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Tomaz Espósito Neto, Aida Mohamed Ghadie
Paradiplomacia da Cidade de Dourados - MS: Um Estudo sobre os Desaos da Internacionalização dos Municípios de Médio Porte na Faixa de Fronteira
Ou seja, a agenda internacional municipal foi, em grande medida,
pautada pelo programa federal. Pode-se explicar o “envolvimento dos
prefeitos petistas no movimento internacional das cidades, por um lado,
pela preponderância dos líderes de esquerda nesse movimento e, por con-
seguinte, pela sintonia política entre este e o PT” (SALOMÓN, 2012, p.
279). Existiu, portanto, pouco espaço para iniciativas fora da pauta ocial
(GHADIE, 2019).
No tocante a captação de recursos destaque para o Programa Ha-
bitar Brasil BID-HBB, criado a partir do contrato de repasse de recursos
nanceiros celebrado entre a União Federal, por intermédio do Minis-
tério das Cidades, e o município de Dourados. Com interveniência do
Estado do Mato Grosso do Sul, objeto do Convênio 007/2002, celebrado
por intermédio da Secretaria de Estado de Infra-estrutura e Habitação e
o município de Dourados, assinado e raticado na data de 29 de maio de
2002, entre outros (AGEHAB, 2019).
O Projeto HBB trouxe alguns benefícios para o município, tais
como a revisão da Política Habitacional de Interesse Social (PHIS), cria-
ção de um Banco de Dados em sistema digital, além da concretização
da remoção de famílias em situação de vulnerabilidade social, que resi-
diam em assentamentos caracterizados como subnormais, proporcionan-
do-lhes moradia e melhores condições de vida, entre outros (AGEHAB,
2019).
No âmbito das Cidades Educadoras, em 2005, o Prefeito José Laerte
Tetila deu início ao projeto para a liação da cidade na Associação In-
ternacional das Cidades Educadoras (AICE)10. O objetivo era reunir os
melhores projetos para melhorar a qualidade de vida, para que, a partir
daí, fossem divulgados e servissem de incentivo para, posteriormente,
formarem um círculo virtuoso para a reprodução de novas ideias.
A coordenação política cou a cargo de um comitê gestor do proje-
to Cidade Educadora, capitaneado pelo assessor especial do governo por
Wilson Valentim Biasotto. Além de um comitê central, foram estabele-
cidos vários comitês locais ou setoriais para tratar de temas como saúde,
educação, cultura, esporte, trânsito e meio ambiente.
Conforme o coordenador do projeto, William Biasotto (2012, p.1),
a ideia inicial era transformar a cidade em uma grande escola. Assim,
todos os seus habitantes seriam, simultaneamente, educandos e educado-
res, a m de fortalecer a compreensão da sua relação e responsabilidade
individual com o espaço público. Segundo Biasotto (2012, p. 2), de 2005 a
2008 foram iniciados vários projetos, como seminários e ocinas, sob o
lema “Dourados: Cidade Educadora” para se discutir problemas como a
educação para o trânsito e a conservação do meio ambiente, entre outros.
O esforço reuniu até 89 representantes de órgãos públicos e entidades da
sociedade civil douradense11, e mais de 100 projetos desenvolvidos, alguns
dos quais foram inclusive apresentados em congressos internacionais e
protocolados no site ocial da AICE, o que trouxe certo prestígio para a
cidade de Dourados (BIASOTTO 2012).
Segundo Ghadie (2019, p.104). dentre as ações empreendidas, desta-
cam-se: a) o 1° Congresso Dourados Cidade Educadora (11 a 15 de junho
de 2007), “Desenvolvimento Regional Sustentável: a economia focada em
10. Segundo Ghadie (2019, p. 105),
o conceito de Cidades Educadoras
foi criado na cidade de Barcelona na
Espanha, a partir de 1990, quando re-
presentantes de governantes da região
estabeleceram o objetivo comum de
trabalhar em projetos e atividades para
melhorar a qualidade de vida de seus
habitantes. Quatro anos mais tarde,
durante a realização do III Congresso em
Bolonha, foi formalizada a Associação
Internacional das Cidades Educadoras
(AICE), que mantém a sede até hoje
em Barcelona. Constituída como uma
estrutura permanente para a colabora-
ção entre os governos locais que têm
como compromisso a Carta de Princípios
das Cidades Educadoras, até o ano de
2016 já possuía 488 cidades membros,
localizadas em 36 países de diferentes
continentes.
11. Uma das reuniões realizadas pelo
Comitê Central no ano de 2006 contou
com a presença dos membros de
órgãos públicos e representantes de
83 entidades da sociedade civil, entre
os quais estão: Centro de Formação de
Condutores, Embrapa, Fundação Tercei-
ro Milênio, Departamento de Trânsito
do Mato Grosso do Sul (DETRAN), 2º.
Grupamento de Bombeiros de Dourados,
Sindicato dos Moto-taxistas, Exército
Brasileiro, Coordenadoria Municipal da
Defesa Civil, e outros.