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Diego Pautasso, Rafael Algarte O massacre de Butcha, a Guerra na Ucrânia e o poder mulmidiáco
O massacre de Butcha, a Guerra na
Ucrânia e o poder multimidiático
The Butcha massacre, the War in Ukraine and multimedia
power
La masacre de Butcha, la guerra en Ucrania y el poder
multimedia
Diego Pautasso1
Rafael Algarte
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2023v11n1p107-126.
Recebido em:22 de maio de 2023
Aprovado em: 13 de março de 2024
Resumo: O presente artigo trata do massacre ocorrido em abril de 2022 na
cidade uraniana de Buctha. A grande mídia Ocidental – aqui entendido como seu
núcleo EUA e Europa Ocidenteal – imediatamente responsabilizou o exército rus-
so. Assim, o objetivo do trabalho é analisar como este massacre foi tratado pela
mídia, tomando por recorte empírico The New York Times, dos EUA, The Herald,
da Escócia, a agência de notícias ANSA, na Itália, o grupo Russia Today (RT), o ve-
ículo Al Jazeera e os sites chineses CGTN e Xinhua. Metodologicamente, tratamos
os fenômenos contemporâneos da comunicação em seu texto e contexto históri-
co, de modo a captar a relação entre corporações de mídia, produção de narrati-
vas e eventos internacionais. Concluímos que o poder multimidiático ocidental se
relaciona com a legitimação e instrumentalização de intervenções e, nesse caso,
com a mobilização das forças da OTAN contra a Rússia na Guerra na Ucrânia.
Palavras-chave: Butcha, Rússia, Ucrânia
Abstract: This article deals with the massacre that occurred in April 2022 in
the Uranian city of Buctha. The mainstream Western media – here understood
as its core USA and Western Europe – immediately blamed the Russian army.
Thus, the objective of the work is to analyze how this massacre was treated by
the media, taking as empirical focus The New York Times, from the USA, The
Herald, from Scotland, the news agency ANSA, in Italy, the group Russia Today
(RT) , the vehicle Al Jazeera and the Chinese websites CGTN and Xinhua.
Methodologically, we treat contemporary communication phenomena in their
text and historical context, in order to capture the relationship between media
corporations, narrative production and international events. We conclude that
Western multimedia power is related to the legitimization and instrumental-
ization of interventions and, in this case, to the mobilization of NATO forces
against Russia in the War in Ukraine.
Keywords: Butcha, Russia, Ukraine
1. Pós-Doutorado em Estudos Estra-
tégicos Internacionais (2018), Doutor
(2010) e Mestre (2006) em Ciência
Política e Graduado (2003) em Geografia
pela UFRGS. Professor colaborador do
Programa de Pós-Graduação em Estudos
Estratégicos Internacionais (UFRGS), do
Centro de Estudos da América Latina
e Caribe da Universidade de Ciência
e Tecnologia do Sudoeste (Sichuan/
China) e da Especialização em Relações
Internacionais (UFRGS-Comando Militar
do Sul). é professor de Geografia do
Colégio Militar de Porto Alegre. É autor
do livro “China e Rússia no Pós-Guerra
Fria” e co-autor de “Teoria das Relações
Internacionais: contribuições marxis-
tas”. Email: dgpautasso@gmail.com.
Graduado em Jornalismo pela Universi-
dade de Ribeirão Preto em 2015 e Espe-
cialista em Relações Internacionais pela
Universidade Federal do Rio Grande
do Sul em 2023. Email: fael_algarte@
hotmail.com.
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Resumen: Este artículo trata sobre la masacre ocurrida en abril de 2022 en la
ciudad uraniana de Buctha. Los principales medios de comunicación occidenta-
les –entendidos aquí como sus principales Estados Unidos y Europa Occidental–
inmediatamente culparon al ejército ruso. Así, el objetivo del trabajo es analizar
cómo esta masacre fue tratada por los medios de comunicación, tomando como
enfoque empírico The New York Times, de EE.UU., The Herald, de Escocia, la
agencia de noticias ANSA, en Italia, el grupo Russia Today. (RT), el vehículo Al
Jazeera y los sitios web chinos CGTN y Xinhua. Metodológicamente, tratamos
los fenómenos de comunicación contemporáneos en su contexto textual y
histórico, con el n de capturar la relación entre las corporaciones mediáticas, la
producción narrativa y los acontecimientos internacionales. Concluimos que el
poder multimedia occidental está relacionado con la legitimación e instrumen-
talización de las intervenciones y, en este caso, con la movilización de las fuerzas
de la OTAN contra Rusia en la Guerra de Ucrania.
Palabras clave: Butcha, Rusia, Ucrania
1.Introdução
No início do mês de abril de 2022, foi noticiado pelos jornais de
todo o mundo Ocidental - aqui entendido como seu núcleo EUA e Europa
Ocidenteal - um massacre perpetrado pelos russos em Butcha, cidade lo-
calizada a 30 quilômetros a noroeste da capital Kiev, na rego norte pró-
ximo a Belarus e às margens do Rio Dnieper. O exército russo, que havia
ocupado a cidade entre os dias quatro até 31 de março como parte de
sua ofensiva militar iniciada dia 20 de fevereiro, foi responsabilizado. No
primeiro dia do mês de abril, o exército ucraniano retomou territórios ao
redor de Kiev e deu-se início a constatação de mortes violentas e indícios
de tortura, com corpos espalhados pelas ruas da cidade.
Mapa 1: Mapa da Ucrânia
Fonte: Seattle Times, 20232 .
2. Ver map ana reportage, disponível
em: https://www.seattletimes.com/
business/police-investigating-killin-
gs-of-12000-ukrainians-in-war/,
disponível em: https://www.nytimes.
com/2024/02/25/world/europe/cia-
-ukraine-intelligence-russia-war.html
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Diego Pautasso, Rafael Algarte O massacre de Butcha, a Guerra na Ucrânia e o poder mulmidiáco
O ocorrido em Butcha é parte do conito russo-ucraniano cuja
origem vai além da chamada Operação Especial de fevereiro de 2022.
Segundo Sachs (2023), a Guerra na Ucrânia começou com a derrubada
violenta do presidente, Viktor Yanukovych, em fevereiro de 2014, conhe-
cida como Revolução Maidan, cuja ingerência estrangeira é inequívo-
ca (Katchanovski, 2023). Logo sem seguida, como revelou o New York
Times, o novo governo de Poroshenko e a CIA iniciaram uma campanha
sistemática de espionagem, assassinato e provocação dirigida contra for-
ças pró-russas no leste da Ucrânia e na Crimeia e contra a própria Rússia3 .
A partir daí, se entrelaçam três dimensões: uma guerra interestatal
entre a Rússia e a Ucrânia, uma guerra por procuração da OTAN contra a
Rússia e também uma guerra civil no território ucraniano (Katchanovski,
2022). Cabe sublinhar o quadro histórico mais abrangente (Pautasso, 2014),
pois trata-se de um processo articulado e multidimensional voltado à con-
tenção da Rússia, envolvendo a expansão da OTAN e da União Europeia,
a construção de escudos antimísseis (Polônia e República Tcheca), as inter-
venções ao redor de seu território (Iugoslávia, Síria, Iraque, Afeganistão)
e as diversas ‘revoluções coloridas’ (Rosas na Geórgia-2003, Laranja na
Ucrânia-2004 e 2014 e Tulipas na Quirgzia-2005). Ressalte-se que a Rússia
conseguiu impedir algo semelhante na Bielorssia, estabelecendo um cer-
co da OTAN em toda sua fronteira europeia do Mar Báltico ao Mar Negro.
Nesse sentido, o objetivo do trabalho é analisar como foi tratado
pela mídia o massacre de Butcha. Sugerimos como hipótese que a pro-
dução de narrativas no Ocidente se prestou à condenação da Rússia sem
espaço ao contraditório jornastico. Teoricamente, tratou-se de um caso
emblemático daquilo que Losurdo (2016) tratou como a inter-relação en-
tre poder multimidiático ocidental e neocolonialismo econômico-tecno-
gico-judicial; ou, mais especicamente, como a produção de ideias e o
espetáculo midiático se relacionam com a legitimação e instrumentaliza-
ção de intervenções.
Para tanto, metodologicamente, tratamos os fenômenos contem-
porâneos da comunicação em seu texto e contexto histórico (Williams,
2011), de modo a captar a relação entre corporações de mídia, produção
de narrativas e eventos internacionais. No caso desta pesquisa, foi reali-
zado um levantamento quantitativo e qualitativo das notícias em veículos
de mídia ocidentais e não-ocidentais representativos sobre o massacre de
Butcha. Foram selecionados The New York Times, dos EUA, The Herald,
da Escócia, e a agência de notícias ANSA, na Ilia; e fora da supremacia
comunicacional ocidental, o grupo Russia Today (RT), o veículo Al Jazeera
e os sites chineses CGTN e Xinhua. As reportagens foram analisadas entre
fevereiro e junho de 2022 com vistas a entender a disposição dos desta-
ques dados aos temas e das manchetes nas páginas de notícias e demais
acessos que facilitam o acesso do leitor a determinado conteúdo. Aqui
cabe uma ressalva: diferente de perspectivas etnocêntricas, a RT ou CGTN
e Xinhua não são menos legítimas por serem mídias com vínculos com
seus respectivos governos, seja porque existem canais similares na Europa
(RAI, France Télévisions, BBC), seja porque as grandes corporações
midiáticas privadas não estão isentas de linhas editoriais e suas respectivas
censuras relacionadas aos poderes de proprierios e anunciantes4.
3. Ver detalhado dossiê do New York
Times The Spy War: How the C.I.A.
Secretly Helps Ukraine Fight Putin,
disponível em: https://www.nytimes.
com/2024/02/25/world/europe/cia-
-ukraine-intelligence-russia-war.html
4. Aliás, cabe destacar a extensão e a
eficácia da censura ocorrida nos EUA
sob o Macarthismo por meio de mídias
privadas. Sobre o assunto o filme Boa
noite, boa sorte e bastante ilustrativo
desse período histórico.
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Com isso, organizamos o artigo, primeiramente, discutindo o po-
der multimidiático, seus desdobramentos e óbices para a produção de
conhecimento na área de Relações Internacionais. Depois, foi realizado
um levantamento entre as mídias citadas para avaliar as abordagens e
seus vieses. Por m, retomamos o massacre de Butcha no quadro mais
abrangente do conito russo-ucraniano para situar a relação entre poder
multimidiático ocidental e a legitimação de políticas de força.
2. Poder multimidiático e análise da conjuntura internacional
O desao do campo das Relações Internacionais é produzir análi-
ses cientícas sem necessariamente o distanciamento temporal do objeto.
Como destaca Hobsbawn (1995), a aproximação do presente aumenta a
dependência da imprensa diária e a diculdade de escapar dos valores de
seu tempo. A velocidade dos acontecimentos, a multiplicidade dos fatores
causais e a proliferação de meios de informação amplicam a complexi-
dade analítica. E, denitivamente, produzir conhecimento não é compor
uma bricolagem de fatos e/ou uma babel de notícias. Joseph Nye (2002)
destacou que a abundância de informação, aliás, dissipa a atenção e con-
funde a hierarquia dos eventos na medida em que os banaliza.
Este desao analítico se torna maior porque há uma supremacia
comunicacional inequívoca do Ocidente, anal, como os demais ramos
da economia, a centralização do capital também opera na indústria cul-
tural e midtica. Como chamou atenção Williams (2011), os meios de
comunicação são também meios de produção, pois relacionam as formas
mais simples da linguagem às formas mais avançadas das novas tecnolo-
gias da comunicação. A oligopolização da geração de notícias interna-
cionais, imbricadas às relações de poder político e corporativo dos países
em questão (Miguel, 2002) são reproduzidas pela maioria das cadeias de
televio, jornais, rádios e mídias digitais de todo o mundo, dando a fal-
sa ideia de democratização das comunicações. Como destacou Latouche
(1996), Associated Press e United Press dos EUA, Reuter da Grã-Bretanha e
France Press dominam amplamente a produção de notícias. Assim, qual-
quer debate sobre liberdade de expressão abstraindo as representações
sociais dos grupos de interesses e se aferrando ao formalismo não dá con-
ta da qualidade da informação, da realidade e até da própria democracia.
Com efeito, a mídia atravessa tanto a produção de informação e
de entretenimento, mas também de política e, pois, de opinião públi-
ca. Sob as novas tecnologias da informação, a mídia digital absorve as
tradicionais (jornais, TV, revistas e rádios) e multiplica novas formas
(YouTube, Twitter, Facebook, Instagram, Netix). Herman e Chomsky
(2003) destacaram o enorme papel de nove conglomerados transnacio-
nais – Disney, AOL-Time Warner, Viacom (proprieria da CBS), News
Corporation, Bertelsmann, General Electric (proprietária da NBC), Sony,
AT&T-Liberty Media e Vivendi Universal - relacionados a estúdios cine-
matogcos, redes de televisão e empresas fonográcas.
No caso de guerras, a situação é ainda mais complicada dada a per-
meabilidade a operações psicogicas, incluindo propaganda e campanhas
de contrainformação. Als, Bandeira (2016) foi exaustivo ao historicizar
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Diego Pautasso, Rafael Algarte O massacre de Butcha, a Guerra na Ucrânia e o poder mulmidiáco
casos de operões encobertas nas relações internacionais, como o recen-
te ataque com armas químicas em Goutha (2013) cujo objetivo era escalar
a guerra na Síria. Como destacou Losurdo (2016), a produção de ideias e
de emoções são potencializados pelas proliferação de mídias - da televisão
às redes sociais, agora na palma da mão com os celulares, de modo que o
espetáculo midiático é crucial para instrumentalizar e legitimar guerras,
golpes e sanções.
Assim, se a hegemonia implica em um sistema de práticas e va-
lores, de força e consentimento, os EUA têm sido pródigos em mobili-
zar os meios de comunicação. Nas assim chamadas duas ondas de gol-
pes de Estado, a primeira iniciada em 1953 contra Mossadeg no Irã sob a
Doutrina Truman e a segunda onda no Pós-Guerra Fria, a mídia tem sido
decisiva, pois campanhas midiáticas de criminalização do governo e seu
isolamento antecedem intervenções e golpes (Losurdo, 2016). Como his-
toricizou Prashad (2020), os golpes promovidos por Washington sempre
envolveram propaganda associada a sanções econômicas, apoio a mobi-
lizões sociais, tentativa de captura das elites (inclusive militares), isola-
mento diplomático, entre outros.
Além desse poder multimidiático, Washington mobiliza estratégias
para limitar o escopo da soberania, seja com doutrinas de política externa
como ataque preventivo, seja com doutrinas como intervenção humanitária e
responsabilidade de proteger no âmbito multilateral. Isso abre brechas para
a crescente arbitrariedade num sistema internacional anárquico e assimé-
trico, sobretudo com o fortalecimento da OTAN que opera à margem do
próprio Conselho de Segurança da ONU. O alargamento das “ameaças
internacionais” tem permitido autorizações de embargos, zonas de ex-
clusão aérea e mesmo intervenções armadas contra atos de genocídio,
limpeza étnica e afronta aos direitos humanos (Pautasso; Azeredo, 2011).
Na Iugoslávia a utilização da interveão humanitária se deu a partir
de uma ampla mobilização midiática para forjar a opino pública, sensi-
bilizando e manipulando, para depois viabilizar a ingerência militar no
país adversário. O caso das campanhas propagandísticas em agosto de
1998, quando valas comuns com 500 cadáveres foram denunciadas como
crime sérvio, legitimaram as agressões da OTAN - eventos depois des-
mentidos pela própria Comissão de Observação da União Europeia. O
fato é que se trata de mobilizar os diversos meios de comunicação para
gerar contra o inimigo a ser abatido uma onda de indignação tão pode-
rosa que se torne arrebatadora. Em outras palavras, o espetáculo midiá-
tico se presta à vilanização do inimigo para permitir a aceitação de toda
virulência e violência levada a cabo pela ‘nação eleita’ (polícia do mun-
do), os EUA (Losurdo, 2016). Recorde-se que foi parte da sensibilização
para o bombardeio da Sérvia em 1999 por mais de dois meses e meio em
apoio ao separatismo de Kosovo - em agrante violação do direito inter-
nacional - para, ato contínuo, estabelecerem bases militares no país. Daí
a imporncia de situar os acontecimentos internacionais no “léxico da
ideologia estadunidense”, relacionando o poder multimidiático ao conse-
quente neocolonialismo econômico-tecnológico-judicial - e seu pacto de
embargos e sanções econômicas, desestabilizações políticas e impotência
militar (Losurdo, 2016; Losurdo, 2010).
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Em suma, o fazer cientíco no campo das Relações Internacionais
requer rigor teórico-conceitual combinado com recurso à história de
modo a lograr objetividade em meio a um uxo enorme de informações,
notícias e acontecimentos, bem como sistemas de valores relacionados ao
processo de socialização e ao seu tempo e lugar social. Ao lidar com paí-
ses como a Rússia, vieses etnocêntricos perpassam do ensino até a mídia,
passando pela produção cultural - tudo isso ecoada por décadas de campa-
nha anticomunista herdada da Guerra Fria, sob o signo do Macarthismo.
Vejamos o caso da cobertura jornalística relativa ao massacre de Butcha.
3. O poder multimidiático e a cobertura jornastica no massacre de
Butcha
Uma análise do noticiado sobre o ocorrido em Butcha é absoluta-
mente revelador do poder multimidtico ocidental e de uma campanha
evidente de vilanização da Rússia. Até meados de novembro de 2022, o
The New York Times fez 357 publicações realizadas até o mês de novembro
de 2022; o The Herald fez 45 publicações destinadas ao assunto até o mês
de novembro do ano de 2022; e a agência ANSA fez 95 conteúdos publi-
cados no mesmo recorte de tempo e feita a ltragem pelo termo Butcha.
O jornal The New York Times realizou diversas reportagens, com
destaque para a feita pelos correspondentes Andrew E.Kramer e Neil
MacFarquhar, intitulada Russia in Broad Retreat From Kyiv, Seeking to
Regroup From Battering. Nesta, são reproduzidas análises de repórteres
com as primeiras informações de corpos encontrados com pés e mãos
amarrados pela cidade ucraniana. Logo em seguida, cresceu o número de
publicações do jornal estadunidense sobre Butcha através de depoimen-
tos dos sobreviventes das semanas de invasão russa. O ato de esmiuçar a
cobertura sobre o que aconteceu em Butcha ganhou espaço, passando de
apenas citações entre outros eventos até dia três de abril, para mais de 30
publicações exclusivas sobre as mortes no passar de apenas dois dias.
A cobertura realizada nos primeiros dias pelo veículo escocês The
Herald, trouxe a repercussão imediata de líderes internacionais e um
acréscimo no número de mortes. O termo crime de guerra passou a ser uti-
lizado rapidamente por diferentes lideranças mundiais, como o presiden-
te Joe Biden acompanhado do pedido imediato de mais saões contra
o governo russo. A reportagem que leva a manchete Putin sends 130,000
conscripts to war as evidence of killings grows, publicada em 4 de abril trou-
xe uma série de líderes condenando o ataque, entre eles o ex-Primeiro
Ministro Boris Johnson e a presidente da Comissão Europeia Ursula Von
Der Leyen. Aliás, as reportagens exibidas pelo The Herald citou outros
veículos como fonte de informação nas reportagens Ukraine: International
condemnation after of mass killing near Kyiv e Putin sends 130,000 conscripts to
war as evidence of killings grows.
A agência de notícias italiana ANSA iniciou em 2022 o processo de
produção de materiais referentes a Butcha após a divulgação das ima-
gens de civis mortos na região de Kiev. Mesmo sem um background dos
fatos, declarações ou citações sobre Butcha antes do episódio, foi feita a
produção de conteúdo sobre o conito e suas consequências futuras. A
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publicação inicial sobre Butcha foi realizada no dia quatro de abril e trou-
xe o ex-Primeiro Ministro da Itália Mario Draghi condenando os ataques.
Desde a primeira reportagem da agência, o tom adotado pelo político é
voltado a dizer que as autoridades russas deveriam responder pelo que
chamou de massacre. Somente após a décima publicação é vista a posição
da Rússia perante as acusações proferidas.
A cobertura do The New York Times se apoiou na tentativa de es-
clarecer pontos e refutar a narrativa russa. Prova disso é a reportagem
publicada no dia quatro de abril intitulada Satellite images show bodies lay
in Butcha, despite Russian claims. O caminho tomado pelo jornal é de infor-
mar que as mortes de civis aconteceram antes da saída de soldados russos
da cidade. Foram usadas imagens de satélite registradas quando a região
era dominada pelo exército de Vladimir Putin e comparadas com as cenas
de vídeos onde os corpos aparecem caídos em ruas da cidade. As imagens
datadas em 11 de março, apontam o que seriam 11 corpos na Yablonska
Street, em Butcha. A reportagem assinada por Malachy Browne, David
Botti e Haley Willis (2022) ainda armou que os objetos registrados por
satélite permaneceram na mesma posição por três semanas.
No dia seguinte à publicação do The New York Times, o grupo es-
cocês também trouxe o assunto em manchete na reportagem Ukraine
Butcha: Satellite images show bodies left in the open. O posicionamento de lí-
deres internacionais é inserido no texto através de aspas em tom condena-
tório à descoberta das imagens. O The Herald seguiu uma linha parecida
na construção da reportagem com a que foi escolhida pelo The New York
Times. Em ambas há o tom endereçado a responder às declarações russas.
O The New York Times fez uma breve referência ao pedido realizado
no dia três de abril de 2022, por parte do governo russo, sobre a reu-
nião de urgência no Conselho de Segurança. A cobertura do episódio que
envolveu o pedido russo não ganhou manchete no The New York Times.
Realizado um recorte por data, o jornal fez 64 publicações até o dia 21 de
abril sobre a temática e nenhuma delas trouxe o assunto em destaque. Por
outro viés, o Conselho de Segurança das ONU foi citado inúmeras vezes
quando a abordagem se referia aos apelos de Volodymyr Zelensky, de-
núncias de crimes de guerra e diculdades para o entendimento em um
possível acordo de paz. Para efeito de ilustração, o assunto foi assim trata-
do nas publicações The U.N Security Council meets as Ukraine accuses Russia
of atrocities, Zelensky Accuses Russia of Atrocities and Criticizes UN’S Inaction
e Russia rejects calls for a cease-re to enable evacuations, saying Ukraine only
wants time to arm. A dinâmica adotada pelo jornal ao explorar as respostas
do governo russo sobre as acusações apareceram, quase sempre, no de-
senvolver do texto e não em destaque. Como na reportagem onde é no-
ticiado o discurso de Zelensky no Conselho, a retratação da defesa russa
é acompanhada por trechos como “refutado por ampla evidência”, “uma
série de outras alegações sem suporte” e “incluindo declarões falsas”.
O The Herald trouxe a informação que EUA e Reino Unido boico-
taram a reunião informal do Conselho de Segurança e apontou como
justicativa declarações infundadas da Rússia ao armar que os estaduni-
denses possuíam laboratório para o desenvolvimento de armas biológicas
em território ucraniano. Nos dias seguintes, os artigos publicados pelo
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 1, (fev. 2023), p. 107-126
veículo escocês não destoaram da abordagem retratada em outras repor-
tagens. Os textos redigidos por Neil Mackay e Iain Macwhirter (2022) ci-
taram o papel do Conselho de Segurança e as medidas que poderiam ser
tomadas pelo organismo no sentido de condenação dos atos atribuídos
aos russos. As explanações feitas por Mackay são variadas e vão até ar-
mações de que a Rússia deveria ser excluída do Conselho de Segurança,
mesma linha de Macwhirter no artigo Ukraine’s heroes are ghting for
European civilisation itself, so pass the ammunition sob alegação de ser um
Estado que desrespeita o direito internacional.
Na busca de conteúdo opinativo sobre o conito no The New York
Times, o jornal usou a comissão editorial do grupo no artigo Document the
War in Ukraine. A publicação revisitou momentos históricos e marcados
pelo julgamento de crimes de guerra, como o Tribunal de Nuremberg,
e condenou a Rússia pelos episódios de Butcha e outros em Kharkiv e
Chernihiv. Ensejou, inclusive, a condenação da Rússia no Tribunal Penal
Internacional por crime contra humanidade, genocídio e crime de guerra
- Tribunal ao qual os EUA sequer são signatários.
O recorte de data também é aplicado à mesma ltragem a qual fo-
ram submetidos dois veículos citados anteriormente, a agência italiana
ANSAo apresenta nenhuma postagem realizada por colunistas. Na
mesma data e semana em que foram publicados os artigos do The New
York Times e The Herald, a escolha da agência sobre o assunto é a de apre-
sentar os discursos de diferentes autoridades sobre o tema.
De fevereiro a abril de 2022 o The New York Times veiculou 15 pu-
blicações ligadas ao termo tortura. As manchetes - They shot my son. I was
next to him. It would be better if had been me; I Didnt think My Mother Would
Escape Putin Twice; e Up-Close Ukraine Atrocity Photographs Touch a Global
Nerve - deram o tom dos assuntos e da abordagem realizada pelo jornal.
Dentro do recorte de dois meses de guerra, o jornal escocês relacionou
os termos tortura e Butcha a 36 publicaçações sobre o conito entre Rússia
e Ucrânia, como foi o caso em Zelensky Tells UN of Russian atrocities and
demands immediate prosecution. Durante o exercício de análise nos conteú-
dos, foi notado o uso da palavra genocídio sendo utilizada em discursos de
líderes internacionais. Em recorte realizado entre os meses de março a ju-
nho de 2022, foram mais 46 publicações. Em ordem cronogica, é notada
uma mudança nas falas proferidas por Biden entre os dias quatro e 13 de
abril, sendo o termo crimes de guerra escolhido em um primeiro momento
e depois acrescido pelo de genocídio como na reportagem President Biden
accuses Russia of committing genocide in Ukraine.
o apenas a Russia Today, mas também a Xinhua e a Al Jazeera ze-
ram um contraponto à hegemonia comunicacional ocidental. A primei-
ra reportagem sobre o ocorrido em Butcha da agência russa se baseou
nas declarações do Ministro da Defesa russo Sergei Shoigu e nas falas de
Anatoly Fedoruk, prefeito de Butcha, armando a retomada do território
e a não citação de que corpos foram encontrados pelas ruas da cidade. Por
sua vez, a agência de notícias chinesa Xinhua adota uma linha visível de
cuidado na escolha de palavras e composição de manchetes como atra-
tivo das reportagens. A notícia escolhida pela agência datada em seis de
abril pediu moderação dos líderes mundiais sobre o episódio em Butcha e
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Diego Pautasso, Rafael Algarte O massacre de Butcha, a Guerra na Ucrânia e o poder mulmidiáco
apoio à investigação imparcial. Aliás, a Ru ssia Today ressaltou a negativa
do Conselho de Segurança da ONU para a realização de uma apuração
imparcial, como explorado na reportagem Kremlin responds to Butcha war
crimes claims — RT Russia & Former Soviet Union. A resposta aos apelos
russos não teve a mesma celeridade na qual chegaram as declarações ne-
gativas da ONU sobre a Rússia.
A rede de televisão Al Jazeera abriu espaço em uma reportagem da
sua agência de notícias com as declarões categóricas de Dmitri Peskov
armando que as acusações feitas pela Ucrânia e líderes ocidentais não
se sustentam mediante a cronologia dos fatos, dando espaço ao contradi-
tório. No mais, a rede Al Jazeera convergiu com as perspectivas adotadas
pelos grupos de mídia ocidentais.
A Russia Today, na reportagem Russia and Ukraine trade accusations
over Butcha civilian deaths, revelou que o serviço de inteligência havia aler-
tado sobre as tentativas ucranianas de manipular o cenário bélico e criar
uma narrativa que levasse ao entendimento do ocidente que os soldados
russos deveriam ser culpabilizados pelas torturas registradas, inclusive
utilizando interceptações do Serviço de Inteligência da Rússia que detec-
tou uma comunicação entre os governos brinico e ucraniano.
Já a rede chinesa CGTN dedicou as publicações datadas em quatro
de abril de 2022 a reforçar a perspectiva russa nas reportagens Moscow
to launch probe into Butcha footage of dead civilians, Russia rejects Ukraine’s
Butcha killings accusations e Outrage grows at evidence of Russian ‘war
crimes’ in towns near Kyiv: World leaders condemn the reported massacre,
denied by Russia. Nesta última reportagem houve o esforço de exibir im-
pressões causadas pelo episódio em Butcha vindas de diferentes pontos
de vista para que o próprio leitor tirasse as conclusões. As aspas desti-
nadas ao Ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergei Lavrov são
dedicadas à denúncia de manipulação nas imagens que percorreram os
periódicos mais relevantes do mundo embaladas pelos patronos ociden-
tais da Ucrânia. A estatal chinesa CGTN abordou durante o telejornal as
diculdades de uma investigação em Butcha em entrevista com Zhang
Xin, professor associado na Escola de Política e Relações Internacionais
da Universidade da China Oriental, que demandou um trabalho forense
independente.
A cobertura da guerra entre Rússia e Ucrânia realizada pela agên-
cia de notícias chinesa Xinhua é menor em reportagens e artigos na com-
paração com todos os veículos destacados até aqui. O uso de termos esco-
lhidos pela agência também são destoantes até quando comparados com
a também chinesa CGTN. A Xinhua não utilizou o termo guerra para se re-
ferir ao ocorrido entre Rússia e Ucrânia e o mesmo se repetiu em artigos,
manchetes, frases ou até legendas de imagens. Na ferramenta de busca, os
termos guerra Ucnia ou guerra Rússia não aparecem, mas sim os termos
conito e operação militar. O quadro 1 sintetiza a triagem midtica sobre o
massacre de Butcha no periódicos elencados.
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Diego Pautasso, Rafael Algarte O massacre de Butcha, a Guerra na Ucrânia e o poder mulmidiáco
Fonte: The New York Times, The Herald, ANSA, Russia Today, CGTN, Xinhua e Al
Jazeera, 2022
Em perspectiva, o poder multimidiático ocidental pautou completa-
mente a narrativa e alises sobre o conito russo-ucraniano e a responsa-
bilização russa pelo massacre de Bucha. Não bastasse a inequívoca supre-
macia comunicacional dos EUA e seus aliados, em fevereiro de 2022, várias
empresas estadunidenses baniram a mídia estatal russa de seus sistemas.
Enquanto a Apple, YouTube e DirecTV restringiam a difuo de conteúdo
da RT, Facebook e Twitter permitem mas com alertas de “mídia contro-
lada/aliada pelo estado da Rússia”. Em seguida, em março, o Conselho
da Europa emitiu um pacote de sanções à Rússia proibindo os meios de
comunicação estatais russos RT e Sputnik em todo o continente por qual-
quer meio, como cabo, satélite e Internet, enquanto cidadãos russos e suas
manifestações culturais e esportivas eram banidas em vários âmbitos dos
países ocidentais. Contudo, é objeto de condenação apenas as restrições
impostas pelo governo russo a posições divergentes mesmo diante de um
quadro de guerra em larga escala contra o bloco de países da OTAN.
4. Butcha: espetáculo e guerra na Ucrânia
Compreender conitos internacionais, tais como a Guerra na
Ucrânia, requer buscar sua natureza e historicidade, as forças envolvidas
e suas motivações imediatas e profundas. Trata-se de ultrapassar sua apa-
rência e os efeitos colaterais emocionais intrínsecos a todas as tragédias
humanirias. Deve-se levar em conta a raiz do conito, suas determi-
nantes históricas e resultantes a partir do quadro da correlação de forças.
É preciso averiguar as lutas internas e internacionais envolvidas, quase
sempre entrelaçadas. Importante também os elementos de continuidade
e ruptura, bem como as dissonâncias entre objetivos e desdobramentos
concretos ou entre narrativas e lógicas internas.
O massacre de Butcha se enquadra naquilo que assinalou Losurdo
(2016) ao relacionar o poder multimidiático ao espetáculo das emoções
necessárias para instrumentalizar e legitimar sanções e intervenções. Se é
inócua a celebração existencial da violência, também é o culto ingênuo da
paz dissociado dos processos de emancipação quanto da preservação da
dominação neocolonial econômica-tecnológica-judicial (Losurdo, 2012;
Losurdo, 2016). É preciso, pois, hierarquizar as contradições em questão,
pois, como sublinhou Katchanovski (2022), além da guerra civil e da guer-
ra interestatal russo-ucraniana, se sobrepõe uma guerra por procuração
da OTAN contra a Rússia.
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O atual conito na Ucrânia possui raízes remotas na Revolução
Laranja (2004) e escalada após eventos de Maidan (2014) que levou à depo-
sição de Yanukovych sem prerrogativas legais da Rada e ruptura do acor-
do entre o presidente e os representantes da oposição, garantido pelos
chanceleres da Polônia, Alemanha e França. Em seguida, após referendo
popular, a Rússia reincorporou a República da Crimeia e de Sebastópolis,
levando à onda de saões ocidentais contra Moscou e levantes popula-
res em Donbass, cuja resposta de Kiev foi escalar para uma guerra civil
(Bandeira, 2016).
Ato contínuo à mudança de regime na Ucrânia, o objetivo era
avançar ainda mais as fronteiras da OTAN. Criada em 1949 “para for-
necer a segurança coletiva contra a União Soviética”, como reconhece o
Departamento de Estado5 , a organização tem se expandido sistematica-
mente mesmo com o m da Guerra Fria - em violação das promessas
feitas aos líderes da antiga Uno Soviética: em 1999, incorporou Polônia,
Hungria e República Tcheca; em 2004 Estônia, Letônia, Litnia,
Bulgária, Romênia, Eslovênia e Eslováquia; em 2009 Albânia e Croácia;
e em 2019, Montenegro. Tudo indica que Finlândia e Suécia venham
a aderir à organização ainda este ano, assim como se desenha desde a
Cimeira de Bucareste de 20086, o intento de incluir a Ucrânia e a Geórgia.
Denitivamente, expandir uma aliança da Guerra Fria para a fronteira
da Rússia jamais iria construir uma arquitetura de segurança na Europa.
Aliás, considerar uma decisão soberana da Ucrânia implica desconsiderar
a natureza da OTAN e a própria constituição de seu Estado.
Além do ingresso em uma aliança militar ofensiva, e do histórico
de agressões do Ocidente à Rússia, é preciso considerar a genealogia da
Ucrânia. Trata-se de um país que inexistiu senão como entidade soviética
pós-revolução e apenas independente com o m da URSS, cujas origens
estão historicamente ligados aos rus da região do rio Dnieper miscigena-
dos dos vikings (escandinavos) com eslavos orientais. Foi desse núcleo
territorial que os diversos impérios russos se sucederam, englobando di-
versas outras nacionalidades e abrangências fronteiriças. Buscando criar
uma identidade própria, a Ucrânia independente trilhou o caminho da
negação do legado russo-soviético, ao passo que buscava a herança das
forças de extrema direita da Segunda Guerra Mundial na gura de Stepan
Bandeira. Assim, de um lado, se processou a perseguição aos russos e a
tentativa de apagamento histórico, incluindo a negação do acesso histó-
rica presença na Crimeia e Mares Negro e de Azov; de outro, se viu o
crescente poder das milícias nazistas (Batalhão Azov) oriundas da orga-
nização de extrema-direita Patriota da Ucrânia posteriormente integrada
às Forças Armadas7.
A escalada do conito contra forças pró-russas era parte dessa
construção nacional, sob crescente interesse de Washington de atrair
a Ucrânia para sua esfera de inuência europeia e conter a asceno da
Rússia. Putin, por seu turno, apresentou, em 2014, um plano de paz, co-
nhecido como Acordo de Minsk, que incluía o cessar-fogo e autonomia
para as províncias de Donetsk e Lugansk - ignoradas pelas forças ucrania-
nas (Bandeira, 2016). Seguiu-se o Acordo de Minsk II, incluindo Rússia,
Ucrânia, OSCE, além do apoio de líderes da França e da Alemanha voltado
5. Ver site do Departamento de Estado:
https://history.state.gov/milesto-
nes/1945-1952/nato#:~:text=The%20
North%20Atlantic%20Treaty%20
Organization,security%20against%20
the%20Soviet%20Union.&text=-
NATO%20was%20the%20first%20
peacetime,outside%20of%20the%20
Western%20Hemisphere.
6. Ver declaração da OTAN: https://
www.nato.int/cps/en/natolive/offi-
cial_texts_8443.htm
7. Embora existam grupos nazistas na
Ucrânia e na Rússia não se sustenta,
é no primeiro que é parte orgânica do
núcleo político.
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Diego Pautasso, Rafael Algarte O massacre de Butcha, a Guerra na Ucrânia e o poder mulmidiáco
à resolução do impasse, baseado em cessar-fogo, retirada de mercenários,
assistência humanitária e eleições em Donetsk e Lugansk. Como recente-
mente condenciou a ex-chanceler alemã Angela Merkel, a real intenção
do Ocidente por trás de sua negociação com a Rússia e a Ucrânia para
promover um cessar-fogo em 2014 por meio dos Acordos de Minsk eram
dar tempo à Ucrânia” para que se tornasse “mais forte”8. Enquanto isso,
como revelou o New York Times, era fortalecida a rede de espionagem dos
EUA na Ucrânia9 e a infraestrutura militar dos EUA com vistas a tornar
fato consumado o ingresso na OTAN.
A escalada do conito após 2014 não está dissociada da política dos
EUA de contenção do eixo sino-russo, como já destacado (Pautasso, 2019).
Se na primeira camada o conito representa uma violação da soberania
ucraniana, noutras camadas representa uma resposta russa a múltiplas
violações do direito humanirio e de direitos humanos: a expansão da
OTAN, a sabotagem dos Acordos de Minsk e os recorrentes massacres de
russos no Leste do país. Tudo isso num quadro mais amplo de sistemá-
ticas intervenções na Sérvia (1999), Afeganistão (2001-2021) e Líbia (2011)
à margem da institucionalidade internacional. À guerra por procuração
(proxy war) da OTAN na Ucrânia, estiveram articuladas a sucessões de
saões e sabotagem. São sintomáticas as explosões dos oleodutos Nord
Stream 1 e 2, cujas suspeitas recaem sobre os EUA, dada a oposição de
seus aliados no Conselho de Segurança em estabelecerem uma comissão
internacional independente para investigar o ocorrido no Mar Báltico10.
Em sentido oposto, assim como o massacre de Butcha, a queda do
avião da Malaysia Airlines em 2014 e a morte do oposicionista Aleksey
Navalny na cadeia em 2024 receberam condenações prévias dos EUA e
seus aliados antes que qualquer investigação fosse concluída. No voo
MH17 de Amsterdã para Kuala Lumpur que foi abatido vitimando 298
passageiros, somente em 2019 a Equipe Conjunta de Investigação (JIT)
liderada pela Holanda concluiu o processo acusando a milícia rebelde de
Donbass e estendendo a responsabilidade à Putin, rejeitada pela Rússia
e inclusive por Mahathir Mohamad, primeiro-ministro da Malásia. Em
razão da morte da Navalny, os EUA decretaram extensas sanções contra
mais de 500 indivíduos e entidades na Rússia e no mundo11. Não bastas-
se o poder multimidiático, uma análise dos Comunicados de Imprensa,
Declarações e Relatórios da Comissão de Direitos Humanos da ONU12
revelam condenações praticamente unilaterais à Rússia, incluindo o re-
latório de setembro de 2022 feito por sua comissão internacional inde-
pendente de investigação (IICI) sem uma investigação por comissões
competentes.
o apenas sobre o massacre de Butcha, o poder multimidiático
ocidental se impôs na construção da narrativa da Guerra na Ucrânia. Os
desdobramentos concreto do conito, contudo, são mais complexos: di-
plomaticamente, não conseguiu isolar a Rússia, como a proposta dos EUA
para remover a Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU que
não contou com apoio de 100 países e 76% da população mundial13; eco-
nomicamente, não destruiu a economia russa que em 2023 foi o segundo
maior superávit comercial do mundo em 2023, com um recorde de US$
333,4 bilhões14; politicamente, a legitimidade de Putin aumentou da casa
8. Ver reportagem do Global Times
intitulada “Real intention behind
Minsk agreements further destroys
credibility of the West” disponível
em: https://www.globaltimes.cn/
page/202212/1281708.shtml.
9. Ver detalhado dossiê do New York
Times The Spy War: How the C.I.A.
Secretly Helps Ukraine Fight Putin,
disponível em: https://www.nytimes.
com/2024/02/25/world/europe/cia-
-ukraine-intelligence-russia-war.html
10. Ver site da ONU, disponível em:
https://press.un.org/en/2023/sc15243.
doc.htm
11. Ver nota do Departamento de Esta-
do dos EUA “Responding to Two Years
of Russia’s Full-Scale War On Ukraine
and Navalny’s Death”, disponível em:
https://www.state.gov/imposing-mea-
sures-in-response-to-navalnys-death-an-
d-two-years-of-russias-full-scale-war-a-
gainst-ukraine/
12. https://press.un.org/en/2023/
sc15434.doc.htm
13. Ver dados da votação na
ONU: https://news.un.org/en/
story/2022/04/1115782
14. Ver reportagem da RT China and
Russia top list of states with largest
trade surplus – study: https://www.
rt.com/business/573611-china-russia-
-trade-surplus/
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de cerca de 70% para 83%15; e, por m, militarmente, e apesar da mobi-
lização de um conjunto de países ocidentais. Ademais, as perspectivas da
Ucrânia são desalentadoras, apesar dos esforços dos EUA e seus aliados.
A economia ucraniana encolheu mais de 30%16, enquanto o número de
refugiados ultrapassou 8 milhões somente na Europa e quase 6 milhões
de deslocados internos17. Territorialmente, o mínimo que se sinaliza é a
perda de quatro províncias (Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia)
- a depender do prolongamento do conito.
o seria exagero armar que o pilar comunicacional seja mais
consistente daqueles que compõem as estruturas hegemônicas de poder
herdadas do Pós-Segunda Guerra Mundial, formadas por diversas dimen-
sões (militar, política, econômica e ideológica) e vínculos de interesses en-
tre países, organizações internacionais e corporações (Guimarães, 2000),
estão em transformação. Em perspectiva histórica, é inequívoco o deslo-
camento do epicentro produtivo, tecnológica e comercial para China e
região. Contudo, o domínio ideogico e cultural ocidental parece mais
refratário às mudanças, o que explica a supremacia comunicacional, cujo
entrelaçamento na produção de subjetividades perpassa da cultura à ciên-
cia e à política. Nesse sentido, o que estamos a assistir é o excepciona-
lismo e suas fundamentações em noções como ‘império da liberdade’,
líder do mundo livre’, ‘nação eleita’ e ‘polícia do mundo’ (Walt, 2011).
Há, pois, uma poderosa construção mental assentada na presunção de
virtude (Mahbubani, 2021) cujo papel do poder multimidtico é central,
fazendo o universalismo ocultar o etnocentrismo exaltado e o imperialis-
mo (Losurdo, 2023).
Considerações Finais
O levantamento e alise quantitativa e qualitativa das reportagens
da mídia ocidental - ao qual podemos somar a Al Jazeera - se alinham num
claro tom condenatório da Rússia. Principalmente os The Herald e The
New York Times se concentraram em acusações contra a Rússia, exigin-
do ações políticas de endurecimento de sanções, críticas severas à inér-
cia para barrar as tropas de Vladimir Putin e até a sugestão para criação
de tribunais para condenar as ações cometidas na Ucrânia. É inequívoco
o engajamento na direção de uma vio unilateral, com escasso espaço
para o contrário, revelando não apenas um precário exercício do jornalis-
mo quanto um empobrecimento da esfera pública democrática. Ou seja,
as narrativas sobre o massacre de Butcha revelam o poder multimidiático
dos EUA e seus aliados, sem qualquer direito ao contraditório e presun-
ção de inocência, tampouco cumprindo os requisitos e formalidades ju-
rídico-diplomáticas. Essa condenação imediata e unilateral realizada por
tais mídias ocidentais revelam a sobreposição de propósitos estratégicos a
qualquer outra nalidade jornalística.
Se guerras são conitos de direitos, estas possuem determinantes
e responsabilidade assimétricas. E nesse quadro, ca evidente que a nar-
rativa ocidental estava eivada de intencionalidades: enfraquecer Putin,
estrangular a economia russa, isolar o país diplomaticamente e levá-lo à
derrota militar. O poder multimidtico ao qual se refere Losurdo (2016)
15. Ver dados da Statist: https://www.
statista.com/statistics/896181/putin-
-approval-rating-russia/
16. Ver reportagem da CNN: https://
edition.cnn.com/2023/01/05/business/
ukraine-economy/index.html
17. Ver dados da Agência da ONU:
https://www.unrefugees.org/emergen-
cies/ukraine/
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Diego Pautasso, Rafael Algarte O massacre de Butcha, a Guerra na Ucrânia e o poder mulmidiáco
entrelaçou reportagens jornalísticas a atividades propagandísticas dos
EUA e seus aliados.
O massacre de Butcha e a Guerra na Ucrânia sinalizam, primeira-
mente, que a Rússia superou a fragilidade herdada do colapso soviético,
voltando à cena internacional com assertividade e capacidade de garantir
a segurança de seu entorno regional, desde a modesta ocupação do aero-
porto de Pristina (1999), passando pela invasão da Geórgia (2008), o apoio
à Síria contra o Estado Islâmico e agora com a Guerra na Ucrânia. Não
é exagero supor que estamos diante de uma transição sistêmica, como
assinalou Arrighi (2012). Se, por um lado, tem sido inquestionável a supre-
macia comunicacional do Ocidente, por outro, não são poucas as ssuras
nas estruturas hegemônicas de poder centradas em Washington e os seus
limites de projeção de força através da OTAN.
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