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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 9, n. 4, (dez. 2021), p. 90-105
Da nova economia do projetamento à
globalização instituída pela China
From new projectment economy to Chinese embedded
globalization
De la nueva economia del proyectamiento e la
globalizacion instituída por China
Elias Jabbour1
Alexis Dantas2
Javier Vadell3
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2021v9.n3.p90
Recebido em: 19 de março de 2021
Aprovado em: 20 de setembro de 2021
R
O artigo propõe uma interpretação da ascenção da China a partir de uma
síntese entre economia política Internacional e geopolítica e tem como objetivo
decifrar dois processos políticos que se entrecruzam. Um de caráter doméstico,
outro global. O primeiro é o surgimento da Nova Economia do Projetamento
na China com seus valores civilizacionais construídos ao longo de 5000 anos de
história que se apresenta hoje como um contraponto geopolítico à globaliza-
ção neoliberal liderada pela grande nança e pelos Estados Unidos. O segundo
processo é a globalização instituida pela China (GIC) que se apresenta como
um constructo histórico institucional e multidimensional que se fortalece com
a Iniciativa do Cinturão e a Rota. A nossa hipótese é que ambos processos se
conjugam, não sem contradições, desaando os fundamentos institucionais
liberais de Ocidente e delineando uma renovada geopolítica híbrida, baseada
num sistema multipolar com traços intercivilizatórios. A partir desta experiência
histórica comum poder-se-á construir um multilateralismo inclusivo.
Palavras-chave: China. Nova Economia do Projetamento. Globalização instituí-
da pela China. Desenvolvimento. Geopolítica.
A
The article proposes an interpretation of the rise of China from a synthesis
between international political economy and geopolitics and aims to decipher
two intertwined political processes. One domestic, the other global. The rst is
the emergence of the New Projecting Economy in China with its civilizational
values built over 5000 years of history that present itself today as a geopoliti-
cal counterpoint to neoliberal globalization led by big nance and the United
States. The second process is the embedded Chinese globalization (ECG), which
presents itself as an institutional and multidimensional historical construct that
1. Professor Adjunto da Faculdade de
Ciências Econômicas da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ)
e dos Programas de Pós-Graduação
em Ciências Econômicas (PPGCE) e
em Relações Internacionais (PPGRI) da
mesma universidade.
Email: eliasjabbour@terra.com.br
2. Professor Adjunto da Faculdade de
Ciências Econômicas da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (FCE-UERJ)
e dos Programas de Pós-Graduação
em Ciências Econômicas (PPGCE) e
em Relações Internacionais (PPGRI) da
mesma universidade.
Email: alexis.dantas@gmail.com
3. Professor Adjunto do curso de Rela-
ções Internacionais da PUC-MG.
email: javier.vadell@gmail.com
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Elias Jabbour, Alexis Dantas, Javier Vadell Da nova economia do projetamento à globalização instuída pela China
is strengthened with the Belt and Road Initiative (BRI). Our hypothesis is that
both processes come together, not without contradictions, challenging the libe-
ral institutional foundations of the West, outlining a renewed hybrid geopolitics,
based on a multipolar system with inter-civilizing characteristics. From this
common historical experience, an inclusive multilateralism could be built.
Key words: China. New Projectment Economy. Chinese embedded globaliza-
tion. Development. Geopolitics.
R
El artículo propone una interpretación del ascenso de China a partir de una
síntesis entre economía política internacional y geopolítica y pretende descifrar
dos procesos políticos entrelazados. Uno doméstico, el otro global. El primero
es el surgimiento de la nueva economia del proyectaminento en China con sus
valores de civilización construidos a lo largo de 5000 años de historia que se
presenta hoy como un contrapunto geopolítico a la globalización neoliberal
liderada por las grandes nanzas y los Estados Unidos. El segundo proceso es
la globalización instituida por China (GIC) que se presenta como un construc-
to histórico institucional y multidimensional que se fortalece con la Iniciativa
Cinturon y Ruta. Nuestra hipótesis es que ambos procesos conuyen, no sin
contradicciones, desaando los cimientos institucionales liberales de Occidente
y perlando una geopolítica híbrida renovada, basada en un sistema multipolar
con rasgos intercivilizantes. A partir de esta experiencia histórica común, se
puede construir un multilateralismo inclusivo.
Palabras clave: China. Nueva economia del proyectamiento. Globalizacion
instituida por China. Desarrojo. Geopolitica.
Introdução
Os condicionantes geopolíticos sobre os acontecimentos de diver-
sas ordens não é uma questão menor, pois – no limite do óbvio – envolve
o papel do Estado nacional, no curso dos aconcecimentos no sistema in-
ternacional. Por outro lado, o lugar do Estado nas mais diversas teorias
do desenvolvimento ainda é algo que demanda síntese. Por exemplo, os
grandes autores – desde Adam Smith – que estiveram ocupados em de-
senvolver teorias descritivas do processo de desenvolvimento econômico
não colocam o Estado no núcleo de suas teorias. Por exemplo, em Schum-
peter (1934 [2012]; 1939; 1942), o Estado está presente em toda sua obra,
assim como em Keynes (1936). Porém, em ambos a separação entre teoria
e história é digna de destaque. Esta relação é mais explicita em autores in-
uenciados pela losoa clássica alemã (Hegel), cabendo destaque a Hir-
shman (1958) e sua noção de desenvolvimento desequilibrado e Rangel
(1959 [2005]; 1981 [2005]) com os desdobramentos à teoria econômica do
conceito de dualidade básica da economia brasileira.
Apesar de ser uma pauta com desenvolvimento ainda inconcluso4,
propomos uma síntese entre a a Economia Política Internacional e a Geo-
política partindo de dois níveis de abstração, a saber:
1. reconhecendo o Estado nacional como o núcleo da teoria eco-
mica e essencial para a discussão do desenvolvimento ecomico
2. percebendo que as ações dos Estados são movidas e condicio-
nadas geopoliticamente.
4. Do ponto de vista empírico, Mazzuca-
to (2013) evidencia esta necessidade.
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Neste sentido, nenhuma unidade de alise é tão rica quanto a
chinesa para aqueles ocupados sobre as questões que envolvem o Esta-
do nacional moderno e o processo de desenvolvimento como sujeito e
objeto de uma construção geopolítica. Por exemplo, podemos perceber
as reformas econômicas da República Popular da China (RPC) de 1978
como uma síntese da percepção das possibilidades abertas pela nova or-
dem geopolítica inaugurada pelas transformações da economia política
global, que implicou na decadência do fordismo, e de seus “clones” no
antigo mundo socialista, e a ofensiva estadunidenese contra as políticas
macroeconômicas japonesas (GALBRAITH, 1987, p. 247). Ambos os pro-
cessos abriram condições para uma “globalização” guiada pela grande
nança e uma recomposição geográca da grande manufatura (BELLUZ-
ZO, 2012; JABBOUR E DANTAS, 2017). Em resumo, os governantes chi-
neses perceberam a oportunidade que se abria frente a eles e a utilizaram
em benecio de sua própria estratégia nacional.
É de conhecimento público a trajetória chinesa desde então. Entre
1978 e 2019 sua taxa real média de crescimento do PIB foi de 9,1%. A
renda per capita acompanhou similar taxa de crescimento (9,0), saindo
de US$ 280, em 1980 para US$ 8827, em 2018. Entre 1982 e 2011 a taxa de
investimentos x PIB foi de 36,9% e desde 2004 esta taxa opera acima da
casa dos 40% (World Bank Data). Desde 2013 é o país com maior volume
de comércio exterior no mundo, gerando efeitos generalizados sobre a
oferta e demanda de todos os países do mundo. O país já o maior credor
liquido do mundo. Em outras palavras, a trajetória chinesa desde 1978 se-
guiu um roteiro interessante e se caracterizou pela transformação do país
em uma potência comercial, industrial e nanceira. O tamanho de sua
economia, território e população é proporcional aos impactos políticos
e geopolíticos de seu processo de desenvolvimento econômico. Eis um
ponto fundamental.
A construção de imensa base produtiva acompanhada pela incorpo-
ração à economia real de plataformas e/ou instrumentos, como o 5G, In-
teligência Artical e do Big Data, não somente elevou a patamares novos
e superiores a capacidade de planicação e intervenção do Estado sobre o
território. Um patamar superior de desenvolvimento, interno ao núcleo
produtivo da economia (96 grandes conglomerados empresariais estatais)
surge e tem sido nomeado por nós de Nova Economia do Projetamento
(JABBOUR; DANTAS E ESPÍNDOLA, 2020)
O alcance externo do surgimento deste novo paradigma em maté-
ria de gestão e coordenação da produção e de planicação da economia
reete-se e se projeta ao mundo via a “Iniciativa do Cinturão e Rota”, ace-
lerando o processo de reestruturação hegemônica global e, consequente-
mente, uma nova globalização e reconguração da divisão internacional
do trabalho agora centrada na China (HENDLER, 2019). A dimica que
levou ao surgimento desta Nova Economia do Projetamento está intrin-
secamente ligada ao surgimento e consolidação econômica e geopolítica
da China que tem suas raízes num novo tipo de formação econômico-so-
cial em fase embrionária: o socialismo de mercado.
Desta maneira, o objetivo deste artigo é fazer uma discussão que
relacione tanto o surgimento da Nova Economia do Projetamento e seus
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Elias Jabbour, Alexis Dantas, Javier Vadell Da nova economia do projetamento à globalização instuída pela China
impactos externos sobre os valores civilizacionais construídos ao longo
de 5000 anos de história da China, levando ao surgimento de um contra-
ponto geopolítico à globalização neoliberal liderada pela grande nança
da hegemonia estadunidense. Adotaremos aqui o conceito desenvolvido
por Vadell, Secches e Burger (2019) de “Globalização Instituida pela Chi-
na”5 (GIC), que se apresenta como um constructo histórico institucional e
multidimensional que se fortalece com a iniciativa do Cinturão e a Rota,
como esqueleto infraestrututral do GIC. A nossa hipótese é que ambos
processos se conjugam, não sem contradições, desaando os fundamen-
tos institucionais liberais de Ocidente numa renovada geopolítica num
sistema multipolar com traços intercivilizatórios que obrigam a reetir a
respeito da construção de um genuíno e inclusivo multilateralismo. Essa
geopolítica intercivilizatória, no plano ideacional, se fundamenta no pen-
samento de comunidade de destino compartilhada para a humanidade
(CDCH) que desaa o sistema westfaliano.
O artigo, além desta introdução está divido em outras duas seções
onde discutiremos a construção intelectual que nos levou ao conceito de
Nova Economia de Projetamento e o contraponto chinês à globalização
neoliberal, o GIC. Nas conclusões serão levantadas algumas sínteses.
Uma dupla disruptura intelectual
Há cerca de três anos temos observado uma série de transforma-
ções qualitativas no seio da economia chinesa. De forma mais detida, em
um primeiro momento observamos que a capacidade do Estado chinês
em programar um imenso pacote scal de cerca de US$ 600 bilhões ao
enfrentamento da crise nanceira de 2008 deveria ser objeto de um estu-
do mais aprofundado do que o convencional. Ou seja, o objeto não seria
o pacote scal em si, mas os mecanismos de elaboração e execução que
foram postos em marcha frente à crise econômica.
Em um primeiro momento percebemos que o fortalecimento dos
Grandes Conglomerados Empresariais Estatais (GCEE) – assim como a
conformação de um capilarizado sistema nanceiro estatal e de institui-
ções capazes de coordenar a ação do Estado na economia de forma efeti-
va, como a SASAC (State-Owned Assets Supervision and Administration
Commission of the State Council) – não era um m em si mesmo.
Esse fenômeno carrega historicidade e outorga sentido conceitual
ao que se conhece como “socialismo de mercado”, algo muito distante
de um propalado “capitalismo de Estado”. Em outros termos, na Chi-
na está emergindo uma nova formação econômico-social (JABBOUR E
DANTAS, 2018) que denominamos de “socialismo de mercado. Consi-
deramos a formação econômico-social como uma categoria central do
materialismo histórico, como a “totalidade e unidade de todas as esferas –
estruturais, superestruturais ou outras – da vida social, na (des)continui-
dade de seu desenvolvimento” (SERENI, 2013, p. 319). Nesse sentido, uma
formação econômico-social é uma “estrutura concreta, organizada, ca-
racterizada por um modo de produção dominante e pela articulação em
torno dele de um complexo conjunto de modos de produção subordina-
dos” (AMIN, 1974, p. 64). Gabriele (2020) chega a conclusões semelhantes
5. Em inglês: “Embedded Chinese
Globalization” (ECG)
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 9, n. 4, (dez. 2021), p. 90-105
colocando o socialismo de mercado chinês como a primeira experiência
de uma nova classe de formações econômico sociais contemporâneas. O
Vietnã seria a segunda experiência.
Essa nova formação econômico-social é fruto de uma série de mu-
danças institucionais que foram se demarcando ao longo das últimas
quatro décadas na conformação de um modo de produção socialista do-
minante, embora embrionário, àquela formação. Seu núcleo são os 96
GCEE, as dezenas de bancos estatais de desenvolvimento e o próprio
poder político exercido pelo Partido Comunista da China (PCCh) que
confere os contornos estratégicos a um poder de novo tipo que surge no
mundo com a Revolução de 1949.
No interior desta nova formação econômico-social, há um modo de
produção capitalista cuja musculatura é formada ao longo da década de
1990, mediada por um intenso processo de privatizões e estímulo esta-
tal às relações de mercado e ao desenvolvimento das forças produtivas..
As reformas rurais de 1978, além de fazerem surgir uma classe de empre-
sas não-capitalistas orientadas ao mercado, também foi um fator de proa
ao surgimento de milhares de empresários, outrora camponeses médios.
Mas a contradição entre a alise e a realidade se impõe. Pesquisas
recentes zeram apontamentos interessantes e acertados sobre a partici-
pação e controle estatal sobre a riqueza e os uxos de renda na China. Pi-
ketty et al (2017) e Naughton (2017) têm conclusões semelhantes demons-
trando que o Estado chinês controla atualmente cerca de 30% da riqueza
produzida no país, enquanto que em 1978 esse controle alcançava 70%.
Porém, devemos destacar o aspecto qualitativo crucial que não se mencio-
na nessas pesquisas de foco mais quantitativo. Atualmente o Estado chinês
conta com uma capacidade muito maior de intervenção sobre a realidade
do que o tinha no nal da década de 1970. Como destaca He (2021), o pa-
pel do PCCh é mais proeminente hoje do que na década de 1990, embora
observemos que hoje as empresas privadas representam mais de 60% do
PIB da China e empregam mais de 80% da população ativa urbana. Como
se entende esse paradoxo? Uma pesquisa recente mostra que as células do
partido estão presentes e são cruciais nas empresas de propriedade não
públicas. De acordo com He (2021), baseado numa pesquisa de acompa-
nhamento nacional, a campanha de reconstrução do PCCh obteve alguns
resultados positivos. A proporção de empresas privadas com células par-
tidárias passou de 27% em 2002 para 48% em 2018. Isto é, quase a metade
das empresas não públicas possuem células do PCCh. Essa característica e
evolução da relação partido-empresas permitu que organizações partidá-
rias de base forneçam um canal para que as rmas alcancem os formulado-
res de políticas, os planejadores, dando aos proprierios acesso a melhores
informações sobre as políticas de desenvolvimento recentes e ajudando-os
a evitar tomar decisões equivocadas no ambiente de nogócios.
Concluímos, desta maneira, que a elevação da capacidade do Esta-
do em intervir na realidade qualitativamente novedosa impõe uma ne-
cessária revisão conceitual e teórica para compreender o fenômeno novo.
Faz-se necessária uma verdadeira disruptura intelectual.
A nossa primeira disrupção inicia-se com a percepção de a China
ter-se tornado o berço de uma nova formação econômico-social. Para o
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Elias Jabbour, Alexis Dantas, Javier Vadell Da nova economia do projetamento à globalização instuída pela China
nosso propósito, a retomada do conceito de formação econômico-social
tem sido fundamental. Neste sentido a contribuição de Sereni (1971 [2013])
deve ser assinalada por trazer à tona uma totalidade histórica muito cara
a marxistas como Lênin, Mao Zedong, Milton Santos, Althusser e Ignacio
Rangel. Concordamos com Silva (2009, p. 1), para quem a categoria de
formação econômico-social teve em Emilio Sereni “a sua mais acabada e
rica compreensão”, citando a seguinte passagem: (...) a noção (...) se coloca
inequivocamente no plano da história, que é (...) o da totalidade e unidade
de todas as esferas (estruturais, supra estruturais e outras) da vida social
na continuidade e ao mesmo tempo na descontinuidade do seu desenvol-
vimento histórico (SERENI, 2013 p. 316).
A retomada do conceito de formação econômico-social é apenas
a ponta do iceberg que nos permitiu observar a totalidade e suas partes,
percebendo a unidade de contrários que marca o surgimento e o desen-
volvimento histórico de uma formação econômico-social, assim como as
tendências em desenvolvimento em seu modo de produção dominante,
que também é o mais avançado. Desta maneira, abre-se a possibilidade
de outra disruptura intelectual com a percepção de novas regularidades
internas ao núcleo produtivo e de planejamento da China, as GCEE.
Essas novas regularidades às quais nos referimos estão diretamente
relacionadas às políticas industriais mais proativas em matéria de inovação
tecnológica que tem tomado lugar na RPC desde o lançamento do 1
Plano Quinquenal6. Ao lado disso, a formação da SASAC em 2003 foi fun-
damental na consolidação do processo de corporatização das antigas em-
presas estatais e sua transformação em GCEE altamente ecientes e ino-
vadoras7. Elas estão diretamente relacionadas com pelo menos três fatores:
1) o surgimento de novas e superiores formas de planicação econômica:
que é causa e consequência do progresso técnico percebido nas GCEE e da
incorporação à economia real de todas as possibilidades abertas, à elevação
da capacidade de planicação, pela plataforma 5G, a Inteligência Articial
e o Big Data; 2) a China completou a construção de um poderoso setor
produtivo, amplamente baseado na geração de valor, criando condições de
gerar o que Marx chamou de setor improdutivo da economia8 e; 3) pres-
sões sociais e a emergência de uma combativa classe trabalhadora urbana
levou o governo chinês a ser mais responsivo em relação às demandas
populares e as imensas contradições sociais e ambientais acumuladas ao
longo das reformas ecomicas9. Nesse rumo a China parece estar transi-
tando de uma economia voltada à construção de valores de troca a outra
baseada nos chamados valores de uso sob forma de imensos bens públicos.
O aparecimento de um imenso setor produtivo na economia chi-
nesa ladeado por uma série de instrumentos políticos, nanceiros e ins-
titucionais têm possibilitado mais um salto qualitativo dessa dinâmica
sociedade. Por um lado a predomincia do planejamento estatal sobre
os gânglios vitais da grande produção e da grande nança ao lado de
uma soberania monetária particular permite ao Estado gerir um proces-
so que entrelaça tanto uma maior restrição à ação da lei do valor quanto a
transição de uma planicação orientada à geração de valor e ao mercado
para o que chamamos de planejamento baseado no projeto (GABRIELE
E JABBOUR, no prelo).
6. Sobre isso ler Lo e Wu (2014).
7. A última lista Forbes das 500 maiores
companhias do mundo aponta para
uma, ainda lenta, transição de poder
sistêmico no mundo: pela primeira vez
na história desde seu lançamento em
1990 a referida lista não tem mais os
Estados Unidos como o país com o
maior número de empresas na lista; foi
ultrapassado pela China que conta com
129 companhias na lista (sendo delas
seis de Taiwan) contra 121 dos Estados
Unidos
8. Marx, como Smith, separava todas as
atividades econômicas entre produtivas
e improdutivas. As atividades produtivas
estão relacionadas aos setores de bens
e equipamentos geradores de valor, en-
quanto as atividades improdutivas estão
relacionadas à manutenção da ordem
social. A nosso ver o desenvolvimento
recente do capitalismo deve nos obrigar
a rever estes dois conceitos. Por outro
lado, a fim de compreender o socialismo
em nosso tempo, estendemos ao setor
improdutivo aquele apontado por Marx
em “A Crítica ao Programa de Gotha”
(1891) como parte dos chamados “fun-
dos de consumo”, para onde deveriam
ser dirigidos crescentes excedentes
do setor produtivo da economia. Tais
fundos de consumo teriam expressão
no desenvolvimento dos setores como
de educação, saúde, cultura, esporte,
recreação etc.
9. Yu (2015) discorre sobre a formação e
desenvolvimento de um amplo sistema
de saúde pública na China. O Global
Wage Report 2018 da Organização
Internacional do Trabalho atesta a
duplicação dos salários médios na China
entre 2008 e 2017.
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 9, n. 4, (dez. 2021), p. 90-105
É esta transformação operada ao longo dos últimos vinte anos que
explica, em grande medida, a crescente capacidade de intervenção do
Estado chinês sobre o território e a economia do país, independente da
queda da participação do Estado no que tange ao controle dos uxos de
renda no país.
Face a experiência sui generis da China, acumulamos evidências
sucientes que apontam a uma segunda disruptura intelectual, que se
faz necessária diante da mudança orgânica do sistema econômico chinês
em direção a algo complemente superior em matéria de organização da
produção. A nossa premissa é que as teorias convencionais ortodoxas e
heterodoxas não são mais sucientes para explicar a natureza do fenôme-
no em marcha na China.
Algumas das categorias fundamentais de alise lançadas pelo eco-
nomista brasileiro Ignacio Rangel em seu esquecido livro “Elementos de
Economia do Projetamento” (1959) lançaram as luzes fundamentais para
a elaboração de um novo corpo conceitual e categorial capaz de dar conta
da nova realidade econômica e social da China contemponea. Com essa
inspiração, surge assim o que temos chamado desde então de “Nova Eco-
nomia do Projetamento”, conceito que pode ser resumido, em princípio,
como um estágio superior de desenvolvimento alcançado pela China, re-
sultado do acúmulo de todo um novo acervo em matéria de planicação
econômica e organização e racionalização da produção em grande escala.
Sob o prisma de uma base material que avançou de forma rápida
nas últimas décadas, de uma sociedade que demanda agilidade de ação
estatal, construção de grandes bens públicos e enfrentamento a uma série
de desaos colocados pela própria conjuntura política, uma leitura atenta
de “Elementos de Economia do Projetamento” é necessária para, nas pa-
lavras de Castro (2014, p. 206), perceber que:
(...) o projetamento é uma prática que se desenvolve em paralelo com uma teoria
que evolui no tempo e se alimenta com os problemas e soluções enfrentadas por
aproximações sucessivas e sistematizando (...) experiências dos analistas que,
naturalmente, são de diferentes escolas teóricas e de diferentes prossões.
No caso especíco da China, o projetamento se expressa não so-
mente na elevada capacidade de ação estatal diante de emergências como
o da pandemia de Covid-19, mas principalmente a partir da percepção de
algumas especicidades voltadas ao bem-estar geral da sociedade. Neste
sentido, na China – como em qualquer lugar – as categorias fundamentais
do projeto sintetizadas no custo e benefício podem ser percebidas como
extensão da visão prometeica rangeliana. A proposta por Rangel recoloca
os termos da relação custo-benefício da seguinte forma:
(...) os conceitos de custo e benefício devem ser reformulados, no sentido de que
comportem não apenas o custo e o benefício diretos, mas também os indiretos.
Nosso critério deve ser o custo benefício para a sociedade, não para a empresa
(RANGEL, 1956 [2005], p. 257).
Uma economia e uma sociedade capazes de restringir a ação da lei
do valor e se voltar a consecução de grandes projetos levou a China e se
caracterizar por ser uma economia voltada, como já dito, à construção
de grandes bens públicos, o que nos remete a Marx e à formação do setor
improdutivo da economia. Por outro lado, o avanço chinês no rumo de
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Elias Jabbour, Alexis Dantas, Javier Vadell Da nova economia do projetamento à globalização instuída pela China
uma economia controlada pela razão humana condiz com a construção
de algumas categorias de alise e que tem servido de sustentação ao
conceito renovado de projetamento como forma histórica mais avançada
do socialismo com características chinesas. A construção destas catego-
rias tem seguido rigor histórico e complexa base de dados.
Do ponto de vista da “Economia Política da Nova Economia do
Projetamento” podemos apontar para quatro categorias de alise: 1) a
possibilidade aberta de superação da incerteza keynesiana, fruto do do-
mínio público sobre os elementos fundamentais do processo de produ-
ção e nanciamento da economia do país; 2) a plena soberania monetária
como fundamento material essencial à explicação de uma economia que
não somente tem tido êxito à restrição da ação da lei do valor, mas que
não sofre de nenhum grau de restrição nanceira, dada a utilização cons-
ciente da criação de moeda para ns de execução de grandes projetos;
Um ponto a ser destacado, e que tem relação direta com o papel do
processo produtivo sob controle da razão humana, está na terceira catego-
ria de alise sintetizada na: 3) ação consciente de milhares de projetistas
ligados tanto às necessidades de catching-up quanto à subordinação da exe-
cução de projetos visando a superação do desemprego. Tal subordinação foi
a circunsncia que levou a China a lograr o êxito de planicar a destruição
criativa de forma que uma queda no crescimento econômico recente não
impactasse na geração anual de cerca de 13 milhões de empregos urbanos.
Em quarto lugar: 4) o papel de vanguarda do PCCh condicionado
por melhoras substanciais nos padrões de vida do povo, a elevação do po-
derio nacional e a instituição de mega-projetos voltados ao bem estar da
sociedade. A contraparte subjetiva pode ser sintetizada na categoria que
chamamos de pacto tácito de adesão. O caso da prontidão nacional, que
se observou no combate à então epidemia de COVID-19 em Wuhan – que
depois viria a ser declarada pandemia – quando o PCCh levou 450 mil vo-
luntários e o Estado priorizou vidas em detrimento do lucro empresarial,
foi a cabal demonstração de que novos marcos de sociabilidade operam
sobre o concreto. O pacto tácito de adesão fez-se sentir, suplantando as
sociabilidades de formações econômico-sociais capitalistas, pela via do
ressurgimento de vozes de Estado-sociedade proclamando uma “Guerra
Popular” contra o vírus10.
Dois processos que se entrecuzam
Uma questão, quase em nível de senso comum, é relacionada ao
que seria uma “geopolítica da China”. Ou seja, qual seria a estratégia na-
cional chinesa diante de seus objetivos internos de curto, médio e longo
prazos? Propomos uma resposta inicial que abarque dois níveis distintos
de alise. A primeira relacionada a uma visão geopolítica centrada na so-
brevivência, manutenção, defesa e desenvolvimento de seu Estado nacio-
nal e civilização milenares, um “Estado civilizacional” (ZHANG, 2012).
Esta visão deve entender-se a partir de uma clara fusão entre teoria e his-
tória no processo de construir marcos teóricos, conceituais e categoriais
que sirvam de base à compreensão do que podemos chamar, também, de
geopolítica da Nova Economia do Projetamento.
10. Lo e Shi (2020) fazem interessante
análise comparativa entre China e
Estados Unidos no combate à pandemia
baseada nos conceitos de saída, voz
e lealdade desenvolvidos em famoso
livro de Hirschman (1970). Segundo os
autores, o caso chinês seria um “tough
model” e os EUA, um “loose model”.
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 9, n. 4, (dez. 2021), p. 90-105
No segundo nível de análise, dialeticamente relacionada com a
primeira, está a própria globalização que o processo expansivo da China
impulsa, tendo por base os avanços econômicos atrelados às novas e supe-
riores formas de planicação econômica que surgem no país. Em outros
termos, a sua projeção de poder. É nesse momento que adotamos a abor-
dagem desenvolvida por Vadell, Secches e Burger (2019), que contrapõe a
presente globalização (neoliberal) com a “Globalização Institucionalizada
pela China” (GIC), tendo como marco infraestrutural a Iniciativa Cinturão
e a Rota (Belt and Road Initiative). Em termos mais diretos, signica que:
La crisis económica de 2008 y el rol protagonista de China promovieron el pro-
ceso dialéctico del “doble movimiento”, (...) donde el neoliberalismo económico
y su modelo de globalización dio lugar a este proceso de contra-movimiento
encabezado por China. En este sentido, nuestra hipótesis es que en esta etapa
está ocurriendo un proceso de globalización institucionalizada con caracterís-
ticas chinas a escala global, que no abandona los principios liberales, como fue
destacado por Xi Jinping, especialmente después de la radicalización del discurso
proteccionista del presidente de los EEUU, Donald Trump (VADELL, SECCHES
E BURGER, 2019, p. 51)
o consideramos prudente relacionar a GIC como um construto
que tem operado na prática como uma alternativa à globalização proposta
pelo Atlântico Norte sem nos remetermos a alguns contornos históricos
fundamentais e que servem de poderosa base analítica aos interessados
na chamada “Geopolítica da China”. Uma teoria das relações internacio-
nais chinesas, necessariamente, deve ter como ponto de partida caracte-
rísticas histórico-civilizacionais que não só demarcam até os dias de hoje
o horizonte espiritual do povo chinês, mas que também estão presentes
no modus operandi da estratégia internacional chinesa. Essa GIC, embo-
ra embrionária, está condicionando os contornos de uma nova geopolíti-
ca especíca que, ancorada no BRI, An, Sharp e Shaw (2020) categorizam
como uma “geopolítica confucionista híbrida”. Essa proposta teórica re-
conhece o forte papel do confucionismo na continuidade da cultura chi-
nesa antiga até o presente e também enfatiza a adaptabilidade estratégica
do confucionismo para permitir que a cultura política chinesa dominante
responda de novas maneiras aos contextos em mudança (AN; SHARP,
SHAW, 2020, p. 13). Em outros termos, uma geopolítica de caráter inter-
civilizatória embrionária que está se congurando a partir del GIC.
Por outro lado, determinados apontamentos históricos devem ser
postos no debate. Diante de uma nova vaga histórica caracterizada pela
comparação entre Estados e instituões, muitos analistas foram levados
a ressuscitar, de forma vulgar, expressões como o “despotismo asiático”.
Abrindo parêntese, na verdade, a história das relações entre ocidente e
oriente são muito marcadas de idas e vindas. Se de um lado Heródoto,
pai da história e da geograa, referiu-se ao Egito como a “dádiva do Nilo”,
Aristeles foi o primeiro a se referir à China como “despotismo orien-
tal. O pós-iluminismo marcou o rompimento de uma necessária era de
convergência civilizacional entre a China e a Europa, levada a cabo por
jesuítas (SPENCE, 1985; XIANG, 2020). Desde então, a democracia liberal
transformou-se em uma religião reveladora de um complexo de superio-
ridade ocidental que perdura até os nossos dias, mesmo entre círculos de
pensadores progressistas.
99
Elias Jabbour, Alexis Dantas, Javier Vadell Da nova economia do projetamento à globalização instuída pela China
A China é uma civilização milenar, nascida após o processo de
sedentarização de tribos nômades nos grandes vales dos rios Yangtsé e
Amarelo. Com cerca de 5000 anos de existência, esta civilização passou
a orbitar em torno de milhares de famílias camponesas cuja produção
em larga escala de arroz e demais cereais foi-se tornando a principal ocu-
pação laboral. As possibilidades abertas pela abundância de água e solo
fértil levou a um rápido desenvolvimento de suas forças produtivas ma-
teriais, criando condições ao precoce surgimento de uma larga economia
de mercado11. Neste aspecto:
Antes de 2000 a. C. surgiram, em vários pontos distintos, elites gover-
namentais com o papel principal de construir pequenas obras regionais
de engenharia de irrigação, ao mesmo tempo em que nasceram cida-
des amuralhadas, trocas comerciais e especializações artesanais (...). As
aldeias camponesas eram fontes de mão-de-obra compulsória para os
trabalhos de engenharia mais amplos (...). Pouco a pouco foi nascen-
do e se consolidando o modo de produção asiático (MAMIGONIAN,
2008, p. 149).
O modo de produção tributário centralizado, como destaca Amin
(1976) – conceptualizando de maneira precisa o modo de produção asiá-
tico – consolidou-se sob as bases de uma organização de caráter admi-
nistrativo que estabelecia relações de vassalagem direta com as famílias
camponeas. Essa unidade administrativa tinha como base as já citadas
milhares de famílias camponesas cuja subjetividade espelhavam fortes
estruturas igualitárias dando margem a um precoce espírito tanto demo-
crático quanto insurgente diante de estruturas administrativas corrompi-
das, conforme as inúmeras revoltas camponesas comprovam12. No limite,
a administração pública e as famílias camponesas formavam dois polos
que entravam contradão, ciclicamente. Por outro lado e como amalga-
ma ideogica, o confucionismo foi crucial na consolidação da civilização
chinesa e os nervos do governo da administração burocrática secular que
impressionou intelectuais ocidentais como Leibniz y Weber. A diferença
de ocidente, na arte de governo no decorrer das dinastias chinesas, o sa-
grado não primou sobre o secular, mas o secular tornou-se sagrado13.
A disciplina envolvida no autocultivo assume um elemento contemplativo no
Neo-Confucionismo que está amplamente ausente na tradição clássica, mas a ên-
fase no autocultivo e na disciplina pessoal é constante. O secular pode se tornar
sagrado” (LEIBNIZ, 1994, p. 32)14
Guardadas as devidas proporções históricas, a China já surge como
uma forma primitiva de Estado desenvolvimentista secular (JABBOUR,
2012)15. Essa característica é resultado de um Estado nacional que nasce
tendo diante de si a tarefa de organizar, elaborar e executar milhares
de intervenções sobre o território diante da necessidade de contenção
de enchentes e de construção de cidades comerciais e administrativas.
o somente isso, observando a história da civilização e seu “Estado
criatura” percebendo a existência de ciclos expansivos e depressivos. Por
exemplo, em sua primeira fase descendente (770 a 71 a.C.) a metalurgia
de bronze espraiou-se sobre o território, sendo fator fundamental à ele-
vação da produtividade do trabalho no campo. Com isso, abriu-se uma
nova fase ascendente com a formação do Estado nacional, momento que
11. Importante salientar que os
camponeses chineses nunca viveram
sob o regime de servidão, ao contrário
do campesinato russo (MAMIGONIAN,
2008, p. 149)
12. Sobre o modo de produção asiático,
ler: Marx (1975) e Marx e Engels (1969).
13. A dinastia Han (206 a.C.- 220 d.
C.) montou um sofisticado aparelho de
Estado, incluindo a introdução de con-
cursos públicos à seleção de burocratas
do Estado.
14. No original: “The discipline involved
in self-cultivation takes on a contempla-
tive element in Neo-Confucianism that
is largely absent in the classical tradi-
tion, but the emphasis on self-cultiva-
tion and personal discipline is constant.
The secular can become sacred”.
15. Segundo Mamigonian (2008, p.
150): (...) As monarquias se consoli-
daram, suas capitais administrativas
fortificadas chegavam a alcançar 35 km
quadrados, seus maiores palácios 10 mil
metros quadrados, as forças militares se
tornaram permanentes, surgiu um siste-
mas de leis e a escrita se consolidou.
100
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 9, n. 4, (dez. 2021), p. 90-105
marcou – por exemplo – a imediata retomada da construção da Grande
Muralha com mais de 4.400 quimetros de extensão e contruída em
apenas dez anos.
É útil assinalar algo sobre as perspectivas subjetivas do povo chinês
e suas origens. A noção desenvolvida por Marx, ainda no livro 1 de “O
Capital, de trabalho necessário e trabalho excedente nos permite pensar
nas relações homem x natureza e a formação de subjetividades derivadas
desta relação. Se um ambiente natural marcado pela existência de vales
fertéis tornam o trabalho necessário menor em relação a pontos do globo
onde a hostilidade da natureza leva a um árduo trabalho humano para
seu domínio, não seria nenhum exagero armar que uma civilização chi-
nesa possa produzir losoas de cunho civilizatórias e tolerantes como
o confucionismo e o taoísmo. O oposto pode ser observado nos Esta-
dos Unidos da América (EUA), onde o horizonte espiritual é fortemente
inuenciado por ideologias de cunho religiosa nascidas nos ambientes
desérticos no Mediterrâneo oriental. Noções como o “destino manifes-
to” ou “Nova Canaã” são muito presentes nas políticas externas norte-
-americanas desde seu nascimento como nação. Por outro lado, não é de
estranhar que uma linha reta entre as lições de tolerância típicas de Lao
Tsé e Confúcio estejam amplamente presentes nos processos de inserção
internacional chinesa.
Nos dias de hoje, a China se apresenta historicamente como ponto
focal do sistema global multipolar do século XXI, reforçando uma parti-
cular GIC. Institucionalmente, ela deve ser entendida a partir de círculos
concêntricos que se reforçam simultaneamente: 1) o primeiro é a promo-
ção da assistência e cooperação às instituições multilaterais existentes (sis-
tema das Nações Unidas, FMI, Banco Mundial, etc.) com demandas por
um papel mais proeminente para os países em desenvolvimento e emer-
gentes com forte defesa ao multilateralismo; 2) o segundo círculo con-
cêntrico se fundamenta na promoção das relações minilaterais (Wang,
2014) em dois sentidos: realizando acordos entre a RPC com regiões es-
pecícas, via “política de fóruns” com países em desenvolvimento e, em
segundo lugar, acordos de comércio e investimento que a China assinou
com diferentes regiões do mundo (ex. da Parceria Regional Econômica
Abrangente – RCEP – e do Acordo integral de investimentos com a UE);
3) o núcleo deste círculo concêntrico são as relações bilaterais cssicas
com acordos mais ou menos abrangentes.
Esse constructo histórico-institucional multidimensional se conso-
lida com a inauguração da Iniciativa do Cinturão e a Rota ou Belt and
Road Iniciative (BRI), em inglês, em 2013, por parte do presidente Xi
Jinping (VADELL, SECCHES E BURGER, 2019), como uma espinha dor-
sal da rede de infraestrutura e tecnologia que interliga os ts círculos,
dando sentido material ao GIC y conformando uma renovada geopolítica
intercivilizatória.
O poder econômico e a expansão das relações internacionais da
China a obrigam necessariamente a reforçar o seu poder brando (soft po-
wer) que se apresenta, não só com o estímulo ao conhecimento da cultura
chinesa e das relações entre os povos, mas, sobretudo, a partir da ideia
de Comunidade do Destino Compartilhada pela Humanidade (CDCPH)
101
Elias Jabbour, Alexis Dantas, Javier Vadell Da nova economia do projetamento à globalização instuída pela China
que, em grande medida, questiona os paradigmas do capitalismo e do
universalismo ocidental.
Como destacam Vadell e Staiano (2020), a ideia geral de CDCPH16
aparece em setembro de 2011 no Livro Branco sobre o Desenvolvimento
Pacíco e posteriormente no discurso de Wen Jiabao durante a XIV Cú-
pula China-ASEAN. Essa expressão é retomada por Hu Jintao no discurso
de abertura do XVIII Congresso Nacional do Partido Comunista em 2012
(Hu, 2012), onde se aperfeiçoa o termo como: “comunidade humana com
um futuro compartilhado”. Não obstante, foi Xi Jinping, no seu famoso
discurso de 2015 à raíz do 70º aniversário das Nações Unidas, que expres-
sou a ideia da construção de “uma comunidade de destino compartilha-
da para a humanidade” (Xi, 2015), que inclui cinco conteúdos: associação
política, segurança, desenvolvimento econômico, trocas culturais e meio
ambiente. Essa perspectiva foi retomada no discurso nas Naciones Unidas,
em janeiro de 2017 (Xi, 2017b) e conrmada em outubro do mesmo ano no
relatório do XIX Congreso Nacional do Partido Comunista: a necessidade
essencial de “construir uma comunidade de futuro compartilhada” (Xi,
2017a). Na reforma de 2018, a noção: “comunidade de destino compartilha-
da para a humanidade”, 人类命运共同体 (Rénlèi mìngyùn gòngtóngtǐ)
foi incorporada à Constituição da China como parte do pensamento de
Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para uma nova
era. Desta manera, torna-se um objetivo chave das relações internacionais
de China rumo à criação de uma nova orden internacional que inclui a
relacionalidade, a autoridade humana e a simbiosis” (STAIANO, 2018).
É sugestiva, neste sentido, a própria concepção de “Comunidade de
Destino Compartilhado para a Humanidade” como a ideia-força proposta
desde o governo Hu Jintao e reforçada por Xi Jinping. A CDCPH surge
como amalgama ideogica da GIC e se apresenta como a resposta chinesa
aos desaos comuns de um planeta instável, crescentemente perigoso e
vivendo sob uma forte crise ambiental. A CDCPH representa “uma nova
solução de governanza global proposta pela China, que prevé a criação
de “uma comunidade global ve-in-one”, incluíndo “política, segurança,
economia, cultura e ecologia” (XUE, 2017: 337). A “comunidade” se refere
ao conjunto dos Estados, pequenos e grandes, que coexisten pacícamente
entre eles através de valores comunes inspirados pelos países líderes, res-
ponsáveis da ordem internacional (autoridad humana), respetando-se e aju-
dando-se mutuamente (simbiosis) e que dão sentido teórico prático à GIC
Esta construção é parte de um processo histórico cuja síntese é
uma decadência, mesmo que relativa, dos EUA em comparação com a
ascensão da China, que está se constituindo como parte de um polo de
poder, como um núcleo gravitacional chinês num espaço chamado de
“Sul Global. Segue uma interessante síntese:
A transição histórica em sua dimensão geopolítica começa a ser percebida com cla-
reza a partir de 1999-2001, quando brota germinalmente a situação de relativa multi-
polaridade que vivemos hoje, como uma reação à globalização nanceira neoliberal
anglo-americana e sua expansão política e militar. O declínio relativo dos Estados
Unidos e do “Ocidente”, de um lado, e o ressurgimento da China e da Ásia-Pacíco,
do outro, é uma das características centrais da mudança de época que vivemos, que
não pode ser interpretado apenas como mais uma transição hegemônica dentro do
sistema mundial moderno. Ou seja, como parte da sucessão de ciclos de hegemonia
do sistema mundial moderno iniciada no século XV. (...). (MERINO, 2020, p. 46).
16. A ideia não é alheia a Ocidente,
especícamente a uma tradão de
pensamento européia. Edgar Mo-
rin foi o primeiro que aprofundou
na noção “comunidade de destino”
teorizada por Otto Bauer (Schick-
salgemeinschaft), posteriormente
adotada pelo governo chinês com
a noção “comunidade de destino
compartilhada para a humani-
dade” 人类 命运 共同体 (Rénlèi
ngyùn gòngtóngtǐ). (Morin,
2001).
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 9, n. 4, (dez. 2021), p. 90-105
A decadência no âmbito político e produtivo do ocidente em rela-
ção ao avanço da China rumo a construção de uma “Nova Economia do
Projetamento” é parte das grandes marcas do presente quadro histórico.
Evidente que não podemos nos esquecer do grau crescente da violência
imperialista, como resposta à sua própria decadência, sob qualquer ângu-
lo de análise17. Desta maneira, a violência imperialista é um fator que deve
ser observado historicamente como expressão da crença dos EUA nos ci-
tados valores importados do Mediterrâneo Oriental, tornando o mundo
um local cada vez mais perigoso, imprevisível. O processo tornou o he-
gemon como o principal elemento de instabilidade mundial. A nanceiri-
zação, como dimica dominante de acumulação, reduz as possibilidades
dos Estados Unidos em se colocar como alternativa aos povos diante da
capacidade produtiva construída pela China nas últimas quatro décadas.
As condições histórico-conjunturais apontam para a possibilidade
de uma abordagem que relaciona a GIC com as capacidades estatais, colo-
cadas em teste com sucesso e amplamente resilientes à pandemia do Co-
vid-19. Tais capacidades estatais são sintetizadas em uma Nova Economia
do Projetamento e um horizonte construído no desenrolar da construção
losóca-espiritual da civilização chinesa, baseada em princípios tole-
rantes, coletivistas e de respeito à soberania dos povos. Talvez o termo
Tianxá consiga sintetizar esse espírito, como destaca Zhao (2019). Nesse
sentido, consideramos muito feliz a seguinte interpretação:
(...) o Tiānxià (天下) está associado à civilização e ordem na loso-
a chinesa clássica, formando a base para a visão de mundo deste povo e
nação. Ele consiste na representação de um sistema que permite a garan-
tia da ordem universal como objetivo maior da política, e cuja centralida-
de da estratégia do Zhōngg (中国) estaria atravessada pelo respeito à
noção de soberania dos demais países, uma vez que a harmonia é a con-
dição ontogica para a existência e desenvolvimento das coisas (...). De
outro modo, este é um conceito de um desenvolvimento compartilhado
e antiimperialista, que forma a cosmovisão de mundo de centralidade e
grandeza da China vis-à-vis sua interação com o restante do sistema in-
ternacional. (RODRIGUES E MARTINS, 2020, p. 168-169)
O que estamos a assistir é um movimento de longa duração onde
se inverte uma lógica de hegemonia ocidentalizante com uma duração
de cinco séculos e onde a própria China fora arrastada pela força e de for-
ma submissa à ordem westphaliana. Interessante notar que a solução chi-
nesa a sua questão de soberania passou pela incorporação do marxismo
importado criticamente pelo sucesso da Revolução Russa de 1917. Bom
lembrar que o Manifesto Comunista de Marx e Engels fora traduzida ao
mandarim em 1919, o PCCh foi fundado em 1921 e apenas 28 anos depois
assumiu o poder do país, restabelecendo a soberania nacional, colocando
no centro de sua “geopolítica” a proteção de seu berço territorial, ventre
de sua civilização18 e livre do colonialismo.
Dialeticamente a China assume uma posição na arena internacio-
nal onde seu desenvolvimento econômico se desdobra para muito além
de suas fronteiras. As possibilidades abertas por um estágio único e novo
de desenvolvimento (Nova Economia do Projetamento) colocam o país
em condições de destravar os investimentos em infraestrutura em escala
17. Segundo Fiori (2007, p. 88), durante
a era Clinton, os Estados Unidos se en-
volveram em 48 intervenções militares,
muito mais do que em toda a Guerra
Fria, período em que ocorreram 16
operações. Atualmente esse número já
ultrapassou a casa das 70 intervenções
militares.
18. Evidente que a percepção de Mao
Tsétung do potencial revolucionário
dos camponeses, atestado historica-
mente por violentas revoltas campo-
nesas contra dinastias decadentes, foi
fundamental ao sucesso da empreitada
revolucionária. Alegamos que o mesmo
instinto de “formação social” teve Deng
Xiaoping ao perceber que a milenar
capacidade comercial e empreende-
dora do camponês médio chinês seria
fundamental ao processo de reformas
econômicas iniciadas em 1978. O so-
cialismo chinês foi reinventado a partir
do desenvolvimento de instituições de
mercado que ligaram o projeto nacional
chinês às suas origens milenares.
103
Elias Jabbour, Alexis Dantas, Javier Vadell Da nova economia do projetamento à globalização instuída pela China
global. Suas instituições nanceiras, a capacidade instalada de sua indús-
tria, uma governança baseada na razão (Science-Based Government) e
a velha bandeira que um dia sacudiu a periferia colonial em nome do
direito ao desenvolvimento e planejamento das políticas nacional são os
cordéis da GIC.
O projetamento como um braço da GIC neste caso seria a expres-
são de uma moderna geopolítica híbrida, popular, de contornos antico-
lonialistas e de libertação nacional (SILVA, 2018) que tanto interessou a
intelectuais da estatura tanto de Ignacio Rangel19 quanto Domenico Lo-
surdo20. Eis o sentido da “Geopolítica da China” contemporânea que está
em movimento e irá se constituir como consecuencia material (infraes-
trutura via BRI) e ideacional (CDCH) da GIC.
Considerações finais
Neste artigo buscamos levantar alguns apontamentos no sentido
de compreender o que comumente se chama de “Geopolítica da China.
Para tal, lançamos mão de alguns pressupostos teóricos amplamente re-
lacionados com a necessária fusão entre teoria e história, tão cara tanto
a Hegel quanto a Marx, condensados no conceito de formação econô-
mico-social. Desta forma, situamos a Geopolítica da China a partir da
compreensão interrelacionada entre os conceitos de Nova Economia do
Projetamento e a Globalização Institucionalizada pela China (GIC), além
de destacar aspectos históricos fundamentais que ajudam a entender o
horizonte espiritual e a própria governança chinesa.
A GIC, amparada por sólidos instrumentos políticos, nanceiros,
institucionais e pelo BRI, gerados pela entrada da China em um inédi-
to estágio de desenvolvimento – Nova Economia do Projetamento – são
uma antessala de uma moderna geopolítica popular e anticolonialista,
em processo de evolução histórica.
Concluímos que a “Geopolítica da China, enquanto expressão da
manutenção e reprodução dos valores civilizacionais do país, guarda di-
ferenças profundas em relação à geopolítica gestada pelo globalização -
nanceira levada a cabo pelo imperialismo nancierizado via globalização
neoliberal. Em outros termos, a denominada “geopolítica da China” se
expresa como um processo onde as relações internacionais são subsumi-
das muma geopolítica intercivilizatória, num movimento de hibridização
em aberto.
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