Luciana Wietchikoski O Tio Sam de olho no Brasil: as representações dos think tanks estadunidenses
a respeito da atuação internacional do Brasil no BRICS (2009-2016)
O Tio Sam de olho no Brasil: as
representações dos think tanks
estadunidenses a respeito da atuação
internacional do Brasil no BRICS (2009-2016)
Uncle Sam looking toward Brazil: representations of US
think tanks regarding Brazil’s international performance in
the BRICS (2009-2016)
La mirada del Tío Sam hacia Brasil: las representaciones
de los think tanks estadounidenses sobre la actuación de
Brasil en BRICS (2009-2016)
1. Graduada em História pela UPF,
Luciana Wietchikoski1
mestre e doutora em Ciência Política
pela UFRGS. Pesquisadora do Grupo
de Pesquisa em Estudos Estratégicos e
Política Internacional Contemporânea da
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2021v9.n2.p57
UFSC. Orcid: 0000-0002-1629-4387.
Recebido em: 8 de junho de 2020
Aceito em:19 august 2020
Resumo
O presente artigo analisa as representações dos think tanks estadunidenses a
respeito da atuação internacional do Brasil através do BRICS durante as presi-
dências de Lula da Silva e Dilma Rousseff. Entre os anos de 2003 a 2016 o Brasil
desenvolveu uma política externa voltada a elevar sua relevância internacional.
Como uma das estratégias centrais utilizadas para ampliar sua participação nas
principais decisões de cunho multilateral bem como firmar-se como liderança
do Sul Global, o país se envolveu na formação, com outros atores intermediá-
rios e reemergentes, do BRICS. Marcando uma grande inovação das relações
internacionais no início do século XXI, a coalizão passou a ser uma referência
à identificação das intenções e do potencial de influência desses novos atores
no sistema internacional. Nesse contexto, buscamos reconhecer quais foram as
opções estratégicas em relação a atuação do Brasil através do BRICS circulantes
no ambiente político dos EUA, particularmente junto aos think tanks. A partir
da análise de conteúdo verificamos que, para a grande maioria dos articulistas,
o Brasil foi definido com um ator pouco comprometido com a manutenção do
ordenamento internacional. Segundo essa visão, o Brasil questionava a posição
dos EUA e atuava ao lado de países violadores dos direitos humanos e da demo-
cracia.
Palavras-chave: BRICS. Think tanks. Política Externa do Brasil. Construtivismo.
Análise de conteúdo.
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 9, n. 2, (jul. 2021), p. 57-76
Abstract
This article analyzes the representations of the American think tanks respect for
the international performance of Brazil through the BRICS during the presiden-
cies of Lula da Silva and Dilma Rousseff. Between the years 2003 to 2016, Brazil
developed a foreign policy aimed at the top of its international relevance. As
one of the central strategies used to increase its participation in the main multi-
lateral decisions, as well as making Sul Global a leader, the country involved in
the formation of new coalitions with other intermediate/emerging countries,
among them or the BRICS. Making a major innovation in international relations
at the beginning of the 21st century, a coalition BRICS has become a reference
to the identification of intentions and the potential for influence of these new
actors in the international system. In this context, the searchers recognize which
are the strategic options in relation to the performance in Brazil through the
BRICS circulating in the political environment of the US, particularly with the
think tanks. From the analysis of the verifiable content that, for a great majority
of writers, Brazil was defined as an actor with little commitment to the mainte-
nance of the order. According to this view, Brazil questions the position of the
US and acts alongside countries that violate human rights and democracy.
Keywords: BRICS. Think tanks. Brazilian Foreign Policy. Constructivism. Con-
tent analysis.
Resumen
El artículo analiza las representaciones hechas por los think tanks estadouniden-
ses sobre la actuación internacional de Brasil a través del BRICS en las presiden-
cias de Lula da Silva y Dilma Rousseff. Entre 2003 y 2016 Brasil ha desarrollado
una política exterior centrada en impulsar su relevancia internacional. Brasil
se ha involucrado junto con otros actores intermediarios y re-emergentes
para formar el BRICS, una de las estrategias centrales usadas para ampliar su
participación en las principales decisiones de carácter multilateral, asimismo
para posicionarse como liderazgo del Sur Global. La coalición califica una gran
innovación de las relaciones internacionales del inicio del siglo XXI, convirtién-
dose en referencia para identificar las intenciones y el potencial de influencia de
esos nuevos actores en el sistema internacional. En ese contexto, fue buscado
reconocer cuáles opciones estratégicas relativas a la actuación de Brasil a través
del BRICS circularon en el ambiente político de los EE.UU., particularmente en
los think tanks. A partir del análisis de contenido fue verificado que para la gran
mayoría de los articulistas Brasil fue definido como un actor poco comprometi-
2. Observa-se o encerramento desse
do con la permanencia del ordenamiento internacional. Según esa visión Brasil
perfil da política externa brasileira a
partir de abril de 2016, quando o vice
cuestionaba la posición de los EE.UU. y actuaba junto con países violadores de
Michel Temer assumiu a presidên-
los derechos humanos y la democracia.
cia da república — primeiramente
como interino e findo o processo de
Palabras clave: BRICS. Think tanks. Política exterior de Brasil. Constructivismo.
impeachment de Rousseff, como
Análisis de contenido.
presidente oficial até o final de 2018.
A partir da sua administração, houve
a troca dos principais cargos-chave de
política externa e realizou-se uma nova
Introdução
interpretação do sistema internacional.
Nesse ambiente, o Brasil abandonou o
discurso reformista, distanciou-se da
Ao longo do mandato de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010) e —
África e América Central, privilegiou
ainda que com intensidade e protagonismo reduzidos — no decorrer da
a solução de conflitos regionais via
gestão de Dilma Rousseff (2011-2016)2, o Brasil desenvolveu um papel de
organismos multilaterais regionais
destacado ativismo e diversificação de suas relações internacionais. Em
tradicionais e assumiu um discurso
voltado a priorização de acordos de
busca de status e reconhecimento junto às grandes potências e na preten-
livre comércio com a Europa e os EUA
são de liderança entre os países do Sul Global, o país conduziu a criação
(CASARÕES, 2016; SVARTMAN; SILVA,
de fóruns regionais, intensificou suas relações com outros Estados do
2016; NUNES; RODRIGUES, 2017). Ver
também Wietchikoski (2018).
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a respeito da atuação internacional do Brasil no BRICS (2009-2016)
entorno regional latino-americano, fortaleceu o horizonte de ambições
políticas, comerciais e, até mesmo, em assuntos de segurança, projetan-
do os interesses nacionais à África, ao Oriente Médio e ao leste da Ásia.
Ademais, a fim de obter melhores resultados nas negociações internacio-
nais bem como impulsionar reformas institucionais para ampliação do
número de membros nos principais espaços decisórios de cunho mul-
tilateral, o Brasil participou da criação de coalizões com outros países
emergentes/reemergentes, destacando-se o BRICS, o qual foi formaliza-
do em 2009 por Brasil, Rússia, Índia e China e, desde dezembro de 2010,
também a África do Sul (AMORIM, 2015; CERVO; LESSA, 2014; CERVO
2010; FLEMES, 2010; SILVA; ANDRIOTTI, 2012; SILVA, 2015; VIGEVA-
NI; CEPALUNI, 2007).
Nas relações internacionais, este ciclo da política externa do
Brasil se alinhou a novos acontecimentos que, em seu conjunto, con-
duziram a mudanças substantivas na distribuição de poder global.
Além do crescente protagonismo de China e Rússia, verificou-se a
paulatina erosão da legitimidade dos EUA como líder da ordem ins-
titucional global e o aumento da procura de países intermediários e
emergentes por maior independência em suas relações externas. Nes-
se contexto, a formação e atuação do BRICS tornou-se uma das gran-
des novidades no cenário internacional na primeira década e meia do
século XXI. Representando um importante esforço em nível global
de cooperação de atores reemergentes — Rússia e a China — bem de
países intermediários — Índia, Brasil e África do Sul — pela busca por
legitimação no âmbito internacional e com reinvindicações concretas
por maior participação nas decisões multilaterais (principalmente no
campo econômico e de segurança onde atuaram de forma concerta-
da), o BRICS consolidou a discussão sobre a construção de uma ordem
mais multipolar (HURRELL, 2006; FLEMES, 2010; KAHLER, 2013;
VEZIRGIANNIDOU, 2013).
Todos esses acontecimentos não só suscitaram o interesse dos
EUA — a potência líder e principal responsável pela criação e manuten-
ção do ordenamento internacional então em questionamento — como
também estavam exigindo do país a elaboração de possíveis respostas
políticas para lidar com a nova realidade. A partir deste cenário, este
trabalho identifica e investiga a recepção nos EUA destas mudanças,
mais especificamente como a atuação internacional do Brasil através
do BRICS (2009-2016) no decorrer deste ciclo de maior protagonismo
internacional brasileiro foi representada no ambiente dos think tanks
deste país.
Voltados a influenciar a opinião pública, a burocracia estatal, o
Congresso e os governos, os think tanks desempenham um complexo pa-
pel no ambiente político estadunidense. Essas organizações da sociedade
civil — com uma multifacetada rede de contatos e interação entre políti-
cos, agentes do Estado, empresários e intelectuais — tornam-se espaços
importantes para se investigar o debate público e as narrativas que infor-
mam decisões tomadas e políticas implantadas pelos governos estaduni-
denses e pelo setor privado. Identificar essas narrativas são relevantes na
medida em que apontam quais foram as opções políticas em circulação
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em Washington a respeito da atuação externa do Brasil, do que identifi-
cavam ser suas reinvindicações e intenções internacionais. Portanto, con-
sideramos os think tanks como fontes privilegiadas para reconhecer como
a potência líder do ordenamento internacional representou o destacado
ativismo internacional e diversificação de relações do Brasil, no caso des-
ta pesquisa, em relação a sua atuação no BRICS.
Os questionamentos apresentados neste trabalho têm sua rele-
vância fundamentada a partir da teoria Construtivista de Relações In-
ternacionais. Para autores como Martha Finemmore (1996), Jutta Wel-
des (1996), Jeffrey Legro (2000, 2007, 2009) e Ted Hopf (1998, 2002), o
que se entende por interesse nacional — as noções que informam as
formulações estratégicas, a identificação de oportunidades e ameaças,
aliados e inimigos e, por fim, o desenho das políticas delas decorren-
tes — não são apenas decorrência da estrutura do sistema internacio-
nal, mas também de percepções e identidades socialmente construídas.
Nesse enquadramento, o discurso tem um papel central: é nele que
reside a prática de reprodução de significados intersubjetivos, ou seja,
o que fornece conteúdo as identidades e interesses nacionais. Segundo
Weldes (1996), nos discursos, elementos linguísticos — termos e ideias
— são combinados para produzir um contingente e contextualizar
representações específicas do mundo. Assim, um fenômeno particular
é representado em formas específicas e com significados particulares
em que então a ação dos Estados é baseada.
Desse modo, a teoria construtivista, ao ressaltar a importância das
ideias nas relações internacionais/interesses nacionais, identifica como
elas se materializam no plano da ação política. Nos EUA, os think tanks
atuam em meio a esse processo de construção de identidades do país.
Através de recursos/elementos linguísticos e estratégias de atuação e in-
teração com importantes atores da elite nacional, essas instituições inte-
gram “o universo discursivo em que são construídas, testadas, debatidas
e difundidas ideias que embasam o processo de modelagem de políticas
externa/internacional nos EUA (SVARTMAN, 2018, p.3-4)”.
Para realização do objetivo proposto, este artigo foi organizado da
seguinte maneira: além desta introdução, elaboramos uma seção em que
identificamos o que são os think tanks e seu papel na construção das identi-
dades nacionais dos EUA no que se refere as suas relações internacionais.
Em seguida, descrevemos as opções teórico-metodológicas que pautaram
a presente pesquisa e quais think tanks foram selecionados. Logo, apre-
sentamos a análise da produção ideacional dos institutos selecionados e
encerramos com as considerações finais.
Os think tanks como construtores socias de identidades nacionais nos
Estados Unidos
A história dos think tanks tem como marco as décadas iniciais do
século XX, quando os primeiros institutos foram criados. Pensados como
centros fornecedores de subsídio intelectual para promoção de raciona-
lidade à administração pública e de soluções pacíficas aos conflitos, ao
longo dos anos o fenômeno “think tanks” passou por intensas transfor-
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mações, como por exemplo, ampliação de seus objetivos e interações com
os ambientes governamentais, empresariais e midiáticos. Na atualidade,
são mais de mil e oitocentos institutos e uma produção ideacional firme-
mente engajada na construção de significados a respeito dos EUA (self )
assim como dos outros Estados (others) com ampla e intensa circulação
nos espaços diplomáticos, empresas de consultoria, imprensa, associação
de negócios, congresso, presidência e burocracia estatal.
O surgimento destas organizações ocorreu a partir das iniciativas
e financiamentos de grandes magnatas. Os primeiros think tanks — como
a Brookings Institution (1924), a Carnegie Endowment International for Peace
(1910) e o Council on Foreign Relations (CFR) (1921) — foram gerados como
centros de produção de trabalhos voltados a orientação de políticas pú-
blicas. Empregando profissionais oriundos das Ciências Sociais e justi-
ficando a legitimidade de suas produções na expertise, cientificidade e
neutralidade3, estes documentos permaneciam à disposição dos políticos,
3. Princípios que até hoje são utilizados
pelos think tanks como forma de legiti-
que de tempos em tempo eram consultados.
mação de seus discursos.
Na década de 1930 o próprio Estado, no contexto da implementação
do New Deal, introduziu uma nova dinâmica de interação/aproximação
com esses institutos. Em busca da expertise dos membros dos think tanks
(nomeados de policy experts), o governo passou a convida-los para inte-
grar as diversas comissões de discussão e implementação dos projetos en-
tão em andamento. Neste período, os policy experts também se voltaram
mais intensamente às atividades políticas assessorando os candidatos em
campanhas eleitorais (elaborando discursos políticos ou formulando pro-
gramas de governo) e ocupando cargos públicos nas administrações. Por
outro lado, estes estariam em cargos de primeiro escalão, algo bastante
4. Por exemplo, diversos membros da
comum na atualidade, só a partir da década de 19604 (ABELSON, 2006;
Heritage Foundation fazem (ou fizeram)
MACGAN; WEAVER, 2000; RICH, 2004; SMITH, 1991).
parte da administração Trump, tais
Durante a Segunda Guerra Mundial, juntamente com acadêmicos,
como Rick Perry (Secretário de Energia)
e Betsy DeVos (Secretária da Educação)
muitos policy experts foram novamente convidados a fazer parte, ao lado
ou John Bolton (ex- Conselheiro de
dos militares, do processo de gestão das estratégias e ações dos EUA no
Segurança Nacional) (HERITAGE FOUN-
conflito (SMITH, 1991). Nesse contexto surge também uma nova geração
DATION, 2020; MAHLER, 2018).
de think tanks que se tornaram responsáveis pela implementação de um
novo tipo de interação entre essas organizações, o Estado e a política de
forma geral. A partir de 1945, idealizadores de projetos civis que haviam
participado da gestão administrativa criaram instituições sem fins lucra-
tivos mediante demanda e por via de financiamento estatal, continuaram
a elaborar soluções políticas para o país então voltadas exclusivamente a
assuntos de segurança e defesa internacionais. Mantendo os princípios e
o formato de apresentação dos trabalhos advindos dos primeiros insti-
tutos, estes think tanks incorporaram técnicas de análise desenvolvidas
pelas Ciências Exatas (principalmente Engenharia e Física). No período
da Guerra Fria, think tanks desse tipo, como a Rand Corporation (1948),
apresentaram papel relevante nas opções para condução da política exter-
na do país, a partir, por exemplo, do desenvolvendo uma metodologia de
análise amplamente utilizada pelas administrações no período: a análise
sistêmica (system analysis) (ABELSON, 2006; SMITH, 1991).
Entre o fim dos anos 1960 e início de 1970, em meio a uma rea-
ção nacional contrária aos avanços do papel do Estado predominantes
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no ambiente político nos EUA, é criada uma terceira geração de think
tanks: os think tanks conservadores, entre os quais, destacam-se a Ame-
rican Enterprise Institute e a Heritage Foundation (CRITCHLOW, 2007;
NASH, 1996). Financiadas por grandes corporações ou doações indivi-
duais de empresários, estas organizações implementaram estratégias de
ação que acabaram intensificando ainda mais a interação dos think tanks
com os espaços políticos, midiáticos e empresariais (ABELSON, 2006;
SMITH, 1991).
Incorporando a linguagem midiática e política, os think tanks
conservadores substituíram os tradicionais extensos relatórios por
pequenos textos contendo de forma clara e concisa recomendações
políticas (de uma ou duas páginas em média) que passaram a ser siste-
maticamente entregues antes das principais votações a todos os legis-
ladores/assessores dispostos a recebe-los. Também criaram mecanis-
mos de contato entre os institutos e os políticos, tais como: encontros
privados informais, reuniões nas suas sedes ou recebendo-os como
integrantes/membros após o termino de seus mandatos. Além de pro-
curar inserir seus membros em cargos de alto escalão nos governos
conservadores, essas organizações investiram intensamente na divul-
gação de suas ideias e recomendações políticas nos principais jornais e
debates televisivos, algo inédito até aquele momento (CRITCHLOW,
2007; NASH, 1996).
Com o passar dos anos, tanto os think tanks da primeira como da
segunda geração absorveram muitas das estratégicas dos think tanks con-
servadores. Desse modo, a partir do final dos anos 1980 — mesmo com
diferenças históricas, formas de financiamento e posições ideológicas —
todas essas organizações passaram a ter estratégias comuns de ação e
interação com os espaços políticos e midiáticos. Classificadas em ações
públicas (aquelas que são de conhecimento compartilhado a todos) e re-
servadas (restritas ao contato interpessoal entre políticos, burocratas,
empresários e membros dos institutos), todos os think tanks atualmente
procuram atuar de diversas formas. São elas: apresentar suas recomen-
dações aos tomadores de decisões por meio de policy briefings ou em au-
diências públicas no Congresso; fornecer opiniões a legisladores através
de encontros privados; organizar eventos para discutir temas específicos
de política externa/internacional; promover ideias e agendas em redes
compostas pela elite política, dos negócios, da mídia e do meio intelec-
tual nacional e; atuar ativamente na mídia nacional (se posicionando
como interpretes de grandes questões políticas internacionais em pauta).
Além do mais, em cada ciclo eleitoral acolhem e fornecem quadros a
governos (ABELSON, 2006; MACGANN, WEAVER, 2000; MACGAN;
SABATINI, 2011; SMITH, 1991).
Portanto, através dessa breve narrativa histórica, é possível di-
mensionar como os think tanks são organizações bastante diversas, sejam
nas formas de financiamentos, posições ideológicas ou históricas. Em
meio a essas diferenças, identifica-se como os think tanks interagem e
visam influir no processo decisório bem como modelar o debate e a
opinião pública nos EUA (ABELSON, 2006). Segmentando suas pro-
duções sobre política externa/internacional em áreas temáticas ou por
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regiões, cada think tank divulga determinada identidade (significados
intersubjetivos) e procura “naturaliza-la” inserindo-a sistematicamente
nos espaços que precedem e formulam as identidades do Estado. No
cenário político de Washington onde se observa uma relativa ausência
de “especialistas”, a produção ideacional difundida pelos think tanks é
consumida por quadros da diplomacia estadunidense, das empresas de
consultoria, das agências de classificação de risco, da imprensa e de as-
sociações de negócios (SVARTMAN, 2018).
Considerações metodológicas
Para analisar uma produção cuja amostra possa ter relevância e
impacto, buscou-se no indexador Global Go to Think Tank Index (MAC-
GANN, 2019) os think tanks mais reputados entre aqueles especializados
em política externa/internacional. Após essa primeira etapa, procura-
mos identificar as organizações com produção significativa a respeito
da temática divulgadas entre o início das atividades informais do BRICS
(2006) até o ano de 2016, ano em que marca importantes inflexões na
política externa brasileira. Para tanto, a partir dos marcadores “Brazil”,
“BRICS”, “Brazil global player”, “multilateralism”, “global governance”,
“international system reform”, “New Development Bank”, “south south
cooperation” realizamos uma busca nos sites de cada um dos think tanks
5. Cato Institute; Hoover Institution;
pré-selecionados5. O resultado foi a seleção e análise de seis think tanks
Pew Research for American Progress;
e o total de oitenta e sete documentos/atividades, compostas por artigos
National Bureau of Economic Research;
escritos para jornais ou boletins editados pelos think tanks, transcrições/
Atlantic Council. American Enterprise
Institute, Brookings Institutions, Carne-
resumos/vídeos de eventos promovidos na sede dos institutos, relatórios
gie Endowment for International Peace,
e trechos de livros. Os think tanks selecionados foram: American Enterpri-
Center for a New American Security,
se Institute (AEI); Brookings Institution (Brookings); Carnegie Endowment In-
Council on Foreign Relations, Heritage
Foundation, Peterson Institute for Inter-
ternational for Peace (Carnegie); Council on Foreign Relations (CFR); Heritage
national Economic, Woodrow Wilson
Foundation (Heritage) e; Wilson Center.
Center e Woodrow Wilson Center.
Propondo-se fazer uma análise de conteúdo qualitativa dos docu-
mentos, nos orientamos pela metodologia Análise do Conteúdo desen-
volvida pela Laurence Bardin (2004). Desse modo, a fim de identificar
os elementos presentes na documentação selecionada, primeiramente
realizamos diversas leituras das mesmas. Com o resultado obtido, pu-
demos classificar o conteúdo da produção em duas grandes unidades de
registros temáticas as quais intitulamos de acordo com o significado do
seu conteúdo obtidos através das leituras: (1) a atuação da coalizão BRI-
CS; (2) as intenções e o impacto internacional do Brasil através de sua
atuação no BRICS.
Na primeira unidade de registro, foram classificados todos aque-
les conteúdos que, não fazendo distinção entre membros, definiram as
intenções e impactos do BRICS para os EUA e o atual ordenamento
multilateral internacional. Na segunda unidade de registro, estão os
conteúdos relacionados as análises específicas do Brasil através do BRI-
CS, onde definiu-se as intenções e impactos internacionais do Brasil por
da coalizão. Para melhor dimensionar este conteúdo apresentamos a
seguir uma tabela resumo com as duas unidades de registros e seus
respetivos conteúdos:
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Tabela 1 - Unidades de registros identificadas e seus conteúdos
UNIDADE DE REGISTRO
DESCRIÇÃO
A atuação da coalizão BRICS
- as intenções do BRICS:
a formação e atuação da coalizão como sinônimo de instabilidade a ordem liberal, principalmente em razão da coa-
lizão estar pouco comprometida com a manutenção dos seus valores basilares (em específico a democracia, direitos
humanos e a liberdade econômica) como por questionar a permanência dos EUA como primus inter pares.
- estruturas institucionais da coalizão- Novo Banco de Desenvolvimento (NBD):
interpelação se o Banco seria uma expressão de concorrência ao sistema financeiro já estabelecido (concorrência ou
complementação aos organismos tradicionais como OMC, FMI e Banco Mundial), com moeda concorrente, ou, um
sistema complementar, o qual adotaria as regras e visões dos organismos tradicionais a fim de se integrar ao sistema.
*Notamos que nessas análises, os autores não fizeram uma distinção clara entre o BND e o Arranjo Contingente de
Reservas, anunciados juntos pelo BRICS.
- a validade do grupo enquanto coalizão internacional:
validade ou não do grupo e da multipolaridade no ordenamento internacional; ideia de que o BRICS não tinha capa-
cidades de exercer relevante influência nas relações internacionais (falta de coesão ou convergência de interesses
internacionais dos países membros; as crises econômicas que a época dominou a maioria dos integrantes do grupo).
As intenções e o impacto in-
- os fatores domésticos que levaram o Brasil a participar do BRICS: crescimento econômico, estabilidade
ternacional do Brasil através
política e uma política externa orientada a desempenhar um papel mais protagônico internacionalmente.
de sua atuação no BRICS
- a participação/intenções do Brasil através do BRICS:
o Brasil questionador das bases que estruturam o atual ordenamento; Brasil aliado a países definidos como anti-
democráticos e violadores dos direitos humanos; Brasil como ator pouco alinhado aos interesses estadunidenses
(manutenção da ordem liberal);
X
o Brasil como um ator internacional aliado dos EUA, comprometido com a manutenção dos valores e a organização
do atual ordenamento; o Brasil distinto da Rússia e da China; os fatores domésticos que levaram o Brasil a parti-
cipar do BRICS: crescimento econômico, estabilidade política e uma política externa orientada a desempenhar um
papel mais protagônico internacionalmente.
Fonte: Elaboração própria
Ainda sobre as produções, é importante destacar que os think tanks
não acompanharam os primeiros passos da organização da coalizão. Embora os
primeiros encontros tenham acontecido em setembro de 2006 e de 2007, com reuniões
informais dos Ministros das Relações Exteriores do Brasil, Rússia, Índia e China,
evoluindo para ações mais coordenadas a partir de 2008 e em 2009, com o início das
reuniões de Cúpula (STUNKEL, 2017), foi só a partir de 2010, em meio à crise financeira
internacional, que os think tanks passaram a produzir análises sobre o BRICS.
A atuação da coalizão BRICS
Identificamos no conteúdo da produção discursiva da Brookings Ins-
titution a construção do BRICS como uma coalizão cujas intenções e ações
estavam promovendo a instabilidade à governança global e fragmentando
o diálogo entre os Estados. A produção ideacional também se referiu a al-
guns de seus membros, nomeadamente a Rússia e a China, como Estados
não comprometidos ao que consideraram ser os valores fundamentais do
ordenamento: democracia e direitos humanos (FISHLOW, 2011; JONES,
2015; JONES; WRIGHT 2015; LINN, 2013; MARES; TRINKUNAS, 2016;
PICCONE, 2015; TRINKUNAS, 2015).
Por exemplo, em meio a recomendação da necessidade de reformas
nas estruturas de participação das instituições multilaterais financeiras
tradicionais, Johannes Linn (membro da Brookings e ex funcionário do
Banco Mundial) associou as iniciativas de governança do BRICS a uma
divisão e enfraquecimento do atual ordenamento:
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Luciana Wietchikoski O Tio Sam de olho no Brasil: as representações dos think tanks estadunidenses
a respeito da atuação internacional do Brasil no BRICS (2009-2016)
O G20 deveria rever as tendências, pontos fortes e fracos dos Bancos Multila-
terais de Desenvolvimento nas últimas décadas e esforçar-se para criar novos
mandatos, estruturas de governança e financiamento que os façam servir como
pilares efetivos do sistema institucional global no século XXI. Se feito correta-
mente, isso também significaria o fim da necessidade de novas instituições, como
o banco de desenvolvimento dos BRICS (...). Seria muito melhor consertar as
instituições existentes do que criar novas que, na maioria das vezes, contribuem
para a já esmagadora fragmentação do sistema institucional global (LINN, 2013,
6. The G20 should review the trends,
não paginado, tradução nossa)6.
strengths and weaknesses of MDBs
Em outro artigo do think tank, Harold Trinkunas (um dos princi-
in recent decades and endeavour to
create new mandates, governance and
pais especialistas em política internacional do Brasil da Brookings) asso-
financing structures that make them
ciou o reordenamento internacional em construção pelo BRICS como
serve as effective pillars of the global
institutional system in the 21st century.
uma proposta na qual se suprimia a participação dos EUA. Para o autor,
If done correctly, this would also mean
“as cúpulas dos BRICS são um [...] exemplo de novas iniciativas que ex-
no more need for new institutions, such
cluem as principais potências tradicionais [...] (TRINKUNAS, 2015, não
as the BRICS (…). It would be far better
to fix the existing institutions than to
paginado, tradução nossa)7”.
create new ones that mostly add to the
No Council on Foreign Relations (CFR) o conteúdo dos trabalhos
already overwhelming fragmentation of
sublinhou fundamentalmente a incapacidade da coalizão em se man-
the global institutional system.
ter como uma força política e econômica a médio e longo prazo. Para
7. The BRICS summits [...] are one
a construção dessa representação, os trabalhos associaram o BRICS a
example of new initiatives that exclude
argumentos tais como: coalizão de membros com limitadas afinidades
the traditional major powers [...].
internacionais comuns e a inabilidade da manutenção do elevado cres-
cimento econômico dos Estados constituintes. O conteúdo da produção
do CFR também buscou representar o BRICS como uma coalizão com
valores distintos daqueles promulgados pelas instituições multilaterais
tradicionais, em específico, destacou o que considerou ser uma ausência
do princípio de “transparência” das ações do grupo nas ações em nível
de Cooperação Sul-Sul (COLEMAN, 2012; GAYOU, 2014; KAHN, 2014;
KURLANTZICK, 2011; PATRICK, 2012; SWEIG, 2014).
Nesse sentido, Stewart Patrick — membro da equipe de planeja-
8. the bigger uncertainty is whether
mento de políticas do secretário de Estado na gestão do Bush filho — em
there is enough “mortar” binding these
BRICS to allow them to become a cohe-
um artigo publicado em março de 2012 afirmou:
sive political force on the world stage,
a maior incerteza é se há ‘cola’ suficiente juntando esses BRICS a fim de
prepared to adopt common foreign
permitir que eles se tornem uma força política coesa no cenário mundial,
policy positions beyond a narrow range
preparados para adotar posições comuns de política externa para além
of issues [...].
de um conjunto pequeno de questões [...] (PATRICK, 2012, não pagina-
do, tradução nossa) 8.
9. Its members will align periodically,
using the bloc to demand greater repre-
Patrick ainda definiu o BRICS como uma força global limitada:
sentation in established institutions like
Seus membros se alinharão periodicamente, usando o bloco para exigir
the IMF or World Bank, or to push back
maior representação em instituições estabelecidas como o FMI ou o Ban-
against Western dominance. But they
co Mundial, ou para responder ao domínio ocidental. Mas eles também
will also steer clear of the forum when
it comes to issues that divide them,
evitarão o fórum quando se trata de questões que os dividem, como
such as UN Security Council expansion.
a expansão do Conselho de Segurança da ONU (PATRICK, 2012, não
paginado, tradução nossa) 9.
10. Com o objetivo de aumentar o pres-
Já Joshua Kurlantzick (2011) — em um artigo vinculado ao jornal
tígio e legitimidade de suas afirmações,
Bloomberg online New York10, cujo título foi bastante sugestivo: Don’t bet on
todos os think tanks informam aos leito-
res de seus sites quando seus trabalhos
the BRICS — apresentou o que considerou ser a pouca coesão da coalizão
estão vinculados a meios de comuni-
e a incapacidade dos países membros em se manterem como economias
cação externos aos institutos. Neste
artigo, apontamos essa característica
emergentes, argumentos estes utilizados pelo autor para projetar um li-
com o objetivo de indicarmos como as
mitado desenvolvimento das ações e projetos do BRICS no futuro. Para
ideias produzidas/reproduzidas nesses
o articulista,
institutos circulam no meio público/
político nacional.
65
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 9, n. 2, (jul. 2021), p. 57-76
Apesar das frequentes demonstrações de solidariedade, os BRICS e seus
11. Notwithstanding their frequent
irmãos têm tanta unidade quanto o elenco de The Bachelor. Suas econo-
shows of solidarity, the BRICs and their
mias não produziram o tipo de inovação e competitividade críticas para
brethren have about as much unity as the
cast of The Bachelor. Their economies
um crescimento global de longo prazo. As nações ocidentais acumula-
have not produced the kind of innovation
ram dívidas imprudentemente, mas as novas potências estão prestes a
and competitiveness critical to long-term
enfrentar seus próprios problemas econômicos - desafios que poderiam
global growth. Western nations have
derrubá-los antes que eles pudessem concretizar suas promessas (KUR-
amassed debt recklessly, but the new
LANTZICK, 2011, não paginado, tradução nossa)11.
powers are about to confront massive
Kurlantzick (2011), ainda complementa seus argumentos delimitan-
economic problems of their own—chal-
lenges that could bring them down
do a potencialidade da influência e atuação global do BRICS, expressa em
before they can realize their promise.
passagens como: “O que eles [BRICS] não conseguem fazer tão cedo é
fornecer a liderança de longo prazo de que o mundo precisa (KURLANT-
12. What they can’t do anytime soon is
ZICK, 2011, não paginado, tradução nossa)12”.
provide the long-term leadership that
Isabel Coleman (diplomata e representante dos EUA nas Nações
the world needs.
Unidas para a gestão e reforma da organização durante o segundo man-
dato de Barack Obama), por sua vez, construiu uma representação dos
valores e princípios do BRICS como distantes daqueles desenvolvidos pe-
las iniciativas multilaterais tradicionais. Focando-se nas intenções da coo-
peração Sul-Sul desenvolvida pelo BRICS, Coleman apontou, por exem-
plo, para “uma falta geral de transparência nas estatísticas de assistência
externa para muitos doadores de países emergentes, sem dúvida, de certa
13. there is a general lack of transpa-
forma, intencionalmente (COLEMAN, 2012, tradução nossa)13”. A diplo-
rency on foreign assistance statistics
mata ainda associou o discurso de cooperação Sul-Sul desenvolvidas no
for many emerging country donors, no
âmbito do BRICS como justificativas para atuações de cunho econômico
doubt somewhat intentionally.
individual de seus membros:
Esse espírito de solidariedade sul-sul influencia seus programas de
ajuda até hoje, pelo menos retoricamente. Eles gostam de se posicionar
não como doadores, mas sim como ‘parceiros de desenvolvimento’, e
aderem ao princípio da ‘não-interferência’. Como tal, evitam a condicio-
nalidade. A maioria de sua ajuda, no entanto, está vinculada a resultados
específicos de negócios - como o acesso a recursos naturais para o país
doador ou contratos para empresas de países doadores. [...] o foco do
apoio aos BRICS é a infraestrutura, cujos países receptores precisam
extrair e exportar os recursos naturais que os países doadores desejam
14. That spirit of SouthSouth solidarity
(COLEMAN, 2012, não paginado, tradução nossa)14.
still infuses their aid programs today, at
Esta representação crítica também se prolongou ao potencial do
least rhetorically. They like to position
themselves not as donors but rather as
Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) do BRICS. As narrativas dos ar-
‘development partners,’ and pointedly
ticulistas do CFR descreveram o NBD como uma instituição voltada a
adhere to the principle of ‘noninterfe-
rence.’ As such, they shy away from
disputar os espaços das organizações multilaterais tradicionais, com pou-
conditionality. The majority of their aid,
ca transparência sobre a qualidade dos investimentos e em relação as po-
however, is tied to specific business
líticas de proteção ambiental (GAYOU, 2014; KAHN, 2014; SWEIG, 2014).
outcomes - such as access to natural
resources for the donor country, or
No Wilson Center o conteúdo das publicações definiu o BRICS de duas
contracts for donorcountry companies.
formas. Primeiramente a coalizão foi abordada como uma grande inovação
[…] the focus of BRICS development
do século XXI, especialmente associada ao desenvolvimento de um papel
assistance is on infrastructure, which
recipient countries need to be able to
fundamental nas resoluções de problemas gerados pela crise financeira de
extract and export the natural resources
2008. Contudo, em meados de 2014, a produção buscou projetar a coali-
that the donor countries want.
zão como uma força política global de pouca expressividade (KORNEGAY
BOHLER-MULLER, 2013; LINS DA SILVA, 2014; WILSON CENTER, 2011).
Como exemplo da falta de perspectivas futura quanto aos impactos
do grupo, em artigo publicado em 2014, o articulista brasileiro Carlos
Eduardo Lins da Silva afirmou que:
66
Luciana Wietchikoski O Tio Sam de olho no Brasil: as representações dos think tanks estadunidenses
a respeito da atuação internacional do Brasil no BRICS (2009-2016)
O grupo fez importantes progressos institucionais em sua sexta cúpula,
realizada na cidade brasileira de Fortaleza. O evento marcou o lançamen-
to oficial do Novo Banco de Desenvolvimento. No entanto, não elevou o
BRICS a uma organização capaz de influenciar substancialmente a geo-
política global e efetivamente combater as potências econômicas estabe-
lecidas ou desafiar o aparato que eles construíram após a Segunda Guerra
Mundial para garantir hegemonia na tomada de decisões em políticas ma-
croeconômicas (LINS DA SILVA, 2014, não paginado, tradução nossa)15.
15. The group made important institutio-
nal progress in its sixth summit, held in
Nesse sentido, Lins da Silva argumentou para o valor dos recursos
the Brazilian city of Fortaleza. The event
marked the official launching of the
financeiros anunciados, o longo prazo dado para início das ações aliado
New Development Bank. However, it did
ao baixo crescimento econômico dos países membros registrados no pe-
not elevate the BRICS to an organization
capable of substantially influencing
ríodo, o que tornava o impacto do NBD pouco expressivo nas relações
global geopolitics and effectively coun-
internacionais (LINS DA SILVA, 2014).
tering the established economic powers
Por fim, o último think tank liberal analisado foi a Carnegie Endow-
or challenging the apparatus they built
after World War II to ensure hegemony
ment Internacional for Peace. Nesse think tank identificamos que a represen-
in the macroeconomic policy decision
tação do BRICS perpassou pela construção social da coalizão como um
making.
instrumento de obstrução das iniciativas estadunidenses e europeias de
organização das relações multilaterais. O BRICS também foi associado
a um grupo com membros pouco engajados na manutenção dos valores
democráticos e dos direitos humanos (JAFFRELOT, 2013; KASSENOVA,
2014; NAIM, 2014; PETTIS, 2011).
Por exemplo, Christophe Jaffrelot (cientista político e membro
da Carnegie) difundiu a ideia da atuação da coalizão — seja na Rodada
Doha, na Cúpula de Copenhague ou mesmo na OMC — como objeção
ao desenvolvimento do ordenamento internacional: “os BRICS pareciam
estar principalmente interessados em bloquear as iniciativas ocidentais
16. the BRICs appeared to be primarily
(JAFFRELOT, 2013, não paginado, tradução nossa)16”. O autor também
interested in blocking Western initia-
buscou apontar o que considerou ser a falta de compromissos do BRICS
tives.
com a democracia. Para tanto, utilizou a participação da China e a Rús-
sia. Considerados por Jaffrelot como dois países violadores dos direitos
humanos e antidemocráticos, Jaffrelot argumentou que o BRICS: “de-
monstram um compromisso tão superficial com os valores democráticos
17. display such a shallow commitment
(JAFFRELOT, 2013, não paginado, tradução nossa)17”.
to democratic value.
Já o articulista Moisés Naím — ex-diretor chefe da revista Foreign
Policy e editor contribuinte da revista The Atlantic — em um artigo publi-
cado no Washington Post ponderou para a falta de coesão do BRICS. Para
Naím, “tornou-se claro que, além de grandes territórios e populações,
o BRICs tem pouco em comum (NAIM, 2014, não paginado, tradução
nossa)18”. Essa falta de unidade, somando-se as instabilidades políticas
18. It has become clear that, other than
large territories and populations, the
e econômicas de seus membros, foram argumentações empregadas por
BRICs have little in common.
Naím para apontar um impacto internacional muito reduzido da coalizão
a médio prazo.
Michel Pettis em um artigo bastante indicativo pelo título: It Would
Be Foolish for the BRICs to Save Europe, foi contundentemente crítico da
participação/inclusão do BRICS na resolução de problemas financeiros
internacionais. Para o autor,
19. Turning to foreign sources of capital,
Recorrer a fontes estrangeiras de capital, como um resgate pelos países
like a bailout by the BRIC countries,
do BRIC, apenas agravaria os problemas econômicos da Europa, pre-
would only aggravate Europe’s economic
judicaria as perspectivas de crescimento e tornaria a resolução final da
problems, hurt growth prospects, and
crise da dívida mais difícil do que nunca (PETTIS, 2011, não paginado,
make the ultimate resolution of the debt
tradução nossa)19.
crisis more difficult than ever.
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 9, n. 2, (jul. 2021), p. 57-76
Nos think tanks conservadores, a análise do conteúdo também
apontou para uma construção social voltada a representar o BRICS como
uma coalizão pouco compatível aos valores e interesses do ordenamento
internacional tradicional liderado pelos EUA. No American Enterprise Ins-
titute, a descrição do BRICS centrou-se em defini-lo como uma coalizão
com limitado impacto nas relações financeiras internacionais (ROHAC;
SCHMITT, 2016; NORIEGA; FOGASSA, 2011; BATE, 2013). Por exemplo,
os articulistas Dalibor Rohac e Gary J. Schmitt em artigo publicado no
Finacional Times cujo título foi Laying BRICS: A not-so-happy future, proje-
taram o BRICS como uma coalizão com baixo poder de influência inter-
nacional. No discurso dos autores: “Hoje, a ideia de que o BRICS poderia
liderar o caminho para essa nova ordem parece mais distante do que nun-
ca. O BRICS não tem influência econômica para desempenhar esse papel
20. Today, the idea that the Brics could
(ROHAC; SCHMITT, 2016, não paginado, tradução nossa)20”.
lead the way to this new order seems
Como os autores dos think tanks liberais, Rohac e Schmitt também
more distant than ever. The Brics lack
buscaram descrever o BRICS como uma coalizão não alinhada aos valo-
the economic clout to play that role.
res e diretrizes do ordenamento liberal:
A política importa e, no caso dos talvez dois dos mais importantes Brics,
China e Rússia, importa ainda mais. Enquanto os líderes das democra-
cias liberais, orientadas para o mercado, têm interesse na existência de
uma ordem internacional pacífica e baseada em regras, os objetivos dos
governantes autocráticos são mais prosaicos (ROHAC; SCHMITT, 2016,
21. Politics matters and, in the case of
não paginado, tradução nossa)21.
perhaps the two most important Brics,
Por fim, na Heritage Foundation todas as argumentações, dos dife-
China and Russia, it matters even more.
Whereas leaders of liberal, market-o-
rentes autores que abordaram a questão, se centraram no problema de
riented democracies have a stake in the
falta de liberdade econômica dos países membros, sugerindo como solu-
existence of a rules-based and peaceful
international order, the goals of autocra-
ção a abertura dos mercados e a diminuição do papel dos Estados (BRO-
tic rulers are more prosaic.
MUND, 2015; GAYOU, 2014; ROBERTS, 2013; OLSON, WOES, 2014;).
As representações da atuação internacional do Brasil no contexto do
BRICS
Ao contrário da construção social do BRICS, a atuação internacio-
nal do Brasil no contexto da coalizão perpassou por representações mais
diversificadas. Enquanto alguns think tanks mantiveram sua perspectiva
de cunho crítico, outros buscaram associar o Brasil a um ator global res-
ponsável e alinhado aos interesses e valores estadunidenses.
Na Brookings, identificamos que o conteúdo das suas publicações
centrou em definir o Brasil como um País internacionalmente comprome-
tido com Estados considerados antidemocráticos e violadores dos direitos
humanos (China e a Rússia); pouco envolvido com uma força a qual con-
sideraram fundamental: o hard power e; com intenções muito evidente de
exclusão dos EUA na participação da governança global (FISHLOW, 2011;
MARES; TRINKUNAS, 2016; TRINKUNAS, 2015; PICCONE, 2015).
Por exemplo, o articulista Ted Piccone (ex-assessor sênior de po-
lítica externa no governo Clinton e desde 2008 um dos principais espe-
cialistas da Brookings nas temáticas de democracia e direitos humanos)
associou a atuação do Brasil via BRICS como um questionamento do po-
sicionamento global dos EUA como “primus inter pares”:
68
Luciana Wietchikoski O Tio Sam de olho no Brasil: as representações dos think tanks estadunidenses
a respeito da atuação internacional do Brasil no BRICS (2009-2016)
A corrente dominante hoje na política externa brasileira, no entanto,
contraria a visão tradicional de Washington de liderar uma ordem inter-
nacional liberal em que os Estados Unidos continuam primus inter pares.
22. The predominant strain today in Bra-
A aspiração do Brasil de liderar o Sul Global em direção a um sistema
zilian foreign policy, however, runs cou-
mais multipolar, que ganhou predominância sob o presidente Luiz Inácio
nter to Washington’s traditional vision
Lula da Silva, é evidente em uma ampla gama de questões [...]. Desde
of leading a liberal international order in
o seu alinhamento cada vez mais próximo com a Rússia e a China no
which the United States remains primus
grupo dos BRICS até a criação de múltiplas organizações regionais que
inter pares. Brazil’s aspiration to lead the
excluem os EUA, o Brasil está traçando seu próprio caminho de auto-
Global South toward a more multipolar
nomia estratégica, que muitas vezes é projetado para contrabalançar a
system, that gained predominance under
liderança dos EUA no mundo. Embora o Brasil tenha pouco hard power
President Luis Inâcio Lula da Silva, is evi-
para desafiar diretamente Washington, sua diplomacia de soft power, seu
dent across a wide range of issues […].
histórico de desenvolvimento econômico e sua retórica convincente lhe
While Brazil has little in the way of hard
conferem alguma persuasão moral no cenário internacional em exigir
power to directly challenge Washington,
um lugar melhor na mesa do poder global (PICCONE, 2015, não pagina-
its soft power diplomacy, economic
do, tradução nossa)22.
development record and pro-poor
rhetoric give it some moral suasion on
Piccone (2015), ainda relacionou a participação do Brasil no BRICS
the international stage as it demands a
better seat at the global power table. As
a um ato de descompromisso global do país a dois princípios fundamen-
part of that leadership, Brazil has drama-
tais do ordenamento liberal, a democracia e direitos humanos. Nesse sen-
tically stepped up its diplomatic, trade,
tido se expressou da seguinte forma:
development and security assistance to
sub-Saharan Africa.
Infelizmente, os direitos humanos ficam no fogo cruzado [...]. [o Brasil]
também ficou do lado da Rússia em sua disputa pela Crimeia ao não se
posicionar, apesar da violenta violação do direito internacional por parte
de Moscou, um princípio pelo qual o Brasil preza. E pouco falou sobre
23. Unfortunately, human rights get cau-
os atuais abusos dos direitos humanos em países [...] como a China (PIC-
ght in the crossfire (…). [...]It has also
sided with Russia in its grab of Crimea
CONE, 2015, tradução nossa)23.
by standing on the sidelines despite
Em outro trabalho, Trinkunas (2015) elaborou um discurso no qual
Moscow’s gross violation of internatio-
nal law, a principle Brazil holds dear.
relacionou a participação do Brasil no BRICS a manifestação de uma po-
And it has said little about the ongoing
lítica externa muito restrita internacionalmente. Segundo o articulista,
human rights abuses in ideologically
allied countries like Venezuela and Cuba
somente a ênfase no soft power — sendo o BRICS o símbolo dessa estraté-
or economic partners like China.
gia — não era suficiente para reconhecer o Brasil como um global player.
Nesse sentido o autor afirmou que:
24. Brazil has consistently privileged
O Brasil sempre privilegiou o uso da diplomacia sobre todas as outras
the use of diplomacy over all other
capacidades do Estado, mas sua relutância em assumir os custos eco-
state capabilities, but its reluctance to
nômicos e militares de contribuir com a ordem global o impede de
assume economic and military costs to
participar efetivamente. Além disso, seu desejo de minimizar o papel
contribute to global order prevents it
do poder militar na resolução de grandes conflitos, como os do Iraque,
from participating effectively. Moreover,
its desire to minimize the role of military
da Líbia e da Síria, às vezes leva a propor soluções que são descartadas
power in settling major conflicts, such
como irrealistas pelas potências estabelecidas (TRINKUNAS, 2015, não
as those in Iraq, Libya, and Syria,
paginado, tradução nossa)24.
sometimes leads it to propose solutions
that are discarded as unrealistic by the
No Council on Foreign Relations o conteúdo das produções buscou
established powers.
definir o Brasil como um potencial parceiro dos EUA em questões de se-
gurança regional, mudanças climáticas e até mesmo no desenvolvimen-
25. No ano de publicação deste artigo
to de agendas nas instituições multilaterais tradicionais (O’NEIL, 2010;
(2010) a África do Sul ainda não havia
ingressado no grupo.
CAMPBELL, 2013). Por exemplo, Shannon O’Neil (importante articulista
do CFR dedicada a análises da inserção internacional do Brasil no perío-
do), compartilhando a visão de uma ordem multipolar, apontou para essa
26. While still not given as much airtime
diferenciação entre o Brasil e o restante do BRICS25:
in Washington as many of its BRIC
partners — China in particular — Brazil
Embora ainda não tenha recebido tanta atenção em Washington como
is seen as an emerging power that the
muitos de seus parceiros BRIC - a China em particular - o Brasil é visto
United States can work with on many
como uma potência emergente com a qual os Estados Unidos podem
issues: global fi nancial stability, climate
trabalhar em muitas questões: estabilidade financeira global, mudança
change, reform of multilateral institu-
climática, reforma de instituições multilaterais. (por exemplo: ONU,
tions (e.g.: the UN, G20, WTO, IMF) as
G20, OMC, FMI), segurança regional, estabilidade e desenvolvimento
well as regional security, stability and
(O’NEIL, 2010, p. 3, tradução nossa)26.
development.
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 9, n. 2, (jul. 2021), p. 57-76
Nesse contexto de reconhecimento e de defesa da elevação da im-
portância do Brasil para os EUA, O’Neil recomendou, inclusive, o estabe-
lecimento de canais de diálogo entre Washington e Brasília,
(...) Washington precisa fortalecer a comunidade política dedicada ao
Brasil para assegurar uma atenção mais completa e consistente às rela-
ções EUA-Brasil. Os EUA e o Brasil devem identificar questões e estraté-
gias claras de interesse mútuo para iniciar o aprofundamento da parceria
bilateral e do compromisso multilateral (O’NEIL, 2010, p. 1, tradução
27. Washington needs to strengthen the
nossa)27.
policy community dedicated to Brazil to
ensure more thorough and consistent
Já John Campbell — articulista que antes de ingressar no CFR
attention to US-Brazil relations. The US
atuou por mais de trinta anos como oficial do Serviço de Relações Ex-
and Brazil should identify clear issues
and strategies of mutual interest to start
teriores do Departamento de Estado, sendo a maior parte no continen-
deepening the bilateral partnership and
te africano — em um artigo de 2013 defendeu a ideia do Brasil como
multilateral engagement. Energy and cli-
um ator mais responsável e comprometido com o desenvolvimento da
mate change, as well as global financial
África quando comparado aos demais membros do BRICS com atuação
stability, are good starting points.
naquele continente:
O Brasil é um dos países do BRICS, juntamente com a Rússia, a Índia, a
China e a África do Sul. O crescente papel do Brasil na África é ofusca-
do na mídia internacional pelo papel maior da China e da Índia. (assim
como o papel da África do Sul.) Mas, a abordagem do Brasil para a
África parece ser a mais ampla, com importantes aspectos políticos e de
desenvolvimento, bem como econômicos. E há laços culturais impor-
tantes entre o Brasil e os estados africanos lusófonos, como Angola
e Moçambique. O Brasil também tem a maior população de origem
africana da diáspora. Até agora, os brasileiros parecem ter evitado os
erros culturais e de outros tipos cometidos pelos chineses. A relação
brasileira com a África pode ser mais profunda e duradoura do que a de
seus rivais de maior destaque entre os BRICS (CAMPBELL, 2013, não
28. Brazil is one of the BRICS countries,
paginado, tradução nossa)28.
along with Russia, India, China, and
O conteúdo das publicações do Wilson Center se direcionou a iden-
South Africa. Brazil’s expanding role in
Africa is overshadowed in the interna-
tificar os motivos e intenções do engajamento do Brasil no BRICS (KOR-
tional media by China and India’s larger
NEGAY; BOHLER-MULLER, 2013; LINS DA SILVA, 2014; SOTERO,
role. (So, too, is South Africa’s role.) But,
Brazil’s approach to Africa appears to be
2013; WILSON CENTER, 2011). Por exemplo, em evento realizado em
the more broadly based, with important
setembro de 2012 para discutir o impacto do BRICS no sistema inter-
political and developmental aspects,
nacional (BRICS: Shaping the New Global Architecture), o convidado João
as well as economic. And there are
important cultural ties between Brazil
Augusto de Castro Neves apresentou o que considerou ser os fatores
and the Lusophone Africa states such
que possibilitaram o Brasil a ser um membro do BRICS. Em meio a esse
as Angola and Mozambique. Brazil also
contexto Castro Neves afirma que este protagonismo internacional bra-
has the diaspora’s largest population of
African origin. Thus far, the Brazilians
sileiro foi o resultado de vinte anos de contínuas políticas domésticas, as
appear to have avoided the cultural
quais se centraram na estabilidade política, econômica e ações sociais do
and other mistakes of the Chinese. The
Brazilian relationship with Africa may
País. Esses fatores, segundo Castro Neves, levaram a transformações das
prove deeper and longer lasting than
intenções da política externa do Brasil na ordem internacional, identifi-
that of its higherprofile rivals among
cadas como a vontade do País ser uma liderança internacional, com sua
the BRICS.
inserção nas estruturas de poder da governança global. Nesse enquadra-
mento, o autor defendeu que o Brasil, apesar de haver alguns desencon-
tros com os EUA, não objetivava rivalizar com o país, mas sim desempe-
nhar uma maior autonomia decisória (WILSON CENTER, 2011).
Na Carnegie — através de sua articulista Togzhan Kassenova — o
conteúdo da produção também se focou fundamentalmente na identifi-
cação das razões que impulsionaram a política externa brasileira a agir
internacionalmente através da coalizão (KASSENOVA, 2014). Para Kas-
70
Luciana Wietchikoski O Tio Sam de olho no Brasil: as representações dos think tanks estadunidenses
a respeito da atuação internacional do Brasil no BRICS (2009-2016)
senova29, abordar a temática em seu livro Brazil’s Nuclear Kaleidoscope: An
29. Autora que durante dois anos (2012-
2014) desenvolveu um projeto voltado a
Evolving Identity, a partir de 2003 o Brasil, insatisfeito com o papel atribuí-
identificação do potencial internacional
do ao país nas principais decisões internacionais, passou a questionar a
do Brasil, principalmente no que se refe-
riu a sua política nuclear. Para maiores
configuração do ordenamento internacional:
detalhes ver WIETCHIKOSKI, 2018).
O Brasil não está mais satisfeito por estar nos arredores da política global. Brasília
argumenta que o país chegou a um ponto em que o tamanho de sua economia,
o ritmo de seu desenvolvimento, seu papel na região e suas credenciais interna-
cionais devem ser formalmente reconhecidos pela ordem internacional (KASSE-
NOVA, p. 13).
Assim como no think tank liberal CFR, no conservador American
Enterprise Institute as representações presentes nas publicações construí-
ram a percepção do Brasil como um membro do BRICS com intenções,
ambições e valores muito semelhantes aos estadunidenses, fazendo
com que então, se distinguisse dos demais países. Em artigo divulgado
na Fox News, Roger Noriega (ex-embaixador dos EUA na OEA) e Marc
Fogassa (sócio gerente da empresa de assessoria de investimentos es-
pecializada em assuntos sobre o Brasil Hedgefort Capital Management)
afirmaram:
O Brasil é um País influente e respeitado e é a força motriz (...). Embo-
30. The Brazil is a respected, influential
ra as instituições do Brasil não sejam perfeitas, ao contrário da Rússia,
country and is the driving force behind
elas estão sendo fortalecidas todos os dias. De fato, o Brasil está entre
the auspicious goal of South American
as democracias mais estáveis do mundo - uma conquista notável, dado
integration. Although Brazil’s institutions
o seu caráter multiétnico, diversidade geográfica e grande população
are not perfect, unlike Russia’s they are
que ainda vive na pobreza - razões suficientes para conceder aos seus
being strengthened every day. Indeed,
líderes algum crédito (NORIEGA, FOGASSA, 2011, não paginado,
Brazil is among the world’s most stable
tradução nossa)30.
democracies-a remarkable achievement
given its multiethnic character, geogra-
A partir dessas definições, os autores frisaram que o Brasil não
phic diversity, and large population still li-
ving in poverty-reasons enough to accord
deveria ser analisado como membro do BRICS, mas em seus próprios
its leaders some measure of respect
termos:
[...] muitos perfis escritos sobre essa nação sul-americana vão colocá-la
na caixa dos chamados países ‘BRIC’ - Brasil, Rússia, Índia e China. Esse
31. [...] many profiles on that South
apelido foi concebido como elogio, associando o Brasil a economias
American nation will lump it in with
dinâmicas e em expansão. Hoje, o Brasil merece ser considerado em seus
the so-called ‘BRIC’ countries -“Brazil,
próprios termos, como um destino muito mais seguro para o capital,
Russia, India, and China”. That moniker
uma democracia multiétnica saudável, e um vizinho cujos líderes possam
was conceived as compliment, associa-
estar preparados para deixar de lado as fórmulas de soma zero do pas-
ting Brazil with dynamic and booming
sado e buscar uma parceria genuína com os Estados Unidos. Com base
economies. Today, Brazil deserves to be
nisso, o engajamento hábil e sustentado do presidente Obama pode levar
considered on its own terms, as a much
nossas relações políticas e econômicas a uma órbita mais alta (NORIE-
more secure destination for capital, a
GA; FOGASSA, 2011, não paginado, tradução nossa)31.
healthy multi-ethnic democracy, and
a neighbor whose leaders may be
Por fim, na Heritage Foundation os articulistas identificaram que
prepared to set aside the zero-sum
formulas of the past and seek a genuine
o Brasil não deveria ser reconhecido um global player em razão de ser
partnership with the United States. On
membro do BRICS. Essa justificativa perpassou pela associação do Bra-
that basis, deft and sustained engage-
sil a questões do âmbito da política doméstica e ligada ao valor central
ment by President Obama can push our
political and economic relations into a
do think tank: a diminuição do papel do Estado na economia. Como o
higher orbit.
articulista James Roberts expos no artigo Declining Economic Freedom and
Growing Statism: The BRICs Are Hitting the Wall:
32. Brazil. Although Brazilian President
Brasil. Embora a presidente brasileira Dilma Rousseff tenha concordado
Dilma Rousseff has agreed to privatize
some companies operating highways
em privatizar algumas empresas que operam rodovias e ferrovias (junta-
and railways (along with, perhaps, some
mente com, talvez, alguns aeroportos), o governo ainda domina muitas
airports), the government still dominates
áreas da economia do país, prejudicando o desenvolvimento de um setor
too many areas of the country’s eco-
privado mais vibrante (ROBERTS, 2013, tradução nossa)32.
nomy, undercutting development of a
more vibrant private sector.
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 9, n. 2, (jul. 2021), p. 57-76
Considerações finais
Este trabalho procurou identificar e apresentar como a inserção in-
ternacional do Brasil no contexto do BRICS foi representada na produção
ideacional de seis importantes think tanks especializados em política ex-
terna/internacional dos EUA. A partir da análise de conteúdo de oitenta
e sete documentos/atividades é possível afirmar que durante os anos de
2010 a 2016 os think tanks construíram e divulgaram uma visão predomi-
nantemente crítica da atuação e intenções globais do BRICS. Mesmo os
think tanks liberais — comumente identificados com uma agenda progres-
sista, o que nas relações internacionais se refletiria na defesa da multipola-
ridade com a maior participação de novos atores nos principais processos
decisórios — foram contrários a coalizão.
O BRICS foi comumente representado como um promotor de insta-
bilidade e uma ameaça a manutenção da ordem liberal. Para isso, os con-
teúdos das produções dos think tanks associaram o BRICS, por exemplo, a
uma coalizão cujos valores se distanciavam daqueles já estabelecidos (em
específico a democracia, direitos humanos e a liberdade econômica) ou a
um movimento que visava a alteração da posição dos EUA como primus
inter pares no ordenamento. Ainda sobre a coalizão, em meados de 2014
todos os think tanks buscaram divulgar a percepção de uma incapacidade
do BRICS exercer relevante influência nas relações internacionais, asso-
ciando-o a ideias tal como uma coalizão cujos membros tinham fraca con-
vergência e coesão de interesses internacionais e pouco poder econômico.
Quando a participação/intenções específicas do Brasil no contexto
do BRICS foi representada, os think tanks apresentaram definições/asso-
ciações mais diversificadas, sendo possível apontar três perspectivas dis-
tintas. Nos think tank liberal Brookings Institution e o conservador Heritage
Foundation, se construiu uma visão na qual o Brasil, questionou as bases
que estruturam o atual ordenamento e se aliou a países definidos como
antidemocráticos e violadores dos direitos humanos, foi definido como
um ator pouco alinhado aos interesses estadunidenses (manutenção da
ordem liberal).
Em uma segunda perspectiva, o think tank liberal Council on Foreign
Relation e o conservador American Enterprise Institution construíram a
visão onde o Brasil foi definido como um ator internacional aliado dos
EUA. Distinguindo o Brasil de outro dois membros (Rússia e China), os
argumentos afirmaram o país como um ator comprometido com a manu-
tenção dos valores e a organização do atual ordenamento.
Por fim, os think tanks liberais Wilson Center e a Carnegie Endowment
International for Peace procuraram identificar as razões que levaram o Bra-
sil a participar do BRICS. O conteúdo da produção dessas duas organiza-
ções destacou como argumentos, por exemplo, o crescimento econômi-
co, estabilidade política e uma política externa orientada a desempenhar
um papel mais protagônico internacionalmente.
Também é pertinente apresentar algumas reflexões a partir da
perspectiva teórica construtivista. Como observamos, os think tanks são
organizações da sociedade civil cuja atividade é a produção e divulgação
de ideias específicas sobre as relações internacionais. O conteúdo da
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Luciana Wietchikoski O Tio Sam de olho no Brasil: as representações dos think tanks estadunidenses
a respeito da atuação internacional do Brasil no BRICS (2009-2016)
produção aqui analisada representou os interesses e valores dos EUA
(manutenção da ordem internacional e da prerrogativa do país como pri-
mus inter pares; transparência; democracia; livre mercado) bem como de
outros atores: o Brasil/BRICS (um aliado ou uma ameaça aos interesses
internacionais dos EUA). Nesse contexto, identificamos que determinados
termos da realidade (BRICS; Brasil) foram associados, ideias específicas
foram construídas (Brasil é uma ameaça ou um aliado) e desenhos das po-
líticas constituídas (apoiar/reconhecer a atuação internacional do Brasil;
formar parcerias de atuação conjunta; limitar o diálogo). Ou seja, a partir
da combinação de elementos linguístico (termos e ideias), os think tanks
delimitaram concepções específicas do Brasil: ou uma oportunidade/alia-
do (a atuação do Brasil fortalece os interesses estadunidense; o Brasil é ali-
nhado aos valores da ordem) e de ameaça/inimigo (Brasil/ BRICS é uma
ameaça aos ideais e a estabilidade da ordem liberal, portanto, aos EUA).
Estas ideias produzidas — elementos constitutivos de identidades
nacionais — estiveram envolvidas em uma complexa rede de interação/
divulgação com atores/espaços sociais privilegiados de formulação e im-
plementação de políticas públicas. Por exemplo, verificamos que todos os
autores têm importantes ligações em organizações internacionais gover-
namentais, na iniciativa privada ou já estiveram em altos cargos comis-
sionados no governo estadunidense. Também reconhecemos que alguns
dos trabalhos, além da divulgação no espaço social dos think tanks, foram
publicados jornais de circulação nacional.
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