7
Douglas Novelli, Alexsandro Eugênio Pereira Los“Nosso mais valioso recurso”:
mensurando o impacto dos programas de intercâmbio estadunidenses sobre o comportamento internacional de outros Estados
“Nosso mais valioso recurso”: mensurando
o impacto dos programas de intercâmbio
estadunidenses sobre o comportamento
internacional de outros Estados
“Our most valuable asset”: measuring the impact of US
exchange programs on the international behavior of other
states
“Nuestro más valioso recurso”: midiendo el impacto de
los programas de intercambio estadounidenses sobre el
comportamiento internacional de otros estados
Douglas Novelli1
Alexsandro Eugênio Pereira2
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2022v10n3p7-20
Recebido em: 31 de janeiro de 2022
Aprovado em: 02 de maio de 2023
R
O artigo testa a hipótese de que países tendem a apresentar um comportamento
internacional mais favorável em relação aos Estados Unidos quando seus chefes
de Estado tiveram contato prévio com instituições de ensino estadunidenses.
Foi feito um levantamento prosopográco dos chefes de Estado dos países que
compõem o Grupo Latino-Americano e Caribenho na Organização das Nações
Unidas (GRULAC-ONU), observando especicamente quais destes tiveram
contato com instituições de ensino estadunidenses. Para medir o posicionamen-
to em relação aos EUA, foi adotada como variável proxy os padrões de votação
desses Estados na Assembleia Geral da ONU, comparados aos padrões de vota-
ção estadunidenses. Por se tratarem de duas variáveis dicotômicas, foi calculado
o Coeciente de Associação de Yule para vericar a força da relação entre elas.
Todas as variações do teste retornaram uma associação positiva baixa, utuando
entre 0,108 e 0,202. Os resultados forneceram evidências que corroboram com a
hipótese de que o contato prévio com instituições de ensino estadunidenses por
parte de chefes de Estado produz uma postura mais positiva dessas nações em
relação aos EUA.
Palavras-chave: Comportamento internacional; Assembleia Geral das Nações
Unidas; Socialização de chefes de Estado; Intercâmbios educacionais.
1. Doutorando em Ciência Política pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR),
Mestre em Ciência Política pela mesma
instituição e Bacharel em Relações
Internacionais pelo Centro Universitário
Curitiba (UNICURITIBA). Possui experi-
ência profissional nas áreas fiscal e con-
tábil e experiência acadêmica nas áreas
de teoria das Relações Internacionais e
Política Externa. Membro do Núcleo de
Pesquisa em Relações Internacionais
(NEPRI-UFPR) e atual Editor Executivo
da Revista Conjuntura Global (https://
revistas.ufpr.br/conjgloblal), seus
atuais interesses de pesquisa incluem
Análise de Política Externa, Soft Power,
Democracia Comparada e Processos de
Construção Regional. E-mail: douglash-
novelli@outlook.com. ORCID: orcid.
org/0000-0001-6058-5109.
2. Possui graduação em Ciências Sociais
pela Universidade Federal do Paraná
(1994), Mestrado e Doutorado em
Ciência Política pela Universidade de
São Paulo (1998 e 2003). Atualmente é
Professor Associado do Departamento
de Ciência Política e dos Programas de
Pós-Graduação em Ciência Política e
em Políticas Públicas da Universidade
Federal do Paraná. E-mail: alexsep@
uol.com.br. ORCID: orcid.org/0000-0002-
9613-4702.
8
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 3, (out. 2022), p. 7-20
A
The paper tests the hypothesis that countries tend to present a more favorable
international behavior toward the United States when their heads of state had
previous contact with US educational institutions. A prosopographical survey
of the heads of state of the countries that make up the Group of Latin America
and Caribbean Countries (GRULAC-UN) was carried out, specically observ-
ing which of these had contact with US educational institutions. To measure
positioning in relation to the US, it was adopted as a proxy variable the voting
patterns of these states in the UN General Assembly compared to the US voting
patterns. Since these are two dichotomous variables, the Yule Coecient of
Association was calculated to verify the strength of the relationship between
them. All variations of the test returned a low positive association, uctuating
between 0.108 and 0.202. The results provided evidence to support the hypothe-
sis that prior contact with US educational institutions by heads of state produces
a more positive attitude of these nations toward the US.
Keywords: International behavior; United Nations General Assembly; Socializa-
tion of heads of state; Educational exchanges.
R
El artículo pone a prueba la hipótesis de que los países tienden a presentar un
comportamiento internacional más favorable hacia los Estados Unidos cuando
sus jefes de Estado han tenido contactos previos con instituciones educacionales
estadounidenses. Se realizó un estudio prosopográco de los jefes de Estado de
los países que integran el Grupo Regional de América Latina y el Caribe (GRU-
LAC-ONU), observando especícamente cuáles de ellos han tenido contacto
con instituciones educacionales estadounidenses. Para medir el posicionamiento
en relación con EE.UU., se adoptó como variable sustitutiva el patrón de voto de
estos estados en la Asamblea General de las Naciones Unidas, comparado con el
patrón de voto estadounidense. Puesto que se tratan de dos variables dicotómi-
cas, se calculó el coeciente de asociación de Yule para vericar la fuerza de la
relación entre ellas. Todas las variaciones de la prueba arrojaron una asociación
positiva baja, que uctuó entre 0,108 y 0,202. Los resultados aportaron pruebas
que corroboran la hipótesis de que el contacto previo de los jefes de Estado con
las instituciones educacionales estadounidenses produce una actitud más positi-
va de estas naciones hacia los Estados Unidos.
Palabras clave: Comportamiento internacional; Asamblea General de la Nacio-
nes Unidas; Socialización de jefes de Estado; Intercambios educativos.
1. INTRODUÇÃO
o é nova a ideia de que os intercâmbios acadêmicos em insti-
tuições de ensino norte-americanas são um instrumento relevante para
ampliar a inuência dos Estados Unidos pelo mundo. Sua lógica funda-
mental gira em torno da ideia de socializar os valores e a cultura norte-a-
mericana em jovens que, talvez um dia, farão parte das elites governantes
de seus respectivos países. Conforme expresso em um relatório de um
grupo educacional norte-americano, “as milhões de pessoas que têm es-
tudado nos Estados Unidos ao longo dos anos constituem um notável
reservatório de boa vontade para o nosso país” (NAFSA, 2003, tradução
nossa)3 ; de modo semelhante, Colin Powell (2001, tradução nossa)4 , então
Secretário de Estado dos Estados Unidos, em 2001 declarou que ele não
3. “The millions of people who have
studied in the United States over the
years constitute a remarkable reservoir
of goodwill for our country.”
4. “I can think of no more valuable asset
to our country than the friendship of
future world leaders who have been
educated here.”
9
Douglas Novelli, Alexsandro Eugênio Pereira Los“Nosso mais valioso recurso”:
mensurando o impacto dos programas de intercâmbio estadunidenses sobre o comportamento internacional de outros Estados
era capaz de pensar em nenhum recurso mais valioso para os EUA do que
a amizade dos futuros líderes mundiais aqui educados”; enquanto Joseph
Nye (2004, 45, tradução nossa)5 aponta como intercâmbios acadêmicos
e cientícos “desempenham um papel signicativo em aumentar o soft
power norte-americano”.
Até certo ponto, essas estratégias vêm sendo comprovadas por pes-
quisas empíricas, que, ao longo dos anos, têm consistentemente eviden-
ciado como estudantes de intercâmbio tendem a retornar para seus países
de origem com uma visão mais positiva do país no qual estudaram (WIL-
SON E BONILLA, 1955; WATSON E LIPPITT, 1958; SELLTIZ ET AL.,
1963; WANG, 1991; RICHMOND, 2003). Contudo, a produção de resulta-
dos políticos a nível internacional, derivados desses intercambios, apesar
de muito especulada, ainda carece de estudos empíricos que a sustente. A
presente pesquisa se volta para essa lacuna, explorando o argumento de
que Estados são mais propensos a adotar um comportamento favorável
aos interesses estadunidenses quando seus respectivos líderes vivencia-
ram períodos de socialização em instituições de ensino estadunidenses.
Para tanto, o presente artigo adota uma estrutura de cinco seções
em seu desenvolvimento, iniciando com uma breve revisão teórica sobre
o conceito de socialização, seguida de uma seção voltada para a apre-
sentação dos argumentos e construção das hipóteses que serão testadas,
exposição dos materiais e métodos empregados, apresentação dos resul-
tados e, por m, a discussão e as considerações nais, nas quais são suge-
ridos tópicos para uma agenda de pesquisa futura.
2. REVISÃO TEÓRICA
Desde o início do século XXI, autores como Alastair Johnston (2001)
e Jerey Checkel (2005) vêm apontando como o conceito de socialização
tem sido historicamente subutilizado no campo das Relações Internacio-
nais, especialmente se comparado às demais ciências humanas, nas quais,
com frequência, exerce posição de destaque6 . Do ponto de vista concei-
tual, mesmo se forem consideradas as vertentes teóricas das RI que lhe
dão alguma signicância, como o Construtivismo e a Escola Inglesa, em
geral o conceito de socialização ainda parece ser subteorizado e ter seus
microprocessos majoritariamente ignorados. Já no que toca aos estudos
empíricos, o conceito tem sido principalmente empregado por trabalhos
voltados a entender como o ambiente internacional pode influenciar
positivamente nos processos domésticos de democratização, seja através
do papel socializador exercido pelas organizações internacionais sobre as
elites políticas domésticas (PEVEHOUSE, 2002a; 2002b; 2005; BELLIN,
2012; KELLEY, 2004; DIMITROVA E PRIDHAM, 2004; GREENHILL,
2010; NOVELLI E PEREIRA, 2020); ou através do impacto causado pelo
intercâmbio de ociais estrangeiros em academias militares estaduniden-
ses sobre o desenvolvimento de instituições democráticas em seus países
de origem (COPE, 1995; MILLER, 2006; ATKINSON, 2006; 2010; RUBY
E GIBLER, 2010).
Conforme apontado por Beyers (2010), socialização diz respeito ao
processo pelo qual indivíduos desenvolvem uma ligação com um grupo
5. “Academic and scientific exchanges
played a significant role in enhancing
American soft power.”
6. Exemplos incluem a Sociologia e a
Psicologia Social, com teorias sobre
formação de identidade social e cumpri-
mento das normas do grupo (TURNER,
1987; NAPIER E GERSHENFELD, 1987;
CIALDINI, 1987; NISBETT E COHEN,
1996); a Ciência Política, com estudos
sobre a formação de orientações
políticas entre jovens e explicações para
movimentos sociais (BECK E JENNINGS,
1991); e o Direito Internacional, com
pesquisas sobre o papel da condenação
social para assegurar o cumprimento
de tratados (CHAYES E CHAYES, 1996;
YOUNG, 1992; SUSSKIND, 1994; MORA-
VCSIK, 1995).
10
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 3, (out. 2022), p. 7-20
social e adaptam seu comportamento para se adequar as expectativas ad-
vindas do mesmo. Nas palavras de Stryker e Statham (1985, p. 325, tradu-
ção nossa)7 , “socialização é o termo genérico utilizado para designar os
processos pelos quais o recém-chegado – seja ele o recém-nascido, o novato
ou o estagiário, por exemplo – se incorpora nos padrões organizados de
interação. Sua função básica é criar um senso de pertencimento social,
pelo qual os entendimentos intersubjetivos dessa sociedade são interna-
lizados e tomados como fatos (JOHNSTON, 2001). Implica que o agente
socializado evolua de uma lógica de consequências para uma lógica de
adequação, com suas ações sendo tomadas independentemente de qual-
quer estrutura de incentivos ou sanções em particular, sendo a aceitação
das normas e expectativas socialmente impostas internalizadas como “a
coisa certa a ser feita” (CHECKEL, 2005, p. 804, tradução nossa)8 .
O mecanismo causal da socialização, tal qual instrumentalizado
pelos estudos que tratam da socialização democrática promovida por in-
tercâmbios acadêmicos, envolve a alteração de atitudes em relação a de-
terminado tema ou agente, promovido graças a experiências pessoais em
redes políticas criadas e controladas em torno desses temas ou por esses
agentes. Assim, um conceito acessório imprescindível ao de socialização
é o conceito de atitudes, que podem ser entendidas como “disposições
avaliativas” (FREYBURG, 2011; COOPER, BLACKMAN, E KELLER,
2016), que são aprendidas e podem ser alteradas através da comunicação
social ou de experiências pessoais diretas, podendo envolver tanto com-
ponentes afetivos (baseados em emoções) quanto cognitivos (baseados
em crenças). Nas palavras de Perlo (2017, 8990, tradução nossa)9 :
Ter uma atitude signica que você classicou algo e fez um julgamento do seu
valor. Signica que você já não é neutro em relação ao tema. Isso não signica
que não possa ter sentimentos mistos, mas a sua opinião sobre o assunto já não
é neutra ou isenta de cor. [...] Atitudes (e valores) organizam o nosso mundo
social. Elas nos permitem categorizar pessoas, lugares e eventos rapidamente
e descobrir o que está acontecendo. São como marca páginas, etiquetas para
categorizar uma coleção de livros favoritos, ou formas de organizar aplicativos
para smartphones. As atitudes moldam as percepções e inuenciam os julgamen-
tos. Se você é republicano, provavelmente avalia os líderes políticos republicanos
favoravelmente e tem uma reação negativa, ao nível do instinto, a alguns polí-
ticos democratas. E vice-versa, se for um democrata. Por outro lado, se odeia a
política e descona dos políticos, ltra o mundo político através de um conjunto
de lentes céticas.
Assim, conforme resumido por Lomer (2017), o argumento central,
empregado por trabalhos que analisam o potencial socializador de inter-
mbios acadêmicos, gira em torno da concepção de que estudantes inter-
nacionais tendem a alterar suas atitudes e se identicar com o país receptor
como um resultado de experiências positivas no processo de socialização.
O intercâmbio acadêmico em instituões de ensino superior seria parti-
cularmente efetivo ao promover a socialização desses estudantes, pois,
conforme apontam Gift e Krcmaric (2017, p. 5, tradução nossa)10 , “o ensino
superior [...] está entre os meios mais importantes através dos quais os indi-
víduos desenvolvem crenças políticas”, sendo “o início da idade adulta [...] o
período mais formativo da vida de uma pessoa. Ademais, como apontam
autores como Anna Wojciuka, Maciej Michałekb e Marta Stormowskac
(2015), atualmente a educação parece ser “um valor universal, com aspec-
7. “Socialization is the generic term
used to refer to the processes by which
the newcomer – the infant, rookie,
or trainee, for example – becomes
incorporated into organized patterns of
interaction.”
8. “the right thing to do”.
9. “Having an attitude means that you
have categorized something and made
a judgment of its net value or worth. It
means that you are no longer neutral
about the topic. That doesn’t mean you
can’t have mixed feelings, but your view
on the issue is no longer bland or wi-
thout color. […] Attitudes (and values)
organize our social world. They allow us
to categorize people, places, and events
quickly and to figure out what’s going
on. They are like notebook dividers,
labels to categorize a collection of
favorite books, or ways to organize
smartphone apps. Attitudes shape
perceptions and influence judgments.
If you’re a Republican, you probably
evaluate Republican political leaders
favorably and have a negative, gut-level
reaction to some Democratic politicians.
And vice versa if you are a Democrat.
On the other hand, if you hate politics
and distrust politicians, you filter the
political world through a skeptical set
of lenses.”
10. “Higher education is an especially
powerful form of interpersonal contact
because it is among the most important
ways in which individuals develop politi-
cal beliefs and because early adulthood
is arguably the most formative period of
a person’s life”.
11
Douglas Novelli, Alexsandro Eugênio Pereira Los“Nosso mais valioso recurso”:
mensurando o impacto dos programas de intercâmbio estadunidenses sobre o comportamento internacional de outros Estados
tos como sua qualidade e alcance sendo apreciados independentemente da
cultura e do país, ao passo que é individualmente valorizada como condi-
ção para a prosperidade econômica – tornando-se assim um veículo ideal
para “ganhar corações e mentes” (NYE, 2008). Destarte, tal qual intercâm-
bios acadêmicos apresentam o potencial para estimular a socialização de-
mocrática ao alterar as atitudes dos participantes em relação a democracia,
graças à promoção de experiências pessoais em redes políticas criadas e
controladas por democracias estabelecidas (FREYBURG, 2011), é possível
que esse mecanismo também possa gerar nos participantes atitudes positi-
vas duradouras em relação aos Estados receptores, que podem vir a se con-
verter em ganhos políticos para esses Estados caso esses estudantes um dia
ocupem posões políticas com poder decisório em seus países de origem.
O presente artigo explora essa ideia, focando especicamente em chefes de
Estado que tiveram contato com instituições de ensino norte-americanas.
3. CONSTRUÇÃO DE HIPÓTESES TESTÁVEIS
O artigo testa o argumento base de que um Estado é mais propen-
so a adotar um comportamento internacional favorável aos EUA quando
seu atual chefe de Estado teve contato prévio com instituições de ensino
estadunidenses. Isto posto, denir pametros para o que pode ser consi-
derado um comportamento internacional favorável aos EUA é uma pro-
blemática de difícil resolução, tendo em vista a natureza multidimensio-
nal das relações internacionais. Contudo, a literatura tem demonstrado
que existem fortes evidências de que o governo norte-americano atribui
importância real aos resultados das votações na Assembleia Geral das Na-
ções Unidas (AGNU), exercendo pressão política sobre seus pares com
o objetivo de assegurar resultados que lhe sejam favoráveis (DREHER,
NUNNENKAMP, E THIELE, 2008; ANDERSEN, HARR, E TARP, 2006;
BENNIS, 1997; THACKER, 1999). Nas palavras de Bailey, Strezhnev e
Voeten (2015, 2, tradução nossa)11 , “as votações na Assembleia Geral das
Nações Unidas (AGNU) tornaram-se a fonte de dados normalizada para
a construção de medidas de preferências estatais, uma vez que são ações
comparáveis e observáveis tomadas pelos países em determinados mo-
mentos”. Assim, os padrões de votação na AGNU podem ser efetivamen-
te aplicados como uma variável proxy12 para medir o comportamento in-
ternacional de outros Estados em relação aos EUA, pois, ainda que não
contemplem totalmente a complexidade das relações que podem ser es-
tabelecidas entre estes Estados, esses padrões de voto fornecem sólidos
indícios sobre o posicionamento geral de seus atores.
Baseado nesses argumentos, derivamos a primeira hipótese da pes-
quisa:
H1: Um Estado é mais propenso a votar junto com EUA na AGNU
quando seu chefe de Estado teve contato prévio com instituições de ensi-
no norte-americanas.
Um fator relevante que também precisa ser levado em considera-
ção é a ampla variedade de pautas que se tornam objeto de votações na
AGNU. Como apontam Dreher, Nunnenkamp e Thiele (2008), é provável
que nem todos os votos sejam de imporncia para o governo norte-ame-
11. “Votes in the United Nations Gene-
ral Assembly (UNGA) have become the
standard data source for constructing
measures of state preferences, as they
are comparable and observable actions
taken by many countries at set points
in time.”
12. Uma variável proxy (ou variável
substituta) refere-se a uma variável
que não é diretamente relevante para
o objeto de estudo, mas que é utilizada
em substituição a uma variável não
observável ou de difícil mensuração,
com a qual a literatura indica haver uma
correlação próxima. No caso, os padrões
de voto na AGNU serão utilizados para
substituir o posicionamento internacio-
nal de outros Estados em relação aos
EUA, variável essa de difícil mensura-
ção.
12
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 3, (out. 2022), p. 7-20
ricano, de forma que restringir a alise apenas as votações que abordem
pautas importantes pode acabar gerando resultados mais signicativos.
Embora rotular as votações como importantes ou não seja um processo
altamente subjetivo, esse desao pode ser solucionado ao utilizar a pró-
pria categorização empregada pelo Departamento de Estado norte-ame-
ricano, que desde 1983 indica quais foram as “votações sobre questões
que afetaram diretamente interesses importantes dos Estados Unidos e
em relação às quais os Estados Unidos zeram um amplo lobby” (US PU-
BLIC LAW 101-246, apud UNITED STATES DEPARTMENT OF STATE,
2018, tradução nossa)13 . Assim, a segunda hipótese deriva-se de uma va-
riação direta da primeira, limitando a análise exclusivamente aos votos
codicados como importantes pelo governo dos EUA.
H2: Um Estado é mais propenso a votar junto com EUA na AGNU, em pau-
tas consideradas importantes pelo governo norte-americano, quando seu chefe de
Estado teve contato prévio com instituições de ensino norte-americanas.
Ademais, ao trabalhar com os votos da AGNU, ainda é relevante
considerar os padrões históricos de aliança que neles podem ser observa-
dos. Ao longo das décadas, pesquisadores tem demonstrado como os Es-
tados do ocidente mantém um padrão de votos coeso e próximo entre si,
sobretudo nos casos nos quais existem alianças formais entre esses atores,
como a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN) (KIM E RUSSETT, 1996; CAMPBELL, 1971; POTRAFKE, 2009;
HOLLOWAY, 2009). Assim, é razvel supor a possibilidade de que países
governados por chefes de Estado que tenham passado por um período
de socialização acadêmica em Estados aliados aos EUA, aqui recortados
como os membros da OTAN, também apresentem um padrão de votos
mais alinhado aos interesses norte-americanos. Dessa ideia, derivam as
hipóteses nais que serão testadas:
H3: Um Estado é mais propenso a votar junto com EUA na AGNU quando
seu chefe de Estado teve contato prévio com instituições de ensino norte-america-
nas, ou de outros membros da OTAN.
H4: Um Estado é mais propenso a votar junto com EUA na AGNU, em pau-
tas consideradas importantes pelo governo norte-americano, quando seu chefe de
Estado teve contato prévio com instituições de ensino norte-americanas, ou de
outros membros da OTAN.
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1. MÉTODOS DE COLETA E DESCRIÇÃO DOS DADOS
A pesquisa recorreu a duas bases de dados distintas, derivando suas
conclusões a partir da confrontação de ambas.
Em primeiro lugar, para medir o posicionamento de cada um dos
Estados analisados em relação aos EUA, foi adotada como variável proxy
os padrões de votação desses Estados na Assembleia Geral das Nações
Unidas (AGNU), comparados aos padrões de votação estadunidenses.
Para tanto, foi utilizada a base de dados já compilada por Bailey, Strezh-
nev e Voeten (2009), disponível como parte do projeto Harvard Dataverse14 .
13. “votes on issues which directly af-
fected important United States interests
and on which the United States lobbied
extensively”
14. Disponível em: <http://dx.doi.
org/10.7910/DVN/LEJUQZ>.
13
Douglas Novelli, Alexsandro Eugênio Pereira Los“Nosso mais valioso recurso”:
mensurando o impacto dos programas de intercâmbio estadunidenses sobre o comportamento internacional de outros Estados
De início, foi necessário aplicar dois recortes, um com relação aos
Estados que seriam observados e outro com relação ao recorte temporal
que seria considerado pela pesquisa. No que toca ao primeiro recorte, foi
feita a opção pelos Estados que compõem o Grupo Latino-Americano e
Caribenho na Organização das Nações Unidas (GRULAC-ONU)15 , esco-
lha que se deu tendo em vista a proximidade geogca com os Estados
Unidos. Ao menos em teoria, essa proximidade amplia as chances de loca-
lizar políticos que tenham tido contato prévio com instituições de ensino
norte-americanas antes de assumirem os cargos de chefe de Estado em
seus respectivos países, possibilitando assim que a alise seja feita com
base em um número razvel de notações heterogêneas. Já no que toca ao
recorte temporal da pesquisa, optou-se por iniciar a alise imediatamen-
te após o m da Guerra Fria, em dezembro de 1991, se estendendo até o
ponto no qual os dados haviam sido compilados, em dezembro de 2017.
Ao todo, existem quatro possibilidades de voto que os Estados po-
dem tomar em cada votação: sim; não; abstenção; e ausência. Seguindo
o padrão utilizado por autores como Kegley e Hook (1991), foram des-
cartadas ocorrências nas quais os EUA, ou o Estado ao qual sua votação
era comparada, se abstiveram ou estavam ausentes. Do mesmo modo,
seguindo Dreher e Sturm (2006), foram excluídos os casos de votação
por consenso, nos quais todos os Estados analisados votaram da mesma
forma. Os votos dos EUA foram então individualmente comparados com
aqueles feitos pelos Estados do GRULAC, notando como 1 os votos iguais
(entre os EUA e determinado Estado em dada votação) e 0 para os votos
destoantes. Seguindo essas regras de recorte e tratamento, foram totali-
zadas 32.461 notações individuais ao longo de todo o corpus, coletadas em
1.180 votações.
Por sua vez, a segunda base de dados foi compilada especicamente
para a execução da presente pesquisa. A base em questão foi desenvol-
vida através de um levantamento prosopogco dos chefes de Estado
que estiveram à frente dos países que compõem o GRULAC no período
analisado, se limitando a observar quais destes tiveram contato com insti-
tuições de ensino superior ou militares estadunidenses, seja na qualidade
de discentes ou como docentes. Ao todo, foram coletados dados de 189
políticos, dos quais 62 (32,8%) haviam tido contato com instituições de
ensino norte-americanas e 39 (20,6%) haviam tido contato com institui-
ções de ensino de outros Estados membros da OTAN.
4.2. MÉTODOS DE ANÁLISE
Por se tratarem de duas variáveis dicomicas, foi calculado o Coe-
ciente de Associação de Yule (Qxy) para vericar a força da relação entre
elas. Conforme exposto por Cervi (2019, p. 36), “o teste de independência
Qxy serve para identicar se: i) duas variáveis dicotômicas estão relaciona-
das entre si; ii) de quanto é a intensidade da relação; e, iii) se os resultados
podem ser usados em generalizações para toda a população quando se
está testando a associação em amostras”. Ainda de acordo com o autor, o
coeciente de associação Qxy apresenta dois postulados base: (1) deve ser
igual a zero quando as variáveis X e Y forem independentes; e (2) deve
15. Os Estados membros do GRULAC
são: Antígua e Barbuda, Argentina,
Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica,
Cuba, Dominica, Republica Domini-
cana, Equador, El Salvador, Granada,
Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras,
Jamaica, México, Nicarágua, Panamá,
Paraguai, Peru, Santa Lúcia, São Cristó-
vão e Nevis, São Vicente e Granadinas,
Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e
Venezuela.
14
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 3, (out. 2022), p. 7-20
ser de, no máximo, +1,00, no caso de associações positivas, e de –1,00, no
caso de associações negativas (CERVI, 2019, p. 40).
A fórmula para a aplicação do Q de Yule é a seguinte (YULE E
KENDALL, 1937):
Onde, em uma tabela quádrupla usada para representar as possí-
veis combinações existentes entre as duas variáveis dicotômicas, temos:
TABELA 1 – INTERVALOS DE VALORES PARA COEFICIENTE Qxy
Não-Y Y Total
X A B Marginal X
Não-X C D Marginal Não-X
Total Marginal Não-Y Marginal Y Total de Casos (N)
FONTE: Cervi (2019).
Partindo ainda dos postulados básicos do Coeciente de Yule, Da-
vis (1976) sugere a forma adequada de interpretar os valores de Qxy, orga-
nizados por grau de intensidade conforme exposto na Tabela 2.
TABELA 2 – INTERVALOS DE VALORES PARA COEFICIENTE Qxy
Valor de Qxy Leitura
+0,7 ou mais Associação positiva muito forte;
+0,5 a +0,69 Associação positiva forte;
+0,3 a +0,49 Associação positiva moderada;
+0,1 a +0,29 Associação positiva baixa;
+0,01 a +0,09 Associação positiva desprezível;
0Associação inexistente;
–0,01 a –0,09 Associação negativa desprezível;
–0,1 a –0,29 Associação negativa baixa;
–0,3 a –0,49 Associação negativa moderada;
–0,5 a –0,69 Associação negativa forte; e
–0,7 ou mais Associação negativa muito forte.
FONTE: Davis (1976, p. 70).
Apresentado o método de alise que foi empregado, passa-se ago-
ra para a apresentação dos resultados, onde foi calculado o Coeciente de
Associação de Yule para cada uma das quatro hipóteses testadas.
5. RESULTADOS
Considerando que o presente artigo busca vericar a validade de
quatro hipóteses distintas, foi feita a opção metodológica de testar cada
15
Douglas Novelli, Alexsandro Eugênio Pereira Los“Nosso mais valioso recurso”:
mensurando o impacto dos programas de intercâmbio estadunidenses sobre o comportamento internacional de outros Estados
uma dessas hipóteses individualmente16 , buscando o Coeciente de As-
sociação de Yule referente a cada uma delas. Assim, sendo a primeira hi-
pótese
H1: Um Estado é mais propenso a votar junto com EUA na AGNU quando
seu chefe de Estado teve contato prévio com instituições de ensino norte-ameri-
canas.
Temos:
TABELA 3 – TABELA QUÁDRUPLA PARA A HIPÓTESE 1
Não-Y Y Total
X1.108 750 1.858 (5,72%)
Não-X 20.995 9.608 30.603 (94,28%)
Total 22.103 (68,09%) 10.358 (31,91%) 32.461
FONTE: Dados da pesquisa.
Onde:
X = Votou com os EUA em determinada votação; e
Y = O chefe de Estado daquele país, durante aquela votação, havia tido
contato prévio com instituições de ensino norte-americanas.
Aplicando a fórmula do Qxy:
Aplicando o mesmo teste nas demais hipóteses levantadas pela pes-
quisa, os resultados foram os seguintes:
H2: Um Estado é mais propenso a votar junto com EUA na AGNU,
em pautas consideradas importantes pelo governo norte-americano,
quando seu chefe de Estado teve contato prévio com instituições de ensi-
no norte-americanas.
TABELA 4 – TABELA QUÁDRUPLA PARA A HIPÓTESE 2
Não-Y Y Total
X782 510 1.292 (24,78%)
Não-X 2.736 1.185 3.921 (75,22%)
Total 3.518 (67,49%) 1.695 (32,51%) 5.213
FONTE: Dados da pesquisa.
Onde:
X = Votou com os EUA em determinada votação indicada como importan-
te pelo governo norte-americano; e
Y = O chefe de Estado daquele país, durante aquela votação, havia tido
contato prévio com instituições de ensino norte-americanas.
H3: Um Estado é mais propenso a votar junto com EUA na AGNU
16. Em todas as hipóteses o valor-p
retornou resultados inferiores a 0,001,
refutando a hipótese nula.
16
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 3, (out. 2022), p. 7-20
quando seu chefe de Estado teve contato prévio com instituições de ensi-
no norte-americanas, ou de outros membros da OTAN.
TABELA 5 – TABELA QUÁDRUPLA PARA A HIPÓTESE 3
Não-Y Y Total
X751 1.107 1.858 (5,72%)
Não-X 13.992 16.611 30.603 (94,28%)
Total 14.743 (45,42%) 17.718 (54,58%) 32.461
FONTE: Dados da pesquisa.
Onde:
X = Votou com os EUA em determinada votação; e
Y = O chefe de Estado daquele país, durante aquela votação, havia tido
contato prévio com instituições de ensino norte-americanas ou de outros mem-
bros da OTAN.
H4: Um Estado é mais propenso a votar junto com EUA na AGNU,
em pautas consideradas importantes pelo governo norte-americano,
quando seu chefe de Estado teve contato prévio com instituições de ensi-
no norte-americanas, ou de outros membros da OTAN.
TABELA 6 – TABELA QUÁDRUPLA PARA A HIPÓTESE 4
Não-Y Y Total
X535 757 1.292 (24,78%)
Não-X 1.835 2.086 3.921 (75,22%)
Total 2.370 (45,46%) 2.843 (54,54%) 5.213
FONTE: Dados da pesquisa.
Onde:
X = Votou com os EUA em determinada votação indicada como importan-
te pelo governo norte-americano; e
Y = O chefe de Estado daquele país, durante aquela votação, havia tido
contato prévio com instituições de ensino norte-americanas ou de outros mem-
bros da OTAN.
6. DISCUSSÃO
Retomando os postulados de Davis (1976) sobre a interpretação
adequada para os valores de Qxy, temos que todas as variões do teste
retornaram resultados utuando entre +0,108 e +0,202, caindo dentro do
intervalo considerado pelo autor como “associações positivas baixas”. A
17
Douglas Novelli, Alexsandro Eugênio Pereira Los“Nosso mais valioso recurso”:
mensurando o impacto dos programas de intercâmbio estadunidenses sobre o comportamento internacional de outros Estados
Tabela 7 resume os resultados do teste Qxy em todas as hipóteses testadas,
diferenciando-as com base nas alterações das variáveis x e y.
TABELA 7 – RESUMO DOS COEFICIENTES Qxy NAS HIPÓTESES TESTADAS
Votou com os EUA em determi-
nada votação
Votou com os EUA em determi-
nada votação importante
Teve contato com instituições de
ensino estadunidenses +0,193 (H1) +0,202 (H2)
Teve contato com instituições
de ensino estadunidenses ou de
outros membros da OTAN
+0,108 (H3) +0,109 (H4)
FONTE: Dados da pesquisa.
A alteração na variável x, presente nas hipóteses 2 e 4, que conside-
ra apenas as votações indicadas como importantes pelo governo estadu-
nidense, representou um aumento no coeciente de associação de Yule
se comparado às suas contrapartes nas hipóteses 1 e 3, que consideram
as votações em sua totalidade. Tal aumento, contudo, foi marginal (de
+0,193 para +0,202; e de +0,108 para +0,109), estando de acordo com es-
tudos produzidos por outros autores que há anos indicam que o recorte
exclusivo sobre as votações consideradas importantes pelos EUA não pro-
duz alterações signicativas nos resultados das pesquisas (CHARLES W.
KEGLEY JR. E MCGOWAN, 1981; WITTKOPF, 1973).
Por outro lado, ao alterar a variável y, considerando também os
chefes de Estado que tiveram contato com instituões de ensino de países
aliados aos EUA (aqui recortados como os Estados membros da OTAN),
os coecientes Qxy sofreram uma queda digna de nota (de +0,193 para
+0,108; e de +0,202 para +0,109), o que vai na direção de invalidar o argu-
mento de que a socialização acadêmica em países aliados também produ-
ziria alterações positivas nas atitudes desses chefes de Estado com relação
aos EUA. Isso reforça a ideia de que a teoria pode ter algum fundamento,
mas exclusivamente quando consideramos o contato com instituições de
ensino estadunidenses.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados forneceram evidências que corroboram com a hipó-
tese de que o contato prévio com instituições de ensino norte-americanas
por parte de chefes de Estado produz uma postura mais positiva dessas
nações em relação aos EUA. Apesar do impacto ser baixo, é relevante
notar que o mesmo é produzido por políticas que custam relativamente
muito pouco aos cofres públicos norte-americanos, apresentando uma ex-
celente relação custo-benefício se comparada a outras políticas destinadas
a ampliar a inuência internacional dos EUA, como ajuda nanceira in-
ternacional e gastos na indústria militar. Naturalmente, esses resultados
são apenas o primeiro passo para vericar se a teoria se sustenta e mensu-
rar os impactos reais que programas de intercâmbio destinados a futuros
líderes exercem sobre o comportamento internacional de outros Estados.
Alguns dos principais desaos encontrados no presente artigo
18
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 3, (out. 2022), p. 7-20
dizem respeito as próprias limitações do desenho de pesquisa empre-
gado. Apesar de apresentar a vantagem de ser estatisticamente testável
em grande escala – razão pela qual este desenho de pesquisa foi esco-
lhido –, este cai nos mesmos impasses já notados em pesquisas seme-
lhantes, notavelmente: não ser capaz de mensurar a profundidade e
extensão das interações sociais entre os estudantes e a população local
(ATKINSON, 2010); desconsiderar fatores como se o aluno recebeu uma
bolsa ou pagou seus próprios estudos, além da possibilidade de ter tido
experiências desapontadoras ou mesmo solitárias (LOMER, 2017); e não
ser capaz de fatorar as chances da exposição prolongada a cultura e so-
ciedade norte-americanas acabarem por destacar os aspectos negativos
das mesmas, produzindo uma duradoura animosidade em relação ao
país (FREYBURG, 2015).
Em termos objetivos, os resultados apresentados comprovam que
os Estados-membros do GRULAC, no período entre o m da Guerra Fria
e dezembro de 2017, foram mais propensos a votar junto com os EUA
na AGNU quando governados por um chefe de Estado que havia tido
contato com instituições de ensino norte-americanas no passado. Apesar
da generalização ser especulável em termos teóricos, esses resultados ca-
recem de conrmação para quaisquer casos que fujam ao que foi empiri-
camente testado. Assim, uma agenda de pesquisa futura nesse tema deve
envolver a expansão do teste aqui executado, vericando sua validade em
Estados que não fazem parte da região da América Latina e Caribe, além
de procurar incluir as variáveis aqui apresentadas em modelos estatísticos
mais completos voltados a entender os padrões de votação dos Estados na
AGNU.
REFERÊNCIAS BIBLIOGFICAS
ANDERSEN, T. B.; HARR, T.; TARP, F. On US politics and IMF lending. European Economic
Review, v. 50, n. 7, p. 1843–1862, 2006.
ATKINSON, C. Constructivist Implications of Material Power: Military Engagement and the
Socialization of States 1972–2000. International Studies Quarterly, v. 50, p. 509–537, 2006.
ATKINSON, C. Does Soft Power Matter? A Comparative Analysis of Student Exchange Pro-
grams 1980-“2006. Foreign Policy Analysis, v. 6, n. 1, p. 1–22, 2010.
BAILEY, M. A.; STREZHNEV, A.; VOETEN, E. United Nations General Assembly Voting Data.
Harvard Database, v. 18, 2009.
BAILEY, M. A.; STREZHNEV, A.; VOETEN, E. Estimating Dynamic State Preferences from
United Nations Voting Data. p. 1–27, 2015.
BECK, P. A.; JENNINGS, M. K. Family Traditions, Political Periods, and the Development of
Partisan Orientations. Journal of Politics, v. 53, p. 742–763, 1991.
BELLIN, E. Reconsidering the Robustness of Authoritarianismin the Middle East. Comparative
Politic, v. 44, n. 2, p. 127–149, 2012.
BENNIS, P. The United Nations and Palestine: partition and its aftermathUN stance on Pal-
estine’s displacement by creation of Israel. Arab Studies Quarterly, v. 19, n. 3, p. 47–77, 1997.
BEYERS, J. Conceptual and methodological challenges in the study of European socialization.
Journal of European Public Policy, v. 17, n. 6, p. 909920, 2010.
CAMPBELL, A. K. UN Voting and Alliance Cohesion. Millennium: Journal of International
Studies, v. 1, n. 2, p. 4–16, 1971.
CERVI, E. U. Manual de Métodos Quantitativos para iniciantes em Ciência Política - Volu-
me 2. Curitiba: CPOP, 2019.
19
Douglas Novelli, Alexsandro Eugênio Pereira Los“Nosso mais valioso recurso”:
mensurando o impacto dos programas de intercâmbio estadunidenses sobre o comportamento internacional de outros Estados
CHAYES, A.; CHAYES, A. H. The New Sovereignty: Compliance with International Regulato-
ry Agreements. Cambridge: Harvard University Press, 1996.
CHECKEL, J. T. International institutions and socialization in Europe: Introduction and frame-
work. International Organization, v. 59, n. 4, p. 801826, 2005.
CIALDINI, R. Compliance Principles of Compliance Professionals: Psychologists of Necessity.
In: ZANNA, M. P.; OLSON, J. M.; HERMAN, C. P. (Eds.). Social Inuence: The Ontario Sym-
posium, vol. 5. Hillsdale: Lawrence Erlbaum, 1987. p. 165–184.
COOPER, J.; BLACKMAN, S. F.; KELLER, K. T. The science of attitudes. New York: Rout-
ledge, 2016.
COPE, J. A. International Military Education and Training: An Assessment. Washington,
DC: National Defense University, Institute for National Strategic Studies, 1995.
DAVIS, J. A. Levantamento de Dados em Sociologia: uma alise estatística elementar. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1976.
DIMITROVA, A.; PRIDHAM, G. International actors and democracy promotion in central and
eastern Europe: the integration model and its limits. Democratization, v. 11, n. 5, p. 91–112,
2004.
DREHER, A.; NUNNENKAMP, P.; THIELE, R. Does US aid buy UN general assembly votes? A
disaggregated analysis. Public Choice, v. 136, n. 1–2, p. 139–164, 2008.
DREHER, A.; STURM, J. E. Do IMF and World Bank Inuence Voting in the UN General As-
sembly? Thurgau Institute of Economics. Foreign Aairs, n. December 2004, p. 1–40, 2006.
FREYBURG, T. Transgovernmental networks as catalysts for democratic change? eu functional
cooperation with arab authoritarian regimes and socialization of involved state ocials into
democratic governance. Democratization, v. 18, n. 4, p. 1001–1025, 2011.
FREYBURG, T. Transgovernmental Networks as an Apprenticeship in Democracy? Sociali-
zation into Democratic Governance through Cross-national Activities. International Studies
Quarterly, v. 59, n. 1, p. 59–72, 2015.
GIFT, T.; KRCMARIC, D. Who Democratizes? Western-educated Leaders and Regime Transi-
tions. Journal of Conict Resolution, v. 61, n. 3, p. 671–701, 2017.
GREENHILL, B. The Company You Keep: InternationalSocialization and the Diusion of Hu-
manRights Norms. International Studies Quarterly, v. 54, p. 127–145, 2010.
HOLLOWAY, S. Forty Years of United Nations General Assembly Voting. Canadian Journal of
Political Science, v. 23, n. 02, p. 279, 2009.
JOHNSTON, A. I. Treating international institutions as social environments. International
Studies Quarterly, v. 45, n. 4, p. 487–515, 2001.
KEGLEY JR., C. W.; HOOK, S. J. U.S. foreign aid and U.N. voting: did Reagan’s linkage strategy
buy defence or deance? International Studies Quarterly, n. 35, p. 295–312, 1991.
KEGLEY JR., C. W.; MCGOWAN, P. J. The Political Economy of Foreign Policy. Beverly Hills:
SAGE Publications, 1981.
KELLEY, J. International Actors on the Domestic Scene: Membership Conditionality and Socia-
lization byInternational Institutions. International Organization, v. 58, n. 3, p. 425–457, 2004.
KIM, S. Y.; RUSSETT, B. The new politics of voting alignments in the United Nations General
Assembly. International Organization, v. 50, n. 04, p. 629, 1996.
LOMER, S. Soft power as a policy rationale for international education in the UK: a critical
analysis. Higher Education, v. 74, n. 4, p. 581–598, 2017.
MILLER, A. H. Promoting Democratic Values in Transitional Societies through Foreign
Aid. Midwest Political Science Association Annual Meeting. Chicago: 2006
MORAVCSIK, A. Explaining International Human Rights Regimes: Liberal Theory and Wes-
tern Europe. European Journal of International Relations1, v. 1, p. 157–190, 1995.
NAFSA. In America’s Interest: Welcoming International Students, 2003. Disponível em: <ht-
tps://www.nafsa.org/sites/default/les/ektron/uploadedFiles/NAFSA_Home/Resource_Li-
brary_Assets/Public_Policy/in_america_s_interest.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2020
NAPIER, R. W.; GERSHENFELD, M. K. Groups: Theory and Experience. 4th Ed. ed. Boston:
Hough- ton Miin, 1987.
NISBETT, R. E.; COHEN, D. Culture of Honor: The Psychology of Violence in the South.
20
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 3, (out. 2022), p. 7-20
Boulder: Westview Press, 1996.
NOVELLI, D. H.; PEREIRA, A. E. The Role of International Institutions in Promoting Demo-
cracy: a Brief Literature Review of Recent Studies (2010-2019). Mural Internacional, v. 11, 2020.
NYE, J. S. Soft Power: The Means to Sucess in World Politics. Cambridge: Public Aairs, 2004.
NYE, J. S. Public diplomacy and soft power. Annals of the American Academy of Political and
Social Science, v. 616, n. 1, p. 94–109, 2008.
PERLOFF, R. M. The Dynamics of Persuasion - Communication and Attitudes in the 21st
Century. 6th Editio ed. New York: Routledge, 2017.
PEVEHOUSE, J. C. Democracy from the Outside-In? International Organizations and Demo-
cratization. International Organization, v. 56, n. 3, p. 515–549, 2002a.
PEVEHOUSE, J. C. With a Little Help from My Friends? Regional Organizations and the Con-
solidation of Democracy. American Journal of Political Science, v. 46, n. 3, p. 611–626, 2002b.
PEVEHOUSE, J. C. Democracy from Above - Regional Organizations and Democratization.
New York: Cambridge University Press, 2005.
POTRAFKE, N. Does government ideology inuence political alignment with the U . S .? An
empirical analysis of voting in the UN General Assembly. Review of International Organiza-
tions, v. 4, p. 245–268, 2009.
POWELL, C. L. Statement on International Education Week 2001, 2001. Disponível em:
<https://2001-2009.state.gov/secretary/former/powell/remarks/2001/4462.htm>. Acesso em:
4 mar. 2020
RICHMOND, Y. Cultural Exchange and the Cold War: Raising the Iron Curtain. University
Park: Pennsylvania State University Press, 2003.
RUBY, T. Z.; GIBLER, D. US professional military education and democratization abroad. Eu-
ropean Journal of International Relations, v. 16, n. 3, p. 339–364, 2010.
SELLTIZ, C. et al. Attitudes and Social Relations of Foreign Students in the United States.
Minneapolis: University of Minnesota Press, 1963.
STRYKER, S.; STATHAM, A. Symbolic Interaction and Role Theory. In: LINDZEY, G.; ARON-
SON, E. (Eds.). . The Handbook of Social Psychology. New York: Random House, 1985. p.
311378.
SUSSKIND, L. Environmental Diplomacy: Negotiating More Eective Global Agreements.
London: Oxford University Press, 1994.
THACKER, S. C. The high politics of IMF lending. World Politics, n. 52, p. 38–75, 1999.
TURNER, J. C. Rediscovering the Social Group. Oxford: Basil Blackwell, 1987.
UNITED STATES DEPARTMENT OF STATE (2018). Voting Practices in the United Nations
2017 - Report to Congress Submitted Pursuant to Public Laws 101-246 and 108-447. Disponível
em: <https://www.state.gov/wp-content/uploads/2019/05/Voting-Practices-in-the-United-Na-
tions-2017.pdf>. Acesso em: 3 abr. 2020.
WANG, X.-L. Cultural Mediators or Marginal Persons? Geographical Review, v. 81, p. 292–303,
1991.
WATSON, J.; LIPPITT, R. Cross-Cultural Experience as a Source of Attitude Change. Journal
of Conict Resolution, v. 2, p. 61–66, 1958.
WILSON, E. C.; BONILLA, F. Evaluating Exchange of Persons Programs. The Public Opinion
Quarterly, v. 19, n. 20–30, 1955.
WITTKOPF, E. R. Foreign Aid and United Nations Votes: A Comparative Study. American
Political Science Review, v. 67, n. 03, p. 868888, 1973.
WOJCIUK, A.; MICHAŁEK, M.; STORMOWSKA, M. Education as a source and tool of soft
power in international relations. European Political Science, v. 14, n. 3, p. 298–317, 2015.
YOUNG, O. The Eectiveness of International Institutions: Hard Cases and Critical Variables.
In: ROSENAU, J. N.; CZEMPIEL, E. O. (Eds.). . Governance Without Government: Order and
Change in World Politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. p. 160–194.
YULE, G. U.; KENDALL, M. G. An introduction to the theory of statistics. London: Charles
Grin, 1937.