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Tawq ALfai, Luis da Vinha Segurança do Golfo Pérsico em uma Nova Era de Compeção Geopolíca Global
Segurança do Golfo Pérsico em uma Nova
Era de Competição Geopolítica Global
Persian Gulf Security in an New Era of Geopolitical
Competition
La Seguridad del Golfo Pérsico en una Nueva Era de
Competencia Geopolítica Mundial
Tawfiq ALfaifi1
Luis da Vinha2
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2022v10n3p53-69
Recebido em: 17 de junho de 2022
Aprovado em: 20 de março de 2023
R
Ao longo das décadas, a segurança no Oriente Médio tem sido inuenciada tanto
por fortes interdependências de segurança regionais e globais. Desde o m da Guer-
ra Fria, os Estados Unidos têm desempenhado um papel importante na determina-
ção da segurança da região, com os Estados do Conselho de Cooperação do Golfo
se tornando cada vez mais dependentes das garantias de segurança americanas. No
entanto, o pivô estratégico dos EUA para a região Ásia-Pacíco e a crescente conso-
lidação da China como uma potência global, fez com que a dinâmica de segurança
do Oriente Médio voltasse a uir. Este artigo emprega o conceito de complexo
regional de segurança, aliado a uma lente teórica realista, para analisar como a cres-
cente rivalidade sino-americana afeta a segurança do Golfo Pérsico ao identicar os
interesses dessas duas potências no Oriente Médio e a dinâmica regional emergente.
Palavras-chave: competição geopolítica; equilíbrio de interesses; segurança do
Golfo Pérsico; complexo regional de segurança
A
Over the decades, Middle Eastern security has been inuenced by both strong re-
gional and global security interdependencies. Since the demise of the Cold War,
the U.S. has played a major role in determining the regions security, with the
Gulf Cooperation Council states becoming increasingly dependent on American
security guarantees. However, the U.S. strategic pivot to the Asia-Pacic region
and China’s increasing consolidation as a global power has set the Middle Easts
security dynamics again into ux. This article employs a regional security com-
plex framework, paired with a realist theoretical lens, to analyze how the growing
Sino-American rivalry aects Persian Gulf security by identifying the interests of
these two powers in the Middle East and the emerging regional dynamics.
Keywords: balance of interest; geopolitical competition; Persian Gulf security;
regional security complex
1. Master’s degree, Flinders University.
E-mail: tawfiqalfaifi@gmail.com. ORCID:
orcid.org/0000-0002-5948-4324.
2. Doutor, Flinders University. E-mail:
luis.davinha@flinders.edu.au. ORCID:
orcid.org/0000-0002-7222-5095.
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R
A lo largo de las décadas, la seguridad de Oriente Medio se ha visto inuida por
las fuertes interdependencias regionales y mundiales en materia de seguridad.
Desde la desaparición de la Guerra Fría, los Estados Unidos ha desempeñado un
papel fundamental en la determinación de la seguridad de la región, y los Estados
del Consejo de Cooperación del Golfo dependen cada vez más de las garantías de
seguridad estadounidenses. Sin embargo, el pivote estratégico de los Estados Uni-
dos hacia la región de Asia-Pacíco y la creciente consolidación de China como
potencia mundial han hecho que la dinámica de seguridad de Oriente Medio vuel-
va a cambiar. Este artículo emplea un marco de complejo de seguridad regional,
emparejado con una lente teórica realista, para analizar cómo la creciente rivalidad
sino-estadounidense afecta a la seguridad del Golfo Pérsico, identicando los inte-
reses de estas dos potencias en Oriente Medio y la dinámica regional emergente.
Palabras clave: competición geopolítica; equilibrio de intereses; seguridad del
Golfo Pérsico; complejo regional de seguridad
Introdução
Durante a Guerra Fria, o complexo regional de segurança (CRS) do
Oriente Médio foi caracterizado tanto pela rivalidade como pela coopera-
ção fomentada pela competição ideogica e política entre os Estados Uni-
dos (EUA) e a União Sovtica. Ao nível regional, os processos de securiti-
zação centraram-se em torno da autodeterminação, soberania, padrões de
amizade e inimizade, e multipolaridade competitiva. Estes padrões regio-
nais revelaram uma forte interdependência da segurança regional e foram
reforçados pelas ações das potências globais (BUZAN; VER, 2003).
Na era pós-Guerra Fria, todo o padrão de segurança internacional foi in-
uenciado pelo denhamento da União Sovtica e pela hegemonia dos
EUA. Durante o período da unipolaridade americana, os EUA tiveram um
papel importante na determinação da segurança da região (HINNEBUS-
CH; EHTESHAMI, 2014). Consequentemente, a distribuição do poder no
sub-complexo do Golfo foi transformado, pois os estados do Conselho de
Cooperação do Golfo (CCG) se tornaram mais dependentes da segurança
dos EUA. Além disso, após os ataques terroristas de 11 de setembro de
2001, o envolvimento dos EUA na região se intensicou, consolidando seu
papel como garante militar e político do status quo no Oriente Médio.
Durante a última década, os EUA procuraram se desvincular da
região como resultado da renovada competição com a China. Desde 2011,
a importância do Oriente Médio para Washington tem sido progressiva-
mente despriorizada à medida que a ênfase geopolítica se desloca para
a região da Ásia-Pacíco. Em contraste, os vastos recursos naturais e o
crescimento econômico da região têm levado a China, através de sua ini-
ciativa Nova Rota da Seda, ou Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road
Initiative – BRI), a expandir suas parcerias estratégicas com os estados re-
gionais do Oriente Médio. Todavia, conter a China na região Ásia-Pací-
co implica restringir seu acesso às bases econômicas do seu poder militar
(MEARSHEIMER, 2019). Portanto, Washington procurará minimizar
as parcerias da China no Oriente Médio, em particular no Golfo Pérsi-
co. Como resultado da rivalidade sino-americana, haverá também mais
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oportunidades para as potências regionais manobrarem politicamente
(WALT, 2021). A compreensão da dinâmica regional resultante da nova
distribuição global do poder é, portanto, imperativa. Assim, este artigo
procura abordar a questão fundamental de como é que a crescente com-
petição geopolítica sino-americana afeta a segurança do Golfo Pérsico.
Para responder a esta pergunta, empregamos um quadro CRS para
enquadrar a analisar as condições internas, bem como as interações regio-
nais com as potências globais. Enquanto a teoria do CRS tende a favorecer o
nível regional de alise, ela não negligencia o papel de atores externos nas
dimicas de segurança regional. Como Buzan e Wæver (2003, p. 52) argu-
mentam, “os padrões regionais de rivalidade podem se alinhar com, e ser re-
forçados por, potências globais.” Por conseguinte, o CRS do Oriente Médio
pode ser denido como uma área composta por um grupo de estados onde
as questões-chave de segurança se sobrepõem na medida em que suas preo-
cupações de segurança nacional não podem ser resolvidas isoladamente.
Três sub-complexos regionais se desenvolveram dentro do CRS do Oriente
Médio: dois principais compostos pelo Levante e Golfo Pérsico e um menor
no Magrebe (BUZAN; VER, 2003). Dentro do Oriente Médio, o Golfo
Pérsico emergiu como uma região central devido à imporncia geopolítica
e econômica de seus vastos recursos petrolíferos (SHAYAN, 2017). Portan-
to, neste estudo, o Golfo Pérsico refere-se a uma área geogca composta
pelos Estados do CCG e não-CCG, que compreende Bahrein, Kuwait, Omã,
Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU), Iraque e Irã.
O artigo prossegue com uma avaliação da perspectiva global e re-
gional das duas Grandes Potências– i.e., os EUA e a China. Seguidamente,
usamos os conceitos de equilíbrio de poder (WA LT, 1985) e equilíbrio de in-
teresses (SCHWELLER, 1994) para analisar a dimica regional emergente
no CRS do Oriente Médio, antes de fornecer algumas notas conclusivas.
Perspectivas Sino-Americanas de Segurança Global e Regional
Ao contrário das expectativas de muitos estudiosos (FUKUYAMA,
1989), o m da Guerra Fria e a consolidação da ordem liberal interna-
cional liderada pelos EUA não marcaram o m da política da Grandes
Potências e da competição geopolítica. De fato, nos últimos anos temos
testemunhado a China e a Rússia perseguindo de forma assertiva seus
interesses estratégicos e desaando a primazia americana. O poder eco-
nômico e militar de Pequim cresceu signicativamente ao longo das dé-
cadas, levando muitos analistas políticos a argumentar que a estrutura
do sistema internacional está à beira de uma transformação fundamental
(XINBO, 2018). John Mearsheimer (2019) argumenta que o sistema inter-
nacional está sendo organizado em duas ordens circunscritas “densas”
– uma liderada pelos EUA, e outra liderada pela China – denidas pela
competição de segurança e uma ordem internacional “na” que ajudará a
gerenciar o controle de armas e a estabilidade econômica.
A visão de uma competição geopolítica renovada tem sido enfatizada
em vários documentos estratégicos dos EUA (OROURKE, 2021). Isto implica
uma mudança nas prioridades geo-estratégicas de Washington do Oriente
Médio para a Ásia-Pacíco e uma ênfase renovada na competição entre as
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Grandes Potências. Esta reorientação política foi evidente na Estratégia de
Segurança Nacional da administração Trump que identicou a China como
uma potência revisionista que “procura deslocar os Estados Unidos na região
Indo-Pacíco, expandir o alcance de seu modelo econômico orientado pelo
Estado e reordenar a região a seu favor” (NSS, 2017, p. 25). A administração
Biden adotou uma perspectiva estratégica semelhante e sua Interim National
Security Strategic Guidance of the United States rotulou a China como seu prin-
cipal concorrente, argumentando que ela representa uma ameaça fundamen-
tal para “um sistema internacional estável e aberto” (INSSG, 2021, p. 8). Para
enfrentar este desao, a administração destaca a necessidade de “promover
uma distribuição favorável do poder para dissuadir e impedir que os adver-
rios ameacem diretamente os EUA e nossos aliados, inibindo o acesso aos
bens comuns globais, ou dominando regiões-chave” (INSSG, 2021, p. 9).
A China, por sua vez, tem adotado cada vez mais uma política Going
Global que procura fortalecer sua inuência na África, Europa, América La-
tina e no Oriente Médio (SHAMBAUGH, 2020). Inicialmente, seus objetivos
estratégicos se concentravam em garantir matérias-primas e recursos ener-
géticos para atender suas crescentes necessidades econômicas. Entretanto,
desde que Xi Jinping chegou ao poder em 2012, a China tem mostrado uma
crescente assertividade e desempenhado um papel ativo no cenário mun-
dial. Nos últimos anos, a China começou a buscar uma mudança sistemática
na estrutura da economia global sem se envolver em um confronto direto
com os EUA. Por exemplo, em 2013, o Presidente Xi Jinping anunciou o BRI
como um programa ambicioso para expandir o alcance e a inuência da
da China (NAUGHTON, 2020). O livro branco sobre a “Cooperação Inter-
nacional da China para o Desenvolvimento na Nova Era” enfatiza o papel
do BRI como uma plataforma para a atividade comercial global da China,
destacando a cooperação para o desenvolvimento “Sul-Sul” como o foco
da política externa da China (PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINA, 2020). Se-
gundo Mearsheimer (2019), o BRI e o Banco Asiático de Investimento em
Infraestrutura (AIIB) não apenas impulsionam o crescimento econômico de
Pequim, mas visam projetar seu poder militar e político globalmente. Por-
tanto, estas iniciativas são parte central de uma estratégia que visa construir
um novo centro de globalização localizado em Pequim (MAYER, 2018).
Em resposta explícita ao BRI, os Estados Unidos dedicaram esforços
consideráveis para minar as ambições da China, exortando a comunidade
internacional a rejeitar o BRI. Mais recentemente, os líderes do G7 adota-
ram a iniciativa Build Back Better World (B3W), “uma parceria de infraes-
trutura de alto nível, transparente e orientada por valores,” destinada a
apoiar países de baixo e médio rendimento na construção de melhor in-
fraestrutura (THE WHITE HOUSE, 2021). Da mesma forma, na recente
Summit for Democracy organizada pelos EUA, mais de 100 estados se reu-
niram, incluindo o Iraque e Israel, para enfatizar novamente seu compro-
misso com a democracia e denunciar a autocracia. Assim, é previsível que
os Estados Unidos e seus aliados pressionarão cada vez mais os Estados do
Oriente Médio a reduzir ou eliminar sua dependência do BRI da China.
A política dos Estados Unidos para o Oriente Médio desde o perío-
do pós-Segunda Guerra Mundial tem se baseado em três pilares princi-
pais: 1) garantir um fornecimento seguro e barato de petróleo bruto para
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as economias ocidentais, 2) garantir a segurança de Israel, e 3) promover
o anticomunismo (BUZAN; V ER, 2003). Entretanto, ao longo das
décadas, alguns aspectos desta tríade têm perdido sua relencia, desig-
nadamente com o nal da Guerra Fria. Até o início da década de 2010, a
determinação e as capacidades americanas foram os fatores decisivos para
manter a sua primazia na região. Entretanto, desde então, o compromis-
so dos Estados Unidos com a região parece estar diminuindo. Os conitos
com os adversários no Oriente Médio não representam mais uma ameaça
vital. Consequentemente, “os EUA estão gradualmente se afastando do
Oriente Médio mais devido à falta de vontade do que capacidade mate-
rial” (YOM, 2020, p. 76). Esta redução no compromisso não implica no
abandono total da região. Ao contrário, enquanto a estratégia de oshore
balancing de Washington limitará o intervencionismo americano, um ata-
que signicativo aos interesses americanos e o colapso ou reorganização
da ordem regional obrigará novamente o envolvimento direto dos EUA
na região. Esta reorientação da política é discernível na política da admi-
nistração Biden que se concentra em garantir a segurança de Israel, com-
batendo a inuência das Grandes Potências rivais (i.e., China e Rússia),
eliminando as redes terroristas e impedindo a agressão iraniana (INSSG,
2021). À medida que o engajamento americano diminui no Oriente Mé-
dio, os poderes regionais, bem como os poderes externos, se esforçarão
para preencher o vácuo de poder, seja aumentando sua auto-suciência
ou formando novas e complexas alianças geoestratégicas (COOK, 2021a).
Da mesma forma, os objetivos estratégicos da China no Oriente
Médio são múltiplos e inter-relacionados. Ao longo das décadas, o inte-
resse e a dependência econômica da China no Oriente Médio cresceram
signicativamente e a região adquiriu maior importância geoestratégica
(SCOBELL, 2017). Para Pequim, o Oriente Médio tornou-se uma fonte vi-
tal de recursos energéticos, um mercado promissor para o comércio e in-
vestimento em infra-estrutura e uma fonte de demanda crescente para a
venda de armas militares (SALMAN; PIEPER; GEERAERTS, 2015). Além
disso, o Oriente Médio é estratégico para o BRI devido à sua posição geo-
gca na conuência da Ásia, Europa e África. No Arab Policy Paper, a
abordagem estratégica de Pequim enfatiza a busca do desenvolvimento
comum, o benefício mútuo e a manutenção de um nível elevado de coo-
perão “win-win” (ganha-ganha) com os estados do Oriente Médio (CHI-
NESE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS, 2016). Entretanto, em 2019, a
China havia superado os EUA como o maior parceiro comercial da maio-
ria dos países do Oriente Médio (US TRADE REPRESENTATIVE, 2021).
Vários estados do Oriente Médio acolheram os investimentos da
China e os vincularam às suas estratégias nacionais. Por exemplo, ape-
sar das preocupações dos EUA, o grupo estatal Shanghai International
Port Group foi autorizado a investir e operar o Porto Haifa de Israel por
25 anos. Além disso, as empresas chinesas também estão trabalhando na
construção e operação de um terminal privado em Ashdod e de um trem
leve em Tel Aviv (KERSTEIN, 2021). No Irã, a China se comprometeu a
investir US$400 bilhões nos próximos 25 anos em troca de um forneci-
mento contínuo de petróleo (FASSIHI; MYERS, 2021). Muitos Estados do
CCG também associaram suas reformas e estratégias de crescimento ao
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BRI. Por exemplo, a Arábia Saudita incorporou o BRI em seu ambicioso
Programa Nacional de Transformação – iniciativa Visão 2030. De forma se-
melhante, funciorios do Kuwaiti declararam que a parceria do BRI com
a China ajuda o país a alcançar sua 2035 Vision for Development (FULTON,
2017). Nos Emirados Árabes Unidos e no Qatar, a presença de bancos chi-
neses tem sido utilizada para facilitar o comércio no RMB chinês através
da negociação de acordos de troca de moedas (FULTON, 2020). Mais im-
portante ainda, a China militarizou o Porto Khalifa dos EAU, que é opera-
do pelo conglomerado naval chinês COSCO (LUBOLD; STROBEL, 2021).
Historicamente, o Oriente Médio tem sido um ponto focal da com-
petição geopolítica global. A China tem procurado se distinguir de outras
potências, reiterando que não procura interferir nos assuntos internos da
região. Em sua abordagem da região, Pequim enfatiza publicamente o prin-
cípio da não-interferência e do respeito pela soberania do estados (PAPA,
2021). Nas últimas décadas, a China tem sido capaz de atingir seus objetivos
de segurança no Oriente Médio com um esforço mínimo. Entretanto, isso
pode não ser o caso nos próximos anos. Até agora, o papel dos Estados
Unidos na região abriu o caminho para que a China ampliasse sua inuên-
cia econômica. No entanto, o crescente descomprometimento dos Estados
Unidos com os assuntos regionais provavelmente mudará a equação de
segurança no Oriente Médio, deixando uma lacuna. Portanto, é provel
que a China se envolva cada vez mais com questões relacionadas com a
segurança para sustentar e proteger seus crescentes interesses econômicos.
Implicações da Competição Sino-Americana na Segurança do Golfo Pérsico
As mudanças no equilíbrio de poder global levaram a mudanças dra-
máticas nas atitudes e políticas do sub-complexo de segurança do Golfo
Pérsico. Desde a descolonização, os EUA têm procurado preencher o vazio
de poder. Com o declínio da ameaça soviética e o alívio da beligerância entre
os estados árabes e israelenses, a política de segurança dos Estados Unidos
na região concentrou-se cada vez mais no avao do processo de paz israe-
lo-árabe, na segurança energética, no combate ao terrorismo internacional
e na contenção da proliferação de armas de destruição em massa (ADM).
No entanto, a retirada política, militar e econômica dos EUA da região tem
sido acompanhada pelo aumento do papel de outras potências globais pro-
curando preencher o vazio. A Rússia tem demonstrado seu compromisso
com a segurança dos aliados regionais ao se colocar do lado do regime de
Assad contra a comunidade internacional. No entanto, a China é o mais im-
portante novo agente de segurança da região. A orientação de Pequim em
direção ao Oriente Médio também ecoa o desejo de vários atores regionais
que querem que ela desempenhe um papel mais ativo. No entanto, a di-
mica inerente à emergente competição sino-americana é provável que se
desenvolva na região. Enquanto nas próximas décadas o Indo-Pacíco será
a região pivô na competição geopolítica entre os EUA e a China, o Oriente
Médio possui ativos estratégicos sucientes para manter as duas potências
condicionalmente engajadas. Isto, entretanto, coloca novos desaos para os
atores regionais que precisarão conciliar os interesses do parceiro de segu-
rança tradicional e de um novo parceiro econômico promissor.
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Mapeando o sub-complexo de segurança do Golfo
Várias variáveis podem ter aberto o caminho para os estados re-
gionais buscarem uma estrutura cooperativa. A Declaração da al-Ula que
põe m ao boicote do Qatar (GULF COOPERATION COUNCIL, 2021),
as conversações Irã- Arábia Saudita (US INSTITUTE OF PEACE, 2021),
a Conferência de Bagdá para Cooperação e Parceria (GOVERNMENT
OF IRAQ, 2021), e as conversações do Quarteto Turco-Árabe (ATAMAN,
2021) são exemplos de possível cooperação regional. No entanto, apesar
destas tentativas ambiciosas, pode ser difícil alcançar uma estrutura de
cooperação em um meio regional onde os interesses dos atores estejam
em desacordo. Por exemplo, apesar de suas garantias, Teerã quer uma
cooperação que não afete suas ambições nucleares, arsenal balístico e ex-
pansões regionais, o que é inconsistente com os interesses dos estados do
Golfo, Israel e Turquia. Além disso, os atores regionais podem sinalizar
cooperação apenas para satisfazer as demandas internacionais. Por exem-
plo, o objetivo do Irã em participar das conversações sobre o seu pro-
grama nuclear é aliviar as sanções dos EUA, sinalizando a Washington
que se tornou um ator responsável. Da mesma forma, a Arábia Saudita
percebe que é difícil desaar a vontade das Grandes Potências quanto à
necessidade de Teerã voltar ao acordo nuclear. Portanto, para aliviar as
pressões internacionais, as conversações de Riad com Teerã podem ser
coerentes com as exigências internacionais e a aprovação dos EUA.
Em termos do equibrio regional de poder, a Arábia Saudita, Is-
rael, Turquia e Irã registram os maiores investimentos militares. Além
disso, a Turquia e a Arábia Saudita têm uma vantagem econômica, es-
tando entre os G-20, enquanto Israel tem uma vantagem nuclear e uma
parceria forte com os EUA. Em contraste, economicamente exausto e so-
cialmente fragmentado, o Irã encontra sua vantagem vital centrada no
patrocínio de milícias e na posse de armas nucleares. Outro ponto-chave
é que a Turquia e o Irã não querem que a Arábia Saudita monopolize a
liderança do mundo islâmico, enquanto este último vê a crescente in-
terferência iraniana no mundo árabe como uma ameaça existencial (SI-
PALAN; KALIN, 2019). Portanto, a cooperação de segurança no CRS do
Oriente Médio é aparentemente intratável. O cenário mais provável é
que as potências regionais avaliem cautelosamente suas parcerias com
as Grandes Potências a fim de salvaguardar seus interesses de segurança.
Consequentemente, as potências regionais – especialmente aquelas frus-
tradas com o status quo – buscarão estratégias pragmáticas de hedging
para expandir suas parcerias econômicas e de segurança.
De acordo com a teoria do equilíbrio de poder, a formação de alian-
ças a nível regional é a forma mais comum de responder a uma ameaça.
Assim, os poderes regionais favoráveis à manutenção do status quo se
equilibrarão contra os poderes revisionistas, enquanto que os estados
pequenos e fracos provavelmente procurarão uma estratégia de bandwa-
goning (WALT, 1985). Durante as últimas duas décadas, o Irã exibe um
poder hegemônico potencial. Ele consolidou sua esfera de inuência no
Iraque, Líbano, Síria e Iêmen, bem como na Palestina. Portanto, apesar
da forte dimica imposta pelo dilema de segurança, outras potências re-
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gionais (e.g., Israel, Turquia e Arábia Saudita), podem encontrar um obje-
tivo comum no equilíbrio contra a preponderância regional iraniana. As-
sim, é possível antecipar as opções estratégicas que as potências regionais
e os estados pequenos e vulneráveis provavelmente perseguirão ao lidar
com os desaos regionais emergentes e a competição geopolítica global.
O Irã: Estado Revisionista de Objetivos Ilimitados
De acordo com a teoria de equilíbrio de interesses, o Irã pode ser
considerado um estado revisionista que não está satisfeito com o status
quo regional. Portanto, para perseguir seus objetivos, Teerã está disposta
a aceitar maiores riscos, já que os estados revisionistas são “desinibidos
pelo medo da perda, sendo livres para perseguir uma expansão impru-
dente” (SCHWELLER, 1994, p. 103-104). Por exemplo, como resultado da
política de “xima pressão” do Presidente Trump, o Irã derrubou um
drone norte-americano e atacoun sua base militar no Iraque (DA VINHA;
DUTTON, 2022). Ao contrário dos estados favoráveis à manutenção do
status quo, o Irã é um estado maximizador de poder disposto a colocar
sua sobrevivência em risco, não apenas para manter mas para melhorar
sua posição na ordem regional. Assim, o Irã pode ser caracterizado como
um estado revisionista sem limites, pois suas ambições expansionistas
não podem ser facilmente refreadas e, portanto, constitui uma ameaça
existencial aos estados favoráveis ao status quo.
Os desenvolvimentos geopolíticos no CRS do Oriente Médio têm
servido aos objetivos do Irã de ampliar sua esfera de inuência. Apesar
de sua economia estar em deterioração, o Irã tem aproveitado suas capa-
cidades militares e de milícias para derrubar o status quo e expandir sua
agenda ideológica. Entre seus concorrentes regionais, o Irã tem a segunda
maior força militar (GLOBAL FIRE POWER, 2021) e mantém milícias
ativas em muitas capitais regionais. Dada sua estratégia revisionista, Tee-
rã forjou parcerias pragmáticas tanto com a China quanto com a Rússia.
o obstante, é importante enfatizar o fator econômico no equi-
líbrio regional de poder (MEARSHEIMER, 2001). O Irã tem a pior situa-
ção econômica entre seus concorrentes, devido às saões internacionais.
Como o poder militar requer uma base econômica sólida, o Irã tem tentado
contornar esta situação, particularmente tentando tranquilizar a comuni-
dade internacional aderindo ao Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA).
Entretanto, como o acordo sofreu obstáculos signicativos, o Irã pode ver a
parceria sino-iraniana como uma alternativa para superar as sanções inter-
nacionais e assim alcançar a segurança econômica (FALLAHI, 2021).
No atual contexto regional, é improvável que o Irã busque alianças
regionais. Ao invés disso, tentará desmantelar qualquer aliança de equilí-
brio contra ela, aproveitando suas capacidades ofensivas e milícias regionais.
Portanto, é provável que a política externa de Teerã busque duas estraté-
gias-chave: dividir e governar e chantagear. Antes de tudo, o Irã percebe
que se tornou uma ameaça existencial comum a muitos de seus rivais. Por
exemplo, o Irã não tem interesse na recente convergência entre a Arábia Sau-
dita – o poder econômico no Golfo - e Israel - a energia nuclear apoiada pelos
EUA no Levante – e procurará travar qualquer aproximação adicional entre
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Tawq ALfai, Luis da Vinha Segurança do Golfo Pérsico em uma Nova Era de Compeção Geopolíca Global
estes dois atores. Além disso, Teerã procurará esgotar Riad em sua guerra
com as milícias iemenitas Houthi, apoiadas pelo Irã, e manter suas milícias
no Levante concentradas em Israel. O Irã também reforçará a narrativa isla-
mista anti-sionista se a Arábia Saudita normalizar suas relações com Israel.
Quanto aos estados pequenos e fracos, a estratégia de chantagem é sucien-
te para colocá-los à margem, pelo menos se eles resistirem uma estratégia
de bandwagoning. Notavelmente, esta estratégia tem sido ecaz nos países do
CCG, já que os pequenos estados do Golfo não têm intenção de lidar com
potenciais ameaças militares iranianas. Portanto, isto pode pressionar prag-
maticamente todos os estados do Golfo, exceto Arábia Saudita e Bahrein, a
manter um grau variável de relações diplomáticas com Teerã.
Turquia: Estado Revisionista de Objetivos Limitados
De acordo com a teoria de equilíbrio de interesses, a Turquia pode
ser caracterizada como uma potência revisionista com objetivos limitados,
uma vez que está preparada para incorrer em altos custos para manter o
status quo e assumir custos muito mais altos para expandir seus valores. A
política externa turca reete a realidade da insatisfação com o status quo.
No entanto, esta tendência é frequentemente restringida pela preocupação
de perder ganhos relativos. Portanto, Ancara reiteradamente persegue suas
políticas expansionistas de uma maneira oportunista que tende a evitar ris-
cos. Portanto, ela se enquadra na categoria de estados revisionistas de ob-
jetivos limitados porque potenciais ameaças aos seus ganhos relativos res-
tringem temporariamente sua perspectiva expansionista (SCHWELLER,
1994). Assim, é provável que tais países se reconciliem temporariamente
com os estados favoráveis à manutenção do status quo como uma medida
excepcional para perseguir uma ameaça existencial emergente.
De fato, longe de sua declarada Policy of Zero Problems with Neighbors
(TURKISH MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS, 2021), a Turquia adotou
uma política assertiva a nível regional e internacional. Desde a primavera
árabe, a administração de Recep Erdogan adotou o islamismo político re-
presentado pelo movimento da Irmandade Muçulmana para expandir sua
esfera de inuência no mundo árabe. No entanto, seu apoio a esses movi-
mentos falhou no Egito, Marrocos, Sudão e Tunísia (AL-HABIB, 2021) e
tem contribuído para promover seu isolamento regional. Globalmente, as
relações da Turquia com a UE e os EUA deterioraram-se devido a políticas
recentes – por exemplo, explorações de gás perto de Chipre, ameaça de
empurrar migrantes para a Grécia e compra e desenvolvimento do sistema
russo de defesa aérea S-400. Entretanto, as mudanças geopolíticas regio-
nais, bem como os desaos domésticos, levaram a mudanças marcantes na
política regional da Turquia. Após a aproximação com os estdos do CCG,
continuaram as tentativas turcas para resolver os problemas com o Quar-
teto Árabe no Catar (ATAMAN, 2021). Essas tentativas podem ser associa-
das às variáveis internas da Turquia. Por exemplo, há desacordos contínuos
sobre as políticas do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP). Além
disso, a lira turca perdeu quase 75% de seu valor em relação ao dólar, com
inflação de aproximadamente 20% e desemprego de 14% (COOK, 2021b).
Além disso, as eleições presidenciais de 2023 podem estimular tempora-
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 3, (out. 2022), p. 53-69
riamente uma política de não- confrontação com os estados do Golfo para
reduzir seu isolamento – pelo menos com seus vizinhos sunitas.
Por conseguinte, apesar da crise nas relações entre a Turquia e a Ará-
bia Saudita (HARVEY; HACAOGLU, 2018), é prematuro esperar qualquer
aproximação entre Ancara and Riad, a menos que haja ameaças de segu-
rança existenciais comuns que possam superar disputas e preparar o cami-
nho para a formação de uma aliança pragmática. Quanto à ameaça nuclear
iraniana, embora Ancara raramente expresse seus receios publicamente,
as pressões da proximidade geográca e o choque de interesses em vários
países vizinhos, como Síria e Azerbaijão, são sucientes para antecipar uma
maior sensação de insegurança. Se o Irã abandonar seu programa nuclear,
isto pode abrir oportunidades econômicas para Ancara e exacerbar o dile-
ma de segurança para Riad e Jerusalém. Qualquer potencial fortalecimento
das relações econômicas com Teerã pode ser um fator decisivo para mudar
o equilíbrio de poder na região em favor do Irã, independentemente das
contradições geopolíticas na agenda regional dos dois estados. Se o Irã ad-
quirir armas nucleares, é provável que a Turquia procure inicialmente um
equilíbrio contra o Irã, aderindo a um acordo anti-iraniano como meio de
contenção e, posteriormente, perseguindo suas próprias capacidades de dis-
suasão nuclear. Em resumo, argumentamos que a Turquia não é mais um
estado isolante, como alguns teóricos do complexo de segurança regional
sugeriram (BUZAN; VER, 2003), mas sim um importante participante
no CRS do Oriente Médio. Apesar de suas tendências revisionistas regio-
nais, Ancara não jogou todas as suas cartas políticas, mas manteve opções
em aberto para restaurar as relações com os atores regionais. Assim, levan-
do em consideração os recursos militares e alianças existentes na Turquia
(e.g., a OTAN), potências regionais como Israel e Arábia Saudita, podem
eventualmente preferir tentar atrair a Turquia para seu bloco de segurança.
Israel: Estado Status Quo
Israel, por sua vez, está satisfeito com o status quo regional e tem sido
um de seus principais beneciários. Assim, tende a suumir altos custos para
dissuadir os estados revisionistas regionais e assegurar os ganhos relativos
obtidos com a ordem existente. Entre seus rivais, Israel tem uma vanta-
gem singular derivada de sua capacidade nuclear e de sua forte parceria
de segurança com os Estados Unidos. Domesticamente, seu interesse na-
cional vital reside em manter Israel a salvo das facções palestinas armadas
e da interferência regional. Regionalmente, procura impedir que qualquer
outra potência ganhe capacidades nucleares ou balísticas que possam mer-
gulhar a região em uma corrida armamentista que possa perturbar o atual
equilíbrio de poder e comprometer sua atual vantagem militar (AHREN,
2020). Além disso, procura ativamente acabar com seu isolamento regio-
nal, o que foi parcialmente alcançado através dos “Acordos de Abraham” e
de iniciativas diplomáticas subsequentes (NISSENBAUM, 2021). Portanto,
o principal adversário de Israel é o Irã, que acredita que procura desestabi-
lizar sua segurança interna apoiando o Hamas e o Hezbollah. Além disso,
as ambições nucleares de Teerã levaram Israel a alocar US$1,5 bilhão para
uma possível retaliação contra as instalações de enriquecimento de urânio
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Tawq ALfai, Luis da Vinha Segurança do Golfo Pérsico em uma Nova Era de Compeção Geopolíca Global
do Irã (TIMES OF ISRAEL, 2021). Apesar de qualquer possível repercussão
diplomática, particularmente com os EUA, para Israel eliminar a ameaça
nuclear ainda seria preferível a ter que coexistir com um Irã com armas
nucleares (LIS e KUBOVICH, 2021). Apesar das garantias de Washington
a Jerusalém de que o Irã não desenvolverá armas nucleares e que conside-
raria outras opções se a JCPOA não for reavivada (THE WHITE HOUSE,
2021), estas promessas não aliviam a ansiedade em Tel Aviv.
Dadas estas considerações sobre as ambições do Irã, é provável que Is-
rael possa participar em acordos regionais que procurem equilibrar a ameaça
iraniana e manter o status quo. Além disso, nem a Arábia Saudita nem a Tur-
quia cariam satisfeitos com um Irã armado com armas nucleares. Enquanto
o ex-diretor dos serviços secretos Saudita, Turki al-Faisal (2020), dedicou seu
16º dlogo IISS Manama para criticar Israel, o fato é que quando interesses
mais pragmáticos estão em jogo, “considerações de segurança prevalecem so-
bre a preferência ideológica” (WALT, 1985, p. 24). Como resultado, para evitar
a hegemonia regional iraniana e refrear suas ambições nucleares, é provável
que Israel busque uma coligação de equilíbrio regional contra Teerã.
Arábia Saudita: Estado Status Quo
Como Israel, a Arábia Saudita é uma potência regional favorável à
manutenção do status quo regional e se comporta como uma potência
defensiva e maximizadora de segurança. Os estados favoráveis à manu-
tenção do status quo consideram as opções militares como um último
recurso, e assim tendem a preservar seus interesses nacionais explorando
outros recursos à sua disposição. Além disso, sua política externa pode ser
melhor caracterizada como uma resposta às ações dos poderes revisionis-
tas (SCHWELLER, 1994).
Ao longo das décadas, a Arábia Saudita tem desempenhado um pa-
pel importante no mundo árabe e islâmico, bem como na economia global.
Sendo o berço de dois dos lugares mais sagrados do mundo islâmico (Meca
e Medina), bem como sua fundação e liderança da Liga Mundial Muçul-
mana e do Banco Islâmico de Desenvolvimento, fortaleceram seu apelo
nesses dois mundos. Globalmente, Riad é membro do G-20, um membro
inuente da OPEP, e o sexto maior país em termos de despesas militares.
Em conjunto, estes fatores foram aproveitados para maximizar a segu-
rança e trazer estabilidade à atual ordem regional apoiada pelos Estados
Unidos. Entretanto, há vários desaos que podem limitar estas vantagens.
Para começar, há competição com o Irã, e em menor grau com a Turquia,
pelo papel de liderança dos mundos árabe e islâmico (SIPALAN; KALIN,
2019). Além disso, as fortes utuações nas receitas do petróleo criam uma
situação econômica desaadora para Riad, assim como a incerteza sobre
o futuro do compromisso de segurança dos Estados Unidos com a região.
Em termos regionais, a proximidade geográca e a inimizade his-
tórica continuam a ser importantes ao considerar os alinhamentos de se-
gurança. Por exemplo, a Arábia Saudita falhou em combater a expansão
iraniana em quatro capitais árabes. Portanto, devido à incapacidade da
Arábia Saudita de obter o apoio de uma Grande Potência ou potência re-
gional para ajudar a conter o Irã, a melhor opção disponível seria o equilí-
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brio com os estados favoráveis à manutenção do status quo contra Teerã.
Portanto, as intenções ofensivas do Irã superam as considerações sobre o
poder agregado da Turquia ou de Israel. De fato, como Walt (1985, p. 13)
argumenta, “as intenções, não o poder, são o fator crucial” no alinhamen-
to. Portanto, é provável que num futuro próximo testemunharemos uma
aproximação pragmática entre a Arábia Saudita a Turquia e um entendi-
mento de segurança tácito entre a Arábia Saudita e Israel para conter o Irã.
Dado o contexto econômico e geopolítico, Riad tem seguido uma
estratégia de hedging pós- primavera árabe. Economicamente, as receitas
petrolíferas de Riad, que constituem a maior parcela de seu PIB, contribuí-
ram para o avanço dos desenvolvimentos em vários setores (GENERAL
AUTHORITY FOR STATISTICS, 2021). Entretanto, à medida que as utua-
ções dos preços do petróleo se aceleram (ENERGY INFORMATION AD-
MINISTRATION, 2021), a diversicação das fontes de receita tornou-se um
objetivo-chave. Portanto, a Arábia Saudita lançou recentemente sua grande
iniciativa pós-petróleo, Vio 2030, que visa criar uma economia mais susten-
tável (GOVERNMENT OF SAUDI ARABIA, 2016). Na prática, porém, esta
ambiciosa visão requer um contexto regional estável e parcerias econômicas
vantajosas. Portanto, o hedging econômico com a China também tem sido
uma prioridade para a Arábia Saudita. Os sauditas vêem o relacionamento
com a China como um meio de garantir um importador de petróleo a longo
prazo, um potencial investidor em sua Vio 2030, um fornecedor alternativo
de equipamento militar e um potencial fornecedor de energia nuclear.
Além disso, a Rússia também contribui para os cálculos de segu-
rança sauditas. Desde 2016, cresceu uma pragmática parceria pragmática
entre a Arábia Saudita e a Rússia. Por exemplo, Riad e Moscovo anun-
ciaram o acordo “OPEP+” e recentemente assinaram uma parceria para
fortelecer a cooperação militar (BIN-SALMAN, 2021). Esta aproximação
com Moscovo revela o interesse de Riad em tentar dissuadir as políticas
unilaterais dos EUA na região, assegurar preços favoráveis do petróleo,
atrair novos parceiros de segurança e atrair e/ou neutralizar a inuência
da Rússia sobre questões regionais. Em resumo, argumentamos que a
resposta da Arábia Saudita ao decnio da sustentabilidade econômica do
petróleo e suas crescentes preocupações com a segurança a obrigou a re-
correr aos principais concorrentes de Washington. Entretanto, manter a
estratégia de hedging, evitando a reação americana, apresentará desaos
diplomáticos que Riad precisará aprender a navegar.
Apesar das manobras políticas e econômicas da Arábia Saudita, a
parceria estratégica de segurança a longo prazo entre os EUA e a Arábia
Saudita permanecerá forte, principalmente devido a seus interesses co-
muns no Oriente Médio. Durante meio século, seus objetivos comuns de
combater o comunismo e gerenciar a segurança energética global promo-
veram uma estreita cooperação (ALTER MAN, 2017). Os atentados ter-
roristas de 11 de setembro de 2001, assim como a primavera árabe, man-
charam o relacionamento. Sob incerteza mútua, o peso de sua parceria
não foi diminuído, mas sim amansado para ajudar melhor Washington
na busca de seus objetivos estratégicos de segurança regional. Assim, os
EUA ainda buscam a cooperação da Arábia Saudita para alcançar suas
prioridades na região: 1) conter a assertividade e o programa nuclear do
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Tawq ALfai, Luis da Vinha Segurança do Golfo Pérsico em uma Nova Era de Compeção Geopolíca Global
Irã, 2) encorajar a normalização das relações israelo-sauditas, e 3) incitar a
Arábia Saudita a respeitar os direitos humanos. Uma indicação da força do
relacionamento é que, após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi,
Washington não impôs sanções severas à Arábia Saudita, limitando sua
reação à restrição das vendas de armas que foram posteriormente levan-
tadas (DESIDERIO, 2021). Em resumo, embora as preocupações com os
direitos humanos devam predominar nas relações futuras, os fundamen-
tos da parceria entre a Arábia Saudita e os Estados Unidos continuarão
sólidos apesar das crescentes diferenças políticas e tensões geopolíticas.
Nos estados do CCG liderado pela Arábia Saudita, a ameaça israelen-
se tem sido dessecuritizado em troca de uma crescente securitização da
ameaça iraniana. Um estudo recente mostrou que existe um novo discur-
so emanado dos estados árabes do Golfo focando em uma normalização
das relações com Israel (HITMAN; ZWILLING, 2021). Além disso, quan-
do o conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sulli-
van, levantou recentemente a questão da normalização das relações com
Israel, as autoridades sauditas não rejeitaram a noção (WILLIAMS, 2021).
Além disso, a normalização do Bahrein com Israel pode reetir um con-
sentimento saudita cauteloso (KALIN; JONES, 2021). Ainda há preocupa-
ções de que qualquer normalização saudo-israelense possa ser explorada
por atores regionais (tanto estatais quanto não estatais) para mobilizar a
comunidade islâmica contra a Arábia Saudita. Entretanto, num futuro
próximo, à medida que a presença dos EUA na região diminuir, Riade e
Jerusalém poderão eventualmente se ver confrontadas com a necessidade
de estabelecer uma aliança de segurança informal, porém pragmática,
para manter uma ordem regional favorável a seus interesses vitais.
Estados Pequenos e Vulneráveis: Estados secundários
De acordo com a teoria de equilíbrio de interesses, os estados pe-
quenos e vulneráveis podem ser denidos como aqueles que não têm ca-
pacidades defensivas ou ofensivas signicativas que lhes permitam maxi-
mizar sua segurança. Além disso, estes estados podem evidenciar relações
frágeis entre o estado e a sociedade civil por várias razões: a ilegitimidade
das elites políticas e instituições nacionais (por exemplo, Iêmen e Síria);
conitos entre grupos étnicos, religiosos e políticos locais (por exemplo,
Iraque, Líbano e Iêmen); e o fracasso do multiculturalismo (por exemplo,
Iraque e Líbano). Portanto, esses países têm sido frequentemente sujeitos
a incursões e transgressões regionais e globais. Como Schweller (1994, p.
101) argumenta, “em um mundo de predadores e presas, estes estados são
presas.” Além disso, no sub-complexo do Golforsico, verica-se que os
pequenos estados do Golfo (isto é, Kuwait, Bahrain, Qatar, EAU e Omã)
não têm poder material suciente para defender individualmente seus in-
teresses. Quanto ao Iraque, ainda falta a coesão entre o estado e a socieda-
de civil. Como resultado, estes países estão mais propensos a adotar uma
estratégia de hedging para alcançar o máximo de independência possível
ou, pelo menos, perseguir uma estratégia de bandwagoning para alinhar e
apaziguar a fonte das ameaças.
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Conclusão
O Oriente Médio tem sido, é e continuará sendo um teatro de in-
tensa competição geopolítica entre potências globais e regionais. Desde a
descolonização, os padrões de competição de segurança no CRS do Orien-
te Médio tornaram-se mais interconectados e regionalizados, ao mesmo
tempo em que foram mais alinhados e reforçados pela competição das
Grandes Potências. Na era pós-Guerra Fria, houve duas grandes mudan-
ças nos arranjos de segurança do CRS do Oriente Médio. Primeiro, desde
a retirada do Egito da cena geopolítica na esteira dos acordos de paz com
Israel, o sub-complexo do Levante tornou-se o segundo núcleo do CRS
do Oriente Médio, levando a uma maior desregionalização da questão
israelo-palestina. Em segundo lugar, desde a década de 1980, o sub-com-
plexo do Golfo Pérsico (i.e., sub-complexo Irã-Arábia Saudita) tornou-se
o núcleo dominante do CRS do Oriente Médio, particularmente desde
que o Iraque foi retirado da equação do equilíbrio de poder em 2003.
Enquanto isso, Washington desempenhou um papel crucial em questões
de segurança político-militar para manter uma ordem regional favorável
a seus interesses vitais. Portanto, o apoio de Washington a seus parceiros
do CCG levou o Irã a maximizar seu poder em detrimento de outros es-
tados do Golfo Pérsico.
Entretanto, apesar de sua longa história de envolvimento externo,
o Oriente Médio testemunhou recentemente uma mudança dramática na
natureza e substância do envolvimento das potências globais. Desde o pe-
ríodo da primavera árabe, a estratégia americana para a região mudou de
uma presença militar forte para uma abordagem de o-shore balancing por-
que a região não é mais vista como uma ameaça existencial à sua prospe-
ridade e segurança. Como resultado, o vácuo político e militar emergente
tem contribuído para acelerar os padrões de competição regional entre
as potências revisionistas regionais e o estados favoráveis à manutenção
do status quo. De fato, o Irã fortaleceu sua inuência em quatro capitais
árabes, a coalizão turco-qatari capitalizou o Islã político para colher os
despojos, e o Quarteto Árabe liderado pelos Sauditas lançou contra-revo-
luções em muitos países da primavera árabe para restaurar o status quo.
Enquanto isso, embora a China tenha aderido à ambiguidade estratégica
em relação às questões político-militares, tem se engajado cada vez mais
em parcerias econômicas com a maioria das potências regionais. Ficou
claro que o CRS do Oriente Médio, embora tenha conquistado uma inde-
pendência parcial após a Guerra Fria, é agora mais independente do que
nunca para assumir seus objetivos político-militares.
Embora Moscovo e Pequim estejam sem dúvida empenhando-se
para aumentar sua inuência nas esferas política e econômica, não se
deve esquecer que nenhum dos dois países ainda desempenhou um pa-
pel de liderança na formação da ordem regional. Entretanto, a crescente
competição geopolítica entre as Grandes Potências sem dúvida afetará as
estratégias e políticas de segurança dos ators regionais. Mais precisamen-
te, novos arranjos de segurança regional são previstos com base na pre-
missa de que a formação de alianças pragmáticas de segurança é a melhor
maneira de responder às ameaças regionais. Assim, os poderes favoráveis
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Tawq ALfai, Luis da Vinha Segurança do Golfo Pérsico em uma Nova Era de Compeção Geopolíca Global
à manutenção do status quo, como a Arábia Saudita e Israel, bem como
o poder revisionista de objetivos limitados, a Turquia, é mais propenso à
cooperação de segurança regional a curto e médio prazo. Em contraste,
as potências revisionistas sem limites, como o Irã, permanecerão do lado
oposto, enquanto os estados pequenos e vulneráveis procurarão evitar a
inclinação absoluta para qualquer um dos lados, seja cando de lado ou
através de políticas de apaziguamento. Além disso, argumentamos que
os assuntos de segurança do CRS do Oriente Médio se tornaram mais
regionalizados sob as atuais condições geopolíticas e econômicas. Desta-
camos como o sub-complexo do Golfo Pérsico torna-se o núcleo vital da
arquitetura de segurança do Oriente Médio, já que inclui dois estados po-
derosos opostos – i.e., um estado revisionista de objetivos não limitados
(Irã) e um estado favorável à manutenção do status quo (Arábia Saudita).
Quanto ao sub-complexo do Levante, na ausência de um concorrente,
ele se tornou um núcleo secundário dominado por um estado favorável à
manutenção do status quo (Israel).
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