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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 8, n. 3, (set. 2020), p. 128-151
A Belt and Road Initiative
na mídia brasileira
The Belt and Road Initiative in the Brazilian media
La Iniciativa de la Franja y la Ruta en los medios
brasileños
Ian Prates
1
Carolina Santos Lages
2
Vitor Matheus Oliveira de Menezes
3
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2020v8.n3.p128
Recebido em: 04 de dezembro de 2019
Aceito em: 13 de julho de 2020
R
Este artigo apresenta uma avaliação da percepção da Belt and Road Initiative
(BRI) na mídia brasileira. Essa avaliação é relevante diante do movimento de
aproximação entre os países e da especulação da entrada do Brasil na BRI,
embora o país tenha mantido uma distância deliberada da iniciativa. Nesse
contexto, o sucesso de uma possível adesão ao BRI pelo Brasil – uma democra-
cia pluralista e multipartidária – depende em larga medida do grau de consenso
em torno dos temas, seja nas arenas formais de decisão, seja junto à opinião
pública. O trabalho analisou 266 artigos/reportagens/colunas de opinião dos
principais veículos de comunicação brasileiro entre 2017 e 2019. Concluímos
que, atualmente, há um elevado grau de desconhecimento sobre a BRI e que o
assunto é tratado de forma ainda bastante superficial pela mídia brasileira. Esse
fato configura uma especial oportunidade para iniciativas que busquem moldar
a imagem da BRI entre os setores da sociedade brasileira – empresariado, toma-
dores de decisão, academia, membros do governo, classe política, sociedade civil
e opinião pública. Por outro lado, deve-se ter em mente que o grau de polariza-
ção social e ideológica no Brasil torna a construção de consensos especialmente
desaadora.
Palavras-chave: Belt and Road Initiative; China; Brasil; mídia.
A
This paper presents an assessment of the perception of the Belt and Road
Initiative (BRI) in the Brazilian media. This assessment is relevant in light of the
movement between countries and the speculation concerning Brazil’s entry into
the BRI, even if the country has kept a deliberate distance from the initiative. In
this context, the success of a potential adhesion to the BRI by Brazil – a pluralist
and multiparty democracy – largely depends on the degree of consensus on the
issues at play. This consensus encompass formal decision-making arenas as well
1. Doutor em Sociologia pela Universi-
dade de São Paulo (USP). Pesquisador
do Centro Brasileiro de Análise e Pla-
nejamento (CEBRAP) e Research Fellow
na Social Accountability International.
ORCID Id: https://orcid.org/0000-0002-
9147-7116.
2. Mestranda em Economia Internacional
pela Peking University Business School.
Especialista em Políticas Públicas e
Gestão Governamental do Governo de
Minas Gerais. ORCID Id: https://orcid.
org/0000-0002-5182-4451.
3. Doutorando em Sociologia pela Uni-
versidade de São Paulo (USP). Bolsista
do Conselho Nacional de Desenvolvi-
mento Científico e Tecnológico (CNPq).
ORCID Id: https://orcid.org/0000-0002-
3076-0815.
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Ian Prates, Carolina Santos Lages, Vitor Matheus Oliveira de Menezes A Belt and Road Iniave na mídia brasileira
as public opinion. We analyzed 266 articles/ news reports/opinion columns
in the main Brazilian media vehicles between 2017 and 2019. We arrived at the
conclusion that there is currently a high degree of unfamiliarity about the BRI
and that the subject is reported in a very supercial way by the media. This pres-
ents a special opportunity for initiatives that seek to shape BRI’s image among
sectors in Brazilian society – business, decision makers, academia, members of
government, the political class, civil society, and public opinion. Nevertheless,
we should bear in mind that the current elevated social and ideological polariza-
tion in Brazil makes consensus building especially challenging.
Keywords: Belt and Road Initiative. China. Brazil. Media.
R
Este paper presenta una evaluación de la percepción de la Iniciativa de la Franja
y la Ruta (BRI) en los medios brasileños. Esta evaluación es relevante en vista
del movimiento hacia lazos más estrechos entre países y las especulaciones
sobre la entrada de Brasil en el BRI, aunque el país ha mantenido una distancia
deliberada de la iniciativa. En este contexto, el éxito de una posible adhesión al
BRI de Brasil - una democracia pluralista y multipartidista - depende en gran
medida del grado de consenso en torno a los temas, ya sea en los foros formales
de decisión o con la opinión pública. El trabajo analizó 266 artículos / reportajes
/ columnas de opinión de los principales medios de comunicación brasileños
entre 2017 y 2019. Concluimos que en la actualidad existe un alto grado de
desconocimiento sobre el BRI y que el tema todavía es tratado de manera muy
supercial por los medios brasileños. Este hecho representa una oportunidad
especial para iniciativas que buscan moldear la imagen del BRI entre los sectores
de la sociedad brasileña: empresarios, tomadores de decisiones, academia,
miembros del gobierno, clase política, sociedad civil y opinión pública. Por otro
lado, debe tenerse en cuenta que el grado de polarización social e ideológica en
Brasil hace que la construcción de consensos sea especialmente desaante.
Palabras clave: Belt and Road Initiative. China. Brasil. Medios de comunicación.
Introdução
Devido à sua dimensão geogca e implicações políticas, a Belt and
Road Initiative (BRI) é o principal projeto chinês de cooperação interna-
cional. Ele inaugura uma nova era de globalização e sela de vez o papel
da China como uma potência mundial. A época do seu lançamento, por
exemplo, foi recorrentemente comparada ao Plano Marshall, devido ao
seu potencial impacto econômico e político (SHEN; CHAN, 2018). Com
cinco áreas prioritárias de cooperação (coordenação de políticas, conecti-
vidade de infraestrutura, facilitação de comércio, cooperação nanceira
e laços interculturais), os investimentos apresentarão relevantes impactos
econômicos e sociais aos países que aderirem à iniciativa.
A incorporação do Brasil à BRI poderia ajudar a superar as dicul-
dades que o país – e o restante da América Latina, de um modo geral
– enfrenta para realizar os investimentos adequados nas áreas de infraes-
trutura, energia, tecnologia e inovação (ARBACHE, 2019). O Brasil é es-
pecialmente interessante para a China, devido à vantagem competitiva
das suas empresas, que têm desenvolvido ao longo dos últimos anos um
avançado know-how e conhecimento tecnogico nessa área (CENTRO
BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 2019). No campo
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energético, as oportunidades se abrem a partir da combinação entre a
variedade de recursos presentes no território brasileiro e o seu ambiente
regulatório. Já a cooperação em Inteligência Articial, Machine Learning,
Internet of Things e internet de alta velocidade – áreas em que a China
exerce uma proeminência global – se mostra imprescindível para alavan-
car o desenvolvimento do país. Nesse contexto, vale reforçar que a dis-
ponibilização de internet 5G no país é especialmente importante para
viabilizar a criação e o aprimoramento de negócios
4
.
Há, contudo, alguns receios. Do ponto de vista econômico, a ma-
leabilidade da BRI (seja com respeito aos objetivos esperados, seja com
respeito aos mecanismos de cooperação e governança), bem como as pos-
sibilidades de endividamento que podem culminar no chamado debt-trap
5
,
são os aspectos mais ressaltados (PIRES, 2019; CENTRO BRASILEIRO
DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 2019). No campo diplomático, há
o receio de uma possível reação negativa de Washington, no contexto do
acirramento da rivalidade entre Estados Unidos e China. E, por m, no
âmbito interno, destacam-se as (in)capacidades do Estado brasileiro em
estabelecer arranjos institucionais de longo prazo que permitam ao país
superar suas históricas deciências estruturais (HIRATUKA, 2018).
Entretanto, é importante reetir não apenas sobre como os espe-
cialistas têm discutido os potenciais pontos positivos e negativos da BRI,
mas também sobre como tem sido moldada a percepção da sociedade
brasileira sobre o tema. Este artigo pretende justamente contribuir com
esse tema, ao abordar a cobertura da BRI entre alguns dos principais veí-
culos de mídia do Brasil. Ao fazê-lo, pretendemos chamar atenção para a
imagem da BRI fora dos meios especializados e acadêmicos. Anal, seja
através da BRI ou de outros mecanismos, as relações entre Brasil e China
têm se aprofundado e se estreitado consideravelmente, e seus impactos
na sociedade brasileira vão muito além das questões macroeconômicas.
Elas simbolizam a conexão do país com o oriente, sendo que o estrei-
tamento dessas relações aproxima uma realidade cultural e política que
pode suscitar novas discussões e moldar o comportamento da sociedade
brasileira. Essas mudanças potenciais cobrem um espectro amplo, desde
hábitos de consumo, como a indústria do skincare, até o questionamen-
to ou releitura de máximas ocidentais de liberdade e democracia. Justa-
mente por isso, uma primeira aproximação da imagem que a sociedade
brasileira tem da BRI joga luz sobre um tema que exige o mínimo de
consenso entre os decisionmakers do país, desde governo ao empresariado,
algo cada vez mais difícil num contexto de crescente polarização social e
ideológica.
Além desta introdução, o artigo se divide da seguinte forma. A pró-
xima seção apresenta uma contextualização das relações diplomáticas,
comerciais e de investimento entre Brasil e China nas últimas décadas. A
seção 2 apresenta uma breve contextualização da BRI e como ela se insere
na relação entre Brasil e China. A seção 3 apresenta a metodologia e a se-
ção 4 os principais resultados. Ao nal, apresentamos algumas indicações
com o intuito de contribuir, no que se refere à RBI, com uma cooperação
saudável entre os dois países.
4. Todavia, uma longa e polêmica
discussão acerca da segurança da
tecnologia oferecida pela China, cujo
produto é o melhor custo-benefício do
mercado, atrasa a implantação do 5G
no Brasil. Esse é apenas um dos pontos
envolvidos na disputa da liderança
tecnológica mundial entre os Estados
Unidos e China.
5. O Debt-Trap Diplomacy é o nome
dado à política externa chinesa de
intencionalmente conceder crédito
excessivo a um país, fragilizando suas
finanças, e, então, obter concessões
econômicas e políticas do devedor.
131
Ian Prates, Carolina Santos Lages, Vitor Matheus Oliveira de Menezes A Belt and Road Iniave na mídia brasileira
Diplomacia, comércio e investimento na relação Brasil-China
A relação China-Brasil se fortaleceu ao longo dos últimos vinte anos
e, apesar da crise desencadeada pela pandemia do Covid-19 e das questões
comerciais entre EUA-China, a expectativa é que ela se intensique ain-
da mais. Sua relevância no cenário internacional também é ascendente
(ZHIWEI, 2019). Os interesses estratégicos comuns têm impulsionado a
relação bilateral nos campos da política, economia, comércio e cultura.
A relação diplomática entre o Brasil e a República Popular da China
foi estabelecida em agosto de 1974, após uma mudança na abordagem di-
plomática brasileira, de “fronteiras ideogicas” pró-EUA para um “prag-
matismo responsável” mais amplo. Posteriormente, em 1993, foi estabele-
cida uma parceria estratégica que reconheceu interesses mútuos entre os
países (ZHIWEI, 2019), indicando uma elevação no status diplomático. O
Brasil foi o primeiro país a ter esse tipo de relacionamento com a China.
Outro fato relevante foi o estabelecimento da Comissão Sino-Bra-
sileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN) para apro-
fundar a relação bilateral, em maio de 2004. Esse é um dos mecanismos
brasileiros de coordenação bilateral mais abrangentes. Nele, foram de-
nidos comitês diversos, como no tocante à política, economia, comér-
cio, ciência, tecnologia, aviação, cultura, agricultura, energia, minerais e
educação, com a nalidade de impulsionar a cooperação entre os países
(ZHIWEI, 2019). Em 2015, os dois governos elegeram a tecnologia como
prioritária no Plano de Ação 2015-2021, e incorporaram no acordo inicia-
tivas de silvicultura, astronomia, meteorologia e prevenção e mitigação
de desastres naturais.
A importância da cooperação Brasil-China vai além da relação bi-
lateral per se. Ela inspira e reforça outras cooperações sul-sul, ao integrar
dois dos maiores países em desenvolvimento. Tal característica faz deles,
junto com a Rússia, os principais representantes dos BRICS, grupo que
não apenas amplia a cooperação entre os países em desenvolvimento,
mas também têm um papel importante no esforço de construção de uma
nova ordem mundial com maior equilíbrio político (CENTRO BRASI-
LEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 2019).
Embora os trabalhos do BRICS sejam lentos, o compromisso dos
países membros com o fortalecimento e concretização do grupo é per-
manente. Dois resultados se destacam: o aumento da representatividade
dos países em foros decisórios relevantes, como o Fundo Monetário In-
ternacional e Banco Mundial
6
, e a consolidação do New Development Bank
(CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 2019).
A relação comercial Brasil-China também sofreu uma transforma-
ção considerável. Os números brasileiros de exportação e importação
com EUA, região do Euro e China ilustram essa mudança. Por mais de
sete décadas, os EUA foram o maior parceiro comercial do Brasil. Essa
hegemonia terminou em março de 2009, com a substituição dos EUA pela
China (ZHIWEI, 2019). Em 1999, os EUA, a região do Euro e a China
eram o destino de 22%, 25% e 1% das exportações brasileiras, respecti-
vamente. Em 2018, os números respectivos foram de 12%, 15% e 26%.
Já em 1999, 24% das importações brasileiras provinham dos EUA, 26%
6. A reinvindicação do grupo por maior
participação levou a alteração da
equação societária das instituições per-
tencentes ao acordo de Bretton Woods.
Com isso, hoje o BRICS possui “16,52%
dos votos nos foros decisórios do FMI
(contra 14,28% dos EUA) e 13,08% nos
do Banco Mundial (contra 15,68% dos
Estados Unidos)” (CENTRO BRASILEIRO
DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 2019,
p. 56).
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da região do Euro e 2% da China. Vinte anos depois, essa distribuição se
reequilibrou, e os números respectivos foram de 16%, 16% e 19%. Assim,
chama atenção que a parceria comercial brasileira se deslocou dos norte-
-americanos e europeus para os chineses (CYSNE, 2019).
No entanto, se por um lado a China contribuiu para um maior
equilíbrio comercial entre os parceiros brasileiros, a relevância comercial
do Brasil para a China é pequena: em 2019, apenas 3,6% dos produtos im-
portados pela China eram brasileiros. Além disso, as exportações chine-
sas para o Brasil correspondem a 1,3% do total exportado. Vale ressaltar
que, em 1999, esses números eram de 0,4% e 0,6%. Outro ponto relevante
é o tamanho da economia de ambos os países. O Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro é inferior a um sétimo do PIB chinês, o que certamente
inuencia o poder de negociação na relação comercial (CYSNE, 2019). Os
gcos abaixo resumem esses números:
Gráficos 1 e 2 – Importação e exportação - Brasil e China, 1999 – 2018
1
26
22
12
25
15
0
5
10
15
20
25
30
1999 2018
BRAZIL IMPORT, 1999-2018
China USA Euro area
2
19
24
16
26
16
0
5
10
15
20
25
30
1999 2018
BRAZIL EXPORT, 1999- 2018
China USA Euro area
Fonte: elaboração própria a partir de Cysne (2019).
Essa tendência deve se intensicar com a escalada da guerra comer-
cial EUA-China, uma vez que o Brasil está entre os países mais benecia-
dos. Depois que Pequim anunciou um imposto punitivo de 25% sobre os
EUA, as exportações americanas de soja se reduziram pela metade, e o
produto brasileiro compensou grande parte dessa redução (REN, 2019).
O agronegócio corresponde a cerca de 60% das exportações brasileiras
para a China, sendo a soja o principal produto, representando 70% do to-
tal da produção do agronegócio (CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL
CHINA, 2017).
As características dos produtos comercializados constituem o se-
gundo aspecto de relevo do comércio internacional, principalmente no
que diz respeito à diversicação e ao valor agregado. Nesse caso, o Brasil
exporta para a China essencialmente produtos básicos, enquanto importa
semimanufaturados e manufaturados (CYSNE, 2019). Essa questão con-
tribui para o receio dos empresários brasileiros, e leva algumas indústrias
a associarem o atual processo de desindustrialização que o Brasil vem
sofrendo à relação comercial com a china. Além disso, o tópico é recor-
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Ian Prates, Carolina Santos Lages, Vitor Matheus Oliveira de Menezes A Belt and Road Iniave na mídia brasileira
rente em discussões ociais e acadêmicas, intitulado “Ameaça à China”
(ZHIWEI, 2019).
O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) chinês no Brasil também
desempenha um papel importante na relação bilateral, e foi impulsiona-
do pelo bem-sucedido programa chinês Going Global, lançado em 1999.O
programa assumiu como um dos seus objetivos estimular empresas chi-
nesas a explorar mercados globais e direcionar sua economia, hoje orien-
tada para o investimento em inovação.
A partir de 2007, a China começou a operar como um grande inves-
tidor estrangeiro no Brasil. Nesse ano, seu investimento foi inferior a US$
700 milhões. Todavia, como demonstra o gco abaixo, os investimen-
tos anunciados e conrmados passaram de US$ 14,5 bilhões em 2010 para
mais de US$ 19 bilhões em 2017.
Gráfico 3 – Investimentos chineses no Brasil, 2010 - 2017 (US$ em bilhões)
0.01
1.2
0.4
0.4
0.4
0.3
1.6
4.2
8.6
0.4
0.02
0.1
13.3
6.9
2.5
3.1
1.8
7.6
8.7
8.8
0.0
2.0
4.0
6.0
8.0
10.0
12.0
14.0
16.0
18.0
20.0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Anunciados Confirmados
Fonte: Elaboração própria baseado nos dados de KUPFER, D.; ROCHA, F. (2018),
CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL CHINA (2013) e CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL
CHINA (2018).
Nos últimos 10 anos, as características desses investimentos vêm
mudando, tanto quantitativamente quanto qualitativamente. Am da
variação quantitativa mostrada acima, a alise do Conselho Empresa-
rial Brasil China (CEBC) (2012-2018) classica os investimentos em quatro
períodos diferentes. Primeiro, em meados de 2000, quando o investimen-
to chinês passou a ser relevante para o Brasil, o setor de commodities era
o principal destino, com destaque para o petróleo, a soja e o minério de
ferro. Esses ainda são os principais produtos importados pela China até
agora, considerados essenciais para manter o intenso crescimento econô-
mico chinês
7
(CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIO-
NAIS, 2020). Ademais, mais de 90% do investimento realizado em 2010
veio de empresas estatais centrais (State-Owned Enterprises - SOE)
8
, o que
evidencia um interesse direto e de longo prazo do governo chinês.
7. Em 2018, dentre todos os bens expor-
tados do Brasil para a China, 45% foram
soja, 21.5% petróleo, e 16.6% minério
de ferro. (Fonte: Ministério da Indústria,
Comercio Exterior e Serviços)
8. “As Central SOE’s representam um
conjunto de 123 grandes corporações,
pertencentes a setores estratégicos da
economia chinesa e que estão sob a
supervisão direta do governo central.
Esta supervisão é feita pela Stated-Ow-
ned Assets Supervision and Admi-
nistration Commission (SASAC), que
consiste em uma instituição com status
de ministério, autorizada pelo Conselho
de Estado a assumir a responsabilidade
de investidor do patrimônio estatal nas
Central SOE’s.” (CEBC, pag. 7, 2012)
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A segunda fase teve início em 2010, com maior ênfase na explo-
ração do mercado consumidor brasileiro e uma relativa diversicação
de produtos. Os chineses investiram principalmente no setor industrial,
como nos ramos automotivo, eletrônico, de equipamentos e máquinas
(CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL CHINA, 2018).
Por sua vez, a terceira fase se iniciou em 2013. Uma série de inves-
timentos no setor de serviços passou a ganhar espaço, principalmente na
área nanceira, com a entrada de vários bancos chineses no país. Além
disso, os investidores chineses zeram um progresso notável na produ-
ção e transmissão de eletricidade. Empresas como State Grid e China Three
Gorges Receberam importantes ofertas para a construção ou aquisição de
usinas hidrelétricas e linhas de transmissão no país. O setor de agronegó-
cio também desfrutou de investimentos signicativos de empresas chi-
nesas, principalmente por meio de aquisões globais. Pela primeira vez,
as empresas privadas superam o investimento das públicas (CONSELHO
EMPRESARIAL BRASIL CHINA, 2018).
Por m, na fase mais recente, iniciada em 2015, houve uma con-
centração de investimentos em energia, infraestrutura e agronegócio,
especialmente em grandes empresas chinesas que consolidaram sua
presença no mapa energético brasileiro. As empresas públicas desem-
penham agora um papel decisivo, com 87% do valor investido (CON-
SELHO EMPRESARIAL BRASIL CHINA, 2018). Os investimentos em
energia e infraestrutura merecem atenção especial, devido à imporn-
cia estratégica dos setores para a soberania do país. A forma como esses
investimentos são regulados pode implicar ganhos ou perdas de autono-
mia ou soberania no Brasil.
Nota-se, pelo cenário descrito acima, que o IDE da China está de-
sempenhando papel importante no desenvolvimento ecomico brasi-
leiro, devido i) ao crescente montante de investimentos em um contexto
de escasso recurso público
9
; e ii) aos setores estratégicos em que vem
sendo empregado (energia e infraestrutura). Todavia, tais motivos tam-
bém contribuíram para o aumento da vigincia sobre esses investimen-
tos por parte do governo e empresas, e há uma crescente pressão para o
endurecimento da proteção de indústrias estratégicas (ZHIWEI, 2019).
Já as motivações chinesas para o IDE vêm i)da arena política, no
sentido de fornecer à China bens que o governo considera estratégicos
para o seu desenvolvimento econômico, assim como para garantir a
segurança energética e impulsionar a internacionalização do yuan; e
ii)de fatores microeconômicos, com motivações econômicas devido à
grande expertise chinesa em determinados setores. Tais investimen-
tos buscam retornos financeiros e oportunidades competitivas de in-
vestimento.
Dessa forma, considerando o histórico de constante aproximação,
a incorporação do Brasil à BRI parece quase uma extensão natural da
relação entre os países. Entretanto, a complexidade inerente da BRI, a
dimica político institucional brasileira e as mudanças na ordem mun-
dial causadas pela ascensão da China colocam desaos que merecem ser
explorados. As seções seguintes apresentam como esses desaos são abor-
dados no contexto da mídia brasileira.
9. A taxa de investimento público (em %
do PIB) em 2017 foi a menor desde de
1947 (PIRES, 2018).
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Ian Prates, Carolina Santos Lages, Vitor Matheus Oliveira de Menezes A Belt and Road Iniave na mídia brasileira
China, Brasil e a Belt and Road Initiative
O governo chinês dene a BRI como “uma política transcontinen-
tal de longo prazo e um programa de investimento que visa o desenvolvi-
mento de infraestrutura e a aceleração da integração econômica dos paí-
ses localizados ao longo da histórica Rota da Seda” (BELT AND ROAD
INITIATIVE, 2019, tradução nossa). Criada em 2013, ela é considerada o
mais ambicioso plano de cooperação da China, assim como um marco na
transição do país para se tornar um ator ainda mais relevante na econo-
mia internacional (CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNA-
CIONAIS, 2019).
O objetivo inicial era fortalecer grandes corredores ecomicos.
Esses corredores, inspirados na milenar Rota da Seda, incluíam Ásia do
Leste, Central e Sul, assim como Europa e parte da África. Atualmente, o
programa extrapola as dimensões geográcas da Rota da Seda, sendo que
71 países participam da BRI e já foram fechados acordos de cooperação
intergovernamental com 143 países. Na América do Sul, Chile, Uruguai,
Peru, Equador, Venezuela, Suriname, Guiana, Bolívia já participam do
Programa (BELT AND ROAD PORTAL, 2019).
Além de promover conectividade física entre os países membros
por meio de obras de infraestrutura, a BRI estabelece e fortalece parce-
rias em todas as dimensões, com objetivos econômicos e geopolíticos. As
cinco prioridades de cooperação são a coordenação de políticas, a conecti-
vidade de infraestrutura, facilitação de comércio, a cooperação nanceira
e os laços interculturais
(BELT AND ROAD INITIATIVE, 2019).
A título de ilustração da plasticidade do programa, diante da pan-
demia do COVID-19, o termo Health Silk Road, como uma extensão da
BRI, vem sendo usado para designar as intensas ações bilaterais de ajuda
médica aos países membros da iniciativa. Vale notar que esse termo já foi
utilizado pelo governo chinês em 2017, estabelecendo que um dos objeti-
vos do BRI seria melhorar a saúde pública dos países participantes. Uma
iniciativa similar já evocou a Digital Silk Road para o setor de tecnologia
(COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS, 2019).
Se por um lado a denição ampla do escopo do programa e sua
constante revisão, sempre com uma linguagem singular, permite a ab-
sorção e ajustes de várias agendas, por outro, esse é justamente um dos
motivos que mantêm alguns países reticentes ao Programa, como ocorre
no caso brasileiro.
Embora ambiciosa, a Iniciativa sofre críticas e questionamentos. As críticas
são direcionadas, em sua maioria, à condução e gestão dos principais riscos da
Iniciativa, entre eles: (i) a governança decisória dos investimentos, (ii) os níveis de
endividamento dos países receptores e (iii) os impactos ambientais e sociais. Tais
riscos são exacerbados pela limitada transparência da Iniciativa e pela frágil estru-
tura de governança dos principais países membros. (CENTRO BRASILEIRO DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 2019, p. 27)
Cabe ressaltar que a BRI ainda é um tema bastante incipiente entre
os pesquisadores brasileiros, especialmente porque, até o ano de 2018, a
iniciativa chinesa era vista como restrita à região da Eurásia, despertando
pouco interesse entre os acadêmicos e os demais atores que pautam o
debate sobre a relação China-Brasil. Foi somente depois que o então Pri-
136
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meiro Ministro Chinês, Wang Yi, convidou os países latino-americanos
a integrarem as iniciativas do BRI, durante o segundo Fórum China-CE-
LAC, que a BRI começou a ser de fato debatida.
O documento “45 anos de Relações Diplomáticas Brasil-China”,
que sintetiza as discussões do evento comemorativo realizado pelo CE-
BRI e Embaixada da China no Brasil, apresenta as perspectivas de ambos
os países em relação ao BRI. Segundo o documento, a China “vê com
bons olhos a participação do Brasil e da região na Iniciativa Cinturão
e Rota” (CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS,
2020, p. 7), e destaca a importância da parceria tanto para a retomada de
investimentos no país, quanto para o fortalecimento e defesa dos arran-
jos multilaterais (CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNA-
CIONAIS, 2020). Já na ótica brasileira, a relação bilateral é vista como
madura e estável. Diante da ascensão da China como uma potência
mundial, o país deverá traçar uma visão estratégica para guiar o apro-
fundamento dessa relação.
A Belt and Road Initiative na mídia brasileira
A BRI ainda desperta pouco interesse no Brasil. O Google Trends,
por exemplo, mostra que entre os principais países Latino-Americanos
(Brasil, Argentina, Chile e México), o Brasil é o que menos realizou bus-
cas sobre o tema. México e Chile são, de longe, os países com maior nú-
mero de buscas, seguidos por Argentina e Brasil, como ilustra o Gráco 4.
Gráfico 4 – Google Trends sobre as buscas “One Belt one Road”, “Nova rota da
seda”, “um cinturão uma rota” e “franja y ruta” no Brasil, Argentina, Chile e México,
01/2017 - 09/2019
Fonte: Google Trends (2019)
Para analisar como a BRI foi abordada pela mídia brasileira, ado-
tamos os seguintes procedimentos. Na primeira etapa, coletamos todos
os artigos/reportagens/colunas de opinião, entre os principais veículos
de mídia do país, que tenham realizado alguma referência à BRI entre
2013 (ano em que o projeto veio a público pela primeira vez) e julho de
2019
10
. Esses veículos foram divididos de acordo com o pertencimento a
10. Selecionamos as reportagens que
contivessem alguma referência aos ter-
mos “rota da seda” e “um cinturão uma
rota” (em português), ou “one belt one
road” e “belt and road” (em inglês).
137
Ian Prates, Carolina Santos Lages, Vitor Matheus Oliveira de Menezes A Belt and Road Iniave na mídia brasileira
um dos seguintes grupos: i) veículos de massa; ii) mídia especializada; e
iii) mídia estrangeira.
Para o primeiro grupo, foram selecionados os dois principais veí-
culos de massa com ampla circulação nacional, o jornal Folha de S. Paulo
e o jornal O Globo, pois constituem os dois jornais de maior circulação no
país. Na mídia especializada, selecionamos o jornal Valor Econômico, que
é o mais prestigiado e antigo veículo especializado em economia no país,
e o Nexo Jornal. Lançado em 2015, o Nexo vem sendo reconhecido e pre-
miado por sua excelência e formato moderno. Para a mídia estrangeira,
selecionamos as reportagens veiculadas pela BBC Brasil, El País Brasil e Le
Monde Diplomatique Brasil, representando os principais jornais estrangei-
ros com cobertura brasileira.
O gco 5 apresenta a distribuição das reportagens por ano e por
veículo, sendo que foram coletadas ao todo 364 reportagens. O interesse
pelo tema é crescente até 2015, quando cai em 2016. A partir de 2017, con-
tudo, tem subido vertiginosamente e, como se pode observar, o número
de reportagens até julho de 2019 (96) já é quase o mesmo do relativo ao
longo do ano de 2018 (106), sendo razoável supor que será ainda maior
ao nal de 2019. Com respeito à veiculação do tema, vê-se que ele se con-
centra principalmente no Jornal Valor Ecomico e nos jornais de grande
mídia como Folha de São Paulo e O Globo, que juntos, são responsáveis por
318 (87%) das reportagens.
Gráficos 5 e 6 – Evolução do número de reportagens com referência à BRI e veículo
publicado, 2013 – 2019*
11
23
45
19
64
106
96
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019*
143
119
56
14
13
13
6
NUMBER OF NEWS, PER MEDIA VEHICLE
Valor Economico Folha de S. Paulo O Glob o BBC Brasil El Pais Br Le Mon de Diplomatique Nexus
*Até julho/2019
Fonte: Elaboração própria.
Num segundo momento, realizamos uma alise preliminar das
reportagens. Neste ponto, pudemos constatar que a maioria das reporta-
gens veiculadas antes do ano de 2017 tratava do tema a partir do turismo
pela antiga Rota da Seda. Ou, em algumas oportunidades, em referências
ainda esparsas à iniciativa. Dessa forma, considerando que o volume de
reportagens cresce a partir de 2017 após o Primeiro Fórum da BRI em
Pequim, optamos por realizar uma alise aprofundada das reportagens
veiculadas entre janeiro de 2017 e julho de 2019, somando um total de
266 reportagens. A alise do conteúdo das reportagens foi realizada por
meio do software Iramuteq, a partir do método conhecido como Classica-
ção Hierárquica Descendente (CHD) (RATINAUD, 2018). Este permite,
138
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 8, n. 3, (set. 2020), p. 128-151
através de sucessivas bipartições do corpus, agrupar as palavras segundo
sua co-ocorrência vocabular, enquadrando os discursos em quadros mais
amplos de descrição e valoração (MENEZES, 2019).
Resultados da análise de conteúdo
Como resultado, a CHD analisou 7.394 segmentos de texto, dos
quais 87.57% foram aproveitados, com um total de 21.875 formas voca-
bulares e 264.104 ocorrências. Foram criadas ao todo 6 classes, conforme
pode ser visto no dendograma e na tabela abaixo (gura 1). O dendograma
apresenta a frequência e a proximidade das classes de palavras, ao passo
que a tabela apresenta as principais palavras por ordem de imporncia.
O primeiro aspecto a se destacar é a característica principal dos
grupos e como eles se aproximam. O principal assunto da Classe 4 (13,4%
das palavras) é a caracterização geral da BRI, enquanto a Classe 1 (23,3%
das palavras) trata das questões relativas à economia. A proximidade des-
sas duas classes no dendograma sugere que os assuntos costumam estar
associados, como era de se esperar.
Já as classes 2 (18,4%) e 3 (21,0%) lidam com questões internacio-
nais, mas de forma distinta. A Classe 2 é claramente voltada para assuntos
relacionados à disputa de poder internacional, enfatizando o modo pelo
qual a BRI se insere nesse contexto. Já a Classe 3 se dirige à política inter-
nacional em um sentido mais amplo. Essas duas classes estão fortemente
conectadas. Associada a elas, mas em menor grau, se encontra a Classe
5 (12,4%), que lida de forma especíca com a política brasileira e suas re-
lações internacionais. Finalmente, a Classe 6 (11,5%), a menor dentre as
classes, se mostra mais dispersa e isolada do que as demais, por tratar es-
pecicamente dos assuntos internos à China, como aqueles relacionados
à província de Xinjiang e Hong Kong.
139
Ian Prates, Carolina Santos Lages, Vitor Matheus Oliveira de Menezes A Belt and Road Iniave na mídia brasileira
Figura 1 – Dendograma e tabela: Frequência e associação das classes de palavras e
principais palavras em cada classe
Classe 4 Classe 1
Classe 6
Classe 2 Classe 3 Classe 5
13.4 23.3 11.5 18.4 21.0 12.4
Classe Classe 4 Classe 1
Classe 6
Classe 2 Classe 3 Classe 5
Tópico e
palavras
principais
Caracterização
e descr ição do
B.R.I .
A economia do
B.R.I .
Questões
internas
Chinesas
Geopolitica e
relação de
poder
R elações
internacionais
Política
brasileira
1 R ota E mpr esas Hong K ong Coréia do Norte G lobal Hamilton Mourão
2 S eda Mer cado Mulmano Guerra L ider anç a Pres idente
3 Infraestrutura D ébito X injiang E stados Unidos Política J air Bolsonaro
4 Cinturão E nergia Mao Zedong Donald T rump Economia Visita
5 I nitiativa E xportaç ão Uighurs Rússia Universidade E ncontro
6 Projeto Produto Pessoas Amer ic anos P oder R eunião
7 E strada C res cimento Protesto Militar I nternational Ministro
8 T rem Banc o Mes quita Aliança Mundo R elação
9 Porto Setor M ulher Japão Sis tema C osban
10 África G ás Minoria N uc lear Governança C hanc eler
11 Ásia C rédito Religo C omer cial R ef orma Oficial
12 Notícia F inanc eiro F amília Ameaç a Sof t Power Angela M erkel
13 I nvestmentos Produção R evol ão E urope C enário Kim J on Um
14 Constr ão V endas Partido S anção Nacional Comissão
15 Autoestrada I nvestmentos I slamismo T ensão Breton Woods Vladimir Putin
16 Marítimo I mportaç ão É tnico M oscou D efes a Viajar
17 BRI R eservas
Direitos
Humanos
Sul Definir Entrevista
18 E ur opa T axa de juros Política R ivalidade Globalizão Mac ron
19 Finança Pr o R aça Austrália V ácuo Dilma
20 Ambicioso C onsumo I legal União Muro Panamá
21 I nglês Fiscal T errorismo Otan Congresso Argentina
22 Des envolvimento R eduç ão Noroeste Huaw ei I deologia Í ndia
23 Programa Aquisão E xtremismo M ar Comunismo Brasília
Classes de palavras - Principais tópicos identidicados e palavras mais frequentes
13,4
23,3
11,5
18,4
21
12,4
Class 4 Class 1 Class 6 Class 2 Class 3 Class 5
Fonte: elaboração própria
140
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 8, n. 3, (set. 2020), p. 128-151
A nuvem de palavras abaixo (Figura 2) permite uma visualização
complementar das classes, dando-lhes maior sentido interpretativo. Em
primeiro lugar, é importante ressaltar que o tamanho da “nuvem” não
diz respeito exatamente ao tamanho da classe. Vê-se, por exemplo, que
apesar da classe 6 (rosa) ocupar o maior tamanho na nuvem, ela é a menor
de todas as classes, com apenas 11,5% das ocorrências. Por outro lado,
a classe 2 (cinza) que ocupa o menor espaço na nuvem de palavras, é a
terceira maior classe, com 18,4% dos casos. Isso signica que a classe 2 é
muito mais homogênea internamente do que a classe 6.
Figura 2 – Nuvem de palavras geradas a partir das reportagens com referência à BRI
Fonte: Elaboração própria.
141
Ian Prates, Carolina Santos Lages, Vitor Matheus Oliveira de Menezes A Belt and Road Iniave na mídia brasileira
Classes 4 e 1: Caracterização e descrição da BRI
A classe 4 trata principalmente da descrição da BRI, considerando
suas principais características, um pouco do histórico e alguns dos países
e projetos que já fazem parte da iniciativa. As principais palavras destaca-
das, “iniciativa, “Rota da seda” e “projeto” se encontram exatamente no
meio do espaço gco, dividindo outros dois grupos de palavras. Mais
acima, ganham destaque as regiões e os países onde a BRI já possui ações
efetivas, como por exemplo, “África”, “Ásia”, “Europa”, “Cazaquistão,
“Etiópia”. E logo abaixo, palavras que estão semanticamente ligadas à pa-
lavra “infraestrutura, como “transporte”, “aeroporto”, “investimento”,
“porto, “projeto” e “desenvolvimento”. Esta Classe de palavras informa
que a imprensa brasileira apresenta o BRI como um “ambicioso” proje-
to de infraestrutura, com destaque especialmente à área de transporte
e logística. Por outro lado, chama atenção como nenhuma outra forma
de infraestrutura é citada em tais relatos, como se a BRI se limitasse a
construir estradas, linhas de trem e aeroportos. A passagem abaixo é um
típico exemplo desse grupo:
Está se lançando em um ambicioso projeto, de dimensões planetárias, a chamada
Nova Rota da Seda, que terá trens de alta velocidade ligando a China à Europa,
portos modernos e novas rotas marítimas ligando a costa da Ásia à África, depois
chegando à Europa e às Américas (pelo Atlântico e pelo Pacíco)” (MEDEIROS
FILHO, 2018).
Em forte associação com a Classe 4, encontra-se a Classe 1. Mas se a
Classe 4 se refere principalmente a uma descrição básica da BRI, a Classe
1 apresenta um conteúdo mais analítico, com destaque para três temas
em especial.
O primeiro deles se refere ao chamado debt-trap diplomacy, ecoando
as inúmeras críticas realizadas por especialistas, chefes de estado e minis-
tros de países do Ocidente, principalmente, mas também de outros países
(CARMINATI, 2019). Nesse sentido, sugerem que a BRI representa uma
estratégia para obter inuência política em países economicamente vul-
neráveis, através de empréstimos que são impossíveis de serem quitados.
Como não poderia deixar de ser, o caso do porto de Hambantota em Sri
Lanka é o mais emblemático, e sempre é citado como uma justicativa
para a necessidade de cautela para a incorporação dos países à BRI. A pas-
sagem abaixo é bastante ilustrativa de como esse tema aparece na mídia
brasileira.
Os mais críticos da iniciativa falam da armadilha do endividamento como algo
intrínseco à BRI como se a China desejasse transformar os parceiros em devedo-
res com o objetivo deliberado de exercer maior inuência sobre eles. […] Para
além da questão da inuência política, analistas se preocupam com a falta de
transparência dos projetos relativos à Belt And Road Initiative e o alto endivida-
mento que geram. Segundo algumas avaliações, isso torna uma série de países,
especialmente nações pequenas, sem acesso ao sistema internacional de crédito
praticamente reféns de dívidas milionárias com a China. Isso porque os projetos
são geralmente nanciados por empréstimos junto ao Estado chinês ou a insti-
tuições semi-estatais chinesas. […] Para muitos países isso tem a ver com uma
avaliação do endividamento e da sustentabilidade dessas dívidas. E aí não ca tão
claro se há um benefício líquido para alguns países. Praticamente todo o nan-
ciamento da BRI é feito por empréstimos e não por ajuda nanceira, e não está
claro no caso de muitos países se eles têm a capacidade para assumir tais dívidas,
142
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 8, n. 3, (set. 2020), p. 128-151
explicou. Djibuti, por exemplo, viu sua dívida externa pública aumentar de 50
para 85 do PIB em dois anos, segundo o FMI. A maior parte dessa dívida é com o
China Exim Bank. A China ainda pretende construir no país africano um porto,
um terminal petrolífero e uma estrada ligando Djibuti a Addis Abeba, na Etiópia.
Uma das nações mais pobres da Ásia, apesar do crescimento de em média 8 por
ano na última década, o Laos tem quase metade do seu PIB US 6 bi empenhada
numa ferrovia que o liga à China. No Paquistão, 80 dos US 62 bilhões do custo
estimado para o CEPC são nanciados pela China. Devido ao alto endividamen-
to, o país já cancelou projetos ligados ao BRI e pediu créditos ao FMI. Em 2011,
a China concordou em perdoar uma parte da dívida do Tadjiquistão em troca
de uma área de 1.158 km em território disputado. Autoridades do país asiático
dizem que cederam apenas 5,5 das terras que Pequim queria. O Sri Lanka con-
traiu uma dívida de US 8 bilhões a uma taxa de juros de 6 para a construção do
porto de Hambantota. Em julho de 2017, Pequim concordou em fazer um swap
(troca) da dívida com um contrato de arrendamento de 99 anos para administrar
o porto (VILA NOVA, 2019)
Essa visão, contudo, é por vezes contrastada com o fato de que
a China tem reconhecido que ela mesma pode se tornar vítima do seu
próprio debt. Portanto, também tem sido destacado, embora em menor
escala, os ajustes que o governo chinês pretende fazer de modo a evitar
esse problema. O principal argumento exposto é o de que quanto mais a
China investe em um determinado país, menor será o seu poder de bar-
ganha, aumentando a pressão por renegociação por parte do país credor.
Como essas empresas são controladas pelo governo da China, podem acumular
dívidas enormes sem medo de quebrar. Isso, porém, está começando a mudar e
de forma que pode afetar os investimentos na BRI. Em maio, Pequim deu prazo
até 2020 para que as empresas da Sasac reduzam os percentuais da dívida em
relação aos ativos. Analistas dizem que isso provavelmente implicará num maior
foco na qualidade dos projetos de investimento no exterior. [...] Isso signica que
a [questão da] sustentabilidade da dívida será observada cada vez mais de perto,
particularmente nos países de alto risco ao longo da Nova Rota da Seda. Alguns
investimentos na BRI considerados demasiado arriscados podem ser abando-
nados, e o volume de novos investimentos pode diminuir, segundo disse a alta
autoridade chinesa (KYNGE, 2018)
Por m, ainda nesse quesito, ganham ênfase os investimentos e as
oportunidades em energia da BRI. Por um lado, dá-se muito menos des-
taque ao acordo entre China e Rússia com respeito à Usina Yamal LNC, e
como este congura um exemplo da participação chinesa na distribuição
de energia pelo globo. Por outro, embora em menor escala, discute-se que
a participação do Brasil na BRI poderia alavancar a utilização de energia
renovável no Brasil, área em que a China exerce uma liderança mundial.
Em síntese, pode-se perceber que a mídia brasileira tende a realizar
uma apresentação bastante descritiva e neutra da BRI, destacando um
pouco do seu histórico e das principais iniciativas em curso até o momen-
to. Logo após, busca-se uma visão com características mais analíticas, que
reverbera a visão de especialistas sobre o tema e, em alguns momentos,
também da imprensa internacional – em especial da imprensa ocidental.
Nesse caso, o tema do debt-trap aparece como a principal crítica e um pos-
sível ponto negativo, embora seja ressaltado que a própria China tem to-
mado iniciativas de modo a evitar que essa visão se difunda e se cristalize
entre os possíveis parceiros. Por m, destaca-se como, além dos investi-
mentos em infraestrutura, os investimentos em energia – especialmente
em energia renovável – constituem um aspecto através do qual o Brasil
poderia se beneciar caso aderisse à BRI.
143
Ian Prates, Carolina Santos Lages, Vitor Matheus Oliveira de Menezes A Belt and Road Iniave na mídia brasileira
Classes 3 e 2: A política da BRI - relações internacionais e conitos de poder
As Classes 2 e 3, que juntas são responsáveis por aproximadamen-
te 40,0% das referências, lidam com questões relativas à política da BRI,
sendo que a primeira se atém aos temas mais relacionados à disputa de
poder pela hegemonia da ordem mundial, e a segunda à descrição da BRI
dentro do quadro mais geral das relações internacionais.
As principais palavras da Classe 2 são bem elucidativas: “guerra”,
“Estados Unidos”, “Donald Trump”, “Rússia”, “aliança” e “militar”. Vale
notar que a Classe 2 (cinza) ocupa um espaço bastante reduzido na nuvem
de palavras, embora represente 18,4% das ocorrências. Isto sugere que
a abordagem do tema é bastante homogênea, com poucos dissonantes
de signicado. Basicamente, trata-se de enquadrar a BRI na geopolítica
mundial, mas destacando também como a iniciativa está intimamente
relacionada à distribuição de poder no mundo, seja econômico, político
ou militar. Nesse caso, vale a pena ressaltar que, com base nas palavras
mais frequentes, a mídia brasileira ressalta o fato de que a BRI está longe
de ser apenas um projeto econômico.
O principal ponto de destaque neste grupo se refere ao modo como
a BRI faz parte do movimento de aproximação entre Rússia e China, em
oposição aos Estados Unidos, tanto no que diz respeito à esfera econômi-
ca quanto no que diz respeito à cooperação militar e aeroespacial. Nesse
caso, faz-se muita referência ao fato de que a aproximação é também um
resultado indireto da política externa errática dos Estados Unidos, com
crítica especial à gura de Donald Trump. A BRI é vista, assim, como
um projeto que se benecia largamente da inclinação protecionista e da
posição antiglobalização do presidente norte americano.
A segurança e a luta contra o terrorismo islâmico na Ásia Central, região que a
China prevê como uma das grandes áreas de expansão de seu ambicioso plano
de infraestrutura conhecido como Nova Rota da Seda, compõem outro eixo das
conversações bilaterais dos dois líderes e das multilaterais no foro, do qual par-
ticiparão os chefes de Estado ou de Governo dos principais países dessa região.
Em sua reunião formal, XI e Putin assinaram acordos de cooperação, entre eles
o estabelecimento de um fundo de investimento industrial dotado de 1 bilhão
de dólares (3,7 bilhões de reais) e a construção, pelos russos, de quatro centrais
nucleares em território chinês. Os dois países querem estimular também sua
relação comercial, que ainda está muito longe de alcançar a meta ocial de 200
bilhões de dólares (742 bilhões de reais) para 2020. A lógica do comércio mundial
é a cooperação conjunta, disse o presidente chinês. Desta vez, suas palavras não
foram dedicadas a seu amigo. Era uma mensagem dos dois a Trump. Acordos,
acordos e mais acordos. Os acordos rmados pelos dois presidentes se estende-
ram também à agricultura, tecnologia e aeronáutica (LIY, 2018)
Ainda nesse quesito, a questão militar aparece como uma estraté-
gia latente da BRI, independente da aliança com a Rússia. Para alguns
analistas, os portos no Sri Lanka e no Paquistão, os oleodutos e gasodutos
que atravessam a Ásia Central e a base militar instalada no Djibouti são
iniciativas que se enquadram na estratégia de armação da China en-
quanto potência geopolítica e militar.
Essa base no Djibouti representa a extensão natural dos interesses em expan-
são e da missão de segurança da China na região e sinaliza as cada vez maiores
ambições globais chinesas. Pode ser compreendida no contexto da chamada
estratégia do colar de pérolas: o estabelecimento de uma rede de ativos militares
144
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 8, n. 3, (set. 2020), p. 128-151
e comerciais ao longo do Oceano Índico de modo a projetar poder no exterior
o que eventualmente pode gerar tensões com a Índia, cujas disputas fronteiriças
com a China, no Himalaia, estão ocupando as notícias internacionais. Em um pa-
norama mais amplo, a instalação no Chifre da África também pode ser entendida
no quadro da iniciativa chinesa One Belt, One Road [um cinturão, uma rota] ou
a nova Rota da Seda, a criação de eixos de infraestrutura terrestre e marítima da
Ásia ao Mediterrâneo (CHARLEAUX, 2017).
Como pode ser visto na nuvem de palavras, as classes 2 e 3 estão
muito próximas uma da outra. A principal diferença entre elas reside
no fato de que a Classe 3 lida mais com a questão do arranjo da ordem
mundial em si mesma, sem tantas menções à questão militar. Nesse pon-
to, ca muito claro como a imprensa brasileira percebe o avanço chinês
como preenchendo um certo vácuo deixado pela política protecionista
de Donald Trump. Mais do que isso, há uma visão generalizada de que,
apesar de um sistema socialista, a China é hoje o principal defensor do
liberalismo no comércio internacional.
Pequim avança para ocupar a lacuna que o novo protecionismo norte america-
no deixará. Em uma das últimas atividades do Governo chinês antes da pausa
para o Ano Novo lunar, o primeiro ministro, Li Keqiang, falou por telefone
com a chanceler alemã Angela Merkel. A mensagem: que ambos os países
devem garantir a estabilidade do sistema econômico internacional diante dos
atuais momentos de incerteza no mundo. Tempos que se precipitaram com
a chegada à Casa Branca de Donald Trump e que abriram uma oportunidade
para que Pequim se posicione como baluarte da ordem mundial. O presidente
Xi Jinping já tinha assentado as bases, em seu discurso em Davos apenas três
dias antes da posse de Trump em Washington, quando lançou uma defesa
acalorada da globalização econômica, do livre comércio e da luta contra a
mudança climática. E o próprio Li defendeu, em um artigo para a Bloomberg
Businessweek, que a China oferece uma âncora de estabilidade e crescimen-
to com sua mensagem consistente de apoio às reformas, abertura e livre
comércio. Continuamos convencidos de que a abertura econômica benecia
a todos, em casa e no exterior. Durante seu mandato, Xi Jinping se tornou um
dos líderes chineses que mais viajou na história recente do país. Em momentos
em que a ONU pareceu desgastada, ofereceu apoio, nanciamento e tropas.
Foi antrião da reunião anual do G 20, propôs novos acordos comerciais, criou
um novo banco de desenvolvimento o BAII e quer desenvolver uma rede de
infraestrutura que conecte a China ao Ocidente (LIY, 2017).
Há, entretanto, grandes ressalvas quanto ao fato de que a China
ainda representa algo “desconhecido” para o Ocidente, uma visão, por
sinal, bastante difundida no Brasil. Isso causa uma certa suspeição com
respeito às reais intenções da China, tanto quanto potência global, em
sentido amplo, como também no que diz respeito à BRI, mais especica-
mente. A passagem abaixo, de março de 2019, é bastante ilustrativa:
Mas talvez a maior diculdade que os chineses têm à frente seja a de lidar,
especialmente fora de sua área de inuência imediata, com a resistência ao
desconhecido, com o desconforto com o diferente e com a desconança em
relação às intenções chinesas e ao modo de a China operar. A realidade é que o
mundo ainda está se adaptando à emergência da China como potência mundial,
como pólo alternativo de poder. Esse possivelmente é o principal desao para as
ambições globais da BRI. Os objetivos da diplomacia econômica chinesa se asse-
melham aos das potências tradicionais, como EUA e União Européia, em relação
aos quais a resistência costuma ser muito menor. Naturalmente, a China tem sua
própria visão de mundo, tem sua maneira de atuar o que não é ruim em si, mas
é distinto e isso causa suspeição. Apesar do rápido avanço da BRI, ainda está em
curso a missão de convencer o mundo de que a iniciativa interessa efetivamente
aos parceiros, e não apenas à China (PRAZERES, 2019).
145
Ian Prates, Carolina Santos Lages, Vitor Matheus Oliveira de Menezes A Belt and Road Iniave na mídia brasileira
Classe 5: A BRI na política brasileira
Dentre as reportagens analisadas, a primeira vez que a BRI foi apon-
tada como um projeto do qual o Brasil poderia participar foi em uma ar-
tigo publicado pelo Le Monde Diplomatique Brasil em 12 de junho de 2017,
intitulado “A nova rota da seda e o Brasil. O artigo limita-se a descrever
a BRI, mas já antevê como o Brasil poderia se beneciar no futuro.
No mínimo, é fundamental que atores brasileiros acompanhem de perto os
debates e as iniciativas associadas. Mas um engajamento mais institucionalizado
e estratégico daria ainda mais peso a essa participação. Uma comissão intermi-
nisterial, com representantes de diversos órgãos que lidam com planejamento
econômico e de política externa, ajudaria a garantir a presença brasileira e a
fortalecer a participação substantiva nos principais debates acerca do Obor.
Por meio do Novo Banco do Brics ou se vier a tornar se sócio do AIIB, o Brasil
também deve participar dos debates normativos acerca da iniciativa e do modelo
de desenvolvimento que ela busca promover. Da mesma forma, a sociedade civil
deve engajar se nas discussões, fomentando pesquisas e debates sobre o assunto
através do setor privado, de centros de pesquisa e de ONGs. Em um mundo cada
vez mais multipolar, o Brasil não pode se dar ao luxo de car de fora das princi-
pais discussões e iniciativas geopolíticas (ABDENUR; MUGGAH, 2017).
O tema não continuou chamando muita atenção da mídia brasilei-
ra até janeiro de 2018, quando, por ocasião do Fórum China-CELAC, em
Santiago do Chile, foi formalizado o convite para que os países latino-a-
mericanos integrassem a BRI. Entretanto, o convite chinês não despertou
muito interesse nem dos países latino-americanos (PIRES, 2019) nem da
imprensa brasileira.
Foi somente em maio de 2019, durante a visita à China do vice-
-presidente brasileiro Hamilton Mourão, que o tema de fato ganhou os
jornais. Não por acaso, é possível ver que a Classe 5 de palavras tem o
nome do vice como a mais recorrente, seguida pelo nome do próprio
presidente, Jair Bolsonaro.
No Brasil, a visita do vice-presidente foi considerada como uma im-
portante tentativa de minimizar os efeitos das polêmicas declarações do
Presidente Jair Bolsonaro, então candidato, durante a campanha presi-
dencial de 2018. Naquele contexto, com um discurso fortemente inclina-
do a um populismo nacionalista de direita, Bolsonaro armou diversas
vezes que a China não estava comprando do Brasil, mas sim “comprando
o Brasil, e que as relações bilaterais entre os dois países precisavam ser
revistas (SPRING, 2018).
As declarações do presidente com relação à China causaram
apreensão, seja por parte dos analistas econômicos, que reconhecem a
enorme importância da China para a economia brasileira, seja por parte
dos setores que exportam para a China, especialmente os representantes
do agronegócio. Não por acaso, o editorial do China Daily “No reason
for ‘Tropical Trump’ to disrupt relations with China”, em 29 de outubro
de 2018, causou grande alarde no Brasil. Naquela ocasião, a mensagem de
Pequim soou como um claro e ameaçador recado às intenções do presi-
dente eleito em seguir a linha radicalizada de Donald Trump:
Boicotar a China, que Bolsonaro descreveu como um parceiro excepcio-
nal, pode servir a algum propósito político especíco. Mas o custo eco-
nômico pode ser difícil para a economia brasileira, que acaba de emergir
de sua pior recessão da história
11
(CHINA DAILY, 2018, tradução nossa).
11. Dumping China, whom Bolsonaro
once described as an exceptional part-
ner, may serve some specific political
purpose. But the economic cost can be
backbreaking for the Brazilian economy,
which has just emerged from its worst
recession in history.
146
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 8, n. 3, (set. 2020), p. 128-151
O fato é que a visita de Hamilton Mourão à China e o encontro
com o Presidente Xi Jinping em maio de 2019 parece ter retomado a nor-
malidade e melhorado as perspectivas das relações entre os países. Mais
simbólico do que efetivo do ponto de vista da assinatura de acordos (CA-
RIELLO, 2019), o encontro serviu para preparar o terreno para uma fu-
tura visita do presidente Jair Bolsonaro, ainda em 2019, para reativar a
COSBAN, suspensa desde 2016.
Nesse encontro, a China ocializou o convite para a integração
brasileira à BRI, e foi a partir daí que o tema de fato passou a despertar
interesse como algo que possa afetar o Brasil diretamente. Desde então, a
imprensa brasileira tem tratado do tema com cautela e, embora destaque
as oportunidades que possam surgir de um possível acordo, ressalta dois
pontos em especial. O primeiro é que a BRI tem inclinações geopolíticas e
o Brasil deve estar atento para este fato, especialmente considerando sua
posição de proximidade com os Estados Unidos. O segundo atenta para
o fato de que a adesão do Brasil à BRI não signica, automaticamente,
receber um “cheque em branco” de investimentos.
Setores no Brasil notam que uma participação brasileira não signicaria ganhar
um cheque a ser descontado logo para investir em infraestrutura. O programa
tem motivações geopolíticas e econômicas. O mais importante é a parte política,
com Pequim querendo dar demonstração de força e inuência, como ocorreu ao
obter a entrada da Itália o primeiro país, neste caso, do G7, grupo dos maiores
industrializados , o que causou divisão entre os europeus. Para certos observa-
dores da cena bilateral, com ou sem Nova Rota da Seda, o investimento chinês
continuará a tomar o rumo do Brasil quando Pequim identicar oportunidades
no país. Em setores da academia no Brasil, uma participação brasileira na Nova
Rota da Seda é vista de forma favorável, para maior integração do país no exte-
rior e sem alterar a relação com Washington. Fontes do segmento notam que o
Brasil precisa estar atento também à participação no programa americano pelo
qual a Casa Branca tenta se contrapor à iniciativa chinesa. Xi Jinping promove
uma visão mais assertiva da China e, no cenário de um novo padrão de cresci-
mento global menor, busca conquistar mercados para seus produtos de consumo
e reduzir o excesso de capacidade industrial do país. (MOREIRA, 2019).
Vale destacar, por m, uma entrevista concedida pelo Vice Presi-
dente Hamilton Mourão ao jornal Valor Ecomico, logo após a sua via-
gem ocial à China, em maio de 2019. Nessa oportunidade, Mourão re-
velou que a prioridade da viagem foi reativar a COSBAN, mas também
revelou sua visão sobre a “agressividade chinesa” nos negócios.
Primeiro que a Cosban [Comissão SinoBrasileira de Alto Nível de Concertação e
Cooperação] voltasse a funcionar, porque estava há quatro anos parada. A ideia
é realmente colocá-la como mecanismo de mais alto nível, em que haja um ltro
de todo esse relacionamento, porque os chineses são muito agressivos. Eles vão
em governo estadual, vão em ministério e muitas vezes a gente não tem controle
e não sabe o que está acontecendo (ARAÚJO; RITTNER; MURAKAWA, 2019).
Posteriormente, quando indagado se o Brasil iria aderir à BRI, vol-
tou a demonstrar certo incômodo com a agressividade chinesa, mas des-
tacou que o Brasil considera aderir à BRI desde que se encaixe nas suas
prioridades e necessidades.
Os chineses hoje estão muito impositivos em cima dessa questão da Belt And
Road Initiative [conhecida também como Nova Rota da Seda]. É quase uma la-
çada que eles te dão para te deixar, vamos dizer assim, alinhados às necessidades
chinesas. A orientação do presidente era que a gente não desse um sinal positivo,
casse com um sinal de que nós consideramos a Belt And Road , mas queremos
que ela se adapte às nossas necessidades, e não única e exclusivamente às da Chi-
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Ian Prates, Carolina Santos Lages, Vitor Matheus Oliveira de Menezes A Belt and Road Iniave na mídia brasileira
na. Em uma guerra comercial, a gente tem que explorar as oportunidades, temos
que ser exíveis e pragmáticos (ARAÚJO; RITTNER; MURAKAWA, 2019).
Um último ponto da entrevista que merece ser mencionado é quan-
do ele foi indagado sobre como o Brasil poderia participar da BRI sem cair
no debt-trap. Nesse ponto, o vice-presidente destacou que
O que a gente tem que evitar é o seguinte: quero emprego gerado aqui, não
aquele [projeto] que o cara traz 100 mil chineses para trabalhar no Brasil. O que
queremos nessa questão? Vamos falar especicamente de investimento. Nós
precisamos de investimento em infraestrutura. Aquilo que for de infraestrutura e
que vai beneciar o comércio com a China é um investimento bom que atende o
interesse dos dois países (ARAÚJO; RITTNER; MURAKAWA, 2019).
Desde então, o tema da BRI tem aparecido pouco na mídia brasilei-
ra ou, quando muito, como algo relacionado à guerra comercial entre a
China e os Estados Unidos. Apesar do tema ter voltado à pauta após os en-
contros ociais agendados entre o Presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o
Presidente chinês Xi Jinping – um em outubro de 2019 na China e o outro
em novembro de 2019 no Brasil, durante a Cúpula dos BRICS – pouco se
avaou nessa discussão.
Síntese dos resultados
A mídia brasileira ainda tem uma visão relativamente neutra, em-
bora positiva, com relação à BRI. De modo geral, tende a descrevê-la
como um grande projeto de infraestrutura que se insere no quadro das
ambições chinesas de armação enquanto potência mundial. Ao mesmo
tempo, reverbera parte das críticas que ecoam na imprensa internacional
ocidental, especialmente aquelas que dizem respeito ao debt-trap. É inte-
ressante observar, contudo, a ausência de outro ponto de vista bastante
presente nas alises internacionais, qual seja, a de que a BRI nada mais é
do que uma estratégia Chinesa para garantir o uxo de recursos naturais
para o seu território.
Quanto à possível incorporação do Brasil à BRI, a imprensa man-
tém a inclinação positiva, conquanto cautelosa. Além das críticas mais
gerais ao projeto, o fator geopolítico e o posicionamento do Brasil frente
à disputa pelo poder internacional entre Estados Unidos e China são os
principais temas abordados.
Discussão
As alises apresentadas no presente trabalho demonstram que,
embora haja uma inclinação para uma visão positiva da BRI, a iniciativa
chinesa ainda não é muito conhecida no Brasil. Na mídia, o interesse vem
crescendo, mas é ainda tratado de forma supercial e sem explorar todo o
seu potencial – na maioria das vezes, as reportagens se limitam a descre-
ver a BRI como um pacote de investimentos em infraestrutura.
Por se tratar de uma democracia pluralista e multipartidária, o su-
cesso de grandes iniciativas no Brasil depende em larga medida do grau
de consenso em torno dos temas, seja nas arenas formais de decisão, seja
junto à opinião pública. O elevado grau de desconhecimento sobre a BRI,
portanto, congura uma especial oportunidade para iniciativas que bus-
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 8, n. 3, (set. 2020), p. 128-151
quem moldar a imagem da BRI entre os setores da sociedade brasileira
– empresariado, decisionmakers, academia, membros do governo, clas-
se política, sociedade civil e opinião pública. Por outro lado, deve-se ter
em mente que o grau de polarização social e ideogica no Brasil torna a
construção de consensos especialmente desaadora.
Essa mudança, entretanto, requer um esforço institucional por
parte da China com relação a três dimensões em especial. Em primeiro
lugar, maior clareza quanto aos reais objetivos da BRI do ponto de vista
das relações bilaterais. Em segundo, maior transparência quanto aos me-
canismos de governança e decisão. Em terceiro e, especialmente, deixar
mais claro que a BRI não se resume a um pacote de investimentos, mas
que consiste em uma ampla iniciativa que pretende estreitar os laços eco-
nômicos, sociais e culturais entre as nações.
Vale ressaltar que tal estratégia deve ser deliberadamente direcio-
nada e customizada para os países da América Latina, devido às suas es-
pecicidades institucionais e culturais. Nesses países, dentre eles o Bra-
sil, a China ainda é largamente vista como um país distante, não apenas
geograficamente, mas também do ponto de vista cultural e dos costumes,
como um lugar exótico e cuja aproximação enfrenta obstáculos. Não obs-
tante, é interessante notar a percepção dos brasileiros com relação à Chi-
na. A avaliação negativa declinou de 28.0% para 23.5% entre 2005 e 2018,
ao passo que a avaliação “muito positiva” subiu de 9.4% para 17.6%, de
acordo com dados do Latinobarômetro.
Esses fatores não devem ser subestimados. No plano institucional,
mais especicamente, destaca-se o fato de que as estruturas estatais e o
setor privado são decientes para articular estratégias de longo prazo e
sinalizar às empresas chinesas as ações necessárias para a coordenação de
grandes projetos de cooperação, tal como a BRI (CENTRO BRASILEIRO
DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 2018, p. 11). Justamente por isso, o
papel da China também reside no esforço de suprir esta parcial ausência
de know-how institucional.
Por outro lado, o Brasil tem um arcabouço regulatório maduro e
dispõe de mercado de capitais robusto o suciente para torná-lo menos
dependente de nanciamento externo, diferentemente de boa parte dos
países que já aderiram à BRI até o momento. Isto congura uma exce-
lente oportunidade para que a China apresente ao resto do mundo a BRI
como uma forma de parceria equilibrada, indo de encontro às três prin-
cipais críticas que a iniciativa tem sofrido: ser um mecanismo de subor-
dinação econômica através do debt-trap; incapacidade na coordenação de
arranjos de governança complexos; e impactos socioambientais negativos
(CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 2019).
Destaca-se, ainda, o fato de que, embora a BRI deva se efetivar pri-
meiramente a partir da adesão em nível nacional, a eventual ausência
de uma efetiva coordenação federal não impede os estados brasileiros de
propor e executar acordos de cooperação internacional. Isso, de fato,
vem ocorrendo, em grande medida no que tange às relações entre Brasil e
China, especialmente nos estados do Nordeste brasileiro (MELLO, 2019).
A incorporação à BRI pode potencializar ainda mais este arranjo, ideia
que já foi inclusive aventada pelo governador de São Paulo
12
.
12. Segundo declaração do governador
de São Paulo em agosto de 2019, “São
Paulo reúne condições para se tornar
um ponto de vanguarda da Nova Rota
da Seda, o movimento de abertura e
integração promovido pelo governo do
presidente Xi Jinping (DÓRIA, 2019).
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Em princípio pode parecer, a olhos incautos, que a adesão à BRI de-
pende apenas de que o Brasil aceite o convite chinês. É certo que o Brasil
ainda precisa denir melhor as suas prioridades e os seus interesses no
processo de estreitamento das relações com a China (NEVES, 2019), des-
tacando-se aí o lugar a ser ocupado na BRI. Porém, o sucesso da parceria
também depende do esforço da China em mostrar à sociedade brasileira
o que tem a oferecer. Feito isso, a BRI tem tudo para se consolidar como
um canal promissor de cooperação entre os países.
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