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Marcelo Fernandes Sam King Imperialism and the development myth: how rich countries dominate in the twenty- rst century
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 3, (out. 2022), p. 104-110
Sam King Imperialism and the development
myth: how rich countries dominate in the
twenty- first century.
Manchester: Manchester University Press, 2021. 296 pp.
Marcelo Fernandes1
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2022v10n3p104-110
Recebido em: 28 de setembro de 2021
Aprovado em: 05 de dezembro de 2022
Imperialismo é um tema que ganhou proeminência novamente.
Contribuiu para isso as promessas inalcançáveis da “globalização, mas
também os efeitos no sistema internacional da grande crise econômica de
2008 e atual guerra na Ucrânia. Desse modo, o livro de Sam King, Impe-
rialism and the development myth: how rich countries dominate in the twenty-
rst century é uma contribuição importante. No livro, dividido em cinco
partes em um total de dezoito capítulos, além da introdução e conclusão,
o autor tentará demonstrar, com base principalmente em Lenin, que o
imperialismo continua vigente e forte. Segundo King, nenhum país po-
bre, o chamado Terceiro Mundo, no qual a China se incluiria(...) threaten
to topple, replace, outcompete or overtake the imperialist states” (p.1).
O livro pretende explicar porque os países imperialistas consegui-
ram manter seu domínio durante décadas, e porque essa situação conti-
nuará vigente enquanto a estrutura do sistema atual permanecer ativa.
Na vio do autor, o grupo dos países imperialistas continua praticamen-
te o mesmo há pelo menos cem anos. Esses países estariam na Europa
Ocidental, América do Norte, além do Japão, Austrália e a Nova Zelân-
dia. King adiciona à lista Israel, Coreia do Sul, Hong Kong e Taiwan.
Na primeira parte, intitulada “Two worlds”, King examina o au-
mento da concentração da renda no denominado período neoliberal.
Com dados do Produto Interno Bruto (PIB) em dólares, o autor analisa a
divio da renda global. Porém, olhando apenas o PIB não teríamos uma
visão correta sobre a posição competitiva do capital de cada país no mer-
cado internacional. A renda per capita seria uma maneira mais adequada
de medição, e é assim que King dene o Terceiro Mundo: países com ren-
da per capita de até US$ 15,700,00. Esses possuiriam 85% da população,
mas somente 38% da renda global. Com dados de 2016, o autor mostra
que mesmo a Espanha (renda per capita de $25,835), o mais “pobre” dos
países imperialistas possui uma renda per capita maior que os mais “ri-
cos” países do Terceiro Mundo, como Argentina e Chile.
1. Doutor pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor do
departamento de Economia da UFRJ.
E-mail: mapefern@gmail.com.
Já na primeira parte, King dedica uma seção tentando demonstrar
que o crescimento a China foi menos espetacular do que se imagina quan-
do comparado aos países que formam o campo imperialista. Embora, o
crescimento tenha realmente sido espantoso (em 2015 o PIB era quase 20
vezes maior que 1980), quando se analisa a renda per capita caria claro
que o país ainda está distante do campo imperialista, e assim deverá se
manter durante muito tempo.
Na segunda parte, “Contemporary Marxist analysis”, King lembra
que durante o século XX ocorreram duas ondas a favor da luta anti-impe-
rialista desencadeadas pela primeira e segunda guerra mundiais. A análi-
se de Lenin sobre o imperialismo seria o resultado desta primeira onda, e
a independência de países como China e Índia seria o produto da segunda
onda. A segunda onda também faria com que a questão do desenvolvi-
mento ganhasse força. Na América Latina países como Brasil, México e
Argentina alcançaram a industrialização pelo processo de substituição de
importações.
Ainda na segunda parte, utilizando o Imperialismo de Lenin, King
faz uma crítica oportuna a alguns autores marxistas com inuência no
debate entre os intelectuais; em especial, Bill Warren que teria uma visão
pró-imperialista. Uma série de livros sobre o imperialismo foi publicada
desde 2012 motivados, segundo King, pela oposição à exploração econô-
mica imperialista do Terceiro Mundo. Porém, “(...) no writer has yet re-
solved the most important issue – exactly how the labour process itself is
controlled in ways that reproduces imperialist monopolistic supremacy
via capitalist commodity production. (p.66)
Na terceira parte, Lenins theory of imperialism and its contemporary
application, King lembra que para Lenin a agreso imperialista era uma
tendência inerente do sistema capitalista no novo estágio. E que para
descrever este novo estágio, Lenin utilizaria alguns termos: “Monopoly
nance capital’ (which he variously abbreviated as ‘monopoly capital, ‘-
nance capital’ or simply ‘imperialism’) was the key concept Lenin advan-
ced. (p.85).
O autor arma que ao investigar o imperialismo Lenin teria três
objetivos políticos. Primeiramente, mostrar que a guerra mundial foi
uma guerra de anexação e pilhagem. Em segundo, que os argumentos
teóricos de Karl Kautsky obscureciam as contradições do imperialismo.
E em terceiro lugar que haveria uma tendência oportunista e pró-impe-
rialista no movimento proletário dos países capitalistas avançados. Con-
forme King, “Lenin sought to achieve the rst two objectives by proving
the scientic validity of the concept of ‘monopoly nance capital’ as capi-
talisms highest and last possible stage” (p.86).
King vai mostrar que o trabalho de Lenin se baseia em um marxis-
mo ortodoxo e que seu conceito de “capital nanceiro monopolista, seria
aderente à estrutura estabelecida por Marx em O Capital. Então, King lis-
ta alguns pontos que ele considera uma caricatura do pensamento de Le-
nin. A primeira, exportação de capital, seria uma das mais caricaturadas,
inclusive por autores simpáticos a Lenin. A ideia é que Lenin concluiu
que a exportação de capital seria a principal característica do capitalismo
moderno ou que o imperialismo seria essencialmente uma relação eco-
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Segundo King, Lenin teria enfatizado a dominação monopolista
do processo de trabalho; isto é, a produtividade do trabalho na produção
de mercadorias por meio da sistemática aplicação da pesquisa e desenvol-
vimento cientíco (P&D), isto é a intensicação monopolista por meio
da revolução nos meios de produção. A mão-de-obra de alto nível e o
trabalho cientíco estariam cada vez mais concentrados nos Estados im-
perialistas. Assim, a superioridade técnica do monopólio é fundamental
na análise. Pois, seria assim que ele consegue usurpar parte do lucro de
outras empresas. Esse seria o sentido do porque o capital monopolista é
parasitário, conforme King.
Na quarta parte, ‘Monopoly and non- monopoly capital: the econo-
mic core of imperialism, King buscará aplicar a teoria desenvolvida por
Lenin e sua interpretação ao atual período denominado neoliberal. Con-
forme o autor, o eixo econômico mais essencial no neoliberalismo seria o
monopólio imperialista sobre o processo de trabalho. Os avanços tecno-
gicos teriam permitido às multinacionais se especializarem apenas nos
processos de trabalho mais avançados e explorar a mão de obra barata
que entrou na oferta mundial desde os anos 1980, em particular da China.
A divio do trabalho entre capital monopolista e capital não mo-
nopolista seria tanto cooperativa quanto complementar. Entretanto, sua
característica distintiva seria que ela é hierárquica e polarizada. A espe-
cialização do Terceiro Mundo na fabricação de mercadorias faria com que
os países ricos se direcionassem para criação de conhecimento e inven-
ção. Isso signicaria dizer, e King chama a atenção para um estudo da
UNCTAD de 1999, que mesmo países do Terceiro Mundo que exportam
mercadorias manufaturadas estariam numa situação desvantajosa.
King aponta também que a modernização e especialização na pro-
dução de alta tecnologia nos países ricos tem sido auxiliada pelos insumos
baratos nas economias do Terceiro Mundo. Isso reduziria o valor da foa de
trabalho nos países imperialistas, além de fornecer todos os tipos de compo-
nentes e serviços baratos, aumentando seus lucros e ajudando a nanciar a
atualização tecnológica nos países ricos. King assume que a chinesa Huawei
seria uma empresa capaz de se transformar em uma empresa nos moldes
dos países imperialistas, mas seria uma exceção. Ademais, os monopólios
conseguem resistir à pressão baixista sobre seus preços. O mesmo não ocor-
re com as empresas do Terceiro Mundo, em qual avanços tecnológicos pres-
sionariam pela redução de preços. (p.165) Os capitais do Terceiro Mundo,
isto é capital não monopolista, poderiam atingir certa forma de monopólio,
porém, ainda assim estariam numa posição “dependente e subordinada.
Quanto ao Estado, King acredita que este cresceu em importância,
ao contrário do que pensam os teóricos da “globalização” que tendem a
omitir a importância do poder estatal. Atualmente o processo de produ-
ção alcançou uma escala e complexidade tão elevadas que para atender
suas necessidades e manter seu desenvolvimento seria necessária uma
quantidade de recursos que somente podem ser satisfeitos com a lideran-
ça do Estado imperialista.
Na parte V, “China: Third World capitalismo par excellence”, King
vai enfrentar a questão que considero mais inglória. Não é tarefa fácil
provar que a China não apenas não é socialista – socialismo de mercado,
nômica centrada na necessidade de exportação de capital. King arma
que, embora a exportação de capital seja importante, não seria o “the
lynchpin” na teoria de Lenin. O autor lembra que dentre a lista das cinco
características básicas” do imperialismo, é o monopólio, como o próprio
Lenin destacou, que aparece como a principal. Outra caricatura seria que
Lenin apresentou o imperialismo como sinônimo de colonialismo ou que
o colonialismo seria vital ao imperialismo. Lenin enfatizou esse ponto,
pois existiam diversas colônias no momento em que ele escrevia. Porém,
das cinco características mencionadas por Lenin, o colonialismo nem se-
quer é mencionado. A quinta característica apresentada por Lenin, ‘(5) the
territorial division of the whole world among the biggest capitalist po-
wers is completed, engloba mais do que as colônias. De fato, ao contrário
de Bukharin, Lenin se opôs à ideia de que a autodeterminação das nações
seria impossível sob o imperialismo.
A obra possui um capítulo discutindo (capítulo 6) o que Lenin
entendia como “estágio superior do capitalismo. King vai mostrar que
eleo estaria assumindo o colapso iminente do capitalismo, porque foi
assim que alguns autores entenderam o conceito de “parasitic decaying
capitalism” (p.96). Segundo ele, Lenin se referia a um conceito especí-
co exposto por Marx no volume 3 do Capital quando escreveu “‘highest
stage’ of capitalism” (p.97). Nesta obra Marx analisa características do ca-
pitalismo que se tornariam dominantes no começo do século XX. Carac-
terísticas como a sociedade por ações, percussora das multinacionais; a
separação da propriedade do capital das fuões gerenciais no processo
imediato de produção; os monopólios; o surgimento de uma “aristocracia
nanceira” e; parasitismo na forma de rentistas. A caracterização de “ca-
pitalista nanceiro” não estaria relacionada com o fato de tal propriedade
estar ou não no setor nanceiro.
Lenin irá mostrar que o capitalismo em sua época já teria alcan-
çado um grau de socialização que trouxe consigo características que se
tornaram marcantes. Portanto, o “estágio superior” refere-se ao mais alto
desenvolvimento possível das relações sociais de produção antes da revo-
lução social. A oligarquia nanceira, que vive do rentismo, alcançou um
poder inédito no estágio imperialista. Este seria o sentido histórico, diz
King, do rentier citado por Lenin.
Um ponto importante destacado na obra é que os termos “capital nan-
ceiro, “capital monopolista” e “capital nanceiro monopolista” seriam usados
de forma alternada no Imperialismo. No entanto, os oponentes marxistas de
Lenin normalmente selecionam o termo “capital nanceiro” para o criticar.
A predileção pelo termo “capital nanceiro” se relacionaria a uma caricatura
comum: a de que o “capital nanceiro” seria entendido da forma mais usual
como o termo é entendido, isto é, com os bancos, nanças, seguradoras etc.
Porém, isso deixaria nebuloso o que Lenin queria dizer com o conceito de “es-
tágio superior do capitalismo. Por exemplo, suas palavras sobre o parasitismo
seriam normalmente interpretadas como pertencentes a apenas uma parte da
burguesia ligada ao setor nanceiro. Entretanto, diz King, “to attribute this
position to Lenin contradicts what Lenin actually wrote. He unambiguously
endorses Hilferding’s observation of the increasing closeness of banking and
industry. He denes nance capital as their ‘coalescence’. (p.103).
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como dizem os chineses – mas que também seria um país do Terceiro
Mundo. A China seria uma economia com características do modelo de
industrialização “exported-oriented” e com a cooperação de importantes
multinacionais. No período neoliberal o país se tornou uma forte expor-
tadora de computadores e equipamentos de telecomunicações, afastando-
-se dos processos mais simples do trabalho. O problema, segundo King,
seria que nas estatísticas convencionais a produção de TVs, teclados e
outros de itens baratos seriam equivocadamente contados como “alta tec-
nologia”. Além disso, o aparente monopólio da exportação de iPhones da
China diria muito pouco sobre o nível tecnológico dos produtores, pois a
localização da montagem de uma mercadoria avançada seria inadequada
para medir o nível tecnogico da mão-de-obra. Uma vio mais realista
deveria considerar os locais onde são realizados os vários estágios inter-
mediários dos processos de trabalho para produção da mercadoria.
O enorme estoque de reservas internacionais da China (superior
a US$ 3 trilhões), em grande parte dívida soberana dos Estados Unidos,
seria apontado como uma prova de sua ascensão. O autor relativiza isso
ao lembrar que, as reservas internacionais aumentaram substancialmen-
te nos países do Terceiro Mundo – e não somente na China – desde a crise
asiática de 1997-98.
King acredita que o grau de desenvolvimento alcançado pela China
decorre em parte da revolução socialista. Em particular, a revolução con-
seguiu construir uma enorme força de trabalho educada e disciplinada.
Assim, o país pôde se beneciar do avanço da especialização global do
trabalho, possibilitando a entrada de centenas de milhões de novos traba-
lhadores chineses na produção para o mercado mundial. O poder político
do PCCh, herança da revolução, deu mais autonomia à China em com-
paração a outros países do Terceiro Mundo, como atestariam o controle
estatal dos bancos de investimentos.
King avalia que o que povo chinês inigiu ao imperialismo uma
derrota em 1949 que ainda afetaria os ideólogos da classe dominante nor-
te-americana. O autor também assume que a China tem ganhado força
em certos setores e os Estados Unidos e seus aliados imperialistas busca-
riam conter este avanço. Entretanto, suas ambições estariam superesti-
madas. O Belt and Road Initiative, não seria uma forma de criar as condi-
ções da China submeter certos países ao chamado debt-trap diplomacy, e
sim a maneira que ela encontrou para realizar investimentos mais lucra-
tivos no exterior. Ao tratar do poderio tecnológico da China, King tentará
mostrar que exceto nas áreas espaciais e 5G em que a Huawei se tornou
alvo dos países ricos, não existiria uma ameaça ao imperialismo.
Ao revisitar os principais pontos da análise do imperialismo, King
deixa claro a atualidade do pensamento de Lenin. Este é o grande mérito
do livro. King também coloca corretamente que a investigação de Lenin
deriva diretamente de Marx, e critica acertadamente a superestimação
que diversos autores fazem quanto à inuência de Hobson, Hilferding e
Bukharin sobre a obra de Lenin.
Entretanto, há pontos questionáveis. O recorte por renda per capita
para separar os países imperialistas (aqueles que possuem renda a partir
de US$ 25,001) dos países do Terceiro Mundo faz com ele caia num certo
economicismo. Por este recorte até Puerto Rico entra no grupo dos países
imperialistas, ainda que King não o cite. Além disso, embora seja verdade
que a Paridade de Poder de Compra (PPC) tenha seus problemas, isso
não elimina aqueles que a medição em dólar também traz, como o pró-
prio King parece reconhecer ao mencionar a questão das utuações das
moedas. É importante lembrar que a China pratica desde pelo menos os
anos 1990 uma política cambial que mantém o renminbi desvalorizado,
tanto que sofre de Washington acusações de práticas comerciais predató-
rias. Por exemplo, em maio de 2019 o Secretário do Tesouro do governo
Trump, Steven Mnuchin, baseado na Omnibus Trade and Competitiveness
Act de 1988, deniu que a China manipulava o câmbio.
Não existem dúvidas sobre o poderio militar dos Estados Unidos
e sua superioridade sobre a China. Mas King vai além e aponta que a
força aérea de Taiwan, fruto da aliança com Washington, impediria uma
tentativa de reincorporação da Ilha pela China. Ou seja, King parece su-
gerir que, como Taiwan é imperialista, dada a sua renda per capita, seu
poder militar teria que estar condizente com este status. Logo, podemos
perguntar porque o atual governo anti-Pequim de Taiwan não declara
sua independência. Não declara porque talvez tenha lido a informação
publicada pelo “Financial Times” (10/16/2021) de que a China desenvol-
veu uma aeronave que plana e atinge uma velocidade equivalente a cinco
vezes a velocidade do som, podendo levar ogivas nucleares. Uma aero-
nave com uma tecnologia que nenhum outro país conseguiu desenvol-
ver ainda. Taiwan alcançou algo excepcional ao se transformar no maior
produtor de semicondutores do mundo; mas isso não poderá salvá-la
de uma chuva de mísseis balísticos em seu território. Isso também não
transforma a China num país imperialista, porém evidencia os equívocos
que uma alise economicista pode trazer ao debate.
Teria ajudado se King tivesse dado alguma atenção o conceito de
desenvolvimento desigual, fundamental em Lenin, e que na obra nem
sequer é citado. Este conceito demonstra que a estabilidade do sistema é
impossível, pois o desenvolvimento desigual provoca mudanças na cor-
relação de forças entre as nações, com a tenncia de erosão do poder
do centro em relação a novos núcleos de poder com maior dinamismo
econômico. Isso pode ser bem observado justamente no caso da China
que viu seu crescimento se acelerar com investimentos de multinacionais
estrangeiras; que é decorrência das exportações de capitais que, embora
não se possa exagerar sua imporncia na obra de Lenin, como bem apon-
ta King, também não se pode menosprezar seus impactos sobre as econo-
mias nacionais receptoras. Isso veio acompanhado também de sua ascen-
são nanceira. O renmimbi ainda ocupa um espaço restrito no sistema
internacional, mas o governo chinês vem fazendo acordos econômicos
sem a utilização do dólar, permitindo que países, como a Rússia, redu-
zam os efeitos dos embargos econômicos promovidos pelo imperialismo.
Também vale mencionar o papel do Estado. Em Lenin está eviden-
te que o capitalismo não pode funcionar sem o Estado. Como não existe
um governo global, o capital não pode expandir além de suas fronteiras
sem o apoio de seus respectivos Estados nacionais. A internacionaliza-
ção do capitalismo se dá via Estado e pela via das armas se for preciso.
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Portanto, a posição de Taiwan e outros países que, pela renda per capita,
estariam no grupo de países imperialistas, é frágil em parte pela forte
dependência militar e diplomática de outros países.
A ascensão de novos polos de poder está modicando a estrutura
do sistema internacional e precisa ser considerada como cou claro com
a “Declaração Conjunta” lançada em 7 de fevereiro de 2022 pela Rússia e
China, propondo uma refundação da ordem mundial estabelecida desde
o m da guerra fria. Não é pouca coisa, ao contrário do que parece en-
tender King.