvalho e Fernanda Cimini O regionalismo na América do Sul no início do Século XXI: uma análise de suas
inexões prácas e da produção intelectual brasileira
política e econômica da região tem sido objeto de constante dlogo e pro-
dução acadêmica. O levantamento realizado nos cinco principais periódi-
cos cientícos brasileiros da área
4
para compor a amostra deste trabalho,
nos últimos dez anos (2008-2018
5
), possibilitou a identicação de mais de
60 artigos relacionados ao tema regionalismo na América do Sul
6
. Apesar
de o novo século ter trazido muitas transformações para o regionalismo
na América do Sul, o ano de 2008 marcou a irrupção da crise nancei-
ra global, demandando mudanças rápidas no espaço regional e muitos
questionamentos na academia sobre os desdobramentos das iniciativas e
dos processos regionalistas. Assim, esse ano foi o escolhido para balizar
a composição da amostra. A ocorrência de publicações sobre o tema por
ano sobre a temática pode ser visto no gco abaixo:
Gráfico 1 – Ocorrência de artigos sobre regionalismo nos principais periódicos brasi-
leiros de RI
Fonte: Resultado da Pesquisa (2019).
Embora a maior parte dos trabalhos da amostra tenha sido produzi-
da por acadêmicos liados a instituições brasileiras e sejam voltados para
o público brasileiro, chama atenção a presença no Brasil de artigos de
autoria estrangeira, em grande maioria latino-americana, além de artigos
de brasileiros publicados em inglês e espanhol, o que demonstra a aber-
tura ao dlogo internacional nos debates acadêmicos sobre regionalismo
sul-americano.
Tabela 1 – Grau de Internacionalização da produção acadêmica sobre regionalismo
sul-americano (número de artigos por filiação do autor por país e língua publicados
no Brasil, 2008-2018).
País de Filiação Institucional do(a) autor(a) Idioma do Artigo
Alemanha 2
Espanhol 2Argentina 2
Brasil 50
Canadá 1
Inglês 21
Colômbia 2
EUA 1
Português 37
México 1
Uruguai 1
Fonte: elaboração própria.
4. A seleção dos periódicos baseou-se
no trabalho de Ramo e Scotelaro (2018),
que adotaram os critérios de naciona-
lidade da instituição responsável pela
publicação (ser instituição brasileira) e
a classificação de avaliação do sistema
brasileiro CAPES (exigência mínima
B1). Foram selecionados os seguintes
periódicos: Revista Brasileira de Política
Internacional (RBPI), Contexto Interna-
cional, Carta Internacional, Revista de
Economia Política, Revista de Sociologia
e Política, sendo as três primeiras mais
abertas à área de Relações Internacio-
nais stricto sensu e a segunda à área de
Economia Política.
5. Artigos selecionados até junho de 2018.
6. Em 2013, a Revista Contexto Inter-
nacional publicou uma edição especial
sobre regionalismo, o que explica a
maior ocorrência de artigos sobre o
tema nesse ano.
96
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 7, n. 3, (dez. 2019), p.83 - 102
Em relação aos temas de interesse que envolvem as publicações da
amostra sobre regionalismo na América do Sul, observa-se uma varieda-
de de agendas, reexo da multidimensionalidade em que as questões de
regionalismo estiveram imersas nas últimas décadas.
Gráfico 2 – Temas relacionados às publicações sobre regionalismo
na América do Sul, 2008-2018
0
5
10
15
20
25
Es tr at égi a s de
Regio nalismo
S egu rança
Representação,
Partiic pação e Democracia
Desenh o Instituci onal
Liderança Regional
Co mérci o
Finanças
Relações Inter-regionais
Fonte: elaboração própria.
É possível depreender da alise do gráco acima que temas rela-
cionados à segurança e à representação democrática dos esquemas regio-
nalistas concorrem cada vez mais com questões de nanças, comércio e
relações econômicas inter-regionais. Observam-se ainda trabalhos que
abordam diretamente a questão da liderança regional brasileira e suas im-
plicações para a ordem regional e global, bem como pesquisas preocupa-
das com os desenhos institucionais assumidos pelos principais esquemas
regionalistas (MERCOSUL, UNASUL, ALBA, etc.). No entanto, o cerne
dos debates gira em torno das discussões sobre os rumos do regionalismo,
classicadas neste trabalho pela categoria “Estratégias de Regionalismo.
A preocupação que se mostrou mais recorrente nas publicações
sobre regionalismo na América do Sul diz respeito às motivações e os
incentivos domésticos que levam os países sul-americanos, com elevada
ênfase no Brasil, a investirem na constrão de arranjos regionalistas.
Essas motivações abrangem desde construções identitárias sobre a A-
rica do Sul – em contraposição à noção mais ampla de América Latina
ou em oposição ao imperialismo da América do Norte –, até o cálculo de
custos e benefícios envolvidos nestes esquemas, não havendo, portanto,
homogeneidade de enfoque teórico. Todas essas questões apontam, ao
menos, três inexões importantes na produção teórica sobre regionalis-
mo na América do Sul.
Em primeiro lugar, a ausência da UE como modelo de integração
regional. O projeto de integração da Europa deixa de ser interpretado
como o “tipo-ideal” de cooperação intergovernamental, abrindo margem
para uma discussão mais ampla sobre modelos de integração e de proces-
sos regionalistas. Lazarou (2013) analisa diretamente o impacto da crise
europeia nos discursos brasileiros sobre integração. Segundo a autora, a
crise de 2008 e os seus desdobramentos na Europa alteraram signicati-
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Patrícia Nasser de Carvalho e Fernanda Cimini O regionalismo na América do Sul no início do Século XXI: uma análise de suas
inexões prácas e da produção intelectual brasileira
vamente o apelo do modelo europeu como instrumento de cooperação
intergovernamental. Como consequência disso, o entusiasmo pelo maior
aprofundamento da integração regional foi substituído por discursos de
maior cautela na aproximação com os vizinhos sul-americanos.
Nesse sentido, os inúmeros projetos regionalistas na América do
Sul não foram mais analisados como espelhos do modelo europeu de in-
tegração regional e tampouco foram vistos como parte dos interesses ou
dependentes da estratégia norte-americana (RIGGIROZI; TUSSIE, 2012),
como havia acontecido durante a onda do “velho regionalismo” dos anos
1950 e 1960. Naquele período, o projeto de integração regional da Europa
se desenvolvia a passos largos e servia de exemplo para outras experiên-
cias, tanto pelos processos de aprofundamento quanto de alargamento
(FAWCETT, 2005). No início deste século, o regionalismo sul-americano
também não tem essência econômico-comercial como no “novo regiona-
lismo”, que se baseou na ideologia neoliberal e voltado para o mercado.
Als, os contornos do regionalismo sul-americano passaram a ser de-
nidos por práticas transfronteiriças formais e informais, que denotaram
uma rica variedade de formas (RIGGIROZI; TUSSIE, 2012), embora con-
centrados em temas mais ligados à política do que à economia.
É interessante observar que o debate sobre “as variedades de re-
gionalismos” sul-americanos tem sido conduzido, em sua maioria, por
pesquisadores estrangeiros (LEGLER, 2013; BUELVAS, 2013; GARDINI,
2015; KLEINSCHMIDT; GALEGO PÉREZ, 2017). Apenas um artigo que
discute as variedades e contrapõe os modelos distintos de regionalismo
é de pesquisadora brasileira. Saraiva (2013) faz uma revisão das novas
abordagens para alise dos processos de integração da América do Sul
a partir da estratégia de inserção regional brasileira. Segundo a autora, é
possível identicar traços de aprofundamento da governança regional na
conformação da UNASUL, ao mesmo tempo em que a ausência de plata-
forma econômico-comercial reforça a ideia do regionalismo pós-liberal.
Já a constituição de arranjos de participação social no âmbito do MERCO-
SUL aproximaria a estratégia brasileira do regionalismo político-social,
ao passo que a busca por autonomia em um sistema de poder distinto dos
Estados Unidos qualicaria o regionalismo como pós-hegemônico.
Em segundo lugar, e talvez como reexo da proliferação de novos
arranjos de regionalismo político em um contexto marcado por governos
progressistas, ganha destaque o debate sobre o papel das ideias no deli-
neamento dos rumos da integração. Galvão (2009) analisa o processo de
reinvenção conceitual da ideia de América do Sul nas últimas décadas,
cujo resultado foi a consolidação de uma identidade sul-americana no iní-
cio do novo milênio. Contribuiu para a maturação dessa nova identidade
a “sul-americanização” da política exterior brasileira, que buscou na A-
rica do Sul um caminho de conciliação entre nacionalismo e autonomia
(VIGEVANI et. al, 2008) e entre soberania e integração (ALMEIDA, 2013).
As alises que caminham nessa direção apontam que, no plano
da retórica sul-americana, a política externa brasileira, principalmente
durante o Governo Lula, encontrou uma saída para o histórico dilema
entre a busca por inserção internacional e autodeterminação, já que o
nível regional possibilitaria o avanço em ambas as frentes. Todavia, ao
98
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 7, n. 3, (dez. 2019), p.83 - 102
mesmo tempo, essa retórica acabou por criar novos obstáculos para o
aprofundamento da integração na subregião, já que esse dilema nunca
foi atributo exclusivamente brasileiro, mas compartilhado pelos demais
países da região. Assim, enquanto a construção da identidade da Améri-
ca do Sul atendia aos interesses brasileiros de maior projeção na sub-re-
gião, ela criou desconanças nos vizinhos que já compartilhavam uma
herança histórica muito mais latina do que propriamente sul-americana.
Neste uxo, muitos trabalhos se dedicaram a pensar o papel do Brasil
como líder regional, uma vez que grande parte das propostas regiona-
listas foi feita pelo país, para além do fato de que ele tinha as condições
materiais mais destacadas na região.
Ademais, não há como desvencilhar a retórica e as ideias sobre
regionalismo dos projetos desenvolvimentistas da região. A simulta-
neidade de governos progressistas na Argentina e Brasil levaram es-
ses países a adotar políticas contraditórias em relação ao MERCOSUL,
pois, ao mesmo tempo, em que defendiam a integração como caminho
para uma inserção internacional mais autônoma, acabavam por imple-
mentar domesticamente políticas macroeconômicas e comerciais que
feriam os objetivos da integração. Essas contradições entre retórica e
prática ganharam destaque no debate sobre estratégias regionalistas no
período recente.
Finalmente, outra inexão importante diz respeito à consolidação
do papel dos atores domésticos nas alises dos processos de integração
regional. Se antes, trabalhos como o da Maria Regina Soares de Lima
(2007) eram vistos como pioneiros na abertura da “caixa preta” do Esta-
do, agora, as alises baseadas em jogo de dois níveis tornam-se impres-
cindíveis para a compreensão das estratégias de integração (SARAIVA,
2008; VIGEVANI et. al, 2008; MEDEIROS; TEIXEIRA JÚNIOR; REIS,
2017; CAICHIOLO, 2017).
Saraiva (2008) e Vigevani et. al (2008) analisam as contradições das
políticas de integração regional da Argentina e Brasil, respectivamente, a
partir das dissidências entre os grupos econômicos e a própria sociedade.
Na Argentina, coexistem diferentes expectativas em relação à integração
regional no interior do aparato governamental, inuenciando a posição
do país desde o governo de Raúl Alfosín (1983-1989) até os dias de hoje. Vi-
gevani et. al (2008) sugerem não existir adequada densidade na sociedade
brasileira que estimule o aprofundamento da integração:
Consideramos que, por mais que o Mercosul gure no alto das prioridades do
Estado, do governo, do ministério das Relações Exteriores, de fato, há hesitação
em arcar com os custos e enfrentar as assimetrias existentes. [...] As naturais
aspirações protagônicas e universalistas das elites do país implicam a necessidade
de estar livre para agir com desenvoltura no cenário internacional, sem acordos
restritivos no âmbito regional e sem os condicionamentos que derivariam das ne-
cessárias concessões aos sócios de menor poder. [....]A expansão combinada com
o baixo comprometimento governamental, no sentido de trabalhar as assimetrias
existentes, levou a uma integração que não pode ser muito ambiciosa quanto ao
seu grau de aprofundamento. Ao mesmo, o limite dado por uma união alfande-
gária que não se consolida e as diculdades inerentes na gestão das novas deman-
das oriundas desta situação, podem tornar a integração pouco atraente para os
governos e importantes setores domésticos envolvidos, criando uma situação de
impasse que levaria ao fortalecimento de forças desintegradoras, que por sinal
parece ser o estágio atual do bloco (VIGEVANI et. al, 2008, p. 22).
99
Patrícia Nasser de Carvalho e Fernanda Cimini O regionalismo na América do Sul no início do Século XXI: uma análise de suas
inexões prácas e da produção intelectual brasileira
Curiosamente, a abertura da “caixa preta” no contexto sul-ameri-
cano tem servido apenas para reforçar uma visão já consolidada sobre as
estratégias de regionalismo da região: trata-se de um processo fundamen-
talmente protagonizado pelo Estado, haja vista o baixo interesse societal
dos países membros no aprofundamento da integração regional.
Considerações Finais
O artigo analisou as inexões práticas sobre o regionalismo na
América do Sul e da produção intelectual brasileira sobre o tema. A pri-
meira parte se dedicou a explorar as mudanças do regionalismo no início
do Século XXI em decorrência de fatores sistêmicos e internos à região.
A segunda seção discutiu as inexões práticas do regionalismo sul-ame-
ricano a partir do apontamento das novas experiências regionalistas e do
desenvolvimento da governança regional. A terceira parte apresentou e
analisou a produção intelectual brasileira sobre regionalismo na América
do Sul nos últimos dez anos, a partir da amostra dos principais periódi-
cos da área. A alise colocou em evidência a importância do regionalis-
mo político em detrimento do regionalismo econômico, tanto a partir
da perspectiva dos projetos de regionalismo que emergiram no período,
quanto a partir da perspectiva teórica sobre o tema.
Ademais, o trabalho chamou atenção para o esforço acadêmico em
estabelecer um ponto de ruptura analítica com o “velho” e o “novo regio-
nalismo” por meio da proliferação de novas denominações para caracte-
rizar as dinâmicas regionais recentes. Contudo, esse esforço parte de um
olhar “estrangeiro” do campo e não encontra forte apelo na produção
brasileira. O cerne dos debates acadêmicos sobre regionalismo sul-ame-
ricano no Brasil está no contraste entre retórica e prática dos projetos de
integração regional, bem como nos interesses do governo brasileiro e o
seu papel como potência e/ou liderança na região.
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