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Guilherme Lopes da Cunha, Fábio Albergaria de Queiroz, Ana Flávia Barros-Plaau Ciência, Tecnologia e Inovação como elemento identário entre China e América Lana
Ciência, Tecnologia e Inovação como
elemento identitário entre China e América
Latina1
Science, Technology, and Innovation as an identity
element between China and Latin America
Ciencia, Tecnología e Innovación como elemento
identitario entre China y Latinoamérica
Guilherme Lopes da Cunha2
Fábio Albergaria de Queiroz3
Ana Flávia Barros-Platiau4
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2022v10n4p7-22.
Recebido em: 9 de dezembro de 2021
Aprovado em:14 de junho 2023
RESUMO
O desenvolvimento de projetos conjuntos no setor cientíco-tecnológico tem
sido uma das pautas da agenda diplomática entre a China e a América Latina.
Ainda que a ênfase no setor extrativista venha sendo crucial nessas relações,
uma outra espiral de sinergia contempla o setor de Ciência, Tecnologia e Ino-
vação (CT&I). Contudo, esse mesmo nicho cientíco-tecnológico tem sido um
dos pilares da rivalidade competitiva entre China e Estados Unidos, inuencian-
do os interesses geoestratégicos desses países em diferentes ambientes. Nesse
contexto, qual seria o papel da América Latina em meio a essa disputa? Há meio
de se identicar uma Comunidade de Segurança em formação? Desde 2015,
plataformas como a Comunidade de Estados Latino Americanos e Caribenhos
(CELAC), por intermédio do Fórum China-CELAC e da Parceria China-CELAC
em Ciência e Tecnologia, apontam para a existência de resultados incertos,
não somente quanto a estímulos externos mas também quanto a benefícios ou
entraves que possam emergir a partir de uma lógica competitiva cujos efeitos
trazem implicações para a Geopolítica e para a Estratégia, revelando signicati-
vo potencial de interferência no desenvolvimento latinoamericano.
Palavras-chave: China - América Latina - Ciência, Tecnologia e Inovação - Iden-
tidade - Dissuasão Integrada.
SUMMARY
Developing joint projects in the scientic-technological sector has been one of
the topics on the diplomatic agenda between China and Latin America. Althou-
gh the emphasis on the extractive sector has been crucial in these relationships,
another synergetic spiral includes the Science, Technology, and Innovation (STI)
1. As opiniões expressas no artigo são
de responsabilidade exclusiva dos au-
tores, não refletindo necessariamente a
opinião institucional da Escola Superior
de Guerra, da Escola Superior de Defesa
ou do Ministério da Defesa.
2. Doutor em Economia Política
Internacional (UFRJ). Professor Adjunto
na Escola Superior de Guerra. Email:
guilhermelopes11@hotmail.com.
3. Doutor em Relações Internacionais
(UnB). Professor Adjunto na Escola
Superior de Defesa. Email: fabioaq@
hotmail.com.
4. Doutora em Relações Internacionais
(Université de Paris, Panthéon-Sor-
bonne). Professora Associada na
Universidade de Brasilia, no Instituto
de Relações Internacionais. Email:
anaflaviaplatiau@gmail.com.
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sector. However, this same scientic-technological subject has been one of the
pillars of competitive rivalry between China and the United States, inuencing
the geostrategic interests of these countries in dierent environments. In this
context, what would be the role of Latin America in this dispute? Is there a way
to identify a Security Community under construction? Since 2015, platforms
such as the Community of Latin American and Caribbean States (CELAC),
through the China-CELAC Forum and the China-CELAC Partnership in Science
and Technology, point to the existence of uncertain results, not only regarding
external stimuli but also regarding benets or obstacles that may emerge from a
competitive logic whose eects have implications for Geopolitics and Strategy,
revealing signicant potential for interference in Latin American development.
Keywords: China - Latin America - Science, Technology and Innovation - Identi-
ty - Integrated Deterrence.
RESUMEN
El desarrollo de proyectos conjuntos en el sector cientíco-tecnológico ha
sido uno de los temas de la agenda diplomática entre China y Latinoamérica.
Aunque el énfasis en el sector extractivo ha sido crucial en estas relaciones, otra
espiral sinérgica incluye al sector de Ciencia, Tecnología e Innovación (CT&I).
Sin embargo, este mismo tema cientíco-tecnológico ha sido uno de los pilares
de la rivalidad competitiva entre China y Estados Unidos, inuyendo en los in-
tereses geoestratégicos de estos países en diferentes entornos. En este contexto,
¿cuál sería el papel de América Latina en esa disputa? ¿Hay alguna manera de
identicar una Comunidad de Seguridad en formación? Desde 2015, platafor-
mas como la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños (CELAC),
a través del Foro China-CELAC y la Asociación China-CELAC en Ciencia y
Tecnología, señalan la existencia de incertidumbre en los resultados, no sólo en
cuanto a estímulos externos sino también sobre los benecios u obstáculos que
pueden surgir de una lógica competitiva cuyos efectos conllevan implicaciones
para la Geopolítica y la Estrategia, revelando relevante potencial de interferencia
en el desarrollo latinoamericano.
Palabras clave: China - Latinoamérica - Ciencia, Tecnología e Innovación - Iden-
tidad - Disuasión Integrada.
Introdução
A ascensão da China e o consequente ofuscamento de potências tra-
dicionais têm ocasionado calorosos debates no circuito político e acadêmi-
co. A diferença da mentalidade e da forma de pensar, junto a novas manei-
ras de produzir, de organizar-se e de relacionar-se ora são observados em
uma perspectiva salvacionista, ora são concebidos como ameaça. É nesse
sentido que a exponencial ascensão do protagonismo chinês no contexto
internacional tem incentivado a busca de um melhor entendimento acer-
ca das implicações desse fenômeno, como ensina Cabral Filho (2013).
Conforme apontado por Cunha et al (2019a), tem-se identicado a
tendência de um desenvolvimento cientíco, sobretudo nas Relações In-
ternacionais (RI), descolado de uma lógica estritamente ocidental5. Isso,
em alguma medida, tem sido testado por meio de uma perspectiva rela-
cional que sobressai nos estudos de Qin (2018), delineando abordagens
mais coerentes sobre o nexo lógico que perpassa as relações China-Amé-
rica Latina, conforme propõem Cunha et al (2021), buscando mais coe-
rência com a matriz chinesa de pensamento.
5. Ver Hoffman (1977), Acharya & Buzan
(2010), Zakaria (2008), Yan (2011), Qin
(2018) e Cunha (2017b).
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Aponta-se, assim, a necessidade de constante aprimoramento teó-
rico-metodológico que permita aos estudos internacionais a desassocia-
ção de uma perspectiva etnocêntrica. E é nesse sentido que a cooperação
entre a China e outros Estados pode ser mais bem compreendida, ao se
considerar uma racionalidade baseada em interesses próprios e benefícios
tuos, em que o setor de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) ofere-
ce elemento empírico para se vericar a oportunidade e a conveniência
sobre o desenvolvimento de produção conjunta ou associada.
Contudo, quais seriam os impactos dessas transformações para o
entorno estratégicos do Brasil? Se, de um lado, a China coopera com uma
miríade de atores internacionais, contribui para construir laços com di-
ferentes potências regionais e promove reorganização de vetores de po-
der, por outro lado, a rivalidade estratégica com os Estados Unidos revela
desconforto mútuo, infere a existência de ameaças a interesses nacionais
e remete a uma visão de que o interesse do outro é um desao a superar.
Subsiste, assim, em meio a inquietação e desconança, o questionamento
sobre o impacto que esse cenário tem sobre a cooperação cientíco-tec-
nológica ao envolver potências externas. Nesse contexto, esta alise pro-
cura vericar eventuais particularidades da inter-relação entre a China e
os Estados latino-americanos, objetivando investigar possíveis efeitos que
venham a incidir sobre o Brasil.
A ascensão meteórica da China, em múltiplos cenários, é um dos
fenômenos paradigmáticos das relações internacionais contemporâneas,
talvez, o mais marcante de nossa época. E nesse contexto complexo, em
que os destinos dos países estão inevitavelmente entrelaçados, reetir so-
bre os movimentos no tabuleiro geopolítico6 impulsionado, sobretudo,
pela estratégia da China de estabelecer alianças estratégicas por meio da
tecnologia, da ciência e da inovação, torna-se tarefa fundamental.
Portanto, testar a validade de tais proposições investigando, para
isso, as relações entre China e América Latina pode ser um ponto de par-
tida de grande valor quando pensamos nessas variáveis - (CT&I) - como
vetores indispensáveis na busca de um projeto inegavelmente sensível e
estratégico: a construção de uma Comunidade de Segurança (CS) China-
-América Latina. Mas, inicialmente, em termos acadêmicos, e com base
na literatura mainstream, a que se refere uma Comunidade de Segurança?
Como denido originalmente por Karl Deutsch et al (1957), as Co-
munidades de Segurança são compostas por Estados que compartilham
valores e comportamentos fundamentais para adaptar seus princípios,
regras, instituições e processos de decisão conjunta em nome da coexis-
tência pacíca.
O sentido a que nos referimos acerca de uma Comunidade de Se-
gurança China-América Latina destaca uma percepção: será que, contra-
riamente ao modelo original, uma CS pode ser formado por áreas que,
não necessariamente, sejam contíguas? Isso porque nossa ênfase refor-
ça uma perspectiva baseada não na proximidade, mas na construção de
identidades positivas. Nesse modelo, identidades compartilhadas podem
solidicar-se e se tornar elementos relativamente constantes: em suma,
uma variável crucial para a compreensão da relação entre o “Eu” e o “Ou-
tro”, por isso, falarmos, aqui, de uma perspectiva relacional da política
6. Parte-se da compreensão de que
a Geopolítica contemporânea resulta
das correlações entre espaço, poder e
atores. Esses aspectos são analisados
tanto em Cunha et al (2021, p.39) quan-
to em Queiroz, Cunha e Barros-Platiau
(2023), para quem a Geopolítica resulta
de múltiplas e complexas interações
entre configurações geográficas e polí-
tica mundial: nesse espectro, importam
variáveis objetivas e ideacionais, como
padrões tecnológicos, acesso a recursos
naturais, crenças, identidades, capaci-
dade material e distribuição/percepção
de poder.
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internacional, como sugere o teórico chinês das Relações Internacionais,
Professor Yaqing Qin (2018).
Este texto foi organizado em três seções. Inicialmente, avaliaram-
-se características da Geopolítica e da Estratégia na contemporaneidade,
considerando aspectos multidimensionais que ganham ampla expressivi-
dade, sobretudo por meio do setor de CT&I: entre os exemplos relevan-
tes, há a competição estratégica sino-americana. Em seguida, analisaram-
-se as relações entre a China e a América Latina, que foram tributárias da
política estadunidense e se associaram ao engajamento estratégico chinês
no sistema internacional, sinalizando alterações sobre as quais não há um
entendimento consolidado. Na terceira etapa, identicaram-se os contor-
nos do relacionamento entre a China e a América Latina cuja dimica
tem como um dos pilares o setor de CT&I.
GEOPOLÍTICA E ESTRATÉGIA EM MEIO À (R)EVOLUÇÃO CIENTÍFICO-
TECNOLÓGICA
As constantes alterações na dimica de poder estrutural têm ocu-
pado importante espaço no pensamento de estrategistas. Mearsheimer
(2001), Buzan (2020), Strange (1988), entre outros, avaliaram as diferentes
dimicas dessa lógica, considerando os componentes dos recursos de
poder dos Estados. Nesse contexto, a Geopolítica contribui para a com-
preensão das relações de poder e dos efeitos que incidem sobre a gestão
de interesses estatais, buscando fundamentar-se nas propriedades da so-
berania, dos recursos humanos disponíveis, da qualidade e da quantidade
das forças combatentes. Em caráter generalista, a espinha dorsal dessas
alises baseou-se nos pressupostos instituídos por meio dos Tratados de
Westphalia (1648)7, que estabeleceram parâmetros para a conformação do
sistema internacional como o conhecemos.
Na contemporaneidade, a Geopolítica apresenta-se sob o aspecto
multidimensional. Múltiplas facetas contribuem para uma sobreposição
de fatores que indicam um alto grau de complexidade, perpassando va-
riáveis como clima, meio ambiente, acesso a recursos naturais, saúde, ali-
mentação, além da capacidade de proteção de infraestruturas críticas e
da manutenção de cultura e de estilos de vida. Assim, a Geopolítica passa
por constante alteração, pois o acompanhamento, o controle e o rena-
mento de todos os parâmetros envolvidos impactam nos interesses dos
atores envolvidos em disputas de poder sobre espaços tidos como vitais.
A evolução da ciência e da tecnologia, portanto, é um dos parâ-
metros que condiciona interesses geopolíticos e estratégicos. Nos dias de
hoje, estrategistas lidam com prioridades que seriam tratadas como algo
idílico há 50 anos, como criptomoeda, vigilância panespectral8 ou astro-
turng9. Por isso, decisões perpassam contextos conjunturais e estruturais
que indicam um momento pós-Westphalia, em que as relações entre pes-
soas e Estados modicam-se sob inuências diversas: o ambiente cientí-
co-tecnológico exemplica essa constante evolução, alterando relações de
poder, de espaço e de tempo.
Portanto, a força motriz de parte dessas mudanças está no setor de
CT&I. A Ciência, em suas complexas ramicações, tem sido um elemen-
7. A Paz de Westfália, composta por
um conjunto de onze tratados, pôs fim
à Guerra dos Trinta Anos (1618-48),
encerrando uma série de entreveros de
natureza política e religiosa que con-
vergiram gradualmente em um conflito
europeu de grandes dimensões. Em
Westfália, lançaram-se as bases do mo-
derno sistema estatocêntrico construído
na Raison d’État que primava por uma
lógica pragmática onde os interesses
individuais das nascentes unidades
políticas soberanas - os Estados -
deveriam prevalecer sobre quaisquer
motivações de natureza religiosa. Para
Queiroz, Cunha e Ribas (2021, p.39),
esse contexto constitui um marco para o
conceito clássico de segurança.
8. Para Braman (2006, p.314), em
tradução livre, “o conceito de panóptico
refere-se às práticas de vigilância nas
quais o sujeito individual da vigilância
é primeiro identificado e, em seguida,
múltiplas técnicas e tecnologias de ob-
servação são direcionadas ao sujeito...
No estado informacional, o panóptico foi
substituído pelo panspectron, no qual as
informações são coletadas sobre tudo,
o tempo todo, e assuntos específicos
tornam-se visíveis apenas bastando
responder a um questionamento... pode
gerenciar muito mais assuntos de uma
só vez, em que os objetos de vigilância
nunca sabem quando, como ou por que
eles podem se tornar visíveis na tela
panspectral»
9. Cádima (2016, p.209) esclarece que
«Astroturfing é então uma estratégia
desenvolvida agora, sobretudo, online,
por indivíduos ou grupos de pressão
organizados, em regra utilizando falsas
identidades e/ou falsos endereços de
IP, com o objetivo, por exemplo, de ma-
nipular informação, atacar ou humilhar
um concorrente, ou de criar a impressão
de grande apoio para uma política, um
indivíduo ou um produto, uma marca,
etc., onde esse apoio obviamente não
existe».
11
Guilherme Lopes da Cunha, Fábio Albergaria de Queiroz, Ana Flávia Barros-Plaau Ciência, Tecnologia e Inovação como elemento identário entre China e América Lana
to que impulsiona a evolução do processo produtivo, da exploração dos
recursos do planeta, do aprimoramento da comunicação e do desenca-
deamento de novos materiais, medicamentos, fontes energéticas e meios
de vida. Por esse motivo, as relações de poder têm passado por intensa
transformação, em que a supressão de ameaças envolve mais elementos
do que os métodos tradicionais de defesa vêm aportando ao longo dos
últimos séculos.
Os conitos interestatais têm alterado a sua natureza, podendo va-
ler-se de formas menos truculentas e mais silenciosas. Não se exclui a
capacidade de uso da força pela via cinética, mas não se pode negar que
ganha expressividade uma constante alteração no warfare, por meio de
uma gama de diferentes meios ofensivos que são mais letais, contudo, do-
tados de custo político e nanceiro reduzido10. Isso tem levado a amplas
discussões sobre a manutenção e o uso estratégico desses recursos, haja
vista que conitos de interesses podem ser menos dependentes de tropas
do que se pode vericar em outras épocas da história recente.
Essas percepções acompanham as diretrizes dos principais compe-
tidores estratégicos na conjuntura atual. Considerados os mais relevantes
rivais dos estadunidenses, os chineses têm-se voltado para uma estratégia
que se vale do impulso cientíco-tecnológico, motivando intensa reexão
na literatura contemporânea. Entre outras observações sobre essa lógica
e sobre como isso interfere no que denomina Armadilha de Tucídides,
Graham Allison (2020, p.38) avalia que:
Em 2015, a Universidade Tsinghua passou o MIT no ranking do U.S. News &
World Report e virou a universidade número um do mundo em engenharia. Das
dez principais faculdades de engenharia, quatro estão na China e quatro estão
nos EUA. Nas áreas de STEM (Ciência [science], Tecnologia, Engenharia e Ma-
temática), que fornecem as competências essenciais para produzir avanços em
ciência, tecnologia e nos setores de crescimento mais acelerados das economias
modernas, a China anualmente forma quatro vezes mais alunos que os EUA
(1,3 milhão vs. trezentos mil). E isso não inclui outros trezentos mil chineses
que atualmente estudam em instituições americanas. (...) A China é hoje líder
mundial na fabricação de computadores, semicondutores, e equipamentos de
comunicações, bem como produtos farmacêuticos. Em 2015, a China apresentou
quase duas vezes mais pedidos de patentes que os Estados Unidos, o segundo
colocado, e se tornou o primeiro país no mundo a gerar mais de um milhão de
pedidos em um único ano.
As considerações de Allison abrem espaço para uma discussão so-
bre eventuais condicionalidades frente a uma rivalidade civilizacional
sino-americana que ganha espaço de maneira paulatina. Dessa manei-
ra, a disputa entre China e Estados Unidos ganha expressão na pergunta
retórica de Li Xing (2020): podem dois tigres ocupar a mesma montanha?
Embora haja discurso à beira da conituosidade, acalentado sob o véu de
um argumento emotivo, baseado em noticiários midiáticos, a perspecti-
va cientíco-tecnológica constitui-se como um dos pilares dessa disputa.
A competição geopolítica e estratégica que abrange essa competição en-
volve a capacidade de fazer ciência, aplicá-la e reproduzi-la. Informações
apresentadas por Geromel (2019) ilustram essa argumentação:
10. A controversa política conhecida
como Targeted Killing ilustra isso,
consistindo na identificação, localização
e eliminação de agentes terroristas.
Enquanto David (2003) debate dilemas
sobre a atividade, Molloy (2021) aponta
uma mudança de paradigma recente,
quando os Estados Unidos deixam de
voltar-se somente a ameaças não esta-
tais para abranger agentes estatais.
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Figura 1: Países com mais graduados em STEM
Fonte: Geromel (2019, p.244)
Apresentam-se, dessa maneira, variáveis comumente presentes no
olhar dos analistas estratégicos. Para Mahbubani (2021) isso induz a van-
tagens e falhas tanto no lado estadunidense como no lado chinês: se, por
um lado, nos EUA, está o maior potencial educacional, em que as insti-
tuições funcionam como caçadoras de talentos no mundo e incorporam
cidadãos de todos os países do planeta, por outro lado, na China, con-
quanto haja intenso crescimento econômico, renovada energia e impulso
dimico, o baixo potencial de atração e de retenção dos estrangeiros
talentosos prejudica a eciência das políticas implementadas.
Contudo, uma observação bastante signicativa pode ser extraída
dessas alises: a Ciência é um fator basilar na Geopolítica em sua face
multidimensional e polissêmica11. Dessa maneira, o cerne da disputa en-
volve não somente preparação, gestão, operabilidade e absorção de cére-
bros, mas também a consagração de um novo mindset capaz de redesenhar
os parâmetros por meio de uma nova lógica competitiva. Assim, de ma-
neira marcante, soam as palavras de Yan Xuetong no Webinar promovido
pelo Belfer Center for Science and International Aairs, da Universidade
de Harvard12, em que a rivalidade sino-americana na Era Digital abrange
uma China que compreende a imporncia do dinamismo econômico e a
relevância do impulso conferido pelo setor cientíco-tecnológico.
Nesse sentido, a disponibilidade de acesso a encontros acadêmicos
proporciona metodologias sob ângulo privilegiado. É notável, por meio de
análises netnográcas13, que as interações acadêmicas revelam dissonân-
cias subjetivas na maneira de pensar (CUNHA, 2020, p.192). Eventos, como
os que levam o selo das universidades de Harvard ou de Tsinghua, possi-
bilitam a vericação de subjetividades entre os que pesquisam o antago-
nismo sino-americano, reforçando o possível papel de Yan ou de Mearshei-
mer, como interlocutores, facilitando uma mediação entre mentalidades,
sobretudo na vertente acadêmica do dlogo estratégico14. Contudo, em
que medida essas relações, impulsionadas pela China, envolvem a América
Latina ou o Brasil? Embora com baixa capacidade de vericação empírica,
o deslocamento da competição para a vertente tecnológica tem potencial
para inuenciar as relações dos competidores com a América Latina.
11. Esse pensamento tem ganhado
expressão na comunidade acadêmica
brasileira. Conferindo destaque para a
máxima de Paulo Camara (2021), ao tecer
considerações sobre a relevância da ati-
vidade científica na Antártica e no Ártico,
o botânico sublinha a percepção de que
“a ciência é uma ferramenta geopolíti-
ca”: assim, o Minicurso Regiões Polares
e Relações Internacionais - ministrado
entre junho e julho de 2021, organizado
pelo Grupo de Pesquisa em Relações
Internacionais e Meio Ambiente (Gerima/
UFRGS) e pelo Earth System Governance
Brasília Research Center/ UnB - corrobo-
ra esse espírito. Disponível em https://
www.youtube.com/watch?v=z8Q6BofD-
sIY&t=986s. Acesso em 30/08/21.
12. O Webinar realizado em 9/10/2020,
sob o título “U.S.-China Bipolar Rivalry in
the Digital Age”, oferece chaves interpre-
tativas relevantes. Estudantes chineses em
Harvard e no MIT somam-se a outros deba-
tedores, dialogando com Yan sem des-
considerar as raízes acadêmicas dele na
Universidade da Califórnia, Berkeley, onde
obteve título de PhD. Entre as principais
assertivas apresentadas, considera que i) a
comparação do período atual com a Guerra
Fria é uma incongruência, ii) a competição
sino-americana, de maneira diferente
do que houve nas disputas travadas nos
últimos séculos, pode acontecer sem
conflitos militares, e iii) há possibilidade
de a tecnologia constituir uma referência
para o tipo de rivalidade nos dias de hoje.
Disponível em www.youtube.com/watch?-
v=CNDgCRt9BrY. Acesso em 11/08/21.
13. Para Tokarev (1989, p. 4), a etnogra-
fia, análise baseada em relatos subjeti-
vos, esteve, historicamente, associada à
segurança: envolvia conhecer os vizinhos
e dimensionar ameaças, avaliando o
comércio, a riqueza, a capacidade de
suprimento e o potencial de fazer guerra.
Hoje, segundo Cunha (2020, p.187), o
significado se renova, quando, “viajantes,
representantes de Estados, administra-
dores de empresas, pesquisadores ou
aventureiros expressam percepções,
a fim de informar, evitar surpresas,
anunciar descobertas”. Como recurso
metodológico, para Kozinets (2010), as
etnografias cibernéticas, as netnografias,
formam-se a partir de múltiplas camadas
de subjetividade no ambiente virtual,
expandindo a fronteira epistemológica.
14. O Professor Yan Xuetong atualmente é
diretor do Instituto de Estudos Internacio-
nais da Universidade de Tsinghua. A produ-
ção acadêmica dele simboliza uma possível
maneira de observar eventuais impasses
entre as mentalidades sino-americanas.
Outro evento que corrobora essa percepção
é o debate com John Mearsheimer, em 17
de outubro de 2019, no Carnegie-Tsinghua
Center for Global Policy, da Universidade de
Tsinghua, sob o título “Managing Sino-US
Strategic Competition”. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=O-
XEuK7hI0Cw. Acesso em 16/08/21.
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AS RELAÇÕES ENTRE CHINA E AMERICA LATINA
Kania (2019, p.231) aponta, da perspectiva do establishment chinês,
as aspirações de Pequim de alcançar a liderança global em CT&I. Explica,
dessa maneira, as ações substanciais tomadas para promover “campeões
nacionais”, como as empresas gigantes do setor: Baidu, Alibaba, Tencent,
ZTE e Huawei. Como resultado, a tangência entre os objetivos comer-
ciais e geopolíticos é o corolário de uma “rota da seda digital” emergente
com potencial para ser uma ferramenta valiosa para projetar a política
externa chinesa em mercados estratégicos, dentre os quais, a América
Latina.
A América Latina é observada como tradicional espaço de inuên-
cia estadunidense. Dilemas, alianças e conitos estão presentes na his-
toriograa desses Estados, apresentando alternadas dinâmicas de admi-
ração ou de estranhamento, a depender da lente do analista. A proposta
de relançamento dessas alianças - reconhecendo China, Russia e outros
países como ameaça - tem recebido incentivos crescentes, como sobressai
na proposta do conceito de Dissuasão Integrada (Integrated Deterrence),
que propõe alavancagem por meios acadêmicos, políticos e diplomáti-
cos15. Ainda que as relações entre os Estados Unidos e a América Lati-
na precisem ser mais bem analisadas, elas são compreendidas com mais
facilidade do que as com a China, que, hoje, ocupam uma imporncia
signicativa tanto nas rubricas de investimento e de comércio quanto nas
potencialidades estratégicas.
É nesse sentido que convém diferenciar o grau de importância que
a América Latina tem para os dois competidores. A compreensão sobre
os riscos e os benefícios de rechaço ou de eventual afeição a um deles
apresenta um conteúdo de alta relencia geoestratégica. Contudo, cum-
pre lembrar que, para os Estados, as relações internacionais encontram
sua melhor medida no interesse nacional, em torno do qual sempre deve
gravitar o posicionamento estratégico-diplomático.
Desde o século XIX, o nascimento de Estados, construídos à ima-
gem e semelhança dos europeus, nutriu os sonhos dos povos das Amé-
ricas e ganhou contornos enfáticos nos séculos seguintes. Inicialmente,
a ruptura com a dimica colonialista foi um desejo comum entre os
povos, coligados nas mesmas esperanças. Foi também tempo de conitos
por questões de fronteira, de inuência, de acesso a recursos naturais, de
controle terrestre e marítimo. De maneira pragmática, para os Estados
Unidos, conforme costume, prevaleceu a imporncia da lógica geográ-
ca, a vizinhança, os laços de aliança e de pertencimento, ainda que os
escritos sobre o Choque das Civilizações, de Huntington (1996), desasso-
ciem a civilização ocidental da latino-americana. Em uma interpretação
benevolente, vista com reticência por países ao Sul, a garantia da seguran-
ça pelo irmão do Norte poderia ter o condão de tornar prescindíveis os
temores de maior monta.
Quanto à China, os desaos registram pressupostos diferentes. Si-
tuada fora de uma possível rota de colisão, a América Latina ganha con-
tornos menos restritivos para a política chinesa . Latinos são i) importan-
tes consumidores de bens duráveis e produtos tecnológicos, ii) provedo-
15. No ambiente acadêmico, pode-se
identificar essas dinâmicas em Pederson
e Akopian (2023) e Cunha (2022). No
meio político, sobressaem as transcri-
ções do Comitê de Forças Armadas do
Senado dos Estados Unidos, em The
United States (2021a; 2021b;2022a),
além da National Security Strategy e
da National Defense Strategy (2022c)
em The United States (2022b e 2022c).
No eixo diplomático, sublinhe-se a
Conferência dos Ministros da Defesa
das Américas (XV CMDA), cujo item 5
da Declaração de Brasília faz previsão
expressa. Disponível em https://www.
cmda-info.net/cópia-xiv-cmda-2020-16.
Acesso em 31/10/23.
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 4, (nov. 2022), p. 7-22
res de alimentos, de recursos pririos, de biodiversidade, iii) favorecem
à ruptura de uma política de constrangimento com epicentro em Taiwan,
iv) não se inserem em interesses antagônicos ou contrapostos e, por isso,
v) podem ser parceiros na co-produção de CT&I. Contudo, isso não é si-
nal de bondade, mas de interesses nacionais chineses delineados, guiados
por segurança alimentar, acesso a matérias primas e bom convívio com
potenciais aliados, sobretudo diante de ajustes sistêmicos16. Além disso,
há um papel relevante para a garantia de acesso a insumos e de espaços de
investimento, como já defendia John Hobson (1902) por meio do conceito
de imperialismo, proposto antes que a nomenclatura estivesse associada
a uma conotação exclusivamente pejorativa .
Analistas e estudiosos sobre a interação entre a China e a Améri-
ca Latina costumam identicar que os marcos dessa aproximação foram
triburios da política externa dos Estados Unidos. Assim, por meio da
cooperação em CT&I, a China conrma seu papel na criação de meca-
nismos que contribuam para legitimar normas e modelos alinhados aos
seus interesses proclamados no ideal do “Sonho Chinês”, slogan expres-
so por Xi Jinping, que encontra na inovação uma força motriz vital na
consolidação do poder nacional e no retorno à grandeza das dinastias
passadas (HEATH, 2016). Portanto, as múltiplas abordagens inerentes à
emergência da China como candidata ao estatuto de “primus inter pares
em setores sensíveis constituem, entre outros aspectos, uma “dimensão
crítica da sua estratégia para fazer avançar os seus interesses nacionais e
exercer inuência internacional em conformidade com suas crescentes
capacidades” (KANIA, 2019, p.229).
Nesse contexto, ainda que contatos sólidos tenham sido construí-
dos nos séculos anteriores - tanto por uxos migratórios chineses rumo
às Américas quanto pela atividade empresarial colonialista, em meio ao
exclusivo metropolitano17 -, os anos 1970 foram cruciais para a aproxima-
ção entre a América Latina e a China18. Em meio a esse processo, o rela-
cionamento da China com os Estados Unidos favoreceu a intensicação
de laços diplomáticos, com destaque para o setor de segurança energética
e para a criação de mercados a impulsionar empresas chinesas.
Assim, Domingues (2006) reconhece o potencial de convergência
política. Em meio a esse contexto, mesmo durante a Guerra Fria, período
marcado pela diferença ideológica, o viés político não constitui um óbice
para uma paulatina aproximação. Afastando o discurso diplomático que
defendia a existência de duas Chinas, criaram-se mecanismos de parti-
cipação empresarial e de parcerias estratégicas em formato bilateral ou
coletivo19.
Isso abre espaço para o interesse na construção de cooperação cien-
tíco-tecnológica com a região. Sublinha-se, como exemplo, a iniciativa
em que China e latinoamericanos, conjuntamente, seriam capazes de
produzir CT&I no grau de estado da arte20: nesse sentido, a cooperação
sino-brasileira também pode ser concebida como um vetor empírico, haja
vista os acordos entre os dois países nesse setor21. Assim sendo, observa-se
que esse é um comportamento que não se enquadra nas interpretações
dos teóricos das Relações Internacionais, quando analisam a China desde
uma perspectiva estritamente ocidental.
16. Ver Cunha et al (2019b).
17. É notável a existência de mão de
obra chinesa nos Estados Unidos, além
dos migrantes ao Peru e dos tripulantes
de embarcações portuguesas, conforme
se observa em Cunha (2017a).
18. Na percepção de Domingues (2006)
e do Embaixador Fujita (2014), a dinâ-
mica diplomática dos Estados Unidos,
em meio a elementos de redesenho e de
reestruturação estratégica, sobretudo
durante a administração de Richard
Nixon, facilitou a aproximação entre a
China e a América Latina.
19. A perspectiva bilateral é visível por
meio da diplomacia do petróleo com
a Venezuela. A abordagem coletiva se
verifica em um diálogo institucionalista,
por meio i) do Fórum China-CELAC e ii)
de coalizões de geometria variável, em
arranjos temáticos, como BRICS, BASIC,
G-20 financeiro, G-20 da OMC.
20. Cunha et al (2019a) verifica a exis-
tência de cooperação tecnológica entre
China e América Latina, por intermédio
do Fórum China-CELAC, em que sobres-
sai a criação do laboratório conjunto
TD-LTE, no setor de telecomunicações.
21. O interesse conjunto em espaços de
cooperação em CT&I pode ser verificado
por meio de acordos entre China e
países da região. Os 35 atos bilaterais
assinados entre China e Brasil, em maio
de 2015, ilustram a inclusão de empre-
sas públicas e privadas em áreas estra-
tégicas como sensoriamento remoto,
nuclear, nanotecnologia e biotecnologia,
tecnologia da informação, segurança
cibernética, entre outros. Esses acordos
podem ser consultados em http://www.
itamaraty.gov.br. Acesso em 03/05/23.
15
Guilherme Lopes da Cunha, Fábio Albergaria de Queiroz, Ana Flávia Barros-Plaau Ciência, Tecnologia e Inovação como elemento identário entre China e América Lana
A capacidade tecnológica da China e o tipo de interesse em coope-
ração com a América Latina encontram explicação no que Jacques (2009)
chama de ´mentalidade de um Estado-Civilização´. O desenvolvimento
cientíco e tecnológico da China22, a experiência do país como receptor
de transferência de tecnologia e os saltos tecnológicos realizados23 são ele-
mentos úteis para se investigar as potencialidades de uma parceria tecno-
gica por intermédio das relações entre China e América Latina.
Ademais, intelectuais identicam o desencadeamento de uma re-
volução tecnológica em curso24. Para Angang Hu (2014), a China participa
nesta etapa tecno-cientíca e se apresenta como um Estado chave para a
economia, para o comércio e para o investimento mundial25: segundo o
autor, isso ocorre por meio de um conjunto de revoluções que se retroa-
limentam em torno de: i) Ciência e Tecnologia, ii) Tecnologia da Infor-
mação e Comunicação (TIC), iii) Energia, iv) Nano e Biotecnologia e v)
Tecnologia Verde26.
UMA NOVA INTERPRETAÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE CHINA E
AMERICA LATINA
A identicação de que os estudos sobre a China nas RI carecem de
ajustes reforça a necessidade de reinterpretação das relações entre China
e América Latina. É nesse sentido que o entendimento de uma teoria re-
lacional sobre a política mundial, conforme advoga Qin (2018), favorece a
uma leitura alternativa sobre a cooperação entre China e América Latina.
o se pode perder de vista que a América Latina não é priorida-
de para a China. Segundo Bergstein et al (2008, apud Gonçalves & Brito,
2010), a China prioriza suas relações externas, de acordo com o seguinte
grau de importância: EUA > vizinhos > Países em Desenvolvimento de
outras regiões. Essa percepção foi conrmada pelo professor Yuan Peng
(2014), representante do CICIR (sigla em inglês para o Instituto Chinês
de Relações Internacionais Contemporâneas), para quem essa ordem de
prioridade é bastante evidente27. Portanto, ainda que as relações entre
a China e a América Latina estejam em um patamar secundário, elas
devem ser compreendidas como parte de um projeto de poder em for-
mão.
Nesse sentido, a aproximação entre China e América Latina pode
ser percebida em um contexto estratégico além de uma percepção eu-
ro-americana, segundo a qual a China guraria necessariamente como
uma ameaça. Essa noção revela conteúdo etnocêntrico, em que o concei-
to de posição liminar, de Bahar Rumelili (2012), pode ser útil para uma
apreciação crítica mais minuciosa. Para a autora, a liminaridade, embo-
ra pouco reetida nas RI, é amplamente explorada na Antropologia e se
refere à mudança de comportamento oriunda do processo de evolução,
de maturidade e de independência. Avalia, assim, que os efeitos de uma
não adequação a um discurso homogêneo nas RI tem por consequência a
não adesão a uma posição política, cultural, losóca ou identitária acei-
ta coletivamente: ao destoar de categorias dominantes, resulta em estra-
nhamento pelos demais membros. Por isso, nas RI, atores liminares são
percebidos como instáveis e vulneráveis à subversão.
22. Quanto à formação de engenheiros,
Guimarães (2013, p.132) identifica que
a China supera a de qualquer outro
país. Isso tem sido notado com atenção,
como demonstra o 2014 Report to
Congress of the US - China Economic
and Security Review Commission, em
que os Estados Unidos reconhecem o
desenvolvimento tecnológico da China
em grau de inovação.
23. Gallagher (2006) avalia os impactos
do ímpeto da China no setor automotivo,
evidenciando a expertise dela como re-
ceptora de transferência de tecnologia.
24. A pluralidade de percepções sobre
novas gerações tecnológicas é visível
por intermédio da ausência de uniformi-
dade na comunidade acadêmica: para
Drexler (2013, p.39), há uma Quarta Re-
volução Científica; para Angang (2011,
p.2), uma Quarta Revolução Industrial;
para Blau (2014), trata-se do advento da
Indústria 4.0 e, para Headrick (2014), tão
somente estamos diante de uma nova
onda de inovação.
25. Ver Angang (2007; 2011; 2011a e
2014) e Angang et al (2014).
26. Para Angang (2011, p.11), essa
renovação no setor de CT&I impulsiona
uma Revolução Verde. Isso encontra
convergências com a percepção de De-
mailly & Verley (2013), que identificam o
surgimento de uma Revolução Industrial
Verde.
27. As opiniões do professor Yuan Peng
foram expressas na conferência sob o
título “A China e sua inserção em uma
ordem internacional em transformação”,
realizada no Ministério das Relações
Exteriores, em Brasília, em 29 de maio
de 2014, na FUNAG - Fundação Alexan-
dre de Gusmão. Disponível em https://
www.youtube.com/watch?v=0N6Ipz8gq-
vs&t=372s . Acesso em 05/05/23.
16
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 4, (nov. 2022), p. 7-22
A ideia central no conceito de posição liminar é a transição entre
duas margens. Sobretudo após a Guerra do Ópio (1842), a China pode
ser compreendida como um ator liminar que, agora em seu ápice, já em
uma perspectiva contemporânea, representa uma transição da periferia
ao centro, onde a América Latina tanto proporciona acesso a recursos
estratégicos, como energia, alimentos, minérios, quanto possibilita ex-
plorar anidades com atores estatais também preteridos pelo sistema.
Compreender a China como um ator liminar possibilita vericar a
existência de eventuais benefícios ou adversidades aos interesses nacio-
nais dos Estados latino-americanos. Embora a oferta de commodities ou
bens de baixo valor agregado venha sendo a tônica das relações, ensejan-
do preocupações legítimas junto à intelligentsia latino-americana, a Chi-
na tem potencial para proporcionar ambiente de cooperação em CT&I,
como se pode vericar por intermédio da criação do Laboratório TD-L-
TE28, no setor de telecomunicações, no âmbito do Fórum China-CELAC.
A cooperação cientíco-tecnológica também tem sido uma variável
a considerar nas relações entre Brasil e China. Ocupando a maior parte
do continente sul-americano, o Brasil tem sido um importante indutor da
aproximação da China na região. Conforme avaliado em Cunha (2021),
além de empreendimentos políticos, por meio de coalizões de geometria
variável, a relação bilateral ganha proeminência quando elevam a coope-
ração a uma Parceria Estratégica Global29 e estabelecem o Diálogo Estra-
tégico Global, em 201230. Nesse processo, a cooperação e a co-produção
em Ciência Tecnologia e Inovação, enfatizadas, sobretudo nos acordos de
201531, oportunizam o aprofundamento de interesses nacionais.
Na macrorregião latino-americana, embora a cooperação cientí-
co-tecnológica ainda esteja em estágio embrionário, há uma sinalização
pragmática nessa direção. Se as declarações no âmbito do Fórum Chi-
na-CELAC32 já contemplavam a cooperação em CT&I, uma renovada
motivação ganha impulso desde o Primeiro Fórum China-CELAC so-
bre Ciência Tecnologia e Inovação, realizado em setembro de 2015, em
Quito. Naquela ocasião, a China anunciou formalmente o lançamento de
uma Parceria China-CELAC em Ciência e Tecnologia33.
Esse ânimo revelado em Quito tem inspirado desdobramentos, mesmo
diante de adversidades. Esse foi o contexto da Videoconferência Especial de
Ministros de Assuntos Exteriores sobre COVID-19, realizada por China e 12
membros da CELAC, em 03/07/20. Manifestando a vontade de avançar em
uma estratégia de longo prazo, por meio de desenvolvimento comum, de coo-
peração Sul-Sul e de governança global, o Ministro chinês, Sr. Wang Yi, sub-
linhou 5 propostas34, nas quais reforçou o apoio i) ao fortalecimento digital da
Iniciativa Belt and Road, ii) à economia digital, a m de impulsionar projetos
como a Rota da Seda da Saúde e a Rota da Seda Digital e iii) ao fortalecimento
da cooperação no setor de CT&I. O evento, na prática, serviu de prenúncio
para o encontro que se realizou três meses depois, dando continuidade à ten-
tativa de alicerçar uma plataforma de cooperação cientíco-tecnológica.
Demonstrando disposição em robustecer uma cooperação em for-
mato plurilateral, o Segundo Fórum China-CELAC sobre Ciência, Tec-
nologia e Inovação ocorreu em 30/09/21. Ainda que sem a possibilidade
de realizar ajustes, raticar intenções de maneira contundente e efetiva
28. Aldmour (2013) e Dong et al (2015)
mencionam que a tecnologia TD-LTE
contribui para evolução do setor de TIC,
ensejando recursos mais eficientes nes-
sa área. Ademais, Pereira e Silva (2010)
analisam como o setor de TIC é valioso
na geração de desenvolvimento.
29. Cunha (2021) identifica que, como
parte dessa Parceria Estratégica Global
(2012), há incentivos aos vetores tec-
nológico e produtivo, os quais mostram
indícios de uma cooperação baseada
em um modelo que difere da tradição de
relações com os Estados Unidos e com
os países europeus, já que contempla
co-produção de CT&I.
30. O item 4 da Declaração conjunta
de 17 de julho de 2014, no Brasil,
por ocasião da Visita de Estado
do Presidente Xi Jinping ao Brasil
reforça esses elementos: disponível em
http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/
notas-a-imprensa/5712-declaracao-
-conjunta-entre-brasil-e-china-por-oca-
siao-da-visita-de-estado-do-presidente-
-xi-jinping-brasilia-17-de-julho-de-2014.
Acesso em 08/05/23.
31. Mesmo antes dos 35 acordos assi-
nados, em maio de 2015, Brasil e China
já tinham se engajado em diversos
empreendimentos de cooperação e
co-produção no setor de CT&I. Entre
outros projetos, destacam-se o Centro
Brasil-China de Pesquisa e Inovação
em Nanotecnologia (2012), o Centro
Brasil-China de Biotecnologia (2012), o
Programa Sino-Brasileiro de Satélites de
Recursos Terrestres (CBERS) (1988). Dis-
ponível em http://www.itamaraty.gov.
br/pt-BR/notas-a-imprensa/9694-decla-
racao-conjunta-e-plano-de-acao-conjun-
ta-visita-do-primeiro-ministro-do-conse-
lho-de-estado-da-republica-popular-da-
-china-li-keqiang-brasilia-19-de-maio-
-de-2015. Acesso em 08/05/23.
32. Conforme informação na página
oficial do grupo, o Fórum China-CELAC
foi criado na 2ª reunião da CELAC, em
Havana, em 2014. Disponível em http://
www.chinacelacforum.org/eng/ .Acesso
em 08/05/23.
33. Informação obtida na base de dados
do Fórum China-CELAC. Disponível
em http://www.chinacelacforum.org/
eng/zyjz_1/zylyflt/kjcxlt/t1339155.htm.
Acesso em 08/05/23.
17
Guilherme Lopes da Cunha, Fábio Albergaria de Queiroz, Ana Flávia Barros-Plaau Ciência, Tecnologia e Inovação como elemento identário entre China e América Lana
ou materializar o lançamento de um projeto concreto, mensurável e ve-
ricável, o dlogo diplomático cimentou os propósitos em torno de uma
agenda em CT&I. Embora a pandemia do Covid-19 tenha ofuscado o
evento - como comprova a presença de 22 dos 33 membros da CELAC -, o
fórum, realizado por videoconferência, sob a condução da chancelaria do
México35, expressou não somente o desejo de fortalecer uma colaboração
cientíca quanto a vacina, medicamentos, testes e diagnósticos; avalia-
ram, também, o potencial de cooperação em 5G, inteligência articial,
comércio eletrônico e ciências espaciais, conferindo à declaração conjun-
ta uma ênfase na dimensão social.
Sobressai, portanto, o desencadeamento de iniciativas que trazem
esperança aos Estados da da América Latina. Animados pela expectativa
de receber investimento, impulsionar comércio e modernizar o ambiente
cientíco-tecnológico, os países da América Latina mostram-se indiferen-
tes a predileções no que se refere à competição estratégica entre China
e Estados Unidos. Contudo, enquanto os Estados Unidos aparentam de-
sentusiasmo e alheamento, a China tem empreendido energia em cati-
var, esforçando-se para estabelecer as bases para um modelo de relação
que conferiria lastro a um compromisso sino-latino-americano. Poderá
a América Latina testemunhar um novo paradigma que dira sobrema-
neira do que a história dos povos latino-americanos registra? Os estudos
prospectivos indicam um horizonte nublado, marcado por incertezas,
embora a América Latina siga ansiando por dias mais promissores.
Considerões Finais
As potencialidades das relações sino-latino-americana são expressi-
vas e geram as mais diversas expectativas. Por um lado, em uma lógica
centrada na competição sistêmica, destaca-se uma relutância norte-ameri-
cana, justicada por uma suposta ameaça de ingerência nos assuntos cir-
cunscritos à sua esfera de inuência tradicional. Por outro lado, os países
latino-americanos passaram a se destacar como importantes receptores de
investimentos e como fonte de interesse na cogeração de produtos tecnoló-
gicos. Isto proporciona uma certa energia modernizadora, que se distingue
do papel histórico de produtor permanente e exclusivo de matérias-primas.
A conformação de estruturas políticas e diplomáticas, expressas
através do lançamento das mais diversas iniciativas, tem avançado no
sentido de materializar essas potenciais oportunidades. Por exemplo, a
articulação em torno do Fórum China CELAC e da Rota da Seda alimen-
ta a esperança de que haja um novo modelo de cooperação integradora
capaz de proporcionar desenvolvimento econômico associado à ciência
e tecnologia. Embora tal mobilização coletiva tenha sido acolhida com
renovado entusiasmo por muitos países, ainda predomina a retórica di-
plomática, da qual se esperam os resultados concretos de tais iniciativas.
A título de conclusão, deve-se notar que as breves reexões aqui pro-
postas, embora abram caminhos, não são conclusivas. Têm como objetivo
contribuir para o esforço cientíco contínuo na constrão de conhecimen-
tos generalizáveis, o que exige estudos complementares que tragam evidên-
cias empíricas capazes de conrmar ou refutar as premissas. É importante,
35. Ver Comunicado n. 287, emitido pelo
Ministério das Relações Exteriores do
México, em 1/10/20 (MÉXICO, 2020).
34. Na ocasião, o Sr. Wang Yi apresen-
tou 5 propostas: 1) bem estar do povo e
aprofundamento da unidade e da coope-
ração contra Covid-19, comunicação e
coordenação politica, envio de médicos,
crédito para infraestrutura, fundos para
segurança alimentar por meio da FAO;
2) assistência mútua, salvaguarda da
economia e da vida das pessoas; 3)
busca de oportunidades para fortalecer
a Iniciativa Belt and Road (Cinturão e
Rota), com infraestrutura e economia
digital para avançar com a Rota da
Seda da Saúde China-América Latina e
a Rota da Seda Digital China-América
Latina; 4) fortalecer cooperação integral,
com foros de Ministros China-América
Latina, em agricultura, cooperação eco-
nômico-comercial e CT&I, intensificando
diálogo com Mercosul e Aliança para o
Pacífico; 5) fortalecer igualdade, justiça
e coordenação na governança, apoiando
sistema multilateral centrado na ONU,
baseado no Direito Internacional e
contra unilateralismo (CHINA, 2020).
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 4, (nov. 2022), p. 7-22
portanto, propor uma agenda investigativa que contemple esses desaos e
marcos apoiados em evidências quantitativas que apontem para resultados
mensuráveis, vericáveis ou tangíveis, para além da retórica diplomática.
Nesse percurso analítico, convém sopesar que a compreensão de
que as RI podem ser analisadas por meio de uma lente mais ampla e me-
nos etnocêntrica proporciona mais coerência aos interesses nacionais. O
debate sobre o lugar que ocupa o componente cientíco-tecnológico para
a Geopolítica e a Estratégia convida a uma permanente atenção voltada
para o setor de CT&I. Essa perspectiva cientíco-tecnológica se coaduna
à proposta conceitual de Rumelili (2012) sobre uma posição liminar, em
que o conteúdo cientíco-tecnológico ocupa lugar privilegiado na busca
dos interesses nacionais.
Em uma perspectiva chinesa, a América Latina pode contribuir
para a reprodução da dimica expansiva que a torna uma potência as-
cendente. A garantia da segurança alimentar, o provimento de insumos
naturais, o espaço para investimentos cujos retornos podem ser mais
substanciais, torna a América Latina uma área natural dos interesses es-
tratégicos chineses. Isso reforça que tanto a China oferece a possibilidade
de superação da condição periférica latinoamericana quanto a América
Latina pode ser um trunfo valioso para a Grande Estratégia tanto dos
Estados Unidos quanto da China.
Para que uma convergência que satisfaça a todos possa ser alcançada,
é importante que se criem mecanismos para o aprimoramento dos benefí-
cios. Embora haja considerável receio de que o comércio concentrado em
bens primários e o denhamento na capacidade industrial da região lati-
no-americana evolua para níveis mais críticos, a cooperação cientíco-tec-
nológica oferece um caminho promissor para o lançamento de bases que
atendam aos interesses nacionais de todos os Estados envolvidos. Iniciativas
como a do Fórum China-CELAC e a da Rota da Seda Digital apontam para
uma possível alternativa capaz de desencadear efeitos positivos em dimen-
são sistêmica. Esses e outros elementos constituem peças cruciais para as
considerações do analista geopolítico e do estrategista contemporâneo.
Logo, um resultado importante dessa construção geopolítica con-
tribui para viabilizar um espaço China-América Latina de estabilidade
e cooperação baseado em expectativas conáveis de mudança pacíca.
E como fazê-lo? Acreditamos que a chave para isso é o setor de Ciência,
Tecnologia e Inovação pelos laços indissociáveis e complementares que
esse trinômio é capaz de estabelecer a médio e longo prazo, desde que
balizado pelos princípios de uma Comunidade de Segurança erigida em
valores e identidades compartilhadas.
Na intersecção de tecnologias emergentes e a Geopolítica, estar na
vanguarda de setores com elevado potencial disruptivo – como a Inteli-
gência Articial, a quinta geração da telefonia móvel (5G), a Internet das
Coisas, a robótica, as telecomunicações e a computação quântica - signi-
ca emergir com grande capacidade de moldar os próximos anos de nossa
história, pois esses vetores denirão as condões para um novo ciclo sis-
têmico de acumulação de ativos que viabilizará maiores capacidades de
poder e inuência, em escala global, para aqueles que o dominam, com
implicações multissetoriais e amplas.
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Guilherme Lopes da Cunha, Fábio Albergaria de Queiroz, Ana Flávia Barros-Plaau Ciência, Tecnologia e Inovação como elemento identário entre China e América Lana
Nesse esforço chinês de se alcançar uma liderança em CT&I, a
América Latina pode ser a grande beneciária, em um jogo de soma posi-
tiva (win-win), ou seja, em que os ganhos sejam mútuos e beneciem a to-
dos. Trata-se de um modelo de desenvolvimento em que, historicamente,
a América Latina não é familiarizada dadas as heranças deletérias de um
longo passado baseado em uma divisão desigual do trabalho entre centro
e periferia; fornecedores de matérias-primas, de um lado, e, de outro, de
produtos industrializados e de alto valor agregado.
Além disso, não há como negligenciar que as relações entre a China
e a América Latina avançam. Em parte, isso decorre da escolha de po-
tências ocidentais, sobretudo potências europeias e Estados Unidos, em
relegar a região, estrategicamente localizada em seu Entorno imediato,
a um plano secundário em termos de importância, o que, por sua vez,
revela uma miopia estratégica e conrma o axioma de que não há vácuo
de poder nas relações internacionais.
Portanto, na América Latina, a relativa queda da presença dos Es-
tados Unidos e de outros parceiros tradicionais é complementada pela
ascensão da China, que teve a oportunidade de preencher espaços e es-
treitar laços com a região. Como resultado, espera-se que Pequim ofereça
a seus parceiros latino-americanos uma perspectiva de acesso não apenas
a produtos de qualidade a custos justos, mas, sobretudo, a tecnologias
que impulsionem o desenvolvimento local. Por sua vez, por meio de uma
Rota da Seda Digital em que a América Latina está inserida, abre-se o ca-
minho para que a China se torne, conforme explicado em seu Livro Bran-
co de Defesa de 2019 - Defesa Nacional na Nova Era (CHINA, 2019) - líder
mundial no desenvolvimento e fornecimento de tecnologias de próxima
geração, ou seja, como dissemos, em um jogo de soma positiva.
Assim, concluindo, para que essa nova conguração, virtuosa em
sua essência, assuma nítidos contornos, a China - amparada em corolários
como o “Sonho Chinês” e o Rejuvenescimento da Nação”, idealizados por
Xi Jinping, em 2012 - é a alternativa que se apresenta em condições de aten-
der aos parâmetros de uma desejada Comunidade de Segurança (CS). E,
ressalte-se, uma CS erigida sob uma perspectiva relacional positiva, tendo,
como pilares, a Ciência, a Tecnologia e a Inovação e como elementos deni-
dores de uma identidade compartilhada: (a) valores como a paz e o Estado
de Direito; e, sobremodo; (b) a previsibilidade mútua de comportamento.
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