estudos internacionais
REVISTA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Grão-Chanceler: Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Reitor: Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães
Assessor Especial da Reitoria: José Tarcísio Amorim
Chefe de Gabinete do Reitor: Paulo Roberto de Sousa
Pró-reitores: Extensão - Wanderley Chieppe Felippe; Gestão Financeira - Paulo
Sérgio Gontijo do Carmo; Graduação - Maria Inês Martins;
Logística e Infraestrutura - Rômulo Albertini Rigueira; Pesquisa e
de Pós-graduação - Sérgio de Morais Hanriot; Recursos Humanos
- Sérgio Silveira Martins; Arcos - Jorge Sundermann; Barreiro -
Renato Moreira Hadad; Betim - Eugênio Batista Leite; Contagem
- Robson dos Santos Marques; Poços de Caldas - Iran Calixto
Abrão; São Gabriel – Alexandre Rezende Guimarães; Valle; Serro e
Guanhães - Ronaldo Rajão Santiago
EDITORA PUC MINAS
Direção e coordenação editorial: Mariana Teixeira de Carvalho Moura
Comercial: Paulo Vitor de Castro Carvalho
Conselho editorial: Edil Carvalho Guedes Filho; Eliane Scheid Gazire; Ev’Angela Batista
Rodrigues de Barros; Flávio de Jesus Resende; Jean Richard Lopes;
Leonardo César Souza Ramos; Lucas de Alvarenga Gontijo; Luciana
Lemos de Azevedo; Márcia Stengel; Mariana Teixeira de Carvalho
Moura; Meire Chucre Tannure Martins; Mozahir Salomão Bruck;
Pedro Paiva Brito; Sérgio de Morais Hanriot.
EDITORA PUC MINAS: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Rua Dom Lúcio Antunes, 180 • 30535-630 • Coração Eucarístico • Tel: (31) 3319.9904
Fax: (31) 3319.9907 • Belo Horizonte • Minas Gerais • Brasil • e-mail: editora@pucminas.br
estudos internacionais
REVISTA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Poncia Universidade
Católica de Minas Gerais
Programa de Pós-Graduação
em Relações Internacionais
Belo Horizonte
ISSN: 2317-773X
v. 11 n. 2
junho 2023
estudos internacionais
REVISTA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Conselho Executivo
Prof. Javier Alberto Vadell
Prof. Leonardo César Ramos
Equipe Editorial
Amanda de Lacerda Robadel
Ana Luiza Braga Eliziário
Caio Ribeiro de Oliveira
Fábio Ferreira Andrade
Leonardo Coelho Assunção Santa Rita
Luiz Felipe Dias Pereira
Victor de Matos Nascimento
Conselho Editorial
Adam David Morton (University of Sidney)
Andrés Malamud (Instituto de Ciências Sociais– Universidade de Lisboa)
Antonio Carlos Lessa (Universidade de Brasília UNB)
Atílio Borón (Universidade de Buenos Aires - Consejo Nacional de Investigaciones Cientícas y Técnicas)
Carlos Milani (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Carlos S. Arturi (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Gladys Lechini (Universidade Nacional de Rosário - Consejo Nacional de Investigaciones Cientícas y Técnicas)
Henrique Altemani (Universidade Estadual da Paraíba)
Jens Bartelson (Lund University)
João Pontes Nogueira (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
José Fvio Sombra Saraiva (Universidade de Brasília)
José Luis León-Manríquez (Universidade Autónoma Metropolitana Xochimilco)
Letícia Pinheiro (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Luis Fernando Ayerbe (Universidade Estadual Paulista)
Marco Aurélio Chaves Cepik (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Marcos Costa Lima (Universidade Federal de Pernambuco)
Maria Regina Soares de Lima (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Matt Ferchen (Tsinghua University)
Miriam Gomes Saraiva (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Monica Hirst (Universidad Di Tella–Universidad de Quilmes)
Paulo Luiz Moreaux Lavigne Esteves (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
Paulo Fagundes Vizentini (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Rafael Villa (Universidade de São Paulo)
R. Evan Ellis (Center for Strategic and International Studies)
Renato Boschi (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Sean Burges (Australian National University)
Shiguenoli Myamoto (Universidade Estadual de Campinas – San Tiago Dantas)
Tullo Vigevani (Universidade Estadual Paulista)
Apoio
Departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas)
Chefe do Departamento: Chyara Salles Pereira
When do business groups embrace outside lobbying in trade
policy? The case of the CPTPP in Chile. ........................................................7
¿Cuándo adoptan los grupos empresariales el lobby externo en la política comercial? El caso
del CPTPP en Chile.
Quando é que os grupos empresariais adotam o lobbying externo na política comercial? O
caso do CPTPP no Chile.
Andrés Dockendorff, Dorotea Lòpez
China e as mutações da Ordem Internacional Liberal:
evidências do AIIB e NDB ...............................................................................24
China and the changing Liberal International Order: evidence from the AIIB and NDB
China y la cambiante Orden Liberal Internacional: evidencias del AIIB y el NDB
Octávio Henrique Alves Costa de Oliveira
A construção institucional na China e sua dimensão consultiva ............38
Institutional Construction in China and Its Consultative Dimension
La Construcción Institucional en China y Su Dimensión Consultiva
Diego Pautasso, Isis Paris Maia
Aleksandr Dugin, o Projeto Neoeurasianista e a Narrativa
sobre a Nova Ordem Mundial. .......................................................................53
Aleksandr Dugin, the Neo-Eurasianist Project and the Narrative of the New World Order
Aleksandr Dugin, el Proyecto Neo-Eurasianista y la Narrativa del Nuevo Orden Mundial
Natalia dos Reis Cruz
¿Qué piensan los latinoamericanos sobre el sistema mundial? ..............71
O que os latino-americanos pensam sobre o sistema mundial?
What do Latin Americans think about the world system?
Carlos Andrés Luján
Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión política de
la función contra-cíclica del financiamiento del desarrollo ....................90
Beyond the technical: Exploring the political dimension of the counter-cyclical role of
development finance
Além do técnico: explorando a dimensão política do papel anticíclico do financiamento do
desenvolvimento
Pablo Hidalgo-Romero
KARAM, Jeffrey; MAJED, Rima. The Lebanon Uprisings of
2019: Voices of Revolution (Os Protestos de 2019 no Líbano:
Vozes da Revolução) [Las Protestas de 2019 en el Líbano:
Voces de la Revolución]. London: IB Taurus, 2023, 341 pages. ...............113
Rodrigo Ayupe Bueno da Cruz
7
Andrés Dockendor, Dorotea Lòpez When do business groups embrace outside lobbying in trade policy? The case of the CPTPP in Chile
When do business groups embrace outside
lobbying in trade policy? The case of the
CPTPP in Chile1.
¿Cuándo adoptan los grupos empresariales el lobby
externo en la política comercial? El caso del CPTPP
en Chile.
Quando é que os grupos empresariais adotam o lobbying
externo na política comercial? O caso do CPTPP no Chile.
Andrés Dockendorff 2
Dorotea Lòpez3
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2023v11n2p7-23
Recebido em: 14 de Março de 2024
Aprovado em: 27 de Junho de 2024
ABSTRACT
Literature shows that business interest groups have fewer incentives to embrace
outside lobbying in trade policy. This article proposes an alternative explanation.
As we discuss, special economic interests are more likely to adopt a specic
subtype of outside lobbying (press, media appearances and op-eds) when poli-
cymakers are not responsible for them, and their long-term interests associated
with a model of open trade are potentially threatened. We test our argument
with the case of Chile and the long debate around the Comprehensive and Pro-
gressive Agreement for Trans-Pacic Partnership (CPTPP) ratication process.
Our results support the hypothesis: businesses have a greater probability of
media appearances, publishing op-eds, and the like, in comparison to other lob-
bies, such as labor and single-issue groups against the treaty. However, the eect
is conditional to salience: the subtype of outside lobbying from business groups
is more likely to be observed as the distance to the social outbursts of October
2019 increases.
Keywords: outside lobbying- business groups – trade policy - CPTPP
RESUMO
A literatura mostra que os grupos de interesses empresariais têm menos incenti-
vos para adotar o lobbying externo em matéria de política comercial. Este artigo
propõe uma explicação alternativa. Como discutimos, os interesses económicos
especiais são mais propensos a adotar um subtipo especíco de lobbying externo
(imprensa, aparições nos meios de comunicação social e artigos de opinião)
quando os decisores políticos não são responsáveis por eles e os seus interesses
1. This work has been possible thanks
to the Fondecyt N° 11190948 and ANID-
-Millenium Science Initiatives Programs
[grant number NCS2021_063] and [iclac
Millennium Nucleus of China’s Impacts
in Latin Americagrant number NCS 053].
2. Professor, International Studies
Institute, University of Chile, adocken@
uhile.cl, PhD in Political Science,
University of Essex, Master of Political
Science, University of Chile.
3. Professor, International Studies
Institute, University of Chile, dolopez@
uchile.cl, PhD in Social Science, Uni-
versity of Chile, Master of Philosophy
in Economics, Cambridge University,
United Kingdom.
8
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 7-23
de longo prazo associados a um modelo de comércio aberto estão potencial-
mente ameaçados. Testámos o nosso argumento com o caso do Chile e o longo
debate em torno do processo de raticação do Acordo Global e Progressivo
para a Parceria Transpacíca (CPTPP). Os nossos resultados corroboram a
hipótese: as empresas têm uma maior probabilidade de aparecer nos meios de
comunicação social, publicar artigos de opinião e ans, em comparação com
outros grupos de pressão, como os grupos laborais e os grupos de ação única
contra o tratado. No entanto, o efeito está condicionado à saliência: o subtipo
de lobbying externo de grupos empresariais é mais provel de ser observado à
medida que aumenta a distância para as explosões sociais de outubro de 2019.
Palavras-chave: lobbying externo - grupos empresariais - política comercial - CPTPP
RESUMEN
La literatura muestra que los grupos de interés empresariales tienen menos
incentivos para adoptar medidas de presión externas en política comercial. Este
artículo propone una explicación alternativa. Como discutimos, es más probable
que los intereses económicos especiales adopten un subtipo especíco de lobby
externo (prensa, apariciones en los medios y artículos de opinión) cuando los
políticos no son responsables de ellos, y sus intereses a largo plazo asociados a
un modelo de comercio abierto se ven potencialmente amenazados. Ponemos
a prueba nuestro argumento con el caso de Chile y el largo debate en torno al
proceso de raticación del Acuerdo Integral y Progresista de Asociación Trans-
pacíco (CPTPP). Nuestros resultados apoyan la hipótesis: las empresas tienen
una mayor probabilidad de aparecer en los medios de comunicación, publicar
artículos de opinión y similares, en comparación con otros grupos de presión,
como los sindicatos y los grupos monotemáticos contrarios al tratado. Sin
embargo, el efecto está condicionado a la saliencia: es más probable observar el
subtipo de lobby externo de los grupos empresariales a medida que aumenta la
distancia a los estallidos sociales de octubre de 2019.
Palabras clave: lobby externo - grupos empresariales - política comercial – CPTPP
INTRODUCTION
In October 2019, protestors took the streets in Santiago and other
Chilean cities voicing demands about social security, health access and
education, among other issues. Surprisingly, among the posters and can-
vases of the people protesting, as well as grati in the streets, you could
nd explicit references against the Comprehensive and Progressive Trans
Pacic Partnership Agreement CPTPP4 (known before as TPP before the
United States left negotiations). Moreover, a new radical left coalition
took oce in March 2022, with a dierent discourse towards preferential
trade agreements than in previous years. For the rst time since 1990, it
gave the impression that decision makers wanted to profoundly change
the country’s trade policy implemented by center left and right govern-
ments between 1990 and 2021. This view represented a drastic departure
from the previous elite consensus around an open trade policy.
The article argues that this particular political environment, and
the politicization of the trade policy, induced business lobbies to embrace
a more aggressive strategy to advocate in favor of the CPTPP. They were
encouraged by the fear that Chilean politics could be redirected towards
a less trade openness-oriented model, perhaps more similar to the import
4. The Comprehensive and Progressive
Agreement for Trans-Pacific Partnership
(CPTPP) is a plurilateral economic inte-
gration agreement in the Asia-Pacific
region. It covers various aspects of trade
policy, such as market access in goods,
trade facilitation, government procu-
rement, intellectual property, services,
e-commerce, investment, environment,
labor issues, among others. Currently,
the CPTPP is in force for the 11 original
signatory countries, namely: Australia,
Brunei Darussalam, Canada, Chile,
Malaysia, Mexico, Japan, New Zealand,
Peru, Singapore and Vietnam, and its
objectives include promoting economic
integration, establishing predictable
legal frameworks for trade, facilitating
regional trade, promoting sustainable
growth, among others. (Subrei, 2023)
9
Andrés Dockendor, Dorotea Lòpez When do business groups embrace outside lobbying in trade policy? The case of the CPTPP in Chile
substitution model of the 60s. This outcome is somehow puzzling.
Indeed, most of the literature assumes that outside lobbying – actions
that are thought to be oriented to the mobilization of public opinion —
is not a mechanism chosen by business lobbies (i.e., Binderkrantz, 2005;
r and Mateo, 2013; Kollman, 1998, Dür and Mateo 2024). Moreover,
the literature examining the link between interests’ groups and trade,
focuses overwhelmingly on the actions of activists and groups against
trade policy (r and Mateo, 2014; Gheyle and De Ville, 2019). An alter-
native explanation is made in this article, as outlined above: where there
is a misalignment of preferences between business lobbies and policyma-
kers on trade policy, groups have incentives to embrace a more aggressive
specic type of outside lobbying: press releases, op-eds, interviews, and
the like. Moreover, following previous works (r and Mateo, 2023; De
Bruycker and Beyers, 2018), our model specication assumes that outside
lobbying by business groups would be conditional to salience.
The argument is tested in the case of Chile. The country experien-
ced a long period of a stable trade policy based on a general consensus
that the signing of preferential trade agreements (PTAs) were supposedly
benecial (Aninat, Navia et al., 2006; Fermandois and Henríquez, 2005).
Moreover, business participated actively (Bull, 2008). In recent years
however, political elites started to become polarized around the issue.
Indeed, after the signing of the CPTPP in 2018, the National Congress
spent almost ve years ratifying the agreement. This was quite unusual
in comparison to the time spent in Congressional approval of other PTAs
on average. Moreover, single issue groups against the CPTPP emerged
during the debate process towards the signing of the agreement. They
conducted the rst protests around the trade policy in Chile.
Original data was collected on inside and outside lobbying actions
between 2018 and 2022 in Chile. The observational data allows testing
of the following hypothesis: business lobbies are more likely to embrace
outside lobbying and the eect is more pronounced when moving away
from the social crisis when the CPTPP was more salient. We consider the
social outbursts of October 2019 as a point in time where the debate about
the CPTPP was more prominent. Salience is the proxy of politicization.
As the model species, businesses have incentives to avoid going public
when the public is paying too much attention to the issue at stake. The
results conrm that businesses in Chile embrace outside lobbying more
often in comparison to labor groups, and more importantly, in compari-
son to single-issue lobbies against the agreement. This pattern, however,
is sensitive to salience (politicization).
The empirical test has implications for understanding the lobbying
dynamics in the case of trade policy. This paper’s contribution is two-
fold. Firstly, for understanding the representation of interests in contexts
of politicization of trade, such as the CPTPP in Chile. Secondly, adding
to the incipient literature on lobbying in Latin America regarding trade
policy issues. The latter is because there are only a few empirical studies
available in the region about lobbying dynamics, and most of them focus
on direct lobbying (face to face contacts) with legislators or at commit-
tee hearings (i.e., Vallejo Vera, 2021). A potential exception is the case
10
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 7-23
study of Benzecry (2023) on labor lobbying the Brazilian constitutional
assembly. To the best of our knowledge, this is one of the rst articles exa-
mining lobbying campaigns by business groups in trade policy in Latin
America. The role of interests’ groups in trade policy has been studied
mainly in Western European democracies. This work contributes to this
line of research.
The next section presents our theoretical framework, presenting
the concepts encompassing the notion of outside lobbying and the foun-
dations of our theoretical model. Then, the main insights of the Chilean
case are outlined, followed by the research design, data and results.
Finally, the main implications of the analysis are presented.
FRAMEWORK: when do business groups embrace outside lobbying in
trade policy?
Trade policy is usually analyzed from an economic perspective,
focusing on protectionism and openness of markets to global or regio-
nal trade, and primarily in goods. More recently, scholars have moved
towards examining the formation of trade policy and the inuence of
lobbies and interests groups (Hoeckman, Mattoo and English, 2002). In
a global scenario increasingly linked by commerce, the dichotomy bet-
ween protectionism and those advocating open markets has become
more complicated than only taris. The growing complexity of trade po-
licy, the relevance in the development countries agendas and the incorpo-
ration of new topics in PTAs has attracted new lobbies and groups to par-
ticipate more actively in trade debates (Eliasson and García-Durán Huet
2016; Bull, 2008). From an ideational perspective, for instance, Dingwerth
and Weinhardt (2019) show how new concepts such as genderization, en-
vironment and democracy are now part of the trade debates. This is the
case, as we argue in this article, of the CPTPP.
Some interest groups have been more visible than others in trade
policies. This is the case, for instance, of groups protecting agriculture,
especially in the European negotiations, or environmental protectionist
groups against the North American Free Trade Agreement (NAFTA)
or the WTO Ministerial Meeting held in Seattle in 1999, among others
(Grossman and Helpman 2002). The complexity of international trade ne-
gotiations requires participation with a high degree of technical knowled-
ge on the subject (Bull, 2008). However, under democratic and pluralist
conditions, the number of interest groups that participate in trade policy
debates will increase and often generate alliances with governments that
can be useful at the international level (Lee 2010).
Despite the extensive literature, political science does not establish
a single denition of interest groups (Baumgartner & Leech 1998). Some
authors have managed to identify two categories. On the one hand, those
groups whose purpose is closely related to the defense of an economic
position that pursue their own benet, such as business associations. On
the other hand, public interest groups that promote issues of concern to
large groups such as human rights or the environment (Jerez, 1997). In re-
ference to the rst category, several studies have analyzed how business
11
Andrés Dockendor, Dorotea Lòpez When do business groups embrace outside lobbying in trade policy? The case of the CPTPP in Chile
groups are able to advance their interests in international economic ne-
gotiations, or in cases such as agricultural protection or geographical in-
dications in the European Union (Baccini, Dür, Elsig, and Milewicz, 2011;
Bombardini and Trebbi, 2012; Dür and Lechner, 2015; Elsig and Dupont,
2012). On the other hand, the economic policy approach that studies the
process of trade policy formation assumes that politicians and govern-
ments are rational agents, maximizing welfare based on their own and
their voters’ welfare. Grossman and Helpman (2002) use this approach in
which they build a model that predicts the tari structure resulting from
the inuence of interest groups in a free trade agreement negotiation.
Lobbies and interest groups’ aim is inuencing policy content and
decisions. This premise holds whether we examine patterns of lobbying
in trade policy or in other policy areas and issues. In pursuing inuen-
ce, groups and lobbies may adopt dierent tactics or strategies, which
is the focus of this research. The literature organizes these dierent
strategies adopted by them: direct (also known as insider) and outside
or indirect (media and grassroots) (Dür and Mateo, 2013; Nicolle Victor,
2007; Binderkrantz, 2005; Binderkrantz, 2008; Weiler and Brändli 2015).
Operationally, inside lobbying corresponds to direct actions or approa-
ches to representatives or policymakers in meetings, legislative hea-
rings, and other face to face contacts. This type of lobby is very com-
mon. However, sometimes it is also polemic, since contacts between lo-
bbies and representatives are usually subject to suspicion and criticism.
Outside lobbying, meanwhile, encompasses all actions oriented to the
mobilization of public opinion (Beyers, 2004). Specically, outside lob-
bying comprehends approaching journalists, social media adverts, press
releases, grassroots meetings, demonstrations, public campaigns, among
others (De Bruycker and Beyers, 2019; Mahoney, 2007). In this article, the
focus will be on outside lobbying actions mainly associated with the press
and media outlets. In the case of lobbying on trade policy, this is conside-
red as a subtype of outside lobbying which has been less covered in the
comparative literature and case studies.
The literature also discusses the main determinants of how to
lobby, or the particular venues that interest groups focus on when see-
king to inuence policy or regulations. The choices about the type of
lobbying strategies to be employed, are endogenously linked to characte-
ristics of the interests’ groups (Binderkrantz 2008, Dür and Mateo, 2013).
Indeed, a predominant stream in the literature identies that business
lobbies are in a privileged position because of their resources and budget.
Hence, they spend them on implementing direct strategies to approach
policymakers. Evidence from the United States raties that lobbyists and
interest groups with more resources embrace direct lobbying activities
more often (Nicolle Victor, 2007: 840). Evidence from a sample of lob-
byists and groups in Chile also show that cause groups are more likely
to embrace indirect tactics (Dockendor et al., 2024). Corporate leaders
only occasionally use outside lobbying tactics (Kollman, 1998:5). Another
reason may also explain why business lobbies focus on direct lobbying
tactics. Indeed, as Culpepper (2011) argues, business and corporate groups
achieve their goals more often under conditions that he refers to as “quiet
12
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 7-23
politics’, while failing to attain their preferences when the issue is of high
political salience. In contrast, less privileged lobbies engage in outside lo-
bbying activities more frequently (Binderkrantz, 2005: 697). For instan-
ce, citizens’ organizations (with less resources) would be more prone to
participate in public campaigns, demonstrations (r and Mateo, 2013:
661; Schlozman and Tierney, 1986: 431) or public campaigns, as data from
Scandinavian politics shows (Binderkrantz, 2008). As it stands, in the case
of business groups it seems to apply the idea that outside lobbying “is not
always an optimal strategy or even feasible” (Mahoney, 2007: 109). An
alternative explanation, however, emerges when analyzing business lo-
bbying repertoires in trade policy. Our approach encompasses the litera-
ture on outside lobbying and trade policy. The baseline model maintains
that, under certain specic conditions, economic lobbies may have incen-
tives to embrace a particular subtype of outside lobbying (approaching
journalists, issue advertising, op-eds, and interviews) more aggressively.
In the next paragraphs our model will be specied.
OUTSIDE LOBBYING IN TRADE POLICY: the argument
The literature has addressed lobbying dynamics over trade policy,
focusing on rms and companies both from a theoretical and an empi-
rical perspective (i.e., Bombardini and Trebbi, 2012; Hanegraa, Poletti
and Van Ommeren, 2023). In respect of outside lobbying, the topic exa-
mined here, scholars have been focused mainly on the role of anti-trade
interests’ groups in sustaining opposition to trade through grassroots
mobilizations and campaigns (Dür and Mateo, 2014; De Bièvre and
Poletti, 2020; Eliasson and Garcia-Duran Huet, 2018; Kay and Evans 2018;
Gheyle and De Ville, 2019; Young 2019). Protests in Europe, Seattle and
other major cities in Western democracies against specic trade agree-
ments or the WTO are well known. Hence, the literature has addressed
the issue of how dierent actors and lobbies react to the politicization of
trade (Dür, Hamilton et al., 2024; De Vries, et al., 2021). Antoine (et al.,
2024) provides evidence that a more diverse mobilization of the business
sector during debates on trade combined to less salience may induce de-
cisions in favor of trade liberalization. This is due to legitimacy gains
associated with the diversity.
In what follows, we discuss the conditions under which business
lobbies do public campaigns in advocating their preferred policies regar-
ding trade.
An explanation would highlight that grassroots and protests are
more prominent forms of lobbying, and anti-trade and labor groups more
likely to drive such actions. Indeed, outside lobbyings main goal is as-
sumed to be the socialization of conict by targeting a wider audience.
As Kollman (1998: xiii) noted, outside lobbying’s goal is to signal to po-
licymakers, public support to the lobby’s preferred policy. If one follows
that approach, conict expansion would imply realistic chances of increa-
sing public support in order to attain inuence. As such, it is more rea-
listic to assume that lobbies without access to policymakers would focus
more on campaigning for promoting their preferred trade policy. As will
13
Andrés Dockendor, Dorotea Lòpez When do business groups embrace outside lobbying in trade policy? The case of the CPTPP in Chile
be discussed below, there is an alternative story. The opposite may be
expected from economic lobbies. Stevens and De Bruyecker (2020) show,
with evidence from a survey to lobbyists in the context of the European
Union, lobbies enjoying resource advantages attain their goals at a higher
rate, but this is conditional to the low salience of the issues under debate.
Deriving from the lobbying literature and the insights of the case
examined here, the article focuses specically on press and media ac-
tions, as a specic subtype of outside lobbying in trade policy. The un-
derstanding is that such actions constitute a second-best strategy for
business groups. When they fail to persuade policymakers directly, bu-
siness lobbies have incentives to adopt a more aggressive public prole in
advocating their preferences. As noted by Wolton (2019), special groups
defending the status quo would embrace outside lobbying after they fai-
led to persuade policymakers to rule according to the group preference.
This may be a particularly attractive tactic when decision makers are
not sensitive to lobbies’ demands. Recall that, ultimately, in the original
formulation of Schattschneider (1957): socialization of conict, equiva-
lent here to outside lobbying, is a strategy more frequently used by those
actors (agents) who see themselves as harmed by a particular political
result. Now, think about the position of business lobbies defending the
continuity of the open trade policy. This, against the position of political
reformers who endorsed a platform of radical change, as in the case stu-
died here, Chile. Hence, a drastic policy change, meaning in this case the
adoption of some form of protectionism and perhaps state-led strategies,
meant a serious setback for business. This is not trivial, from an empiri-
cal point of view. Indeed, the Wolton (2019) model proposes that outside
lobbying is more likely in cases of overreaching policy reforms –the case
of potentially comprehensive policy shifts in the trade policy as studied
here. Dierently, business lobbies may engage in outside lobbying in
dicult issues as a last resort” (Mahoney, 2007:53). This reconciles with
qualitative evidence gathered by the authors. In fact, one interviewee
who organized the Side Room (a place established by the government for
civil society consultation during negotiations) claimed that “the private
sector got involved with the CPTPP only in the nal phases because
the opposition to the agreement shifted towards an opposition to the
Chilean trade policy.5
In the case of trade policy, it is not realistic to suppose that busi-
ness would gamble for a social mobilization in favor of the free trade
agreement or a drastic increase in the salience of the trade policy among
the public priorities. On the contrary, if anything is expected, it would
be mobilization of activists and other lobbies against trade, as several
examples demonstrate (Gheyle and De Ville, 2019). Instead, in trade
policy debates, it is more accurate to conceive outside lobbying, in the
press and media variant, as a strategy played by business lobbies to tar-
get insiders who are more sensitive to news stories (Trapp and Laursen,
2017). A signaling game where business actors ought to induce elites and
policymakers towards their preferences by pressuring them from the
media environment, for example by spending resources in issue adverti-
sing, op-eds, interviews and the like. This is the specic form of outside
5. Senior Advisor, CPTPP Side Room.
Interview conducted on the 12th of July,
2023. Some interviews were conducted
with senior political advisors and autho-
rities who conducted the negotiations
of the CPTPP in representation of Chile
(N=3).
14
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 7-23
lobbying examined here, as outlined above. Model specication is an ex-
tension of Dür & Mateo (2014), who emphasize the interdependence bet-
ween public opinion and interest groups in the policymaking process, as
the negotiations about ACTA show. However, this article approach focu-
ses more on campaigns conducted by lobbies using the press and media
outlets to pressure policymakers, instead of inducing a mobilization of
the public opinion.
Model specication is conditional to the salience of trade policy,
which is one of the components of politicization (i.e., De Bièvre 2018).6
r and Mateo (2024) showed that when politicization is mounting and
trade policy debates are more salient, business groups prefer to go into hi-
ding and focus more on inside lobbying tactics. Meanwhile, De Bruycker
and Beyers (2018) have documented that, under certain circumstances,
lobbies may decide to go public and do outside lobbying, but this is con-
ditional on whether the issue at stake is popular among the public or not.
Likewise, qualitative evidence from the EU showed how the nancial
lobbies may embrace a mix of strategies to “get back on its feet” after the
nancial crisis, including both quiet and “noisy politics” (Kastner, 2018).
In particular, the author argues that when the contextual eects of the
nancial crisis started to vanish, industries started to recover their pre-
vious position by going out and forming coalitions, arguing in a more
appealing way and circulating evidence to support their position against
the nancial transaction tax. Hence, after some time elapsed since the
crisis unfolded, economic lobbies adopted a more aggressive outside lob-
bying strategy. Therefore, in the sequence we put forward, when business
groups are induced by policymakers’ lack of responsiveness to embrace
outside lobbying on trade policy, they ponder the level of politicization,
in particular salience.
Deriving from insights of the literature on both outside lobbying
and trade policy, we argue that when business interests are threatened
long term, they adopt a more confrontational stance and embrace outside
lobbying more aggressively as a last resort. All else being equal, business
would embrace outside lobbying when there is a misalignment between
lobbies and policymakers preferences regarding trade policy. This would
be the optimal strategy when the trade debate is less salient.
Hypothesis: business lobbies are more likely to embrace outside lob-
bying (median, press, op-eds) and the eect is more pronounced when the trade
issue is less salient.
CASE SELECTION AND DATA
This is a case study of the ratication of the CPTPP in Chile. The
stylized facts show that the ratication process creates incentives for busi-
ness lobbies to embrace outside lobbying actions more often. Politicization
of trade in Chile was something new. The Chilean trade policy was cha-
racterized by a general consensus that having an open economy to the
world and signing PTAs were supposedly benecial (Aninat, Navia et al.,
2006; Van Klaveren 2011; Fermandois and Henríquez, 2005). Since 1990,
the center-left governments have conducted an economic policy that
6. For a conceptual debate and operatio-
nalization, See De Wilde (2011).
15
Andrés Dockendor, Dorotea Lòpez When do business groups embrace outside lobbying in trade policy? The case of the CPTPP in Chile
fostered Free Trade Agreements (FTA) with countries all around the glo-
be. Previous ratication processes, such as the Chile-U.S. FTA were cha-
racterized by low intensity politics. Debates during ratications of those
agreements were associated mainly to the interests of farmers and similar
groups. In some cases, legislators representing districts with industries or
farmers that may be harmed by specic FTAs, may voice their opposition
to specic provisions (López and Baeza, 2015). However, the opposition
to FTAs was not associated with profound ideological dierences or a
questioning about the trade policy.
In 2018, President Piñera, from the center-right coalition Chile
Vamos, entered Palacio de la Moneda, the Chilean presidential palace, for
a second presidential term, with signicant distance to his contenders. In
the Program was a clear continuity to the trade policy orientation since
1990. In particular, the manifesto included a favorable position towards
the strategy of signing FTAs, including the CPTPP. Recall that the negotia-
tion started back in 2016. The candidate who came second was Alejandro
Guillier, who represented the parties of the former Concertación por la
Democracia, a center-left coalition that won the election against Pinochet
in 1990. In the campaign program it was pointed out that Latin America
and its insertion would be a priority but that they would also improve the
possibilities of looking to diversify its export basket with scale initiatives
in our relations with Asia Pacic. This was clearly a continuity. Finally,
the surprise was that the candidate of the current President Boric’s party,
Frente Amplio, Beatriz Sanchez, was the third most voted candidate in
2017. In her programme, she questioned the insertion model as part of
the neoliberal system and proposed a new model, in which continuity in
trade policy was not evident.
At the system level, the positions of Chilean parties on trade po-
licy are observable in parliamentary surveys. The Parliamentary Elites
Survey Project (PELA) data shows that Chilean parliamentarians are
more favorable to economic integration with the U.S and the EU in com-
parison to other legislators in Latin America, and the contrary occurs in
the case of the Alianza Bolivariana para los Pueblos de Nuestra América
(ALBA) (Bohigues and Rivas, 2019). Moreover, those attitudes seem to
be explained by ideological and programmatic factors, with right wing
legislators more supportive of commercial integration with the U.E and
the E.U and left wing closer to the ALBA.
Specically, the positions of Chilean parties regarding the CPTPP
are observable in the votes during the treaty ratication. As recent resear-
ch shows (see López et al., 2024), new leftists parties, part of the coalition
Frente Amplio, and the Communist Party legislators were among those
more critical to the ratication of the CPTPP, joined by legislators from
the center left. The gridlock in the ratication process is explained in part
due to the erce opposition of those lefties parties, in the opposition to
Piñera`s government at that time.
Low intensity politics changed during the debate of the CPTPP. Not
only unprecedented demonstrations took place and grati during the
2019 social outburst showed popular opposition to the trade from radical
groups, but also an ascending political force, Frente Amplio, would make
16
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 7-23
the opposition towards the CPTPP a agship in the questioning of the
commercial policy of the country.7 The salience of the CPTPP reached
a peak around October 2019. To support this claim, we corroborate this
by checking the search terms frequency of Google, which is easily repli-
cable. Meanwhile, anti-trade lobbies involve shifting the discourse away
from the traditional dichotomy of free trade versus protectionism and
redirecting the debate toward ideological and cultural dimensions such
as legitimacy and sovereignty. The defensive position of business lobbies,
who supported the ratication, was aggravated when the new leftist coa-
lition took oce with anti-trade policy stances.
Mobilization and demonstrations against the CPTPP began in
2016 (GLOBAL TIMES 2016). Those protests produced concern among
policymakers and trade experts, as our interviews corroborate. Those
demonstrations were also cause for concern internationally (Sputnik
Mundo, 2016). Hence, the Chilean government at the time invested in
a huge campaign to change back the criticism which was prominent
among the protestors and single-issue groups leading the protests, such
as “Chile Better Without TPP11. This is indicative of how, for the rst
time, policymakers had to consider the new role of lobbies and civil so-
ciety. After the subscription of the agreement in 2018, in Viña del Mar,
Chile, protests, demonstrations and public campaigns in social networks
mobilized students and unions. Criticism and demonstrations endured
even after the United States withdrew from the agreement under the pre-
sidency of Donald Trump and some of the disciplines that were critici-
zed were taken out. Another element of the policy environment was the
demand for transparency about the negotiations and the contents of the
agreement, that never happened before with any other PTA, while they
were negotiated with the same approach.
The CPTPP received strong criticism regarding the negotiations
and contents of the agreement. Hence, public ocials and policymakers
deployed a media strategy which ought to demonstrate why the CPTPP
was good for the country. Social organizations specialized on trade decla-
red to be “in the dark ‘’ about the negotiation, questioning the legitimacy
of the treaty. This is why the DIRECON (now the undersecretary for
economic international relations, Subrei) adopted the strategy of having
a “Cuarto Adjunto.
The research design contemplates an exhaustive review of the lea-
ding media outlets of Chile between January 2018 and December 2022.
Five newspapers and media outlets are included in the data entry: El
Mercurio; La Tercera; La Segunda; El Mostrador and El Financiero. The
data also comprises public information recorded by the Law 20,730, that
regulates lobbying and representation of interests with authorities and
representatives. The unit of analysis is lobbying action. Then, the data
was hand-coded with each action, meeting or news to characterize the
type of the lobbying action involved, inside or outside lobbying, the type
of group behind each action, the distance, in days, to the social outburst,
which was the point of greater salience of the CPTPP, among others.
As the data collected showed, dierent types of interest groups
participate in both direct lobbying actions and, our focus here, outside
7. On the other hand, specialized social
organizations said they were “in the
dark” regarding the negotiation of the
treaty and its legitimacy (El Mostrador,
2016), leading to the Direcon’s adoption
of the so-called “Cuarto Adjunto”
(side room of negotiations, that was
implemented during Nafta negotiations
for the private sector) The CPTPP vote
in the Chamber of Deputies and the
Senate revealed a division that was not
present before.
17
Andrés Dockendor, Dorotea Lòpez When do business groups embrace outside lobbying in trade policy? The case of the CPTPP in Chile
lobbying activities. Descriptive statistics reveal interesting features of the
lobbying dynamic around the CPTPP. Around 42% of the total lobbying
activity was inside lobbying to policymakers, including meetings with
government representatives and legislators. Almost 58% of the lobbying
was coded as outside lobbying, encompassing op-eds, interviews, semi-
nars and public campaigns, against and in favor. Only the 6.6% of the lob-
bying activity of labor groups were coded as direct lobbying. This corres-
ponds to presentations at committee hearings and meetings with authori-
ties and representatives recorded following the mandate of the Lobbying
Law 20730 passed in 2014. It is worth mentioning that labor groups, as the
inferential analysis will corroborate, were all against the ratication of
the CPTPP. Meanwhile, single issue groups against the CPTPP, such as
“Chile Better Without TPP11’’ also concentrate their lobbying activities
on inside actions (79%), where outside activities represent only 21% of
the total lobbying. In the case of both labor and single-issue lobbies, most
of their activities included in the sample are presentations at committee
hearings at the Chamber of Deputies and the Senate, during the long
process of ratication.
Descriptive statistics of business lobbies support the hypothesis
suggesting that business lobbies in the CPTPP in Chile embrace outside
lobbying more often. As data shows, almost 80% of the lobbying activity
of business groups was coded as outside lobbying. This is the opposite
gure in comparison to the single-issue groups mentioned above. Those
actions were mainly interviews with national media outlets such as El
Mercurio, La Tercera, El Financiero and El Mostrador and op eds in the
same newspapers and online media outlets. Even though they partici-
pate in legislative hearings, in comparison to other groups against the
CPTPP they focus more on on-going public campaigning in favor of the
ratication.
RESULTS AND ANALYSIS
This section presents the main results of the analysis. The depen-
dent variable is a dummy that takes the value of 1 when the meeting
corresponds to the category Outside Lobbying (zero otherwise). The main
independent variable captures whether we are in the presence of a busi-
ness lobby or not. Given our model specication, it includes a continuous
variable that captures the distance in days (logarithm) to the social crisis
of October 2019. Also, the model is controlled for the variable Labor Group,
which is a dichotomous variable indicating if the group in each lobbying
action was coded labor or not. The same logic underlies the control va-
riable Single Issue Group, which basically encompasses groups against the
CPTPP.
18
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 7-23
Table 1 - Outside Lobbying in the TPP11 Ratification Process
(Logit Model)
VARIABLES Outside Lobbying
Business Group 1.337***
(0.431)
Days to Social Outburst 0.003***
(0.0008)
Labor Group -3.677***
(1.240)
Single Issue Group -1.303
(0.849)
Piñera Government 0.753
(1.169)
Constant -1.155
(1.151)
Observations 177
R-squared 0.37
Standard errors in parentheses. * p < .10 ** p < 0.05, *** p < 0.01.
Source: elaborated by the authors.
Table 1 summarizes the main results. Given the binary character
of the dependent variable, a logit model was run. The coecient of our
independent variable Business Group is positive, and it is statistically signi-
cant at the 0.01 level. This supports, at the correlational level, the eect
that the hypothesis anticipated. Meanwhile, the variable Days to Social
Outburst yields an upward estimate. This corroborates that as we move
away from the social crisis with topics such as the CPTPP mobilizing
dierent lobbies and social groups, Outside Lobbying, which we know now
that was impulse primarily by business lobbies, increases.
Figure 1 - Marginal Effects of Outside Lobbying by Group and Time to Social Outburst
Source: elaborated by the authors.
19
Andrés Dockendor, Dorotea Lòpez When do business groups embrace outside lobbying in trade policy? The case of the CPTPP in Chile
Table 1 also shows that the variable Labor Groups has a negative
coecient, and it is statistically signicant at the 0.01 level. Thus, in the
case of unions and the alike, it could be observed to have the opposite
eect in comparison to business lobbies. The control variables for Single-
Issue and Piñera Government are not statistically signicant at any level.
Predicted probabilities show the monotonic increase in the probability of
observing outside lobbying as the temporal distance to the social outburst
increases but not in both extremes of the variable capturing time before
and after October 2019. The probability increases after the occurrence of
the social outburst. Distinguishing between Business Groups and the rest
allows us to disentangle the dierent behaviors of business in comparison
to the reference group (non-business lobbies). Overall, the results showed
that the probability of embracing outside lobbying actions is on average
20% higher for business groups. However, at both ends of the distribution
condence intervals overlap, meaning that there has to be caution in the
interpretation of the results. As noted above, Figure 1 also shows that out-
side lobbying increases monotonically only after the social outburst and
not before and after. It is expected to be a u-shaped curve, with increasing
levels of outside lobbying from economic groups on the left of the distri-
bution and again higher values as we move towards the right extreme. A
plausible explanation for the linear outcome that it could observe, would
emphasize that as we move toward the right, the perception of gridlock
in Congress in the ratication of the CPTPP was higher. Also, the right of
the distribution coincides with the government of a new leftist coalition
embracing anti trade views, elected in December 2021.
Mean dierences would ease the interpretation of the results.
Indeed, while the average distance to the social outburst in our full sam-
ple was 286 days, in the case of Business Lobbies the mean was 389. The
dierence is particularly pronounced with Single Issue groups, where the
mean distance to the social outburst in their case was only 45 days. The
dierence, in days, with Labor Groups is less pronounced. This result
suggests that Labor organizations were more present during the dierent
phases of the debate. Single-issue groups opposing the CPTPP, probably
with less resources and personnel, concentrate their participation at a
time when politicization is more intense.8
Preliminary results indicate rejection of the null hypothesis that
group type and indirect lobbying actions are uncorrelated at all standard
signicance levels. Overall, the results corroborate, at the correlational
level, that business lobbies in Chile focus more strongly on outside lob-
bying strategies in comparison to other lobbies, such as labor and single-
-issue groups, in the case of the debate surrounding the CPTPP ratica-
tion. Moreover, the eect seems to be sensitive to the salience of the trade
debate. Mean dierences also corroborate that business lobbies prefer to
go out when we move away from the days of the social outburst when po-
liticization was higher. Hence, business would embrace outside lobbying,
but this is conditional to salience and politicization.
8. The literature showed that less
resourceful groups have more limited
lobbying repertoires. In comparison to
business, for example, they usually lack
personal and resources (Victor 2007;
Binderkrantz 2008).
20
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 7-23
DISCUSSION
Trade policy is an increasingly contested area. In this case study it
examined the politicization of the trade policy in a political system, Chile,
where debates around trade since the democratic restoration in 1990
were mostly technical and with a high degree of consensus. Moreover,
there was an agreement implemented among the main political parties
of the policy to foster an economic model based on open and free trade.
This translated into the subscription of several PTAs with both major
economic powers and other polities of similar size with Chile. In this sce-
nario, business lobbies have few incentives for embracing an aggressive
strategy for lobbying in favor of an open trade policy. This scenario was
completely transformed with the debate around the CPTPP. Increasing
polarization and the emergence of single-issue lobbies and a new political
coalition against the deal, and more generally, with a critical assessment
of the trade policy implemented since 1990, induced business actors to
adopt a more aggressive tone in public debates.
The hypothesis for when businesses decide to campaign actively for
their preferred trade policy has received scarce attention. The empirical
test outlined in this article does not challenge the prediction that business
lobbies, all else equal, would prefer inside lobbying or a direct approach
to policymakers. Instead, the conditions are established for when a spe-
cic form of outside lobbying, interviews, press releases and issue adver-
tising, would be a suitable sub-optimal strategy for business lobbies in
trade policy. For those who assume that outside lobbying in trade policy
is generally driven by anti-trade activists and labor, the results would be
somewhat puzzling. The model tests an alternative explanation: busines-
ses have incentives to focus more on campaigning and doing issue ad-
vertising when policymakers seem to be biased against their preference.
This type of lobbying by business or economic groups is conditional to
the salience of topics. The data ts the hypothesis.
The dynamic described in this research, may be indicative of a
form of lobbying which can be extended to other actors besides business,
such as labor or cause groups. For instance, a recent case study of labor
lobbying to the Brazilian constitutional assembly, showed that those ac-
tivists adopted strategies to pressure uncommitted legislators by discre-
diting them in front of the workers and the public. This type of lobbying
was labeled as a “legislative disincentive” (Benzecry, 2023). The indirect
lobbying deployed in the case of the CPTPP in Chile was relatively close.
Some implications arise. Firstly, the analysis provides a characteri-
zation of lobbies strategies in pursuing inuence. Previous research has
shown that businesses avoid public campaigns and prefer to approach po-
licymakers directly. This article sets the conditions for observing a die-
rent pattern: confronted by hostile policymakers, business will embrace
outside lobbying in the variants of press releases, interviews, op-eds and
other media advertising. Secondly, we contribute to the study of a case
of politicized trade policy: the CPTPP. Chile was somehow a least likely
case for observing a policy change that may take trade policy away from
the business preferred option. Against those odds, Chile experimented
21
Andrés Dockendor, Dorotea Lòpez When do business groups embrace outside lobbying in trade policy? The case of the CPTPP in Chile
with both the politicization of trade policy by activists and new leftist
parties which ultimately create the conditions for business groups clin-
ching outside lobbying.
CONCLUSION
International cooperation is increasingly more contested and part
of public debates in democracies worldwide. Mobilization against FTA is
more visible. Perhaps, this is due to the fact that protests and rallies are
more likely to capture the attention of the public. However, economic
lobbies also go out campaigning to protect their interests under certain
circumstances. In a time where open trade policy is contested by gover-
nments that incentivize protectionism, and when multilateral instances
are subject of increasing criticism, understanding the eect of public
campaigns against and pro FTAs is important.
From the perspective of the functioning of democratic institutions,
promoting public and transparent debates about trade policy in this new
more demanding civil society seems to be important. The politicization
of international cooperation or, in particular in this case, trade policies,
may aect the ability of governments to foster exchanges with other eco-
nomies, which ultimately may lead to inclusive economic growth and
social mobility.
The politicization of trade policy in Chile, and the aggressive stra-
tegy of business groups regarding the CPTPP, suggests the perils of po-
larization in Latin America, a region where economic integration is at
best, limited. Further research may incorporate similar debates in other
Latin American settings. The role of interests’ groups in trade policy has
been studied mainly in Western European democracies. More studies on
Latin American settings may enhance our understanding of this impor-
tant topic.
REFERENCES
ANINAT, C, LONDREGAN, J, NAVIA, P; VIAL, J. Political institutions, policymaking pro-
cesses, and policy outcomes in Chile. Washington, DC: Inter-American Development Bank,
2006.
ANTOINE, E., ATIKCAN, E. Ö., & CHALMERS, A. W. “Politicisation, business lobbying, and
the design of preferential trade agreements”. Journal of European Public Policy, 31(1): 239-268,
2024.
BAEZA FREER, J., LÓPEZ VARAS, M. “El Congreso Nacional de Chile y el proceso de ratica-
ción del Tratado de Libre Comercio con los Estados Unidos de Arica”. Estudios Internacio-
nales 47(182), P. 37-55, 2015.
BENZECRY, G. Power to the People?: Lobbying for Labor Rights in Brazils National Consti-
tuent Assembly. The Independent Review 27(4), p. 571-593, 2023.
BEYERS, J. Voice and access: Political practices of European interest associations. European
Union Politics, 5(2), p. 211-240, 2004.
BINDERKRANTZ, A. Interest group strategies: Navigating between privileged access and stra-
tegies of pressure. Political Studies 53(4), p. 694-715, 2005.
BINDERKRANTZ, A. Dierent groups, dierent strategies: How interest groups pursue their
political ambitions. Scandinavian Political Studies 31(2), p. 173-200, 2008.
22
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 7-23
BOHIGUES, A; RIVAS, J. M. “Free trade agreements and regional alliances: support from Latin
American legislators”. Revista Brasileira de Política Internacional, 62: 1-22, 2019.
BOMBARDINI, M. AND TREBBI, F. (2012) Competition and Political Organization: Together
or Alone in Lobbying for Trade Policy? Journal of International Economics 87(1), p. 18–26,
2012.
BULL, B. Policy networks and business participation in free trade negotiations in Chile. Journal
of Latin American Studies 40(2), P. 195-224, 2008.
DE BIÈVRE, D. The paradox of weakness in European trade policy: Contestation and resilience
in CETA and TTIP negotiations. The International Spectator, 53(3), 70– 85, 2018.
DE BRUYCKER, ISKANDER, BEYERS, J. Lobbying strategies and success: Inside and outside
lobbying in European Union legislative politics. European Political Science Review 11(1), p.
57-74, 2019.
DE VRIES, C; HOBOLT, S.B.; WALTER, S. “Politicizing international cooperation: The mass
public, political entrepreneurs, and political opportunity structures”. International Organiza-
tion 75(2): 306-332, 2021.
DE WILDE, P. No polity for old politics? A framework for analyzing the politicization of Euro-
pean integration. Journal of European Integration 33(5), p. 559-575, 2011.
DINGWERTH, K., & WEINHARDT, C. The language of world trade politics: Unpacking
the terms of trade. Routledge, 2019.
DOCKENDORFF, A; AUBRY, M and GALVÁN, C. “Strategies, access and inuence: a survey of
interests groups in Chile.” Interest Groups & Advocacy (2024): 1-21.
DÜR, A; MATEO, G. Public opinion and interest group inuence: how citizen groups derailed
the Anti-Counterfeiting Trade Agreement. Journal of European Public Policy 21(8), P. 1199-
1217, 2014.
DÜR, A; MATEO, G. Gaining access or going public? Interest group strategies in ve European
countries. European Journal of Political Research 52(5), p. 660-686, 2013.
DÜR, A; MATEO, G. ·Lobbying in the face of politicization: Interest group strategies in trade
policy. Journal of European Public Policy, 31(1), 212-238, 2024.
DÜR,, A., HAMILTON, S. M; DE BIÈVRE,, D. “Reacting to the politicization of trade policy”.
Journal of European Public Policy, 31(1), 1-19, 2024.
ELIASSON, L.H; GARCIA-DURAN HUET, P. TTIP negotiations: Interest groups, anti-TTIP
civil society campaigns and public opinion. Journal of Transatlantic Studies 16(2), p. 101-116,
2016.
EL MOSTRADOR. El TPP para Chile: costos y benecios. 2016. Available at: https://www.
elmostrador.cl/noticias/opinion/2016/09/20/el-tpp-para-chile-costos-y-benecios/
FERMANDOIS, J; HENRÍQUEZ, M.J ¿Contradicción o díada? Política exterior de Chile ante el
Mercosur. Estudios Internacionales, p. 55-77, 2005.
GHEYLE, N; DE VILLE, F. Outside lobbying and the politicization of the transatlantic tra-
de and investment partnership. Lobbying in the European Union: Strategies, dynamics and
trends, P. 339-354, 2019.
GLOBAL TIMES. “TPP opponents protest outside Chile’s foreign ministry building, 2016.
Available at https://www.globaltimes.cn/content/978200.shtml
HANEGRAAFF, M; POLETTI, A; VAN OMMEREN, E. Firms and Trade Policy Lobbying in
the European Union. JCMS: Journal of Common Market Studies, 2023.
KASTNER, L. Business lobbying under saliencenancial industry mobilization against the Eu-
ropean nancial transaction tax. Journal of European Public Policy 25(11), p. 1648-1666, 2018.
KAY, T; EVANS, R. L. Trade battles: Activism and the politicization of international trade
policy. Oxford University Press, 2018.
KOLLMAN, K. Outside lobbying: Public opinion and interest group strategies. Princeton
University Press, 1998.
NICOLLE VICTOR, J. Strategic lobbying: Demonstrating how legislative context aects inte-
rest groups’ lobbying tactics. American Politics Research 35(6), p. 826-845, 2007.
LÓPEZ, D; DOCKENDORFF, A; LODATO, S. “Parties and Interests Groups in the CPTPP Ra-
tication Process in Chile:A Case of Politicisation?”. World Aairs. rstview, 2024.
23
Andrés Dockendor, Dorotea Lòpez When do business groups embrace outside lobbying in trade policy? The case of the CPTPP in Chile
MAHONEY, C; DESCHOWER, D. The role of interest groups in fostering citizen engagement:
The determinants of outside lobbying. Politics Beyond the State: Actors and Policies in Com-
plex Institutional Settings, P. 109-138, 2007.
MAHONEY, C. Lobbying success in the United States and the European Union.Journal of
Public Policy27(1), p. 35-56, 2007.
STEVENS, Frederik, and Iskander De Bruycker. “Inuence, auence and media salience: Eco-
nomic resources and lobbying inuence in the European Union.” European Union Politics
21(4): 728-750, 2020
SPUTNIK Mundo (2016). “Nueva concentracn en Chile para protestar contra el TPP”. availab-
le at: https://latamnews.lat/20160325/chile-tpp-protestas-1058052804.html
TRAPP, N. L; LAURSEN, B. Inside out: interest groups’‘outside’media work as a means to ma-
nage ‘inside’lobbying eorts and relationships with politicians. Interest Groups & Advocacy
6, p. 143-160, 2017.
VALLEJO VERA, S. “By invitation only: on why do politicians bring interest groups into com-
mittees.The Journal of Legislative Studies 29(1), p. 1-38, 2023.
WEILER, F, Brändli, M. “Inside versus outside lobbying: How the institutional framework sha-
pes the lobbying behaviour of interest groups.European Journal of Political Research 54(4):
745-766, 2015.
WOLTON, S. “Lobbying, inside and out: How special interest groups inuence policy choices.”
Available at SSRN 2190685, 2019.
YOUNG, A. R. “Two wrongs make a right? The politicization of trade policy and European
trade strategy”. Journal of European Public Policy, 26(12): 1883-1899, 2019.
24
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 24-37
China e as mutações da Ordem
Internacional Liberal: evidências do AIIB e
NDB
China and the changing Liberal International Order:
evidence from the AIIB and NDB
China y la cambiante Orden Liberal Internacional:
evidencias del AIIB y el NDB
Octávio Henrique Alves Costa de Oliveira1
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2023v11n2p24-37
Recebido em: 12 de fevereiro de 2024
Aprovado em: 15 de março de 2024
RESUMO
O surgimento do Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB) e o New Develo-
pment Bank (NDB) nos anos 2010 suscitou análises sobre as possíveis mutações
da Ordem Internacional Liberal (OIL), sendo o AIIB a primeira instituição
internacional liderada pela China e o NDB a primeira instituição multilateral
não-ocidental, representando, aparentemente, um potencial contra-hegemôni-
co. Dentro das discussões sobre as mudanças na ordem, este artigo questiona
se estas duas instituições representam uma ameaça, reforma ou perpetuação da
OIL. Para tanto, analisamos a estrutura de governança, perl do seu quadro de
colaboradores e os padrões de empréstimos empregados. A hipótese é de que
o ímpeto inovador deste bancos é amortecido por processos de ‘isomorsmo
institucional’, onde diferentes instituições se tornam homogêneas em nível
estrutural e comportamental ao longo do tempo. A primeira seção utiliza o
conceito de institutional statecraft como mobilizador teórico para discutir o papel
destes bancos na OIL. A segunda desenvolve as bases teóricas do conceito de
isomorsmo institucional. A última seção se dedica a analisar a maneira pela
qual estes dois bancos atuam, indireta e diretamente, como perpetuadores da
OIL. Conclui-se que estes bancos representam complementos a Ordem Liberal
Internacional, demonstrando sua resiliência em incorporar novos atores do
Sistema Internacional.
Palavras-Chave: Ordem Internacional Liberal; China; AIIB; NDB; Isomorsmo
Institucional.
ABSTRACT
The emergence of the Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB) and the New
Development Bank (NDB) in the 2010s has prompted analysis of the possible
mutations of the Liberal International Order (LIO), with the AIIB being the
1. Doutorando no Instituto de Relações
Internacionais da Pontifícia Universi-
dade Católica do Rio de Janeiro (IRI /
PUC-Rio). Pesquisador associado ao
Grupo de Estudos sobre os BRICS (GE-
BRICS - USP); ao Laboratório de Estudos
da Ásia (LabÁsia/CNPq/UERJ); ao La-
boratório de Estudos de Mídias, Cultura
e Relações Internacionais (LEMCRI/
CNPq/UERJ); e ao Núcleo de Estudos
Internacionais Brasil-Argentina (NEIBA/
CNPq/UERJ). Coordenador Acadêmico
do GECHINA – ASIALAC / UnB. Orcid:
https://orcid.org/0000-0002-1743-9365.
E-mail: octavioco98@gmail.com.
25
Octávio Henrique Alves Costa de Oliveira China e as mutações da Ordem Internacional Liberal: evidências do AIIB e NDB
rst international institution led by China and the NDB the rst non-Western
multilateral institution, apparently representing a counter-hegemonic poten-
tial. Within the framework of discussions on changes in the order, this article
questions whether these two institutions represent a threat, reform or perpe-
tuation of the LIO. To this end, we analyzed their governance structure, the
prole of their sta and the lending patterns employed. The hypothesis is that
the innovative impetus of these banks is dampened by processes of ‘institutional
isomorphism’, where dierent institutions become homogeneous at a structural
and behavioral level over time. The rst section uses the concept of institutio-
nal statecraft as a theoretical mobilizer to discuss the role of these banks in the
LIO. The second develops the theoretical basis of the concept of institutional
isomorphism. The last section is dedicated to analyzing the way in which these
two banks act, indirectly and directly, as perpetuators of LIO. The conclusion
is that these banks represent complements to the International Liberal Order,
demonstrating their resilience in incorporating new actors into the Internatio-
nal System.
Keywords: Liberal International Order; China; AIIB; NDB; Institutional Isomorphism.
RESUMEN
La aparición del Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB) y del New Develo-
pment Bank (NDB) en la década de 2010 ha suscitado el análisis de las posibles
mutaciones del Orden Liberal Internacional (OLI), siendo el AIIB la primera ins-
titución internacional liderada por China y el NDB la primera institución multi-
lateral no occidental, lo que aparentemente representa un potencial contrahege-
mónico. En el marco de los debates sobre los cambios en el Orden, este artículo
se pregunta si estas dos instituciones representan una amenaza, una reforma o
una perpetuación de la OLI. Para ello, analizamos su estructura de gobierno,
el perl de su personal y los modelos de préstamo empleados. La hipótesis es
que el ímpetu innovador de estos bancos se ve amortiguado por procesos de
“isomorsmo institucional”, en los que diferentes instituciones se homogenei-
zan a nivel estructural y de comportamiento con el paso del tiempo. La primera
sección utiliza el concepto de ‘statecraft institucional’ como movilizador teórico
para discutir el papel de estos bancos en la OLI. La segunda desarrolla la base
teórica del concepto de isomorsmo institucional. La última sección se dedica
a analizar la forma en que estos dos bancos actúan, indirecta y directamente,
como perpetuadores de la OLI. La conclusión es que estos bancos representan
complementos del Orden Liberal Internacional, demostrando su resistencia a la
hora de incorporar nuevos actores al Sistema Internacional.
Palabras clave: Orden Liberal Internacional; China; AIIB; NDB; Isomorsmo
Institucional
1. INTRODUÇÃO
Um dos principais elementos que caracterizou a hegemonia esta-
dunidense desde o pós-Segunda Guerra Mundial (II GM) foi a criação de
uma série de instituições internacionais que viabilizassem o estabeleci-
mento de uma ordem global, objetivando a necessária estabilidade após
duas guerras mundiais seguidas no século XX. Instituições de Bretton
Woods como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial
(BM), bem como a Organização das Nações Unidas (ONU) foram cruciais
para esta empreitada. Este primeiro momento pode ser identicado como
a Ordem Internacional Liberal 1 (OIL I), desde o m da II GM até o m
26
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 24-37
da Guerra Fria, caracterizado pelo multilateralismo baseado em regras;
seguido pela Ordem Internacional Liberal II (OIL II), e o seu aumento da
autoridade supraestatal no alcance dos elementos liberais constitutivos da
ordem (Börzel; Zürn, 2021).
Desde então, inúmeras mudanças decorreram no sistema inter-
nacional, levando a múltiplas interpretações acerca do papel que novos
atores passaram a desempenhar nele, sobretudo a China. Neste senti-
do, este trabalho procura adereçar a questão posta por Finnemore et al.
(2021) e os demais autores da edição 75 da tradicional revista International
Organization, no que tange a contestação ou reicação da concepção de
ordem internacional. Especicamente, dada a centralidade que a China
possui enquanto ator com crescentes atribuições no Sistema, este traba-
lho procura traçar os rastros do futuro próximo reservado à esta ordem,
em um cenário crescentemente pós-ocidental (Stuenkel, 2016).
Juntando-se a uma vasta literatura que se imbui da tarefa de en-
tender o papel chinês no Sistema Internacional2, nos situamos na estei-
ra daqueles que observam ‘desao chinês’ à ordem como uma forma de
complementar seus elementos constitutivos, alargando e promovendo a
OIL II, em uma reforma que não representa o surgimento de uma ter-
ceira ordem, neste momento, mas de um aiornamento intermediário, o
qual aqui chamamos de OIL 2.5. O argumento se centra em dois pressu-
postos; o primeiro, de que as contestações à Ordem Internacional Liberal,
tanto na primeira quanto na segunda fase, não demonstram a sua ine-
cácia, mas a sua resiliência (Finnemore et al., 2021); e o segundo, de que a
China, embebida das instituições, normas e regras que possibilitaram sua
própria ascensão, não intenta desmantelá-la, mas complementá-la.
Para tanto, inúmeros aspectos da participação chinesa na ordem
podem ser analisados para traçar seus possíveis rumos, como o papel
chinês nas Operações de Paz da ONU (Yuan, 2022) ou as suas contribui-
ções junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) (Weinhardt; Ten
Brink, 2019), para citar alguns. Não obstante, para os termos deste tra-
balho, analisaremos o papel chinês junto ao Financiamento Multilateral
para o Desenvolvimento (FMD), desde a sua participação em dois Bancos
Multilaterais de Desenvolvimento (BMDs), nomeadamente, o Banco dos
BRICS (também conhecido como New Development Bank (NDB) e o Asian
Infrastructure Investment Bank (AIIB). Este desenho de pesquisa se dá pela
centralidade e representatividade que estas duas instituições, estabelecidas
em 2015 e 2016 – respectivamente – exercem analiticamente para enten-
dermos os rumos da atual OIL, sendo o AIIB a primeira instituição inter-
nacional liderada pela China, e o NDB a primeira instituição multilateral
não-ocidental, representando, neste sentido, um aparente racional contra-
-hegemônico. Desta forma, através da alise das normas e padrões de go-
vernança destes dois bancos, procuramos demonstrar que mesmo quando
novas instituições de ímpeto reformista são criadas, com a ideia de promo-
ver mudanças normativas, o isomorsmo institucional atua como um amor-
tecedor dessas inovações, uma espécie de buer que garante a perpetuação
da ordem. Este conceito trata do processo pelo qual diferentes organiza-
ções ou instituições, em um determinado campo organizacional, tornam-
-se comportamental e estruturalmente semelhantes ao longo do tempo.
2. Para uma atualização recente sobre
este debate, ver a lista fornecida no
primeiro e quarto rodapé de Lim e
Ikenberry (2023, p. 2).
27
Octávio Henrique Alves Costa de Oliveira China e as mutações da Ordem Internacional Liberal: evidências do AIIB e NDB
Assim sendo, a primeira seção do artigo discute as diferentes formas
pelas quais instituições podem inuenciar as mudanças de uma ordem,
utilizando o conceito de institutional statecraft como mobilizador teórico
para categorizar tais mudanças. A segunda desenvolve as bases teóricas
do conceito de isomorsmo institucional, chave interpretativa para enten-
der a forma pela qual o AIIB e o NDB, na sua tentativa de promoverem
reformas na ordem vigente, acabam por perpetuá-la. A última seção se
dedica a analisar, de forma especíca, a maneira pela qual estes dois ban-
cos atuam, indireta e diretamente, como perpetuadores da OIL. Conclui-
se que estes bancos não representam inovações ou ameaças à ordem, mas
complementos, demonstrando a resiliência da OIL em incorporar novos
atores do Sistema Internacional.
2. Institutional Statecraft: estratégias institucionais
para mudanças na OIL
Desde a Queda do Muro de Berlim, em 1989, uma série de aconteci-
mentos interferiram na Ordem Internacional Liberal, levantando debates
acerca da sua necessidade, credibilidade e funcionalidade, caracterizan-
do a transição de um multilateralismo liberal (OIL I) para um liberalismo
s-nacional (OIL 2)3, no qual as frágeis instituições liberais do pós II GM
se tornaram mais autoritárias. Esta maior intromissão causou uma série
de contestações à ordem, que tem de enfrentar a proliferação dos nacio-
nalismos, fundamentalismos religiosos e a ascensão de potências como
Rússia e China (Börzel; Zürn, 2021; Lake; Martin; Risse, 2021). Estes dois
últimos atores possuem crescente inuência nos rumos desta ordem.
Enquanto o primeiro sempre teve protagonismo como revisionista – tan-
to enquanto União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) na OIL
I, quanto como Federação Russa, na OIL 2 −, desaando os pressupostos
mais básicos da ordem, o segundo atingiu apenas recentemente um posto
de centralidade em espaços multilaterais os quais anteriormente não pos-
suía relevância e, em vezes, nem mesmo acesso.
Separativamente, e em seus próprios termos, a URSS representou
desaos especícos para a OIL I, assim como a China representa para a
OIL 2. Enquanto a primeira gerava uma disputa de visões de mundo,
eventualmente não sendo bem-sucedida na tentativa de bifurcação ao li-
beralismo do seu tempo (Börzel; Zürn, 2021), a segunda desaa a ordem
a partir da própria ordem, não visando competir, mas sim reformular
e complementar o liberalismo da ordem internacional (Ikenberry; Lim,
2017; Johnston, 2019; Jones, 2018).
Diferentemente das incursões materiais russas no caso de Guerra
da Ucrânia (2014 - ), a China reivindica sua voz no sistema a partir do seu
Institutional Statecraft (Ikenberry; Lim, 2017; Liang, 2021). Por statecraft
estadística, em tradução livre −, podemos entender “o uso de instrumen-
tos a disposição da autoridade política central para servir a ns de política
externa. Os instrumentos de statecraft normalmente são divididos em três
categorias: diplomática, militar e econômica” (Mastanduno, 2016, p. 222,
tradução nossa). Se tratando da alise de dois BMDs, focaremos na ter-
ceira forma de statecraft.
3. As interpretações acerca da divisão
entre as diferentes mutações da Ordem
Internacional Liberal não são consensu-
ais. Ikenberry (2009), embora também
se encontre na discussão sobre o que
seria esta transição da OIL 2 para 3,
identifica duas ordens anteriores dife-
rentes, sendo a OIL I caracterizada pelo
‘wilsonianismo’ pós Primeira Guerra
Mundial, e a OIL 2, identificada pelo
internacionalismo liberal desde o pós
II GM até o fim da Guerra Fria. Embora
nos aproximemos de Johnston (2019) ao
não entender a OIL como uma entidade
singular, mas como uma junção de
diferentes ordens de diferentes esferas
(como a militar, de comércio, direitos
humanos etc), ainda nos atemos a
divisão de Börzel e Zürn (2021) como
forma de entender a macro configuração
do Sistema, de forma transversal às
diferentes configurações e domínios
existentes.
28
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 24-37
Como o próprio nome sugere, o conceito de institutional statecraft se
limita aos instrumentos institucionais disponíveis para o Estado atingir seus
objetivos. Ikenberry e Lim (2017, p. 7) analisam as diferentes possibilidades
de estadística institucional chinesa, identicando cinco diferentes estraté-
gias possíveis. Pela primeira, status-quo stakeholder, ocorre apenas o aceite
das normas e regimes existentes. Subindo nos níveis de inuência, temos a
authority-seeking stakeholder, na qual se busca maior voz dentro de uma ins-
tituição, como o desejo chinês por um número maior de votos no FMI. A
terceira, institutional obstruction, onde o ator procura obstruir diretamente as
normas de uma instituição. Enquanto as três primeiras estratégias envolvem
a participação em instituições que já existem, a quarta – external innovation −
denota uma atuação mais independente e direta, envolvendo a construção
de uma nova instituição, como no caso do AIIB e NDB. Por m, a forma
mais brusca de institutional statecraft, na visão dos autores, pressupõe uma
oposição direta, ou não-participação em um arranjo institucional. Sob esta
última forma, eles entendem que a atuação chinesa no Mar do Sul da China
construindo ilhas articiais e bases militares congura uma oposição direta
às normas e regimes internacionais concernentes às disputas da região.
É importante mencionar que a transição chinesa da sua atuação
como participante da OIL 2, até se tornar uma criadora de instituições
próprias, não se dá no vazio. Ao realizarmos um paralelo da ascensão ma-
terial chinesa com as suas estratégias de institutional statecraft, se torna evi-
dente a crescente assertividade chinesa, conforme exemplica a tabela 1.
Tabela 1 - O crescente Institutional Statecraft chinês na Ordem Internacional Liberal
Período Exemplos
Participação
em instituições
multilaterais
Reforma das
instituições
multilaterais
Busca ao
multilateralismo
e regionalismo
Estabelecimento de novas
instituições multilaterais e
regionais
Anos 1980 - 2000 Entrada no FMI, Banco Mundial e OMC X
2000 - 2010 Reforma do FMI e OMC X X X
2010 - 2019 AIIB, NDB, RCEP, CMIM4X X X X
Fonte: Liang, 2021, p. 4, tradução nossa.
Embora a criação de novas instituições possa não somente repo-
sicionar atores com cambiantes capacidades de poder normativo, como
também promover mudanças nas normas e regimes internacionais, se
trata de um processo moroso, que enfrenta inúmeros entraves institucio-
nais. Sobretudo, as novas instituições criadas enfrentam a pressão que as
antigas exercem sobre elas, capazes de causar processos isomórcos que
impedem a totalidade das suas ambições originais.
Isomorsmo institucional e difusão de normas
Um elemento chave acerca da função das instituições internacionais
é a sua capacidade de criar as concepções do que será tido como normal,
o chamado poder normativo (Manners, 2002, p. 239). Por normal, entende-
mos os comportamentos, padrões e normas5 que vistos como exemplos,
como o padrão de comportamento esperado a ser executado pelos atores
4. A Iniciativa Chiang Mai (CMIM) é um
mecanismo de swap cambial entre os
membros da Associação das Nações
do Sudeste Asiático (ASEAN), a China,
Japão e Coreia do Sul, firmado em 2000
(Cunha, 2004).
5. Segundo Finnemore (1996), as normas
são “expectativas compartilhadas sobre
o comportamento apropriado mantido por
uma comunidade de atores. Ao contrário
das ideias que podem ser mantidas priva-
damente, as normas são compartilhadas
e socializadas; eles não são apenas
subjetivas, mas intersubjetivas” (p. 22,
tradução nossa). O que não significa dizer
que elas “são juridicamente vinculativas
ou podem ser sancionadas.” (Koch;
Stetter, 2013, p. 8, tradução nossa).
29
Octávio Henrique Alves Costa de Oliveira China e as mutações da Ordem Internacional Liberal: evidências do AIIB e NDB
envolvidos. Dentro dos estudos institucionalistas, uma corrente dos anos
80 e 90 buscou estudar de maneira crítica essas instituições, valores e as
relações de poder que elas incorporam, não tomando sua existência como
um fato dado – tal qual era feito entre os anos 30 e 70, sob o chamado
Antigo Institucionalismo” −, mas como subproduto da ação humana,
evoluindo e se transformando de acordo com a agência dos atores en-
volvidos. Esta corrente cou conhecida como “Novo Institucionalismo”,
possuindo diferentes lentes, como os institucionalistas normativos, histó-
ricos, das escolhas racionais, empíricos, internacionais, feministas, cons-
trutivistas e sociológicos (Lowndes; Roberts, 2013, p. 28 - 39)6. Embora
cada uma destas lentes forneça instrumentais úteis para a compreensão
das instituições, focaremos especicamente nas duas últimas.
Os institucionalistas construtivistas dão atenção não apenas
as relações interestatais, mas as condutas internas das Organizações
Internacionais (OIs), bem como suas dimicas organizacionais e como
elas reproduzem signicados intersubjetivos entre os atores envolvidos
(Koch; Stetter, 2013). Eles consideram “o Estado em termos das ideias e
do discurso que atores usam para explicar, deliberar e/ou legitimar a ação
política no contexto institucional de acordo com a “lógica da comunica-
ção” (Schmidt, 2006, p. 99, tradução nossa).
Os institucionalistas sociológicos, por sua vez, enxergam as insti-
tuições como atores que oferecem e restringem oportunidades de acordo
com o contexto organizacional (DiMaggio; Powell, 1983; 1991). Para eles,
existe uma “lógica de apropriação” dentro do universo das instituições,
no qual as normas são seguidas pois são tidas como naturais, justas, es-
peradas ou legitimas, mesmo que estas não sejam, necessariamente, as
normas mais ecientes ou moralmente aceitas (March; Olsen, 2004, p. 4).
Ambas as abordagens tratam de como as “ideias constituem as
normas, narrativas, discursos e quadros de referência que servem para
(re)construir a compreensão dos interesses dos atores e redirecionar suas
ações nas instituições do Estado” (Schmidt, 2006, p. 112, tradução nossa).
Elas têm o foco no aspecto normativo do discurso, indagando como e por-
que as ideias reproduzem ou reavaliam valores nacionais dentro de uma
gica de apropriação, ou seja, de normalização de certas ideias (March;
Olsen, 1989; Schmidt, 2000). A diferença entre as duas abordagens reside
no objeto de explicação. Enquanto construtivistas focam nas ideias, no
discurso e na comunicação de um modo geral, os sociológicos dão mais
atenção às normas, a cultura organizacional, e como são criadas OIs cada
vez mais similares entre si (Schmidt, 2006).
Sobre este último aspecto, dois autores da vertente sociológica do
Novo Institucionalismo valem ser mencionados, Paul DiMaggio e Walter
Powell. Em seu artigo de 1983, “The Iron Cage Revisited: Institutional
Isomorphism and Collective Rationality in Organizational Fields, os autores
revisitam a ideia da “jaula de ferro” da “Ética Protestante e o Esrito do
Capitalismo” de Max Weber, na qual a sociedade estaria presa no sistema
capitalista até “que cesse de queimar a última porção de combustível fóssil.
(Weber, 2004, p. 165). A partir dela, eles discutem a noção de burocratização
em Weber (1978), tida como a manifestação do espírito organizacional ir-
reversível do capitalismo. Para Weber, a burocratização possui ts causas:
6. Schmidt (2006, p. 115 – 116) realiza
uma divisão mais sintética destas cor-
rentes, separando os novos institucio-
nalistas em somente quatro categorias:
os da escolha racional; históricos;
sociológicos e discursivos – também
conhecidos como construtivistas.
30
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 24-37
a competição entre rmas capitalistas em um mercado; a competição inte-
restatal, de modo a aumentar o número de governantes para controlar seus
funcionários e sua cidadania; e as demandas burguesas pelos direitos iguais
perante a lei. Os autores argumentam que as causas da burocratização do
tempo de Weber mudaram, sugerindo que, na atualidade
[...] a mudança estrutural nas organizações parece cada vez menos impulsionada
pela concorrência ou pela necessidade de eciência. Em vez disso, iremos argumen-
tar, a burocratização e outras formas de mudança organizacional ocorrem como
resultado de processos que tornam as organizações mais semelhantes sem necessa-
riamente torná-las mais ecientes. (DiMaggio; Powell, 1983, p. 147, tradução nossa)
Isso ocorre sobretudo por uma lei quase que geral nas teorias orga-
nizacionais e que tem a ver com a experiência adquirida em um campo
organizacional7. A criação de um campo organizacional novo promove
a emergência de diversas estruturas que, ao adquirirem experiência no
meio ao qual se inserem, se burocratizam e aperfeiçoam cada vez mais,
perdendo sua diversidade ao ponto de se tornarem homogêneas. Como
Rothstein (1996, p. 152) argumenta, os custos, incertezas e riscos atrelados
à mudança institucional fazem com que, mesmo que existam soluções
mais ecientes para certos problemas, os bônus da mudança pereçam em
detrimento da estabilidade institucional. DiMaggio e Powell (1983, p. 157)
utilizam inúmeros exemplos para ilustrar esse argumento, como o de-
senvolvimento de formas dominantes e homogêneas de organização na
indústria do rádio, das escolas públicas e dos hospitais nos Estados Unidos
no século XX. Segundo os autores, a inovação institucional, que inicial-
mente era motivada pelo aumento da eciência, atinge um limite, a partir
do qual a legitimidade prepondera:
Estratégias que são racionais para organizações individuais podem não ser racio-
nais se adotadas em grandes números. O próprio fato de que elas são normativa-
mente sancionadas aumenta a probabilidade de sua adoção. Assim, as organi-
zações podem tentar mudar constantemente; mas, depois de um certo ponto
na estruturação de um campo organizacional, o efeito agregado da mudança
individual é de diminuir a extensão da diversidade dentro do campo. (DiMaggio;
Powell, 1983, p. 148 – 149, tradução nossa).
Quanto maior a experiência colhida dentro de um campo organiza-
cional, maior o domínio e a homogeneização dentre os atores envolvidos
nele. Para entender, então, de que forma este processo se materializa,
os autores utilizam o conceito de “isomorsmo, que deriva do campo
da ecologia humana, e diz respeito a restrição que força uma unidade
em uma população a se assemelhar a outras unidades que enfrentam o
mesmo conjunto de condições ambientais (Hawley, 1968 apud DiMaggio;
Powell, 1983). Segundo DiMaggio e Powell (1983, p. 149), existem duas
formas de isomorsmo, o competitivo e o institucional.
O isomorsmo competitivo pressupõe um ambiente de livre e aberta
concorrência, onde os atores adotam políticas de modo a competir com
a maior eciência possível. Esta é a visão mais simplista dos processos de
mudanças organizacionais, como Weber observava na disputa original en-
tre capitalistas pelo alcance dos mercados. Ao aplicarmos esta perspectiva
para as OIs contemponeas − como os BMDs −, a explicação puramen-
te econômica, da disputa de livre-mercado entre competidores buscando
a eciência máxima, não leva em consideração fatores como a luta pelo
7. “Por campo organizacional, enten-
demos aquelas organizações que,
em conjunto, constituem uma área
reconhecida da vida institucional: for-
necedores, consumidores de recursos e
produtos, agências reguladoras e outras
organizações que produzem serviços
ou produtos semelhantes” (DiMaggio;
Powell, 1983, p. 148, tradução nossa).
O Financiamento Multilateral para o
Desenvolvimento seria o exemplo de um
campo organizacional, sendo os BMDs
as organizações que o compõem.
31
Octávio Henrique Alves Costa de Oliveira China e as mutações da Ordem Internacional Liberal: evidências do AIIB e NDB
poder político ou a legitimação institucional (Park, 2014). Enquanto as
causas da burocratização weberiana derivavam, sobretudo, da busca pela
eciência, as mudanças nas estruturas organizacionais contemporâneas
ocorrem pela necessidade de homogeneização, o que não pressupõe, ne-
cessariamente, as práticas mais ecientes (DiMaggio; Powell, 1983, p. 147).
Contemplando as mudanças sistêmicas no campo organizacional,
o conceito de isomorsmo institucional se insere no que diz respeito a for-
ma pela qual as operações das OIs são normalizadas, onde sua cultura
organizacional se torna cada vez mais similar umas às outras, por conta
da inuência social, coercitiva, persuasiva e de socialização dessas organi-
zações entre si (Bazbauers; Engel, 2021; Acharya, 2004; 2009; Finnemore;
Sikkink, 1998; 2001; Park, 2006; 2014).
A partir desta forma de isomorsmo, três forças motivam a institu-
cionalização e os processos de isomorsmo institucional: o isomorsmo
coercitivo, que deriva de pressões formais – como regulações –, exercidas
para que os atores aceitem um comportamento especíco; o isomors-
mo mimético, onde os novos atores tendem a se modelar a partir das ins-
tituições pré-estabelecidas; e o isomorsmo normativo, associado com a
prossionalização e o alcance de padrões ocupacionais que reproduzam
conformidade dentro do campo organizacional (DiMaggio; Powell, 1983;
Bazbauers; Engel, 2021).
O isomorsmo coercitivo pode ocorrer de maneira formal ou infor-
mal, pela força ou persuasão. Para o institucionalismo sociogico, a mu-
dança organizacional pode ser efeito direto da pressão expressa de um
ator, como uma manifestação da sociedade civil e outras OIs, ou de uma
mudança de regime, como nas políticas públicas de controle de poluição
para as indústrias. Por exemplo, apesar dos países industrializados e as
empresas consumidoras de combustíveis fósseis não desejem alterar suas
políticas ambientais por vontade própria, elas são legalmente obrigadas a
fazê-lo. Mesmo que estas deliberações, muitas vezes, pareçam ser apenas
cerimoniais, elas não são inconsequentes (DiMaggio; Powell, 1983, p. 150).
O isomorsmo mimético deriva da incerteza. Isso tende a ocorrer
com novas instituições com escassa experiência, atores incertos sobre o
melhor curso de ações, procedimentos e objetivos dentro do campo sob
qual está inserido. Por este motivo elas tendem, então, a imitar, se mode-
lar a partir das instituições tradicionais (Zhu; Hu, 2021, p. 9):
A modelagem, como usamos o termo, é uma resposta à incerteza. A organização
modelada pode desconhecer a modelagem ou pode não ter o desejo de ser copia-
da; ela serve apenas como uma fonte conveniente de práticas que a organização
pode usar. Os modelos podem ser difundidos involuntariamente, indiretamen-
te, através da transferência de empregados ou rotatividade, ou explicitamente,
por organizações como empresas de consultoria ou associações comerciais da
indústria. Até a inovação pode ser explicada pela modelagem organizacional.
(DiMaggio; Powell, 1983, p. 151, tradução nossa)
O isomorsmo normativo possui um caráter prossionalizante, de
denição de normas e condições básicas de trabalho. Diz respeito ao es-
tabelecimento das bases cognitivas para que o trabalho seja normalizado
entre os envolvidos. Para isso, dois aspectos são fundamentais: a educação
formal e legitimada por especialistas universitários; e a criação de redes
prossionais (DiMaggio; Powell, 1983, p. 152). Isso é muito importante ao
32
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 24-37
observarmos o stadas principais OIs existentes. Como será abordado no
âmbito dos BMDs, comumente, funcionários de um BMD mudam para
outro, ocupando posições similares, levando seu know-how e inuencian-
do seu funcionamento interno.
A depender do caso analisado, instituições novas podem estar su-
jeitas a estes processos por múltiplas formas de isomorsmo, em vezes
ocorrendo simultaneamente. Entender a forma sob a qual um novo ator
dentro de um campo organizacional será atraído para seguir um agru-
pamento de normas diz muito a respeito da estrutura de poder presente
neste campo, permitindo com que se compreenda o grau de coesão e
homogeneidade em que um campo organizacional se encontra.
AIIB e NDB: contestações, reformas ou reicações da OIL 2?
O contexto de criação destes dois bancos liderados pela China decorre
da ideia de representar as transformações ocorridas no âmbito da economia
política global, em um contexto do surgimento dos BRICS, além de facili-
tarem o acesso à crédito para países do Sul Global por não terem as mes-
mas condicionalidades de BMDs ocidentais (Wang, 2017). Criado em 2016,
o AIIB foi proposto pelo presidente Xi Jinping em outubro de 2013, no en-
contro da Cooperação Econômica Ásia-Pacíco (APEC), em Bali, Indonésia
(China, 2013a). Na ocasião, o presidente chinês abordou a necessidade de se
[...] mudar o padrão de desenvolvimento econômico, promover reformas e
inovações, liberar o potencial da demanda doméstica, poder de inovação e a
vitalidade do mercado, aprofundar a integração das cadeias industriais e de valor
e ajudar a região da Ásia-Pacíco tomar a liderança global na formação de novos
clusters industriais para crescimento (China, 2013b, tradução nossa).
Inicialmente, sua criação foi alvo de críticas dos EUA, que desincen-
tivou a participação de aliados como a Alemanha, Itália e França no banco,
argumentando que os seus prováveis padrões de governança e salvaguar-
das socioambientais não estariam de acordo com as melhores práticas
do meio, além de verem a entidade como um rival do BM (Sobolewski;
Lange, 2015). Como resultado, o banco adotou as salvaguardas do BM,
medida com relação direta a necessidade de adesão de membros europeus
à instituição, como forma de legitimar a existência do banco perante o
Sistema Internacional (Serrano Oswald, 2019).
Analisando as diferentes inuências exercidas sobre o AIIB e NDB,
Gransow e Price (2019), Serrano Oswald (2019) e Apolinario Junior e
Jukemura (2022) identicam processos de isomorsmo institucional
sob todas as três diferentes formas abordadas. A formulação do Quadro
Social e Ambiental – Environmental and Social Framework (ESF, na sigla
em inglês) – do AIIB pode ser observada neste sentido (Apolinario Junior;
Jukemura, 2022), uma vez que
[...] houve muitas vozes dos Estados membros fundadores dentro do AIIB e de
ONGs internacionais, prossionais e grupos das Nações Unidas e a sociedade
civil pressionando por salvaguardas ambientais e sociais mais fortes para os proje-
tos do AIIB. Uma vez que essas vozes alertaram para o potencial risco reputa-
cional, o ESF pode ser visto como uma concessão às expectativas da sociedade
e, portanto, como uma expressão de isomorsmo coercitivo (Gransow; Price,
2019, p. 303, tradução nossa, grifo nosso).
o obstante, processos de isomorsmo normativo são claramente
perceptíveis se observarmos o sta do NDB e AIIB comparativamente
33
Octávio Henrique Alves Costa de Oliveira China e as mutações da Ordem Internacional Liberal: evidências do AIIB e NDB
aos demais BMDs. Os prossionais que trabalham no AIIB e NDB são,
em sua maioria, alumni de instituições internacionais de grande prestí-
gio dentro do mainstream nanceiro, sendo em sua maioria graduados da
Ivy League estadunidense. Um número signicante destes prossionais
são ex-funcionários do Banco Mundial e outros BMDs (Serrano Oswald,
2019). O próprio presidente do AIIB, Jin Liqun, foi vice-presidente do Asian
Development Bank (ADB), além de ter ocupado o cargo de diretor execu-
tivo alternativo do próprio Banco Mundial (Gransow; Price, 2019; Wan,
2016). No caso do processo de criação do ESF do AIIB, que contou com a
expertise de prossionais do Banco Mundial (Gransow; Price, 2019), pode
se caracterizar uma forma de isomorsmo normativo.
Olhando para o AIIB, pode-se vericar um processo de isomorsmo
mimético, na medida em que a modelagem do banco se inspira hibridamen-
te nas institucionalidades do Banco Mundial e do ADB, como forma de ga-
nhar legitimidade no campo dos BMDs (Wan, 2016; Gransow; Price, 2019).
O NDB possui uma retórica de complementariedade e complacên-
cia governamental semelhante, algo evidente desde a quarta cúpula dos
BRICS na Índia, em 2012, no qual o banco foi pensado para mobilizar
[...] recursos para infraestrutura e projetos de desenvolvimento sustentável nos
BRICS e em outras economias emergentes e países em desenvolvimento, para
complementar os esforços existentes de instituições nanceiras multilaterais
e regionais para o crescimento e desenvolvimento global (India, 2012, tradu-
ção nossa, grifo nosso).
Como Chin (2014) observa, a linguagem diplomática utilizada pelo
NDB, ainda na ocasião da Cúpula de Durban, em 2013, foi cuidadosa ao
não transparecer uma imagem ameaçadora para os demais BMDs, ainda
que casse subentendido uma crítica ao mercado global de capitais e os
BMDs existentes como incapazes de prover os recursos necessários para
investimentos infraestruturais no Sul Global. Esse tom conitante entre
a crítica e a complacência é denidor do NDB, uma vez que esses países
possuem importantes relações com os EUA, não estando em seu interesse
um confronto direto à inuência estadunidense no FMD (Glosny, 2010),
caracterizando uma forma de isomorsmo coercitivo indireto, o qual
impactou no grau de inovação do NDB em relação aos demais BMDs.
Serrano Oswald (2019, p.3) traz ainda outro exemplo de isomorsmo do
NDB, onde um ocial do Itamaraty, ao ser entrevistado sobre a formu-
lação do banco, observou que os Articles of Agreement do Banco Mundial
e de outros BMDs foram utilizados como modelo para o NDB. Ao todo,
o autor realizou entrevistas com 40 ociais em diferentes países e insti-
tuições, conrmando que, mesmo para esses policymakers, tanto o AIIB
quanto o NBD não são vistos como instituições ‘revolucionárias’. Para
um ocial brasileiro do Ministério da Economia, por exemplo,
[...] o AIIB é essencialmente uma cópia do Banco Mundial, só que é dominado
pela China. É uma resposta da China a sua falta de peso nas instituições existen-
tes, mas se você olhar não apenas no desenho institucional, mas também em
outras diretrizes e documentos, estes são todos essencialmente uma cópia dos
que existem (Serrano Oswald, 2019, p. 3, tradução nossa).
As experiências relatadas acerca do AIIB e NDB representam ape-
nas uma pequena fração dentre outros 27 BMDs8 dentro do campo do
8. Segundo Bazbauers e Engel (2021),
existem, ao todo, 31 BMDs, sendo 30
destes funcionais. O único BMD não
funcional é o Development Bank of the
States of Great Lakes (ECGLC), que co-
lapsou em 1993 por conta de um conflito
entre seus membros (Burundi, República
Democrática do Congo e Ruanda). Para
ver a lista completa com todos os 31
bancos, ver figura 1.1.
34
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 24-37
Financiamento Multilateral para o Desenvolvimento que foram inuen-
ciados por processos isomórcos9 decorrentes da inuência que o Banco
Mundial exerce como ator político, intelectual e nanceiro (Pereira, 2016).
Embora estes dois bancos sejam produto de um ímpeto reformista por
parte da China, principalmente, mas também de uma série de países do
Sul Global, eles ainda estão embebidos da inuência que o principal BMD
exerce sobre eles, o Banco Mundial. Não somente o discurso, mas a pró-
pria governança destes bancos é fruto direto deste processo. Ao observa-
mos o grau de isomorsmo institucional recebido por estes dois bancos,
ca evidente a inuência que o Banco Mundial exerce na sua governança,
garantindo a perpetuação da Ordem Internacional Liberal.
A preponderância do Banco Mundial perante os demais BMDs é
representativa da resiliência e perpetuidade que a Ordem Internacional
Liberal detém. Enquanto uma instituição de Bretton Woods, com quase
80 anos de existência, ela continua a inuenciar diretamente os padrões
e normas do FMD, sendo extremamente difícil o seu desmantelamen-
to, pois quaisquer atores que procurem atuar de forma revisionista terão
de enfrentar não somente todo o aparato institucional estabelecido, mas
também as capacidades materiais dos atores que os nanciam e perpe-
tuam (Rothstein, 1996, p. 153).
Logo, é perceptível que existe uma lógica expansionista na difu-
são de normas, na qual organizações internacionais procuram norma-
tizar uma conguração especíca de ideias, valores, regras e normas.
Historicamente, países em desenvolvimento não-ocidentais10 comumente
são alvos da órbita de normas dessas instituições, em um processo quase
catequético de ‘ocidentalização’ desses países (Barnett; Finnemore, 1999).
Dentro desta discussão, o AIIB e o NDB são apontados como bancos ino-
vadores, que podem desaar o sistema do Financiamento Multilateral para
o Desenvolvimento. Todavia, conforme fora brevemente exposto através
dos processos de isomorsmo institucional ocorridos entre os BMDs, este
cenário não aparenta ser tão simples, ainda sendo majoritariamente domi-
nado pelas potências responsáveis pelo estabelecimento da OLI II.
3.CONSIDERÕES FINAIS
As Relações Internacionais, em especial os estudiosos do institucio-
nalismo e da EPI, decorrem de uma crônica ansiedade cartesiana na busca
pelos rumos da ordem internacional. Mesmo antes da ascensão sino-russa,
inúmeros outros atores já ameaçavam a estabilidade dos elementos consti-
tutivos da ordem, caracterizada por fatores como a segurança de coparti-
cipação, hegemonia recíproca, semi-soberania, grandes potências parciais,
abertura econômica e identidade cívica (Deudney; Ikenberry, 1999).
Embora a ascensão sino-russa e o estabelecimento de novas institui-
ções representem, em um primeiro momento, um desao à OIL 2, a es-
trutura normativo-institucional assentada desde a OLI I impõe barreiras
extremamente ecientes em garantir sua perpetuação. Não pretendendo
adentrar no pensamento do lósofo italiano Antonio Gramsci, as sutis
e morosas transformações que ocorrem no Sistema Internacional repre-
sentam este ‘novo que não pode nascer’, pois as concessões realizadas aos
9. Outros casos incluem o estudo
de Park (2014) e Uhlin (2015), que
identificaram processos de isomorfismo
coercitivo e mimético no Banco Asiático
de Desenvolvimento; Bazbauers e
Engel (2021, p. 128) que apontam para
processos semelhantes no African
Development Bank (AfDB), ADB, Inter-
national Bank for Reconstruction and
Development (IBRD) e o Inter-American
Development Bank (IDB), para citar
alguns.
10. Neste caso, assim como no texto ori-
ginal de Barnett e Finnemore, fazemos
referência aos países do Sul Global, em
termos políticos e socioeconômicos, não
nominalmente geográficos.
35
Octávio Henrique Alves Costa de Oliveira China e as mutações da Ordem Internacional Liberal: evidências do AIIB e NDB
atores reformistas garantem que ordem hegemônica se perpetue. Mesmo
que se creia que o ‘velho está morrendo’, ele – a ordem – se mostra re-
siliente, tendo enfrentado uma – ou duas, na visão de Ikenberry (2009)
− guerra mundial, inúmeras crises nanceiras, diversas crises humanitá-
rias, além de uma pandemia.
Analisando a constituição, governança, retórica e normas de duas
instituições criadas com o intuito de trazer reformas à ordem, essa resi-
liência se torna mais evidente. Enquanto discussões acerca da necessidade
de uma atualização da Ordem Internacional Liberal para que ela repre-
sente melhor a conguração atual do Sistema Internacional – racional
constitutivo dos BRICS, por exemplo – levaram a diferentes estratégias
de institutional statecraft por potências emergentes, elas estão sujeitas à
inuência de instituições tão antigas quanto as de Bretton Woods, como
o Banco Mundial.
Em última alise, assim como outras iniciativas aparentemente
contra-hegemonicas’, o AIIB e o NDB não objetivam superar o sistema
institucional existente, mas sim aperfeiçoá-lo para melhor adereçar as de-
mandas globais, intentando-o por meio de um melhor posicionamento
dentro do sistema, aspirando para atuarem como rule-makers, não rule-
-takers (Duggan, 2015). Contudo, desde sua formação e estrutura de go-
vernança, não há elementos de ruptura com a ordem, pelo contrário, há
complementos às limitações que a crescente autoridade liberal possui, de-
monstrando a resiliência que esta OLI II, ou 2.5, possui. Se trata de uma
ordem “easy to join and hard to overturn (Lim; Ikenberry, 2023, p. 2).
REFERÊNCIAS
ACHARYA, Amitav. How ideas spread: Whose norms matter? Norm localization and institu-
tional change in Asian regionalism.International organization, v. 58, n. 2, p. 239-275, 2004.
ACHARYA, Amitav.Whose Ideas Matter?: Agency and Power in Asian Regionalism. Cornell
University Press, 2009.
APOLINARIO JUNIOR, Laerte; JUKEMURA, Felipe. A comparative analysis of the environ-
mental and social policies of the AIIB and World Bank.Global Policy, 2022.
BARNETT, Michael N.; FINNEMORE, Martha. The politics, power, and pathologies of interna-
tional organizations.International organization, v. 53, n. 4, p. 699-732, 1999.
BAZBAUERS, Adrian Robert; ENGEL, Susan.The Global architecture of Multilateral Deve-
lopment Banks: A system of debt or Development?. Routledge, 2021.
BÖRZEL, Tanja A.; ZÜRN, Michael. Contestations of the liberal international order: From li-
beral multilateralism to postnational liberalism.International Organization, v. 75, n. 2, p. 282-
305, 2021.
CHIN, Gregory T. The BRICSled development bank: purpose and politics beyond the G20.Glo-
bal policy, v. 5, n. 3, p. 366-373, 2014.
CHINA. CONSULATE-GENERAL OF THE PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINA.President Xi
Jinping Makes Remarks on Promoting the Connectivity in the Asia Pacic at the 21st APEC
Economic Leaders’ Meeting. 2013a. Disponível em: <http://toronto.china-consulate.gov.cn/
eng/zgxw/201310/t20131011_7096721.htm>. Acesso em: 31 dez. 2022.
CHINA. THE COMMISSIONER’S OFFICE OF CHINA’S FOREIGN MINISTRY IN THE
HONG KONG S.A.R.Xi Jinping Attends 21st APEC Economic Leaders’ Meeting and Deli-
vers Important Speech. 2013b. Disponível em: <http://hk.ocmfa.gov.cn/eng/jbwzlm/xwdt/
zt/xzxcxytjh/201310/t20131011_10095140.htm>. Acesso em: 27 ago. 2023.
36
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 24-37
CUNHA, André Moreira. Iniciativa de Chiang Mai: integrão nanceira e monetária no Pa-
cíco Asiático.Revista de economia contemporânea. Rio de Janeiro. Vol. 8, n. 1 (jan./jun.
2004), p. 211-245, 2004.
DEUDNEY, Daniel; IKENBERRY, G. John. The nature and sources of liberal international or-
der.Review of international studies, v. 25, n. 2, p. 179-196, 1999.
DIMAGGIO, Paul J.; POWELL, Walter W. The iron cage revisited: institutional isomorphism
and collective rationality in organizational elds. American Sociological Review, v. 48, n. 2, p.
147-160, 1983.
DIMAGGIO, Paul J.; POWELL, Waltyer W. The new institutionalism in organizational
analysis. Chicago, Il.: University of Chicago Press, 1991.
DUGGAN, Niall. BRICS and the evolution of a new agenda within global governance. In:The
European Union and the BRICS. Springer, Cham, 2015. p. 11-25.
FINNEMORE, Martha.National interests in international society. Cornell University Press,
1996.
FINNEMORE, Martha; SIKKINK, Kathryn. International norm dynamics and political chan-
ge.International organization, v. 52, n. 4, p. 887-917, 1998.
FINNEMORE, Martha et al. Preface.International organization, v. 75, n. 2, p. III-IV, 2021.
GLOSNY, Michael A. China and the BRICs: A real (but limited) partnership in a unipolar
world.Polity, v. 42, n. 1, p. 100-129, 2010.
GRANSOW, Bettina; PRICE, Susanna. Social risk management at AIIBChinese or internatio-
nal characteristics?.Journal of Chinese Political Science, v. 24, n. 2, p. 289-311, 2019.
IKENBERRY, G. John. Liberal internationalism 3.0: America and the dilemmas of liberal world
order.Perspectives on politics, v. 7, n. 1, p. 71-87, 2009.
IKENBERRY, J.; LIM, D. China? s emerging institutional statecraft: The Asian Infrastructure
Investment Bank and the Prospects for Counter-Hegemony. Washington: Brookings. 2017.
INDIA. Fourth BRICS Summit: Delhi Declaration. Ministry of External Aairs. 2012 Dispo-
nível em: <http://www.brics.utoronto.ca/docs/120329-delhi-declaration.html#actionplan>.
Acesso em 27 ago. 2023.
JOHNSTON, Alastair Iain. China in a world of orders: Rethinking compliance and challenge in
Beijings international relations.International Security, v. 44, n. 2, p. 9-60, 2019.
JONES, Catherine. China’s Challenge to Liberal Norms: The Durability of International
Order. Springer, 2018.
KOCH, Martin; STETTER, Stephan. Sociological Perspectives on International Organizations
and the Construction of Global Order-an Introduction.Journal of International Organiza-
tions Studies. Special Issue: Sociological Perspectives on International Organizations and the
Construction of Global Order, n. 4, 2013.
LAKE, David A.; MARTIN, Lisa L.; RISSE, Thomas. Challenges to the liberal order: Reections
on international organization.International organization, v. 75, n. 2, p. 225-257, 2021.
LIANG, Wei. China’s Institutional Statecraft under Xi Jinping: Has the AIIB Served China’s
Interest?.Journal of Contemporary China, v. 30, n. 128, p. 283-298, 2021.
LIM, Darren J.; IKENBERRY, G. John. China and the Logic of Illiberal Hegemony.Security
Studies, v. 32, n. 1, p. 1-31, 2023.
LOWNDES, Vivien; ROBERTS, Mark.Why institutions matter: The new institutionalism in
political science. Bloomsbury Publishing, 2013.
MANNERS, Ian. Normative power Europe: a contradiction in terms?.JCMS: Journal of com-
mon market studies, v. 40, n. 2, p. 235-258, 2002.
MARCH, James G.; OLSEN, Johan P. Rediscovering institutions. Nova York: The Free Press,
1989.
MARCH, James G.; OLSEN, Johan P.The logic of appropriateness. Oslo: Arena, 2004.
MASTANDUNO, Michael. Economic Statecraft. In: SMITH, Steve. Et al. Foreign Policy: theory,
actors, cases. 3 ed. Oxford: Oxford University Press, 2016.
PARK, Susan. Theorizing norm diusion within international organizations.International po-
litics, v. 43, n. 3, p. 342-361, 2006.
37
Octávio Henrique Alves Costa de Oliveira China e as mutações da Ordem Internacional Liberal: evidências do AIIB e NDB
PARK, Susan. Institutional isomorphism and the Asian Development Banks accountability me-
chanism: something old, something new; something borrowed, something blue?.The Pacic
Review, v. 27, n. 2, p. 217-239, 2014.
PEREIRA, João Márcio Mendes. Assaltando a pobreza: política e doutrina econômica na história
do Banco Mundial (1944-2014).Revista de História (São Paulo), p. 235-265, 2016.
ROTHSTEIN, Bo. Political institutions: an overview.In: GOODIN, Robert E. Goodin; KLIN-
GEMANN, Hans-Dieter. A new handbook of political science, p. 133-166, 1996.
SERRANO OSWALD, Omar Ramon. The new architects: Brazil, China, and innovation in mul-
tilateral development lending.Public Administration and Development, v. 39, n. 4-5, p. 203-
214, 2019.
SCHMIDT, Vivien A. Values and Discourse in the Politics of Adjustment. In: SCHARPF, Fritz
W.; SCHMIDT, Vivien A.Welfare and Work in the Open Economy, Volume I: from vulnera-
bility to competitiveness. Oxford: Oxford University Press, 2000. p. 229-309.
SCHMIDT, Vivien A. Institutionalism. In: HAY, Colin; LISTER, Michael; MARSH, David.The
State. Theories and Issues. New York: Palgrave Macmillan, 2006. p. 98-117.
SIKKINK, Kathryn; FINNEMORE, Martha. Taking stock: The constructivist research program
in international relations and comparative politics.Annual Review of Political Science, v. 4,
p. 391-416, 2001.
SOBOLEWSKI, Matthias; LANGE, Jason. US urges allies to think twice before joining Chi-
na-led bank. Reuters. 2015. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-europe-asia-
-bank-idUSKBN0MD0B320150317>. Acesso em: 27 ago. 2023.
STUENKEL, Oliver. Post-western world. Malden, MA: Polity, 2016.
UHLIN, Anders. Civil society and policy reforms in the Asian Development Bank. In:Global
Economic Governance and the Development Practices of the Multilateral Development
Banks. Routledge, 2015. p. 84-103.
WAN, Ming.The Asian Infrastructure Investment Bank: The construction of power and the
struggle for the East Asian international order. Springer, 2016.
WANG, Hongying. New multilateral development banks: Opportunities and challenges for glo-
bal governance.Global Policy, v. 8, n. 1, p. 113-118, 2017.
WEBER, Max.Economy and society: An outline of interpretive sociology. University of Ca-
lifornia press, 1978.
WEBER, Max. A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo. São Paulo, Editora Schwar-
zcz, 2004.
WEINHARDT, Clara; TEN BRINK, Tobias. Varieties of contestation: China’s rise and the libe-
ral trade order: [Contribution to forum: China’s rise in a liberal world order in transition].Re-
view of International Political Economy, v. 27, n. 2, p. 258-280, 2020.
YUAN, Xinyu. The Chinese approach to peacebuilding: contesting liberal peace?. Third World
Quarterly, v. 43, n. 7, p. 1798-1816, 2022.
ZHU, Jiejin; HU, Xinyu. Back to the Iron Cage? Institutional Isomorphism of the AIIB. Interna-
tional Organisations Research Journal, v. 16, n. 3, 2021.
38
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 38-52
A construção institucional na China e sua
dimensão consultiva
Institutional Construction in China and Its Consultative
Dimension
La Construcción Institucional en China y Su Dimensión
Consultiva
Diego Pautasso1
Isis Paris Maia2
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2023v11n2p38-52
Recebido em: 11 de setembro de 2023
Aprovado em: 19 de setembro de 2023
RESUMO
O presente artigo aborda as transformações político-institucionais pelo qual vem
passando a China. O objetivo é compreender como tem se sosticado os meca-
nismos consultivos-deliberativos. Argumentamos que tais reformas políticas na
China, tais como as econômicas, têm combinado experimentalismo e gradualis-
mo, com a absorção de aprendizados internacionais, mas sem replicar variações
do modelo liberal-ocidental. Para tanto, metodologicamente, a partir da revisão
da literatura, pode-se concluir que a proliferação de consultas públicas no sistema
político chinês tem fortalecido a legitimidade e a ecácia das políticas públicas.
PALAVRAS CHAVES: China; Instituições; Democracia Consultiva.
ABSTRACT
This article addresses the political-institutional transformations that China has
been going through. The objective is to understand how the consultative-de-
liberative mechanisms have been sophisticated. We argue that such political
reforms in China, such as economic ones, have combined experimentalism and
gradualism, with the absorption of international learning, but without replica-
ting variations of the liberal-western model. Therefore, methodologically, based
on the literature review, it can be concluded that the proliferation of public
consultations in the Chinese political system has strengthened the legitimacy
and eectiveness of public policies.
KEYWORDS: China; Institutions; Consultative Democracy.
RESUMEN
El presente artículo aborda las transformaciones político-institucionales por las
que está pasando China. El objetivo es comprender cómo se han sosticado los
1. Doutor em Ciência Política pela
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Professor Titular EBTT e autor dos
livros “Imperialismo - ainda faz sentido
na Era da Globalização?” e “China e a
Nova Rota da Seda”. E-mail: dgpautas-
so@gmail.com
2. Mestre e Doutoranda em Políticas
Públicas pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Coordenadora
acadêmica do grupo de pesquisa Gechi-
na-Asialac UnB. E-mail: isisparismaia@
gmail.com
39
Diego Pautasso, Isis Paris Maia A construção instucional na China e sua dimensão consulva
mecanismos consultivos-deliberativos. Argumentamos que tales reformas polí-
ticas en China, al igual que las económicas, han combinado experimentalismo y
gradualismo, con la absorción de aprendizajes internacionales, pero sin replicar
variaciones del modelo liberal-occidental. Para ello, metodológicamente, a
partir de la revisión de la literatura, se puede concluir que la proliferación de
consultas públicas en el sistema político chino ha fortalecido la legitimidad y la
ecacia de las políticas públicas.
PALABRAS CLAVE: China; Instituciones; Democracia Consultiva.
Introdução
“Democracia, direito, liberdade, direitos humanos, igualdade e fraternidade não
são características exclusivas do capitalismo. Elas são os frutos compartilha-
dos das civilizações que surgiram na história do mundo inteiro e estão entre os
valores que a humanidade tem buscado coletivamente (Tradução dos Autores)
(WEN Jiabao, 2005, apud YANG, 2007, p. 61).
Na China tem se dado crescente atenção à reforma dos processos
político-decisórios e de seu sistema de governança. Desde A política de
Reforma e Abertura (1978), o país vem passando por transformações e
sosticação de seu arranjo institucional. Se combinam mudanças na es-
trutura estatal sob liderança do Partido Comunista Chinês (PCCh) com
a absorção de aprendizados internacionais, mas sem replicar variações do
modelo liberal-ocidental (Zhang; Yan, 2022). Desde então, o tema da mo-
dernização institucional tem ocupado importante lugar na formulação
política dos líderes chineses e em seus Planos Quinquenais.
O presente artigo visa lançar luz sobre um dos aspectos destas
transformações institucionais, neste caso em questão, os mecanismos
consultivos-deliberativos. Argumentamos que as instituições na China,
com experimentalismo e gradualismo, têm passado por grandes transfor-
mações, pois estão entrelaçadas ao seu acelerado desenvolvimento econô-
mico. Além de uma construção estatal com tradição milenar, com antiga
burocracia meritocrática e legitimidade política baseada na governança e
não em poder divino (Xia, 2014), agrega-se a trajetória do PCCh, da luta
antiimperialista à guerra civil, da revolução às reformas, da frente unida
aos mecanismos consultivos (Wang; Groot, 2018).
o resta dúvida sobre a proliferação de consultas públicas no sis-
tema político chinês (He; Warren, 2011). O resultado tem sido o crescen-
te número de estudos sobre democracia consultiva e temas correlatos de
governança, como identicou recente revisão sistemática que mapeou
mais de 500 artigos no Chinese Academic Journals Network Library publica-
dos entre 2004 e 2020 (Duan; Zhang; Wang, 2021). Metodologicamente,
realizamos uma busca na plataforma Capes Cafe e localizamos 51 ar-
tigos revisados por pares com o termo em língua inglesa (Democracy
Consultative China) - embora apenas 22 estivessem de acordo com os pro-
pósitos deste estudo.
Os desaos interpretativos do caráter e transformações da dinâmi-
ca institucional e política da China têm sido objeto de diversos esforços
interpretativos. Alguns autores têm conceituado como autoritarismo con-
sultivo, sob alegações de que o governo utiliza as informações para apoiar
40
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 38-52
suas decisões e ações, bem como para produzir apoio e legitimidade ao
regime político (Truex, 2014; He; Warren, 2011). Aqueles que destacam a
matriz leninista também argumentam que se trata de permanecer no po-
der, inuenciando a opinião pública e promovendo sentimento nacional,
realizando reformas contínuas para se antecipar às demandas públicas por
democratização, bem como pragmatismo na gestão pública (Tsang, 2009;
Gueorguiev, 2021). Ao invés de uma estratégia para conter a democracia
(Tsang, 2009; Truex, 2014), sustentamos que a formulação, a participação
e a legitimidade das ações políticas é o próprio processo de democratiza-
ção em curso engendrado pelo PCCh. Para além das formalidades e pro-
cedimentos, tem ocorrido um aprimoramento dos processos consultivos
e deliberativos, pois estão cada vez mais amplos, transparentes e com
acesso a informações adequadas (Fishkin, 2017; Zhang; He; Wu, 2021).
o apenas o ritmo das transformações e as particularidades da
construção institucional levam a diculdades analíticas, mas também o
amplo domínio de bases interpretativas circunscritas ao universo liberal-
-ocidental. A bem da verdade, o próprio alargamento do sufrágio e am-
pliação dos poderes representativos das democracias liberais não se de-
ram, como ressalta Losurdo (2006), sem sobressaltos e grandes pressões
sociais internas e anti-sistêmica (socialista). Com efeito, se desconsidera
tanto sociedades que estabeleceram relações políticas democráticas extra-
-ocidentais (Isakhan; Stockwell, 2011; Frank, 1998) quanto, modernamen-
te, fora dos parâmetros liberais. E após o vendaval que derrubou o bloco
soviético, buscou-se forjar um consenso acerca da democracia liberal e de
suas regras formais do jogo político, dissociadas da distribuição de poder
na sociedade e no Estado. Apesar do aprendizado com o exterior, a China
busca também seu próprio caminho institucional.
2. Democracia, instituições e ideologia
O conceito de democracia é tão polissêmico quanto atravessado por
capturas político-ideológicas, das suas origens na Grécia Antiga às formas
contemporâneas sob o capitalismo. A hegemonia britânico-estaduniden-
se nos dois últimos séculos teve a pretensão de universalizar a democra-
cia a partir dos pametros liberais e sob diversos arranjos institucionais.
Als, Losurdo (2006) foi exaustivo ao reconstituir as construções insti-
tucionais sob o universo dos países liberais, sobretudo seus arquétipos
(EUA e Grã-Bretanha), incluindo a histórica reação ao sufgio universal
e ao sistema eleitoral proporcional, bem como a defesa e/ou apoio ao
poder discricionário contra os segmentos populares. Externamente, não
há como dissociar o liberalismo da política imperial que caracterizou a
ascensão e hegemonia destas potências (Losurdo, 2004; 2006).
Com efeito, a armação da democracia liberal como valor univer-
sal requer a combinação de uma série de imprecisões conceituais, sim-
plicações históricas e vieses ideológicos. Isso turva a compreensão dos
direitos do homem e do cidadão como produto da história e não como
idealidades paradigmáticas universais (igualdade, liberdade, fraterni-
dade, justiça, paz, felicidade etc.). Assim, a democracia não é universal,
como tampouco tais idealidades, e só faz sentido na construção histórica
41
Diego Pautasso, Isis Paris Maia A construção instucional na China e sua dimensão consulva
concreta (Moraes, 2001), anal, as instituições e o Estado possuem media-
ções complexas entrelaçadas às relações entre poder e riqueza. A distin-
ção entre o conteúdo (quem governa) e a forma de Estado (como governa)
se relaciona com as classes e suas frações e se expressa de diferentes for-
mas e diversos arranjos políticos e institucionais (Fernandes, 2000).
Estamos diante de uma operação política voltada a tornar a de-
mocracia liberal um valor universal avesso a qualquer problematização,
sobretudo após o colapso do campo socialista em 1991 e a supremacia
do pensamento neoliberal. Alguns dos trabalhos mais emblemáticos se
referem a modelos de democracia (Lijphart, 2003) ou a tipos de Estados
de Bem Estar (Esping-Andersen, 1991) no âmbito do universo liberal-oci-
dental. De acordo com as conveniências geopolíticas dos EUA e seus alia-
dos, países com o exercício exclusivo por décadas de um partido no poder
ndia, Japão e/ou México) e o anacronismo das monarquias hereditárias
na Europa (Reino Unido, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Noruega, Países
Baixos, Suécia e outros principados e ducados) sequer são capazes de ar-
ranhar sua normalidade institucional.
Por seu turno, as experiências socialistas são consideradas “redu-
cionismo de classe” e suas “formas de opressão ou subordinação degra-
dantes” e antidemocráticas, como apresenta Cunningham (2009) em seu
trabalho Teorias da democracia. Assim, as singularidades das 32 expe-
riências socialistas surgidas durante a Guerra Fria (Visentini, 2017) são
frequentemente ignoradas, bem como os contrastes político-institucio-
nais existentes entre estes muitos países de diversos continentes. Não é
possível comparar Angola e Cuba, ou Vietnã e URSS — da mesma forma
que se o zéssemos com Noruega e Haiti diria pouco sobre capitalismo e
democracia. Ora, basta alguma objetividade cientíca para reconhecer as
diversas combinações entre mercado e planejamento (Nove, 1989).
Esta simplicação se completa com a adoção de categorias como a
de totalitarismo — em oposição ao assim chamado “mundo livre” centra-
do nas democracias liberais. Ou seja, supor que as experiências socialistas
eram sistemas monocráticos, abarcando todas as dimensões sociais, com
população atomizada e submissa, não explica a competição interna dos
partidos hegemônicos, do envolvimento político em outras esferas (bair-
ros, fábricas, instituições de ensino) — muitas vezes mais intensas e menos
distorcidas pelo poder econômico que em países ocidentais (Fernandes,
2000). Para além da propaganda anticomunista, essas premissas tiveram
muita adesão em cientistas e políticos, inclusive aqueles identicados com
o campo progressista.
Além das questões domésticas, frequentemente são negligenciados
os condicionantes sistêmicos para o desenvolvimento institucional, so-
bretudo o entrelaçamento entre imperialismo e democracia. Via de re-
gra, a pilhagem colonial favoreceu o desenvolvimento econômico e insti-
tucional dos países centrais, aumentando os ganhos destes trabalhadores,
se tornando empecilho apenas quando o intervencionismo resultou em
perdas prolongadas, como o emblemático do Vietnã (Veltmeyer, 2009).
Ora, a história do imperialismo, mesmo que sob a defesa da “democra-
cia, dos “direitos humanos” e do “livre mercado”, tem sido determinan-
te na obliteração da normalidade institucional. Não se pode discutir as
42
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 38-52
condições objetivas de desenvolvimento institucional e democrático sem
levar em conta a imposição de modelos político-institucionais e de ajustes
macroeconômicos; as práticas de desestabilização e ingerências políticas
e militares; as crises econômicas e os estrangulamentos nanceiros; entre
outras formas de constrangimentos.
À luz da história, as construções institucionais - incluindo a demo-
cracia - são processos complexos e sinuosos. A democracia moderna, por
exemplo, emerge de conitos relacionados aos direitos formais e direitos
socioeconômicos – e à própria superação das três grandes discriminações,
de classe, de raça e de gênero. A ampliação destes direitos no Ocidente
a partir do Pós-Guerra, incluindo a formação dos Estados de Bem Estar
Social, não foi concessão do universo liberal, mas resultado de lutas so-
ciais e da pressão do campo socialista. Não por acaso, com o advento do
neoliberalismo e sua expressão cultural pós-moderna, emergem formas
pós-democráticas, incluindo bonapartismo de novo estilo, adaptadas às
condições atuais da sociedade do espetáculo, cevadas pelas novas formas
de consciência, hiperindividualistas e hipercompetitivas. Assim, as trans-
formações tecnológicas lançadas pela 3ª Revolução se projetam com o si-
multâneo ataque aos direitos sociais, à precarização das relações de traba-
lho (uberização) e ao esgarçamento do tecido social, bem como à erosão
das formas cooperativo de organização social e política (Azzarà, 2022).
Apesar da força do pensamento dominantes sobre modelos institu-
cionais, se torna latente o debate sobre crise nas democracias Ocidentais.
Przeworski (2019), por exemplo, considera como crise as disfunções po-
líticas e a perda de conança nas instituições; o enfraquecimento da or-
dem pública; a erosão do sistema político-partidário; e fraca legitimidade
da própria institucionalidade e esfera pública. Segundo ele, isso não está
desassociado do baixo crescimento econômico, da ampliação das desi-
gualdades sociais e da precarização das condições de vida. A questão de
fundo é como os direitos formais se realizam em condições objetivas da
distribuição de riqueza e poder na institucionalidade liberal, seja no li-
vre mercado econômico ou na liberdade de organização, eleição ou ex-
pressão. Vejamos o caso das mídias digitais, cujas corporações (Big Techs)
potencializam o alcance da sua atuação, mobilizando algoritmos para o
marketing ou a mobilização da opinião pública3. Como sublinha Mascaro
(2013), não apenas os mecanismos de atuação político são condicionados
pela dinâmica de poder intrínseca ao desenvolvimento do capitalismo em
seu tempo espaço, como, quando confrontado, produz respostas não ca-
suais de constrição do poder (ditaduras, fascismo, nazismo, etc.) para lidar
com uma polaridade sempre contraditória.
Expliquemos melhor tomando por exemplo o arquétipo do mode-
lo democrático liberal, os EUA. Desde a origem, o uso do termo demo-
cracia se prestou a ns ideológicos: seja para dar nome ao partido que
se opôs até o limite à abolição da escravatura, seja para desencadear um
sem número de guerras e golpes (Losurdo, 2022). Para além disso, é um
país de baixo engajamento político, onde apenas pouco mais de 50% da
população em idade de votar tem participado das eleições4, revelador do
grau de politização, de legitimidade e de crença num jogo político-elei-
toral completamente plutocrático. Ou seja, além das barreiras legais à
3. O escândalo da Cambridge Analytica,
ao ter acesso ao volume de dados dos
usuários da rede social, influenciou
as eleições estadunidenses. Ver reporta-
gem: https://www.bbc.com/portuguese/
geral-43705839
4. Ver histórico de votação em: https://
www.presidency.ucsb.edu/statistics/
data/voter-turnout-in-presidential-e-
lections
43
Diego Pautasso, Isis Paris Maia A construção instucional na China e sua dimensão consulva
participação de outras forças sociais e políticas, há enormes barreiras
nanceiras: a título de ilustração, o custo total da eleição estadunidense
de 2020 foi de cerca de 14 bilhões de dólares, enquanto uma cadeira no
Senado tem custo médio de quase 20 milhões e uma na Câmara de cerca
de 1,5 milhão de dólares5.
o há porque suprimir o voto quando há outros meios para se-
questrar suas consequências, dado que o nanciamento captura o con-
junto das organizações políticas e dene a agenda em torno de interesses
corporativos (Skocpol; Hertel-Fernandez, 2016). Daí decorre o absoluto
controle da política pelas elites WASP em detrimento dos cidadãos co-
muns, como detalharam Gilens; Page (2014) — o que dá sentido ao mono-
partidarismo competitivo denido por Losurdo (2004b). Não surpreende,
portanto, que a Pandemia de Covid-19 reita tais disfunções sociais e ins-
titucionais: a maior potência do mundo, com todos os recursos técnicos
e nanceiros e menos de 5% da população mundial, teve cerca de ¼ dos
casos e do número de mortes mundiais6.
A compreensão das instituições do universo liberal-ocidental em
dois séculos deve levar em conta continuidades e mudanças; discurso e
evolução histórica; avanços e crises políticas. A atual crise institucional
em diversos países do Ocidente se articula às transformações do pró-
prio capitalismo contemporâneo. Como veremos, o desenvolvimento da
China representa não apenas o deslocamento do epicentro geoeconômico
do mundo, mas transformações tecnológicas e institucionais com desdo-
bramentos obrigatórios para o século XXI.
3. A China em busca de seu arranjo político
A suposição que a revolução levaria ao m das classes e ao de-
nhamento do Estado foi ingênuo e retardou o desenvolvimento de teo-
rias sobre instituições e Estado no âmbito do marxismo. Certamente isso
inuenciou a hipertroa e as disfunções na dimica Estado-Partido no
imperativo de desenvolvimento e segurança institucional em países de
orientação socialistas (Fernandes, 2000). Ademais, é preciso levar em con-
ta que as experiências socialistas ocorreram em países da periferia do sis-
tema internacional, com diculdades econômicas, políticas e geopolíticas
a serem levadas em conta. Anal, é impossível tratar de desenhos insti-
tucionais sem considerar indicadores de desenvolvimento, alfabetização,
urbanização, entre outros. Inclusive os próprios países ricos, como bem
destaca Chang (2004), somente lograram o aprimoramento das institui-
ções após a arrancada industrial e atravessados por períodos de conitos,
contradições e sobressaltos.
A construção institucional da China, além da herança civilizacional
e política milenar, tem sido pela revolução e sua orientão socialista,
mas também pelo subdesenvolvimento e pelo contexto imperialista. Sua
participação no PIB mundial despencou de 32,9% em 1820 para 4,8% em
19787 — e, apesar da industrialização maoista, o padrão de vida seguia
estagnado e com importante insegurança alimentar (Weber, 2023), dada
a herança do Século de Humilhações e os sobressaltos do Grande Salto e
da Revolução Cultural. Além da guerra civil (1927-49), o país se envolveu
5. Ver informações a partir da repor-
tagem de O Globo em: https://oglobo.
globo.com/epoca/mundo/eleicao-nos-
-eua-2020-quanto-custa-corrida-para-
-casa-branca-24725951
6. Ver dados sobre a Covid nos EUA em:
https://www.worldometers.info/corona-
virus/country/us/
7. Ver estudo de Maddison Chinese
Economic Performance in the Long Run,
OCDE, 2007. Disponível em: https://
www.oecd-ilibrary.org/development/chi-
nese-economic-performance-in-the-lon-
g-run-960-2030-ad-second-edition-revi-
sed-and-updated_9789264037632-en
44
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 38-52
em guerras na revolução coreana (1950-53) e vietnamita (1960-69), nas
crises com Taiwan (1956-58) e campanhas militares nas fronteiras com
Mianmar (1960-61), Índia (1962), URSS (1969) e Vietnã (1979), além do iso-
lamento internacional após a ruptura sino-soviética.
Diante dessa conjuntura adversa, o PPCh desencadeou a política
de Reforma e Abertura no nal da década de 1970, revelando capacidade
adaptativa e responsiva do regime. As reformas não aderiram à terapia de
choque neoliberal, optaram por implementar mudanças graduais que com-
binavam aprendizados de origens imperiais com experiência estrangeiras,
através de visitas ao exterior e debates com economistas internacionais e
participação do Banco Mundial (Weber, 2023). Não obstante as disputas
pela orientação das reformas, Deng defendeu a modernização institucio-
nal, mas persistindo o caminho socialista e da liderança do PCCh, como
expresso em 1979 em Uphold the Four Cardinal Principles (Xiaoping, 1995).
Sob Deng, a Constituição de 1982 representou novos parâme-
tros para as reformas políticas e a governança na China. A Assembleia
Nacional Popular, como seu poder legislativo central, e as Assembleias
Populares Locais em Vários Níveis (provincial, municipal, condados e
aldeias) passaram a desempenhar crescente papel legislativo, promul-
gando regulamentos detalhados sobre implementação de leis nacionais,
bem como criando sua própria legislação provincial (Cho 2006; Lin, 1992;
O’brien, 2009; Wang 2014 apud Huhe; Tang, 2017).
A Constituição também impulsionou a descentralização e o au-
togoverno em nível subnacional. Com efeito, o governo central dene
diretrizes e planos de longo prazo, cujo exemplo principal é o Plano
Quinquenal, abrindo espaço para inovação, ajuste e exibilidade institu-
cional multinível. A descentralização e a intergovernabilidade têm con-
formado redes institucionais (Yu, 2019), ampliando a participação e a ca-
pacidade decisória dos governos locais, ao passo que o Partido mantém
constantes mecanismos de avaliação e supervisão. Assim, o fortalecimen-
to provincial ampliou a formação de um sistema de freios e contrapesos
(check and balances) em termos de relações entre os poderes central e sub-
nacional, numa espécie de federalismo de fato (Zheng, 2006).
A 3ª, 4ª e 5ª Geração de Líderes (Jiang Zemin, Hu Minato e Xi
Jinping) têm, desde então, incrementado as reformas políticas e aprimo-
rado a governança de forma pragmática e gradual. É recorrente temas
relacionados ao fortalecimento da legalidade, das consultas públicas, da
democracia socialista e da constrão de um estado de direito (Zemin,
2002; Jinping, 2014). Essa dimica institucional está relacionada a apren-
dizados relacionados à glasnost8 e ao colapso soviético, bem como a tra-
jetória dos Tigres Asiáticos e do mundo liberal-ocidental (Tsang, 2009),
combinando experimentação e avaliação criteriosa dos resultados em
busca de seu próprio caminho.
Um balanço dos últimos quatro Planos Quinquenais (11º, 12º, 13º
e 14º), evidencia um incremento nas diretrizes para a modernização ins-
titucional, com destaque para o papel do que denem como construção
socialista democrática e política. Nestes documentos, há uma ênfase no
aprimoramento do sistema de congresso popular e de cooperação mul-
tipartidária, bem como de consulta política liderado pelo PCC, com
8. A Glasnost foi uma das duas políticas
de reforma do governo Gorbachev. A
primeira tratava de reforma política e
segunda de reestruturação econômica.
45
Diego Pautasso, Isis Paris Maia A construção instucional na China e sua dimensão consulva
destaque para as funções da Conferência Consultiva Política do Povo
Chinês (CCPPC) no cumprimento das suas funções de consulta políti-
ca, supervisão democrática e participação nos assuntos governamentais.
Trata-se do objetivo de expandir os canais de consulta para órgãos do
poder estatal, comitês da CCPPC, partidos políticos, organizações comu-
nitárias e movimentos sociais, fomentando mecanismos para eleições,
deliberações, acesso público à informação, relatórios de desempenho e
responsabilização dos funcionários a nível subnacional9.
Na mesma direção, foi publicado em 2005 o livro branco intitu-
lado Construção da Democracia Política na China. Suas linhas mestras
são a participação através de congressos, aldeias, comunidades e sindica-
tos; a autonomia das etnias em regiões autônomas; a cooperação multi-
partidária e a consulta política entre partidos e organizações sociais; e o
fortalecimento da democracia intrapartidária, judiciária e governamen-
tal (Chai, 2006). Em outro longo documento chamado China: Democracy
That Works10, lançado em 2021, o país traçou as linhas gerais de seu enten-
dimento sobre o tema, deixando claro o caráter universal da democracia
para defender seu valor histórico cuja evolução se dá no espaço e tempo.
Ou seja, tem sido uma preocupação do país a criação de procedimentos
institucionais bem coordenados e abrangentes para forjar canais demo-
cráticos diversos, abertos e bem organizados, numa complexa congura-
ção geográca (demográca e territorial). Aliás, na Declaração Conjunta
da Federação Russa e da República Popular da China sobre as Relações
Internacionais11 de fevereiro de 2022, argumenta-se que “não existe um
modelo único, nem monopólio retórico ocidental baseado em ideologia
e “alianças de conveniência”, tampouco se restringe a impor o rito formal
das eleições em nível global por meio da força - não raro desconsiderando
diversidade civilizacional e autodeterminação.
Assim como no plano econômico, as singularidades históricas e ve-
locidade das transformações tornam complexas o entendimento da tra-
jetória institucional da China. Bell (2015) deniu o que chamou de “mo-
delo chinês” em ts fundamentos: democracia na base, experimentação
no meio e meritocracia no topo. O primeiro remonta historicamente ao
autogoverno nas aldeias, reforçado por eleições e participação nos comitês
partidários locais. O segundo, é a experimentação entre os níveis local e
central de governo, a partir de sosticados mecanismos de descentraliza-
ção, intergovernabilidade e inovação política. Por m, a meritocracia se
baseia na seleção e promoção de quadros em função de desempenho e ava-
liação por superiores, colegas, subordinados e ainda com o público ao qual
trabalha (Bell, 2015). Anal, a reformulação da burocracia é crucial para a
melhoria da prestação de contas, ampliação da competição e a criação de
mecanismos de scalização e regulação do poder (Mahbubani, 2021).
As transformações institucionais têm sido impulsionadas pelo PCCh e
inclusive na dimica intrapartidária. O Partido, desde as reformas, tem de-
monstrado grande capacidade de adaptação às mudanças e demandas sociais,
um sosticado mecanismo de recrutamento das suas elites, buscando legiti-
midade e aderência às mudanças políticas (Li, 2021). Certamente não estar
submetida ao imediatismo do mercado eleitoral concorre para que o regime
consiga planejar a longo prazo os grandes temas nacionais (Naisbitt, 2010).
9. Ver a íntegra do 14º PQ disponível
em: https://www.fujian.gov.cn/english/
news/202108/t20210809_5665713.htm
10. Ver íntegra do documento em:
http://www.news.cn/english/
2021-12/04/c_1310351231.htm
11. Ver íntegra do documento em:
http://en.kremlin.ru/supplement/5770
46
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 38-52
Em suma, há preocupações institucionais crescentes de combinar
liberdades e direitos com ordem e harmonia (Mahbubani, 2021). Trata-se
de uma construção institucional que tem, para além das formalidades le-
gais e ritos eleitorais, demonstrado a adaptabilidade política do sistema e
a capacidade de resposta às demandas e cenários de aceleradas mudanças
sociais. Como veremos na próxima seção, a dimensão consultiva das mu-
danças institucionais na China tem sido determinante da capacidade de
governança do sistema, bem como da ecácia e legitimidade das políticas.
4. Os mecanismos de consulta da política chinesa
Uma revisão de literatura sobre a temática da Democracia
Consultiva na China pela plataforma Capes Cafe indicou 51 artigos revi-
sados por pares com o termo em língua inglesa (Democracy Consultative
China). Destes artigos, apenas 22 foram classicados como de acordo com
a temática em questão (Quadro 1).
Quadro 1 - Revisão sobre Democracia Consultiva na China
Ano Autores Título
1955 Steiner, H. Arthur Constitutionalism in Communist China
2003 Pan, Wei Toward a Consultative Rule of Law Regime in China
2003 Diamond, Larry The Rule of Law as Transition to Democracy in China
2004 Cabestan, Jean-Pierre Is China Moving Towards “Enlightened” But Plutocratic Authoritarianism?
2007 Chan, Hon S. ; Suizhou, Edward Li Civil Service Law in the People’s Republic of China: A Return to Cadre Personnel Management
2008 Maréchal, J Chine brune ou Chine verte? Les dilemmes de l’État-Parti
2009 Tsang, Steve Consultative Leninism: China’s new political framework/Leninismo consultivo: o novo quadro político da China
2010 Stone, Richard Fresh Momentum for China’s Science Juggernaut/Novo impulso para o rolo compressor da ciência da China
2011 Xiaojun, Yan
Regime Inclusion and The Resilience Of Authoritarianism: The Local People’s Political Consultative Confe-
rence In Post-Mao Chinese Politics
2013 CHAI, H; SONG, H The adaptive state - understanding political reform in China
2014 Tan, Sor-hoon - Early Confucian Concept of “Yi” (议)and Deliberative Democracy
2015 Cheng; Fan Local Governments’ Consultative Budgetary Reforms in China: A Case Study of Wenling City
2015 Gangue, Chen From 17th to 18th Party Congress: Implications for Intra-Party Democracy Gang, Chen
2015 Yu, Bin Bounded Articulation: An Analysis of CPPCC Proposals, 2008–12
2018 Wang, Ray; Groot,, Gerry Who Represents? Xi Jinping’s Grand United Front Work, Legitimation, Participation and Consultative Democracy
2018 Thøgersen, Stig Politisk deltagelse under autoritær kontrol - ”Konsultativt demokrati” og overvåget offentlighed i Kina
2020 Xin-Yun, Hu,Mingming, Li Ecopolitical discourse: Authoritarianism or democracy? — Evidence from China
2021
Duan, Ying ; Zhang, Ying ; Wang,
Yi-Luo
Knowledge Mapping of Grassroots Consultative Democracy Research in China (2004-2020) – Bibliometric
Analysis Based on CNKI Database
2021
Zhang, Kaiping; He, Baogang;
Wu, Jinjin Double trouble? Effects of social conflict and foreign investment on consultative authoritarianism in China
2022 Tsang, Steve; Cheung, Olivia Has Xi Jinping made China’s political system more resilient and enduring?
Fonte: Elaboração dos autores
47
Diego Pautasso, Isis Paris Maia A construção instucional na China e sua dimensão consulva
A obra de Steiner (1955) foi pioneira ao analisar a legislação do
PCCh logo após a revolução, especicamente o Programa Comum, a
Lei Orgânica do Governo Popular Central (CPG) e a Lei Orgânica da
Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). Neste mo-
mento a revisão trouxe um lapso de 47 anos neste ltro - o que não quer
dizer que não foi tema de debate na própria China -, voltando após a
política de Reforma e Abertura e suas ações relacionadas ao desenvolvi-
mento institucional.
Tais transformações institucionais têm fomentado um debate sobre
sua natureza e a direção das reformas. Pan (2003) considerou a China um
regime de estado de direito consultivo, enquanto Diamond (2003) subli-
nhou o aumento das ferramentas democráticas como forma de estabiliza-
ção política no país. Cabestan (2004) destacou a relação entre o processo
de democratização com as pressões dentro do próprio PCCh por “libera-
lização”. Já Maréchal (2008) ressaltou o processo de democratização como
política do PCCh para enfrentar os desaos diante das constantes denún-
cias de corrupção que colocaram em xeque a legitimidade do regime.
Nessa direção, Chai, Song (2013) argumentam que mudanças ins-
titucionais são conduzidas pelo PCCh sem prejuízo às capacidades esta-
tais ao compartilhar poder tanto à sociedade civil quanto às instituições
representativas locais. Als, conforme Yu (2015), a própria democratiza-
ção está relacionada à gradual transformação dos procedimentos intra-
partidários em vários níveis, incluindo processos de votação e promoção
de quadros do PCCh. Inclusive, Tsang (2009) e Gueorguiev (2021) vão
considerar que a reformas de Deng, ao invés de abandonar o legado de
1949, molda o que chamou de “leninismo consultivo”. Embora haja certo
consenso sobre a ampliação dos mecanismos consultivos, Tan (2014) deu
ênfase à inuência dos princípios confucionistas.
Os diversos estudos realizados sobre casos e experimentos con-
sultivos concretos sinalizam as transformações institucionais na China.
Cheng; Fan (2015) estudaram a ampliação da participação pública nas re-
formas orçamentárias. Já Hu e Mingming (2020), ao analisar três regiões,
observaram como as consultas têm feito com que as questões ambientais
sejam convertidas em propostas pelos deputados do Congresso Popular
e pelos membros da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.
Outros autores, como Stone (2010) e Yu (2015), não obstante as diferenças
analíticas, reconhecem que o CCPPC tem papel importante na formula-
ção de políticas públicas.
As consultas têm se ampliado para diversos níveis administrativos e
segmentos sociais. Wang; Groot (2018) tratam do papel do Departamento
de Trabalho da Frente Unida como organizador de representação do nú-
mero crescente de forças sociais não partidárias. A proliferação de ca-
nais de consulta também tem se utilizado das novas ferramentas digitais,
como destacou Thøgersen (2018), ao lançar luz sobre a internet como es-
paço de críticas ao governo e, ao mesmo tempo, de mensuração das insa-
tisfações populares. O estudo de Zhang, He e Hu (2021), ao analisar 3.082
documentos de audiências públicas, mesmo destacando as diferenças re-
gionais, corrobora sobre o reforço das instituições consultivas. Mesmo
autores críticos à abolição do limite de mandato feita sob o governo de Xi
48
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 38-52
Jinping, como Tsang e Cheung (2022), reconhecem seu papel ativo no que
diz respeito à participação popular. Fato é que os mecanismos consultivos
melhoram a governança e reforçam a liderança do PCCh, como destacou
Xiaojun (2011).
É inequívoco, de acordo com esta revisão, que as transformações
político-institucionais têm sosticado os processos intergovernamentais
e decisórios na China. Além disso, tem ocorrido uma ampliação dos me-
canismos consultivos e de participação pública, incluindo audiências pú-
blicas, orçamento participativo, coletas de opiniões online através de por-
tais governamentais, congressos populares, sistemas de eleição em nível
local, etc. (Huhe; Tang, 2007). Essa é uma das faces que revela a resiliência
e capacidade adaptativa do PCCh e do regime político chinês, incorpo-
rando opiniões, aumentando a eciência e legitimidade da gestão e, com
efeito, reduzindo os conitos sociais. Para Gueorguiev (2021), a participa-
ção e a consulta têm raízes mais fortes na revolução e no leninismo do
que em modelos ocidentais ou no passado chinês — mesmo que durante
o longo período imperial fosse recorrente descentralizar e delegar pode-
res para níveis inferiores.
Truex (2014) sumariza a literatura que demonstrou como os canais
de participação reforçam apoio ao regime. Em sua pesquisa empírica,
constatou “a satisfação com o regime, os sentimentos de receptividade do
governo e a vontade expressa de cumprir os regulamentos” através dos
canais de consulta e deliberação, com efeito ampliado de engajamento e
legitimação na população de menor instrução. Ao avaliar 393 casos de de-
liberações de base na China, Tong e He (2018) corroboram essa tendência
de fortalecimento dos mecanismos consultivos.
Aqueles que consideram um autoritarismo consultivo alegam que
a participação visa produzir apoio ao regime e capacidade de governo
(Zhang; He; Wu, 2021). Ora, a razão de ser das instituições estatais e seus
regimes é manter a ordem e consolidar o governo. Ressalte-se que inexiste
Estado sem assimetria, desigualdade, força e domínio e, portanto, a com-
binação de consentimento e coerção. E daí derivam conclusões equivo-
cadas ao supor que a China realiza “inclusões controladas” (Gueorguiev,
2021), revelando, no mínimo, completa ilusão sobre a política nas demo-
cracias liberais do Ocidente e sobre os constrangimentos que limitam as
possibilidades de votar, participar e constituir oposição política. Segundo
o mesmo autor, controle caracteriza o autoritarismo, mas não as demo-
cracias liberais, o que seria como supor que todos têm as mesmas possibi-
lidades de empreender no capitalismo.
o há dúvidas, contudo, que os processos políticos na China têm
envolvido um grande número de atores sociais. Entre os atores políti-
cos estão uma burocracia ministerial robusta; funcionários provinciais
e locais; um corpo crescente de grupos de pesquisa de políticas ociais,
grupos de reexão que alimentam as propostas diretamente no processo
político; interesses empresariais colocam mais pressão sobre as decisões;
uma vigorosa comunidade acadêmica e universitária; uma mídia diversa
que cada vez mais traz à luz questões de prevaricação ocial; e, por m,
uma voz cada vez mais bem informada de cidadãos que exigem mais
transparência e responsabilidade do governo (Dumbaugh; Martin, 2009).
49
Diego Pautasso, Isis Paris Maia A construção instucional na China e sua dimensão consulva
Com isso, a combinação entre intergovernabilidade e consulta
permite ao governo central conhecer as preferências populares e as de-
mandas regionais, de modo a conciliar prioridades potencialmente con-
itantes dentro de vários segmentos em um país de grande dimensão
populacional e territorial, bem como diversidade social, étnica e regional
(Huhe; Tang, 2017). Assim, o governo central opta por deixar algumas
questões espinhosas ou desacordos para os governos provinciais para que
seja experimentada em escala local.
O aprofundamento dos canais consultivos ampliou a capacidade
de detecção de insatisfações e aprimorou a formulação de políticas. Isso
reduz o custo de debelar oposições e a necessidade de coerção, ao passo
que constrói consentimentos e reduz o risco de desestabilização (Tsang,
2009). E, mais recentemente, o crescimento de canais digitais abriu novas
oportunidades para a expressão de opiniões, interesses e até críticas ne-
gativas ao Estado, o que ajuda a evitar que as tensões se congreguem em
ações coletivas (Yu, 2015).
Nessa direção, no relatório do 19º Congresso Nacional do PCCh12,
Xi Jinping enfatizou o papel da democracia consultiva para a “cultura polí-
tica inclusiva” e o “aprendizado mútuo” e a “busca de um terreno comum”
de desenvolvimento. O fortalecimento da liderança de Xi coincide com o
aprofundamento da reforma política iniciada por Deng e fortalece a cons-
trução da institucionalidade na China e seus mecanismos consultivos.
5. Conclusões Finais
As políticas que suportam o desenfreado processo de desenvolvi-
mento da China, bem como seus desaos e contradições, estão entrela-
çadas a complexos e dimicas transformações de seus arranjos institu-
cionais. Ora, se as instituições importam, não há como entender legiti-
midade e a eciência lograda pelo PCCh e pelo regime, supondo proces-
sos decisórios discricionários e centralizados. Não se pode subestimar
que o Império Chinês, surgido no mesmo contexto do Romano, possui
continuidade civilizacional e, por óbvio, engloba lições institucionais
e política — apesar do etnocentrismo que subestima ou desconsidera
a trajetória dos países à margem do núcleo liberal-ocidental. Als, em
perspectiva histórica de longa duração, o excesso de autoconança de
tais países pode trair seu entendimento sobre seus sistemas sócio-polí-
ticos e sobre o mundo.
É inequívoco o fortalecimento dos mecanismos consultivos na
China, desenvolvidos, como a modernização institucional, combinando
experimentalismo e gradualismo. Não há dúvida também do papel de tais
mecanismos na maneira como as políticas públicas na China têm logrado
ecácia e legitimidade, bem como na capacidade responsiva do governo
num quadro geogracamente (territorial e demogracamente) comple-
xo. As controvérsias, por seu turno, decorrem de incongruências teóri-
cas relacionadas à confusão entre conteúdo (quem governa) e a forma de
Estado (como governa) e o consequente domínio das concepções liberais.
É óbvio que tais reformas institucionais visam garantir a liderança do
PCCh e, um modelo capaz de produzir desenvolvimento, legitimidade,
12. Ver reportagem da China Today,
disponível em: http://www.chinatoday.
com.cn/ctenglish/2018/zdtj/201803/
t20180301_800118954.html
50
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 38-52
participação e estabilidade - tarefa nada trivial diante da velocidade das
transformações e dos desaos que o país tem enfrentado.
O fato é que replicar esquemas teóricos eurocêntricos e se aferrar
a convicções políticas e a classicações birias pouco auxilia para com-
preender a trajetória e a direção da construção institucional na China.
Ao contrário, é imperativo buscar decifrar esse enigma institucional e
político do país que se alça à condição de superpotência no século XXI
- justamente no momento em que as construções democráticas no mun-
do liberal-ocidental se apresentam frágeis. Trata-se de uma transição sis-
têmica que, para além da rivalidade sino-estadunidense, traz profundas
mudanças civilizacionais, tecnológicas e também político-institucionais.
Bibliografia
BELL, D. The China model: political meritocracy and the limits of democracy. Princeton:
Princeton University Press, 2015.
CABESTAN, Jean-Pierre. Is China Moving Towards “Enlightened” But Plutocratic Authorita-
rianism? China Perspectives, [S.L.], v. 2004, n. 5, p. 1-12, 1 out. 2004.
CHAI, Hongxia; SONG, Xiongwei. The adaptive state – understanding political reform in Chi-
na. Policy Studies, [S.L.], v. 34, n. 1, p. 73-88, jan. 2013.
CHAI, Winberg. China’s 2005 White Paper: Building of Political Democracy in China.Asian
Aairs, vol. 33, no. 1, 2006, pp. 3–36, http://www.jstor.org/stable/30172636. Accessed 3 May,
2022.
CUNNINGHAM, Frank. Teorias da democracia. São Paulo: Artmed, 2009.
DUMBAUGH, Kerry MARTIN, F. Michael. Understanding China’s Political System. Congres-
sional Research Service, 2010.
DUAN, Ying; ZHANG, Ying; WANG, Yi-Luo. Knowledge Mapping of Grassroots Consultative
Democracy Research in China (2004-2020) – Bibliometric Analysis Based on CNKI Database.
Public Administration Research, [S.L.], v. 10, n. 1, p. 58, 8 abr. 2021.
ESPING-ANDERSEN, G.As Ts Economias doWelfare State.Lua Nova, n. 24, setembro de
1991.
FERNANDES, Luís.O Enigma do Socialismo Real. Rio de Janeiro: Mauad, 2000.
FISHKIN, J. Deliberative Democracy Decision Beyond Polity. In: Fuguo H. Handbook of Mul-
tiple Deliberative Democracy in Policy-making: Practicing Deliberative Democracy in
China. Shanghai: Fudan University Press, 2017.
FRANK, A.ndré. Reorient: Global economy in the Asian Age. Berkeley: University of Califor-
nia Press, 1998.
GILENS, Martin; PAGE, Benjamin I.. Testing Theories of American Politics: elites, interest
groups, and average citizens. Perspectives On Politics, [S.L.], v. 12, n. 3, p. 564-581, set. 2014.
HE, Baogang; WARREN, Mark E.. Authoritarian Deliberation: the deliberative turn in chinese
political development. Perspectives On Politics, [S.L.], v. 9, n. 2, p. 269-289, jun. 2011.
HUHE, Narisong; TANG, Min. Institutionalizing from the Middle: the impacts of provincial
legislation on rural grassroots democracy in china. Studies In Comparative International De-
velopment, [S.L.], v. 52, n. 3, p. 372-393, 16 jul. 2017.
ISAKHAN, Benjamin; STOCKWELL, Stephen. The Secret History of Democracy. London:
Palgrave Macmilla, 2011.
JINPING, Xi. A governança da China. Beijing: Editora de Língua Estrangeiras, 2014.
LIJPHART, Arend. Modelos de democracia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
DIAMOND, Larry. The Rule of Law as Transition to Democracy in China. Journal Of Contem-
porary China, [S.L.], v. 12, n. 35, p. 319-331, maio, 2003.
LOSURDO, Domenico. Fuga da História? São Paulo: Revan, 2004a.
_________. Democracia e bonapartismo. São Paulo: UNESP, 2004b.
51
Diego Pautasso, Isis Paris Maia A construção instucional na China e sua dimensão consulva
_________. Contra-história do Liberalismo. Aparecida-SP; Ideias & Letras, 2006.
_________. A questão comunista. São Paulo: Boitempo, 2022.
LI, Eric. The CCPs Greatest Strength Is “Self-Reinvention”. Foreign Policy. Julho, 2021. Dis-
ponível em: https://foreignpolicy.com/2021/07/02/ccp-reinvention-anniversary-youth-popula-
rity/
MAHBUBANI, Kishore. A China Venceu?: O desao chis à supremacia. Rio de Janeiro:
Intrínseca, 2021
MARÉCHAL, Jean-Paul. Benoît Vermander, Chine brune ou Chine verte? Les dilemmes de
l’État-Parti. China Perspectives, [S.L.], v. 2008, n. 4, p. 109-111, 1 dez. 2008
MASCARO, Alysson. Estado e forma política. São Paulo: Boitempo, 2013.
NOVE, A. A economia do socialismo possível. São Paulo: Ática, 1989.
PRZEWORSKI, A. Crises da Democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 2019.
SKOCPOL, Theda; HERTEL-FERNANDEZ, Alexander. The Koch Network and Republican
Party Extremism. Perspectives On Politics, [S.L.], v. 14, n. 3, p. 681-699, 31 ago. 2016.
STEINER, H. Arthur. Constitutionalism in Communist China. American Political Science Re-
view, [S.L.], v. 49, n. 1, p. 1-21, mar. 1955.
STONE, Richard. Fresh Momentum for China’s Science Juggernaut. Science, [S.L.], v. 327, n.
5972, p. 1440-1441, 19 mar. 2010.
TAN, Sor-Hoon. Early Confucian Concept of Yi ()and Deliberative Democracy. Political
Theory, [S.L.], v. 42, n. 1, p. 82-105, 31 dez. 2013.
THØGERSEN, Stig. Politisk deltagelse under autoritær kontrol - ”Konsultativt demokrati” og
overget oentlighed i Kina. Slagmark - Tidsskrift For Idéhistorie, [S.L.], n. 69, p. 107-122, 9
mar. 2018.
TRUEX, Rory. Consultative Authoritarianism and Its Limits. Comparative Political Studies,
[S.L.], v. 50, n. 3, p. 329-361, 10 jul. 2014.
TSANG, Steve. Consultative Leninism: China’s new political framework. Journal Of Contem-
porary China, [S.L.], v. 18, n. 62, p. 865-880, 1 nov. 2009.
TSANG, Steve; CHEUNG, Olivia. Has Xi Jinping made China’s political system more resilient
and enduring? Third World Quarterly, [S.L.], v. 43, n. 1, p. 225-243, 21 nov. 2021.
TONG, Dezhi; HE, Baogang. How democratic are Chinese grassroots deliberations? An em-
pirical study of 393 deliberation experiments in China. Japanese Journal Of Political Science,
[S.L.], v. 19, n. 4, p. 630-642, dez. 2018.
VELTMEYER, Henry. James Petras. Scholar and Revolutionary: an appreciation. Critical So-
ciology, [S.L.], v. 35, n. 6, p. 705-718, nov. 2009.
VISENTINI, P. Os paradoxos da Revolução Russa. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017.
YU, Jianxing. Introduction: local governance in chinapast, present, and future. The Palgrave
Handbook Of Local Governance In Contemporary China, [S.L.], p. 1-21, 2019.
WANG, R; GROOT, G. Who Represents? Xi Jinping’s Grand United Front Work, Legitimation,
Participation and Consultative Democracy, Journal of Contemporary China, 27:112, 569-58,
2018.
WEBER, I. Como a China escapou da terapia do choque. São Paulo: Boitempo, 2023.
PAN, Wei. Toward a Consultative Rule of Law Regime in China. Journal Of Contemporary
China, [S.L.], v. 12, n. 34, p. 3-43, fev. 2003.
YANG, Dali L.. China’s Long March to Freedom. Journal Of Democracy, [S.L.], v. 18, n. 3, p.
58-64, 2007.
YU, Bin. Bounded Articulation: an analysis of cppcc proposals, 2008-12. Journal Of Chinese
Political Science, [S.L.], v. 20, n. 4, p. 425-449, 25 jul. 2015.
ZEMIN, J. Reforma e Constrão da China. Rio de Janeiro: Record, 2002.
ZHANG, Kaiping; HE, Baogang; WU, Jinjin. Double trouble? Eects of social conict and fo-
reign investment on consultative authoritarianism in China. Contemporary Politics, [S.L.], v.
27, n. 4, p. 371-396, 18 fev. 2021.
ZHANG, Xiaodan; YAN, Wenjia. Forty-Years of the Modernization of Chinese Socialist Lega-
lity: strategy, lacuna, and outlook. German Law Journal, [S.L.], v. 23, n. 5, p. 691-712, jun. 2022.
52
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 38-52
ZHENG, Yongnian. Explaining the Sources of de facto Federalism in Reform China: intergo-
vernmental decentralization, globalization, and centrallocal relations. Japanese Journal Of
Political Science, [S.L.], v. 7, n. 2, p. 101-126, 23 jun. 2006.
XIA, Guang. China as a “Civilization-State”: a historical and comparative interpretation. Proce-
dia - Social And Behavioral Sciences, [S.L.], v. 140, p. 43-47, ago. 2014.
XIAOJUN, Yan. Regime inclusion and the resilience of authoritarianism: The local people’s po-
litical consultative conference in post-mao Chinese politics. The China Journal. 66. 53-75, 2011.
XIAOPING, D. Selected works. vol II (1975-82). Beijing: Foreign Language Press, 1995.
53
Natalia dos Reis Cruz Aleksandr Dugin, o Projeto Neoeurasianista e a Narrava sobre a Nova Ordem Mundial
Aleksandr Dugin, o Projeto
Neoeurasianista e a Narrativa sobre a
Nova Ordem Mundial.
Aleksandr Dugin, the Neo-Eurasianist Project and the
Narrative of the New World Order
Aleksandr Dugin, el Proyecto Neo-Eurasianista y la
Narrativa del Nuevo Orden Mundial
Natalia dos Reis Cruz1
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2023v11n2p53-70
Recebido em: 16 de Maio de 2024
Aprovado em: 19 de Junho de 2024
RESUMO
O artigo estuda o pensamento de Aleksandr Dugin, ideólogo da extrema direita
russa, formulador do projeto neoeurasianista de inserção da Rússia na ordem
internacional. O objetivo é apresentar a trajetória política de Dugin – destacan-
do sua participação no “Círculo Yuzhinsky”, no Pamyat e no Partido Nacional
Bolchevique -, analisar a apropriação do pensamento tradicionalista de Rene
Guenon e Julius Evola, abordar sua reelaboração do eurasianismo dos anos 1920
e do pensamento eslavólo, bem como a concepção duginista de nova ordem
mundial e o uso das teorias geopolíticas clássicas em seu pensamento geopolíti-
co. A metodologia é descritiva e qualitativa, realizando-se uma análise crítica do
conteúdo. O estudo aponta que Dugin defende um projeto imperialista regional
russo, pois a ideia duginista de uma reorganização multipolar do sistema inter-
nacional em contraposição à hegemonia norte-americana coloca a Rússia como
líder de um projeto imperial no “grande espaço” da Eurásia e como a grande
força hegemônica em um futuro Novo Império de dimensões globais.
Palavras-Chave: Neoeursasianismo; Geopolítica; Tradicionalismo.
ABSTRACT
The article studies the thought of Aleksandr Dugin, ideologist of the Russian
extreme right, who has been standing out in the formulation of neo-Eurasia-
nism, a project of inserting Russia in the international order. The objective of
the study is to present Dugin’s political trajectory - highlighting his participation
in the “Yuzhinsky Group”, in Pamyat and in the National Bolshevik Party -,
analyze the appropriation he makes of the traditionalist thought of Rene Gue-
non and Julius Evola, address his reworking of the 1920s eurasianism and of the
eslavophile thought, in addition to the Duginist conception of the new world
order and the use of classical geopolitical theories in his geopolitical thought.
1. Doutora em História Social pela
Universidade Federal Fluminense e
Docente do Departamento de Relações
Internacionais da Universidade Federal
Fluminense. Contato: natreiscruz29@
gmail.com
54
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 53-70
The methodology is descriptive and qualitative, performing a critical analysis of
the content. The study points out that Dugin defends the russian regional impe-
rialist project, then his idea of a multipolar reorganization of the international
system in opposition to North American hegemony places Russia as the leader
of an imperial project in the “greater” of Eurasia and as the hegemonic power
in a future New Empire of global dimensions.
Keywords: Neo-Eurasianism; Geopolitic; Traditionalism.
RESUMEN
El artículo estudia el pensamiento de Aleksandr Dugin, ideólogo de la extrema
derecha rusa, formulador del proyecto neoeurasianista de inserción de Rusia en
el orden internacional. El objetivo es presentar la trayectoria política de Dugin
- destacando su participación en el “Círculo Yuzhinsky”, en Pamyat y en el Par-
tido Nacional Bolchevique-, analizar la apropiación del pensamiento tradiciona-
lista de Rene Guenon y Julius Evola, abordar su reelaboración del eurasianismo
de la década de 1920 y del pensamiento eslavólo, así como de la concepción
duginista de un nuevo orden mundial y del uso de teorías geopolíticas clásicas
en su pensamiento geopolítico. La metodología es descriptiva y cualitativa, rea-
lizando un análisis crítico del contenido. El estudio señala que Dugin deende el
proyecto imperialista regional ruso, ya que la idea duginista de una reorganiza-
ción multipolar del sistema internacional en oposición a la hegemonía nortea-
mericana sitúa a Rusia como líder de un proyecto imperial en el “gran espacio”
de Eurasia y como la gran fuerza hegemónica en un futuro Nuevo Imperio de
dimensiones globales.
Palabras llave: Neoeursasianismo; Geopolítica; Tradicionalismo
1 INTRODUÇÃO
A globalização neoliberal tornou-se a nova ordem mundial refor-
çada pela desintegração da URSS e pelo discurso da “vitória” do capita-
lismo sobre o socialismo. O mundo pós-Guerra Fria foi inicialmente ca-
racterizado pela hegemonia norte-americana calcada no apoio de aliados
tradicionais e novos membros que entraram na aliança político-militar
herdeira da Guerra Fria, a OTAN.
A nova ordem tinha um componente político e cultural – a defesa
dos Direitos Humanos e a transformação da Democracia liberal como
modelo universal e requisito para os países fazerem parte da comunida-
de internacional. Há uma contradição entre o aspecto normativo desta
nova ordem, que impõe modelos de Democracia, e os princípios básicos
do direito internacional, baseados na igualdade soberana dos Estados e
na não ingerência ou intervenção de um Estado em assuntos internos
de outros.
O neoliberalismo globalizado levou a crises nanceiras, exacerban-
do os problemas do capitalismo, como o aumento das desigualdades so-
ciais, da pobreza e da precarização das condições de trabalho e de vida,
acarretando em um mal estar social e contribuindo para a ascensão da
extrema direita em todo o mundo (Cruz, 2023).
Ao mesmo tempo, novos polos de dinamismo econômico surgiam
na Ásia – entre eles, a China e a Índia, integrados aos mercados globais,
com um capitalismo de forte intervenção estatal na economia. Esses
55
Natalia dos Reis Cruz Aleksandr Dugin, o Projeto Neoeurasianista e a Narrava sobre a Nova Ordem Mundial
novos centros expandem suas economias e disputam espaços com os
países ocidentais na conformação da nova ordem mundial, procurando
construir uma arquitetura nanceira e política em contraposição ao po-
der hegemônico norte-americano (Cruz, 2023). Analistas, como Santoro
(2022), armam que o mundo atual transita para uma ordem multipolar,
que ameaça os interesses dos EUA, marcada pela disputa entre grandes
impérios e nações, assemelhando-se à política internacional anterior à
I Guerra Mundial, havendo um bloco formado pelos EUA e pela União
Europeia, e outro pela China e pela Rússia, resultando em um mundo
instável, contrariando as esperanças de paz entre as grandes potências
que muitos acalentaram com o m da Guerra Fria. Os movimentos e
governos de extrema direita levantam bandeiras contra a nova ordem
internacional liberal globalista.
Entre os atores da extrema-direita atual está Alecksandr Dugin,
criador do neoeurasianismo. Suas ideias visam à recomposição do po-
derio da Rússia nas relações internacionais, contestando a ordem do
pós-Guerra Fria. Seu pensamento contribui para o entendimento das
relações internacionais no mundo após o colapso soviético, visto que é
reforçado pelas mazelas da ordem internacional surgidas com o m da
Guerra Fria.
Colocamos então a seguinte questão: o pensamento de Dugin so-
bre geopolítica envolvendo a Rússia representa apenas uma reação à he-
gemonia norte-americana do pós-Guerra Fria ou sustenta uma proposta
de imperialismo russo a nível regional? Como hipótese inicial, defende-
mos que o projeto geopolítico neoeurasiano de Dugin coloca a Rússia
como líder de um projeto imperial no “grande espaço” da Eurásia.
Em um contexto de fortalecimento da extrema direita mundial,
estudar os seus tentáculos é imprescindível à luta pelos valores democrá-
ticos. O pensamento de Dugin inuencia grupos de extrema direita em
várias partes do mundo, inclusive no Brasil, sendo um exemplo o mo-
vimento Nova Resistência, que se inspira em seu legado. Por isso, com-
preender o seu pensamento e conhecer o seu histórico e sua trajetória
política é muito importante.
O artigo tem três objetivos: apresentar a trajetória política de Dugin
até chegar à sua concepção neoeurasianista; analisar a sua apropriação
do Tradicionalismo de Rene Guenon e Julius Evola para basear o proje-
to geopolítico neoeurasiano; e abordar a sua concepção de nova ordem
mundial em correlação com o projeto neoeurasianista e o aporte teórico
da geopolítica clássica utilizada em seu pensamento.
A metodologia usada é a alise crítica de conteúdo, desvendando
o que está encoberto pelo discurso da multipolaridade e do antiociden-
talismo, para que a natureza real do projeto duginista venha à tona. Será
feita também uma contextualização histórica da Rússia no pós-Guerra
Fria, para elucidar o surgimento do neo-eurasianismo de Dugin.
Na primeira parte do artigo, fazemos um breve histórico da trajetó-
ria política de Dugin, abordando o seu processo de chegada ao pensamen-
to neo-eurasiano. Na segunda parte, analisamos o tradicionalismo no
pensamento duginista. E na terceira parte, focamos nas questões geopo-
líticas da Rússia atual e nas ideias de Dugin sobre a nova ordem mundial.
56
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 53-70
2 A TRAJETÓRIA POLÍTICA DE ALECKSANDR DUGIN
Dugin passou a juventude na URSS e teve contato com o “rculo
Yuzhinsky” – sociedade intelectual secreta fundada por Evgenii Golovin
(dissidente do governo soviético) e Iury Stefanov (poeta e tradutor de li-
teratura francesa). O grupo fazia oposição ao regime soviético, se inte-
ressava por Fascismo, Nazismo, misticismo, nacionalismo e ocultismo e
defendia ideias rejeitadas pela intelectualidade dominante, possibilitando
aos seus membros se rebelarem no “mundo oculto de suas psiques”, não
alcançável pelo poder do Estado (Teitelbaum, 2020, p. 47).
Dugin conheceu o Tradicionalismo frequentando a Biblioteca de
nguas Estrangeiras e a Biblioteca Lênin (Sedgwick, 2020, p. 391). Após
o m da URSS, ele se opôs às reformas liberais e fez parte de vários mo-
vimentos. Um deles foi o Pamyat - Frente Nacional Patriótica “Memória”,
organização neonazista e antissemita criada em 1987, que se autoidenti-
cava como “Movimento Cristão-Ortodoxo Nacional-Patriótico do Povo
e objetivava preservar a cultura russa e defender o reavivamento nacional
e espiritual do povo russo, com base nos valores tradicionais de ortodo-
xia, caráter nacional e espiritualidade (Korey, 2007).
Após as reformas liberais na Rússia, Dugin mudou sua visão do
passado soviético, porque a Rússia havia perdido o status de grande po-
tência e a capacidade de intervir autonomamente no sistema internacio-
nal, enfraquecendo-se diante da hegemonia norte-americana. O desejo de
recuperar o passado de grande potência o levou a se aproximar de lideran-
ças do Partido Comunista da Rússia, como Gennadi Ziuganov, que tam-
bém rejeitavam o capitalismo liberal introduzido no país. Dugin cons-
truiu a Quarta Teoria Política, para superar o Liberalismo, o Fascismo e
o Comunismo, mas apontando para a existência de aspectos positivos a
serem aproveitados nos dois últimos.
Dugin fundou o Partido Nacional Bolchevique (PNB), junto com
Eduard Limonov, poeta e romancista russo. (Sedgwick, 2020, p. 395 e
409).2 O partido era anticomunista e defendia a unidade dos povos eslavos
da Eusia com base na inuência da Igreja Ortodoxa e em formas comu-
nitárias tradicionais de vida (Vasconcelos, 2022, p. 19).
Os eslavólos foram os primeiros intelectuais russos que deni-
ram uma identidade russa em contraste com a identidade europeia e a
enfatizar que a história russa deveria seguir seu próprio caminho, ha-
vendo uma oposição entre religião e solidariedade social russas e racio-
nalidade e decadência moral europeias. Para os eslavólos, o “nós” eram
todos os eslavos, e “eles” os europeus (a civilização romano-gernica)
(Sedgwick, 2020, p. 399).
Os eurasianos da década de 1920 mantiveram parte do pensamento
eslavólo, armando o “organicismo russo e eurasiano” em oposição à
secularização, à atomização e ao individualismo ocidentais. Assim como
os eslavólos, o “eles” seriam os europeus, mas o “nós” limitavam-se aos
russos e povos de estepe eurasiana (Sedgwick, 2020, p. 400).
A Eurásia seria uma civilização com contornos próprios – histó-
ricos, econômicos, culturais, linguísticos, étnicos e geográcos -, que se
diferenciava da Europa e da Ásia e seria não democrática e não capitalista.
2. Para a compreensão das origens do
nacional-bolchevismo, ver Klemperer
(1951).
57
Natalia dos Reis Cruz Aleksandr Dugin, o Projeto Neoeurasianista e a Narrava sobre a Nova Ordem Mundial
Combatia-se a inuência do Ocidente (livre mercado, individualismo e
imperialismo britânico e francês), defendia-se a identidade dos povos
Orientais, considerados não-europeus, e rejeitava-se o pluralismo político
e a democracia parlamentar (Vasconcelos, 2022, p. 20).
Após sair do Partido Nacional Bolchevique, Dugin fundou o
Movimento Neoeurasiano, reelaborando o pensamento eurasiano origi-
nal à luz do contexto atual da luta geopolítica contra a hegemonia norte-
-americana, fazendo uso da geopolítica clássica e do Tradicionalismo; a
Rússia representaria a luta contra a decadência do Ocidente e a defesa da
Eurásia frente ao ocidentalismo liderado pelos EUA.
Para Dugin, a Rússia adota práticas políticas inadequadas às estru-
turas de sua civilização, como o socialismo marxista e o liberalismo dos
EUA. A teoria neoeurasiana recuperaria a Rússia, livrando-a de “leis uni-
versais exteriores à sua própria identidade” (Camargo, 2018, p. 16). São
valorizadas ideias nascidas da tradição, da história e do Estado russos. O
povo russo comporia uma “comunidade eurasiana completamente úni-
ca”, com um caminho histórico próprio e seu programa nacional e estatal
não coincide com o da tradição ocidental europeia” (Dugin, 2014, p. 13).
A perspectiva holista e estruturalista tornaria o eurasianismo es-
pecíco, diferenciando a civilização russa do individualismo ocidental e
opondo-se a universalismos e a perspectivas evolucionistas, que acredi-
tam no progresso inevitável para todas as sociedades, impondo um mo-
delo de desenvolvimento único e desrespeitando as especicidades das
diferentes civilizações (Dugin, 2012).
Dugin usa um conceito de civilização baseado no “Kultur” de
Norbert Elias, que “dá ênfase a diferenças nacionais e à identidade par-
ticular de grupos”, e não o sentido de civilização como algo superior ao
rbaro”. (Elias, 1994 apud Camargo, 2018, p. 19). Com base na ideia
de pluralidade e diversidade, Dugin aproveita do Nazismo a noção de
Ethnos, usando o conceito de Etnocentrismo, valorizando o que perma-
nece intacto na formação social de um povo. Para defender o Ethnos, ele
se baseia, entre outros, na escola alemã de sociologia étnica – incluindo
Wilhelm Mühlmann e Richard Thurnwald (Dugin, 2012, p. 76).
Compartilhamos da visão de Segrillo (2016, p. 287-88), segundo a
qual a visão de mundo tradicionalista é uma grande inuência em suas
obras de geopolítica. Dugin defende que, entre a Geopolítica e a Tradição,
haveria laços sagrados, pois, apesar de ser uma ciência secular e “profa-
na”, manteria ainda relações com as “ciências tradicionais”. Como ela é
frequentemente considerada uma “pseudociência”, isto sinaliza que não
sofreu uma “profanação” completa e irreversível (Dugin, 1997, L. 1, pt. 6,
cap. 6.1 Apud Segrillo, 2016, p. 297).
Abordaremos então a visão de mundo tradicionalista de Dugin, sem
a qual é impossível compreender o seu projeto geopolítico para a Rússia.
3 DUGIN E O TRADICIONALISMO
René Guenon e Julius Évola são duas inuências sobre o pensa-
mento tradicionalista duginista. René Guenon nasceu em 1886 no Cairo,
Egito, e foi fundador da escola tradicionalista e perenialista. Era crítico
58
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 53-70
da modernidade ocidental, por ser afastada do transcendente e opres-
sora de tradições espirituais. Falava em “crise da modernidade”, sendo
descrente em relação ao progresso, à evolução contínua da humanidade
e aos valores do mundo moderno. As tradições dependeriam de rituais
iniciáticos para o contato com uma Verdade Primordial; o afastamento
desta Verdade levaria as sociedades a uma era obscura, até explodir em
luz novamente, reiniciando-se todo o ciclo.
Para Guenon (2009), o Cristianismo, envolto na modernidade oci-
dental, se afastou das práticas esotéricas iniciáticas e se limitou ao exo-
terismo - dogmas, doutrinas e rituais de massa voltados apenas para a
salvação da alma. Estaria então no Oriente as práticas religiosas ainda
voltadas para a iniciação.
O Tradicionalismo caracteriza-se pelos seguintes elementos: 1) re-
jeição da modernidade (declínio da religião em favor das coisas materiais;
fé no progresso e defesa da liberdade e da igualdade; etc). 2) Visão cíclica
do tempo (com um ciclo de quatro idades – ouro, prata, bronze e idade
sombria), que levaria à decadência e ao retorno à idade inicial após um
evento cataclismático, reiniciando-se o ciclo decadente. 3) Visão hierár-
quica dos grupos sociais (existência de castas diferentes de pessoas, com
cada idade sendo governada por uma delas: era de ouro – sacerdotes e teo-
cracia; era de prata – guerreiros e Estado militar; era de bronze – comer-
ciantes e plutocracia; era sombria – massas e democracia ou comunismo)
(Teitelbaum, 2020, p. 20-22).
Os tradicionalistas rejeitam a ciência, o racionalismo e a objetivi-
dade, e veem o Iluminismo como opressivo e reducionista. O aumento
da inuência do tradicionalismo deve-se à síntese realizada por Guenon
de ideias e elementos em sua maioria já parte do pensamento ocidental,
como a Inversão – a sabedoria poderia ser encontrada no Oriente, pois o
Ocidente teria regredido; o Perenialismo – as religiões possuem fragmen-
tos de uma religião nuclear original, a Verdade Primordial; e a Iniciação
– rituais iniciáticos ou práticas esotéricas (Sedgwick, 2020, p. 505 e 507).
Julius Évola, por sua vez, conduziu o Tradicionalismo para a ex-
trema-direita. Nascido em 1898, em Roma, Itália, Évola foi lósofo e es-
tudioso das religiões, e se relacionou com o Fascismo e o Nazismo, mas
rompeu com os dois por discordâncias, embora concordasse com os seus
pilares - antiliberalismo, anti-igualitarismo, antidemocratismo (Ferraresi,
2012).
Évola (1934) defendia a volta ao paganismo e a um passado “hiper-
bóreo” comum às estirpes indo-europeias. Possuía, assim como Guenon,
uma visão hierárquica das castas, associando as ideias das revoluções bur-
guesas de cunho liberal e democrático e o socialismo à decadência das
sociedades, pois representariam respectivamente, a “terceira casta” e a
quarta casta” (Évola, 2012).
Évola via a raça como elemento ordenador dos homens, defenden-
do a superioridade dos mais brancos e arianos em relação aos indivíduos
de pele mais escura, os semitas, os africanos e outros povos não-arianos.
Considerava como superior o elemento masculino em relação ao fe-
minino, enquanto em termos geogcos, o norte estaria acima do sul
(Teitelbaum, 2020, p. 23).
59
Natalia dos Reis Cruz Aleksandr Dugin, o Projeto Neoeurasianista e a Narrava sobre a Nova Ordem Mundial
Dugin absorve e reelabora parte do pensamento guenoniano e evo-
liano. No caso de Guenon, ele rejeita a sua compreensão do Cristianismo,
armando que as críticas guenonianas só cabiam ao Catolicismo ociden-
tal, e não à Igreja Ortodoxa, pois esta não haveria perdido sua “vitalidade
iniciática”. O Tradicionalismo duginiano conduz, não ao susmo islâmi-
co – como Guenon -, mas à ortodoxia russa como prática esotérica e exo-
rica (Sedgwick, 2020, p. 397).
Dugin discorda da visão evoliana da religião cristã como igualitária
e universalista, por ver o Cristianismo ortodoxo como hierárquico, basea-
do nas práticas iniciáticas de uma elite espiritual. Algo próximo ao que
Guenon acreditava ter existido no Cristianismo ocidental e que se perdeu.
O Tradicionalismo inspira a crítica de Dugin às inuências do
Ocidente sobre a a cultura e os modos de vida de outras sociedades. Ele
combina Tradicionalismo e neoeurasianismo, construindo um discurso
antiocidental em defesa da civilização eurasiana, do coletivo e do holís-
tico, como fundamento de um projeto de fortalecimento da Rússia no
cerio internacional.
4 DUGIN E A NOVA ORDEM MUNDIAL
Para compreendermos por que o neoeurasianismo tornou-se uma
alternativa à Rússia do pós-Guerra Fria, é importante salientar o enfra-
quecimento econômico e geopolítico russo nos anos 1990, após a disso-
lução da URSS. O governo Boris Yeltsin foi um período de subordinação
russa aos interesses do Ocidente. Adotava o neoliberalismo e estava de-
pendente econômica e nanceiramente dos países ricos ocidentais. Na
política externa, priorizava as relações com a Comunidade de Estados
Independentes (CEI), então formada por 12 ex-repúblicas soviéticas, em
detrimento da segurança russa frente à OTAN e aos EUA, acreditando-se
em uma estreita interação com o Ocidente (Zhebit, 2019, p. 423 e 424).
Ao assumir o Ministério da Defesa e das Relações Exteriores,
Evguêni Primakov3 criticou a política pró-ocidental do antigo ocupan-
te da pasta, Andrei Kozyrev, e centralizou a condução da diplomacia no
Ministério das Relações Exteriores, mudando a política externa russa
(Larrabee; Karacik, 1997 Apud Zhebit, 2019, p. 424). Saint-Pierre (2024)
fala de uma inexão da história, pois um conjunto de atores se organizava
para reagir às tentativas de controle unipolar do mundo pelos EUA, consi-
derando seus próprios interesses geopolíticos, econômicos e estratégicos.
Primakov foi o artíce da articulação russa junto a países em desen-
volvimento. Visitou a América Latina4, a Índia e a China, almejando uma
política russa multivetorial e um trilateralismo russo-sino-indiano, devi-
do à permanência da OTAN e à atuação norte-americana como “superpo-
tência”. Lançou a ideia do “trngulo estratégico” com a Índia e a China,
em 1998, para uma nova arquitetura multipolar da política internacional,
embora não houvesse a proposta de uma aliança militar (Primakov, 2015
apud Zhebit, 2019, p. 440). Antes, houve a declaração russo chinesa so-
bre o mundo multipolar e a formação de uma nova ordem internacional
(abril de 1996) e, posteriormente, a declaração sobre a parceria estratégica
com a Índia (outubro de 2000) e o Tratado de Boa Vizinhança, Amizade
3. Foi Presidente do Conselho da União
do Soviete Supremo durante o governo
de Gorbachev (1989-1990) e dirigente do
Serviço Central de Inteligência soviético
em 1991. Nos anos 1992-1995, dirigiu o
Serviço de Inteligência Externa da Fede-
ração da Rússia (1992-1995), foi ministro
das Relações Exteriores (1996-1998), pri-
meiro-ministro do Governo da Federação
da Rússia (1998-1999), deputado da Duma
(2000-2001), presidente da Câmara de Co-
mércio e Indústria da Rússia (2001-2011).
4. Na segunda metade da década de
1990, Primakov visitou México, Cuba e
Venezuela em 1996 e Brasil, Colômbia e
Costa Rica em 1997. Quanto ao Brasil,
uma aproximação mais estreita iniciou-se
no governo FHC, com a criação de uma
plataforma de cooperação na política
internacional e a assinatura de um
comunicado conjunto sobre a criação da
Comissão de Alto Nível de Cooperação,
lançando os alicerces de uma parceria
estratégica bilateral. (Zhebit, 2019, p. 440)
60
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 53-70
e Cooperação com a China (julho de 2001), estes dois últimos concretiza-
dos no governo de Vladimir Putin (Zhebit, 2019, p. 440).5
Primakov não aceitou as analogias entre a Rússia pós-soviética e a
Alemanha e o Japão do pós II Guerra Mundial, pois estes barganharam
sua soberania nas relações internacionais integrando-se nos contornos da
arquitetura ocidental de segurança, o que não era o projeto russo, e o le-
gado de Primakov vem sendo aprimorado e consolidado por Putin.
Há acadêmicos que enfatizam a relação entre as ideias de Dugin
e as ações do governo putinista. Shekhovtsov (2008), arma que o apoio
de Primakov à corrente neoeurasiana levou Dugin a se destacar a par-
tir de 1999, ao se tornar assessor de Gennadiy Seleznyov, presidente da
Duma Estatal, que exigiu a inserção dos escritos de Dugin na educação
escolar, além de ter aumentado sua rede após a criação do Movimento
Internacional Eurasiano (2000), com a participação de nomes importan-
tes, como o presidente do Comitê Internacional do Conselho da Federação
Russa, Mikhail Mangelov.
Na mídia ocidental, Dugin é caracterizado como o “guru” do go-
vernante russo. Mas consideramos um exagero, visto que o real impulsio-
nador da mudança na política externa russa foi Primakov.
Segundo Barros (2019), não se pode confundir correlação de ideias
com relação causal. Para ele, Dugin não tem qualquer inuência prá-
tica na elaboração das atuais políticas russas.6 Há um estudo da Rand
Corporation, de 20177, que arma a pouca inuência de Dugin sobre as
elites russas, pois Dugin advoga a “desintegração territorial, a fragmen-
tação e a divisão política e administrativa do estado chinês”, algo não
realista e sem adesão entre as autoridades russas. Dugin chegou a ser
exonerado de seu cargo na Universidade Estatal de Moscou, após pregar a
morte dos nacionalistas ucranianos, e formulou várias críticas às políticas
de Putin na Ucrânia (Barros, 2022).
Segrillo (2016, p. 342-343) atesta que Dugin é o maior nome do eu-
rasianismo russo e há grande inuência de sua obra geopolítica em altos
rculos do poder, principalmente entre as forças armadas, onde seu ma-
nual de geopolítica é adotado nas escolas militares, pois há um vácuo de
conhecimento em Geopolítica herdado do período soviético, quando a dis-
ciplina era considerada “burguesa”, por não enfatizar a luta de classes. A
obra de Dugin preencheu este vácuo, por ser um compêndio da literatura
clássica em Geopolítica, o que é muito útil às academias militares russas.
Mas Segrillo arma que Dugin permanece “marginal” na Rússia devido ao
radicalismo de suas ideias. O elogio de Putin ao eurasianismo como patr-
tico limita-se à ala moderada do movimento, por temor “de alienar setores
da população russa que discordam do eurasianismo radical de Dugin”.
No caso da Guerra da Ucrânia, o acadêmico Sergey Karaganov,
amigo do Ministro da Relações Exteriores, Sergei Lavrov, é o grande
conselheiro do governante russo, tendo formulado a Doutrina Putin, que
interpreta o espaço pós-soviético como área de inuência da Rússia, onde
o Estado russo deve atuar em defesa da identidade russa e dos direitos das
populações russófonas (Hage, 2022, p. 11).
Dugin utiliza autores cssicos da geopolítica, entre eles Carl
Schmitt, incorporando os seguintes elementos da teoria schmittiana: o
5. O chamado RIC (Rússia, Índia e
China), ou o diálogo trilateral, começou
a funcionar em 2003, como um meca-
nismo diplomático que contribuía para
amenizar os conflitos entre os países
membros e fortalecia a cooperação
multilateral entre eles na ONU e nos
grupos de governança internacional.
(Zhebit, 2019, p. 441)
6. George Barrosé um analista de
Washington especializado em Ucrânia e
Rússia e pesquisador noInstitute for the
Study of War.
7. Russian Views of The International
Order. Disponível em https://www.
rand.org/content/dam/rand/pubs/
research_reports/RR1800/RR1826/
RAND_RR1826.pdf
61
Natalia dos Reis Cruz Aleksandr Dugin, o Projeto Neoeurasianista e a Narrava sobre a Nova Ordem Mundial
conito histórico entre potências marítimas e potências terrestres, com
os EUA fazendo parte das primeiras e a Rússia das segundas; crítica ao
universalismo liberal e ao positivismo jurídico na conformação da ordem
internacional; defesa de um equilíbrio de poderes baseado no multipola-
rismo dos “Grandes Espaços” dominados por diferentes potências; crítica
à hegemonia norte-americana, ao seu globalismo e à imposição dos seus
interesses mascarados na defesa da liberdade e da democracia.
Para Schmitt, antes dos EUA tornarem-se a potência marítima he-
gemônica, a ordem internacional estava dividida em grandes espaços de
poder e, inclusive, a Doutrina Monroe (a América para os americanos) se-
ria inspirada nesta ideia. A partir dos governos dos presidentes estaduni-
denses Theodore Roosevelt e Woodrow Wilson, passou a predominar a
visão liberal-capitalista da “diplomacia do dólar”, transformando a “terra
em um mercado capitalista global” (Schmitt, 2009, p. 105 e 106).
Esta forma de agir estaria relacionada com a forma marítima de
pensamento e ordenamento social e econômico, e a história universal
seria permeada pela luta entre as potências marítimas (que tendem a não
respeitar fronteiras e espaços demarcados) e as potências terrestres (que
tendem a delimitar fronteiras no espaço). As “civilizações do mar” ou “ta-
lassocráticas” baseiam-se no sistema de comércio, no individualismo, na
disposição à evolução tecnológica, na industrialização e na modernidade;
já as “civilizações da Terra” ou “telúricas” baseiam-se em regras conser-
vadoras e hierárquicas e em valores como delidade, honra e trabalho
(Schmitt, 1952, p. 111-13).
Schmitt difundiu uma visão binária entre potências que pilham os
territórios alheios (as marítimas) e potências que possuem suas riquezas
pelo trabalho (as terrestres). Uma dicotomia que desconsidera o papel do
capitalismo nos expansionismos territoriais. Apenas a forma da expansão
pode ser explicada pelas características geográcas dos países, não a ex-
pansão em si, que está ligada à reprodução ampliada do capital.
Dugin reproduz a forma schmittiana de pensar, colocando a Rússia,
enquanto potência terrestre, no papel de vítima, e os EUA, enquanto po-
tência marítima, no papel de algoz do globalismo, sem atentar para a na-
tureza do sistema capitalista que baseia as disputas geopolíticas, escamo-
teando o fundamento materialista do problema da hegemonia norte-ame-
ricana e ocultando a pretensão de hegemonia russa, ainda que regional.
Os EUA seriam os principais arquitetos da Nova Ordem Mundial.
A democracia liberal, a “ideologia dos direitos humanos” e o livre merca-
do tornaram-se padrões aceitos em todo o mundo. Para isso, haveria ts
caminhos possíveis, reetindo posicionamentos diferentes de grupos he-
terogêneos norte-americanos: o projeto dos neoconservadores de criação
de um Império Americano, baseado em uma área central desenvolvida
em consonância com espaços externos fragmentados e divididos; o proje-
to dos democratas (ao qual ele associa o ex-Presidente Barak Obama) de
criação de uma unipolaridade multilateral, sustentada na cooperação dos
EUA com “poderes amistosos” na solução de problemas regionais (entre
eles Canadá, Europa, Austrália, Japão, Israel, etc) e na pressão contra paí-
ses inimigos (como Irã, Venezuela, Bielorrússia, Coreia do Norte) e paí-
ses que lutam para assegurar sua independência regional (como a Rússia
62
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 53-70
e a China); e o projeto do Conselho de Relações Internacionais (CFR)
- George Soros e suas fundações - de criação de um Governo Mundial,
com a globalização acelerada e a destruição da soberania dos Estados na-
cionais, surgindo o governo de uma elite global (Dugin, 2012, p. 22).
Dugin aponta para a ameaça chinesa à hegemonia americana e cita
outros países que tentam contrabalançar esta hegemonia - a Rússia, o Irã
e a Venezuela - e controlam vários recursos naturais, limitando a inuên-
cia americana. Refere-se também à Comunidade Europeia e ao Japão
como dois polos de competição entre os parceiros estratégicos e militares
dos EUA. (Dugin, 2012, p. 22-24)
Os termos “etnocentrismo e imperialismo” têm a função na narrati-
va duginista de apresentar a Rússia como uma das vítimas do processo de
dominação norte-americano, ofuscando o projeto hegemônico e também
imperialista russo. O conceito de imperialismo é acompanhado da ênfase
nos fatores étnico culturais, pois as vítimas seriam “países, Estados, po-
vos, culturas”, e não classes sociais.(Dugin, 2012, p. 26), O sistema capita-
lista não é criticado em sua infraestrutura econômica e social, as classes
sociais oprimidas não são o foco de sua alise e há uma idealização da
nação, povo ou cultura russos”.
Atores “tercrios” ou “secundários”, múltiplos e heterogêneos,
perderiam com o sucesso da estratégia dos EUA. Eles são agrupados por
Dugin em categorias diferenciadas. Na primeira categoria, estariam os
Estados nacionais independentes que não se submetem a uma autoridade
supranacional exterior. Preocupados em preservar sua soberania, esses
países se subdividiriam em um primeiro grupo, que adapta suas socie-
dades e mantêm relações amigáveis com os EUA e o Ocidente (Rússia e
Cazaquistão, Brasil, Índia e Turquia); um segundo grupo disposto a coo-
perar com os EUA sem permitir a interferência em seus assuntos internos
(Arábia Saudita e Paquistão); um terceiro grupo que, ainda que coopere
com os EUA, ltra o que não é compatível na cultura ocidental com a sua
própria cultura e se benecia da cooperação para fortalecer sua indepen-
dência nacional (China, principalmente); e um último grupo que se opõe
aos valores ocidentais e à hegemonia americana (I, Venezuela e Coreia
do Norte) (Dugin, 2012, p. 25-26).
A segunda categoria de projeto não americano seriam os grupos
subnacionais, movimentos e organizações opostos ao americanismo por
razões ideológicas, religiosas e/ou culturais. Nesta categoria estaria o
projeto Eurasiano, multipolar ou de “Grandes Espaços”, baseado no con-
ceito de civilização (Dugin, 2012, p. 26). Este é o projeto do qual Dugin
mais se aproxima, daí sua valorização da obra de Huntington.
Vemos que Dugin é bastante crítico da ordem mundial calcada no
sistema de Estados nacionais, no modelo westfaliano (Dugin, 2012, p. 26).8
Tal crítica está ligada a um projeto de construção de um Império eurasiano,
em que a Rússia seria o centro hegemônico. O modelo de Estados-nação
seria um empecilho à dominação imperial russa na região da Eusia. Há
uma contradição no seu discurso anti-imperialista, pois ele é conveniente
à contraposição duginiana à hegemonia norte-americana mas, no campo
regional, o projeto geopolítico é o de apagamento das soberanias nacio-
nais na forma de Estados-nação em proveito de impérios regionais.
8. O sistema westfaliano inaugurou
o moderno sistema internacional,
estabelecendo os princípios da sobe-
rania estatal, Estado-nação, igualdade
jurídica entre os Estados, a territoria-
lidade e a não-intervenção, e trouxe
a noção de que uma paz duradoura só
seria alcançada por meio do equilíbrio
de poder entre os Estados. Ver Aron,
Raymond. Paz e guerra entre as nações.
UNB/IPRI, 2002.
63
Natalia dos Reis Cruz Aleksandr Dugin, o Projeto Neoeurasianista e a Narrava sobre a Nova Ordem Mundial
Dugin é, portanto, defensor da forma política do Império como
a mais adequada para a Rússia, pois o modelo Estado-nação teria uma
natureza secular e uma concepção de “nação” baseado no “conjunto de
cidadãos”, e não no “povo” holístico e orgânico, sendo também calcado
em valores profanos e burgueses, e não em uma “ideia divina” (como a
teocracia ou o “Santo Império”), constituindo-se em uma “ditadura da
lei” (“nomocracia”), que dá grande poder aos juristas e aos burocratas. A
Rússia, ao contrário, teria preservado os elementos teocráticos e o prin-
cípio aristocrático e, mesmo durante o período soviético, mantiveram-se
“profundas tradições nacionais imperiais”. (Dugin, 1997 apud Segrillo,
2016, p. 324 e 325).
O modelo é civilizacional, e não nacional, por isso Dugin utiliza
Samuel Huntington (1994), que enfatiza o “conito de civilizações”. Não
se trata de Estados-nações soberanos, mas identidades culturais regio-
nais, o que nos traz uma luz para o projeto imperial de Dugin. As civili-
zações - que podem ou não entrar em choque – se opõem à globalização
(Dugin, 2012, p. 144-145), que homogeniza as culturas com base na forma
ocidental americana de ser.
Embora Dugin critique a tese do conito de Huntington, acredi-
tando ser possível o convívio entre as civilizações, aproveita dele a ideia
de civilizações distintas, através da noção alemã de Kultur, bem como o
uso do conceito de civilização para substituir a alise de classe e a utopia
liberal. E critica Fukuyana (1992), pelo universalismo de sua tese do “m
da história” e pela defesa do modelo das sociedades baseadas no mercado,
na democracia e nos direitos humanos (Dugin, 2012, p, 278).
A importância de Huntington para a assertiva de Dugin deve-se
também por ele apontar que as civilizações podem ser atores globais
em substituição ao Estado-nação, que vem perdendo a soberania sob a
inuência da globalizão (Dugin, 2012, p. 280). A perda de poder dos
Estados-nação é um imperativo reivindicado por Dugin para a defesa de
uma ordem internacional baseada em grandes impérios construídos em
torno de um país-chave que represente uma civilização e seja o guar-
dião dela. No caso, a civilização eurasiana teria o Estado russo como seu
guardião.
Uma “globalização regional, não mais universalista, levaria à
união de países e nações pertencendo à mesma civilização”. Dugin se
inspira no pensamento de Georg Friedrich List, que formulou o princí-
pio da “autarquia econômica dos grandes espaços”, a partir da consta-
tação de que o livre mercado mundial benecia apenas os países ricos
em detrimento dos menos desenvolvidos ou pobres, defendendo assim
o protecionismo, o dirigismo e as restrições alfandegárias para atingir a
independência nacional, estatal e estratégica. O livre comércio deveria
existir apenas dentro dos Grandes Espaços, entre os países que o com-
põem (Dugin, 1997, Liv. 1, Pt. 4, cap. 8.1).
Dentro dos “Grandes Espaços” haveria uma “inclusão social, mas
não com respeito a todos sem distinção, mas para aqueles que pertencem
ao tipo comum da civilização. (Dugin, 2012, p. 285) A inclusão duginista
revela, portanto, uma exclusão dos que não pertencem à civilização dos
Grandes Espaços.
64
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 53-70
Do ponto de vista de Huntington (1994), os “grandes espaços” se-
riam as seguintes civilizações: 1) Ocidental; 2) Confuciana (Chinesa); 3)
Japonesa; 4) Islâmica; 5) Hindu; 6) Eslavo-Ortodoxa; 7) Latino-americana;
8) Africana. Dugin discorda desta divisão, por colocar dentro da “civili-
zação ocidental” os EUA, o Canadá e a Europa, que são distintos quanto
aos interesses estratégicos, econômicos e geopolíticos, e formariam “dois
grandes espaços” dentro da civilização ocidental. A Europa teria “duas
identidades”, o lado “atlantista” (baseado no Reino Unido e na Europa
Oriental, associados aos EUA) e o lado “continental” (com postura mais
independente, tendo como base a França, a Itália e a Espanha, ou seja, a
“velha Europa”) (Dugin, 2012, p. 288).
Dugin não concorda que haja uma “civilização islâmica” de um
lado, e uma “eslava ortodoxa” de outro, pois a parte eurasiana incluiria
não somente os eslavos, e não apenas ortodoxos, mas também outros
grupos étnicos (incluindo túrquicos, caucásicos, siberianos etc) e uma con-
siderável parte da população que professa o Islã. (Dugin, 2012, p. 288) E o
mundo islâmico” seria dividido em vários “grandes espaços”: “o “mundo
Árabe”, a “zona continental do Islã” (Irã, Afeganistão e Paquistão) e a re-
gião do Pacíco com inuência muçulmana”, incluindo neste grupo tam-
bém a “África muçulmana” e as “comunidades muçulmanas na Europa e
na América” (Dugin, 2012, p. 289).
Para Dugin, o divisor de águas é a questão geopolítica, ao armar
que uma mesma civilização divide-se em mais de um “grande espaço”,
além de colocar em um mesmo “grande espaço, o “Eurasiano, popula-
ções étnico culturais e religiosas distintas. Pressupõe-se que o que está
em jogo é o interesse geopolítico russo de ter domínio sobre um dado
espaço da Eusia.
Huntington e Dugin desconsideram as diferenças e conitos den-
tro desses agrupamentos colocados dentro de uma única civilização.
Segundo Said (2001), existe uma negligência com a dimica e a plurali-
dade internas de cada civilização” e com a disputa quanto “à denição ou
interpretação de cada cultura” existente dentro delas. Como exemplo, os
muçulmanos se dividem por diferenças sociais e culturais (dependendo
da região ou país em que residam) e muitas vezes se identicam mais com
seus nacionais do que com os muçulmanos de outras nacionalidades (Ali,
2002, p. 380). O mesmo podemos falar da chamada “civilização ociden-
tal, se considerarmos a herança judaico-cristã, que se divide em católicos
e protestantes.
A divisão em “civilizações”, a pretexto de construir uma “ordem
internacional multipolar” e “plural, traz em seu bojo um projeto homo-
geneizador e imperial para dentro dos chamados “grandes espaços”. O
projeto duginiano é uma espécie de versão russa da “América para os
americanos” e da “Ásia para os japoneses”. Estaria Dugin defendendo “A
Eurásia para os russos?”
Existiriam três projetos globais e suas três respectivas armas - o
poder militar (Rússia e China), a economia de mercado (elites globalis-
tas - grandes conglomerados nanceiros) e o fundamentalismo islâmi-
co (Lideranças e governos muçulmanos), representando as três funções
clássicas da sociedade tradicional - “os sacerdotes religiosos (brâmanes),
65
Natalia dos Reis Cruz Aleksandr Dugin, o Projeto Neoeurasianista e a Narrava sobre a Nova Ordem Mundial
os guerreiros (chátrias) e os comerciantes (vais). O ‘militarismo russo-
-chinês’ e a ‘Irmandade Muçulmana, representantes dos valores hierar-
quicamente superiores nas sociedades tradicionais, deveriam se unir para
derrubar a Ordem Mundial Americana, representante do materialismo
(Dugin, 2012, p. 39-40)
Quanto à China, Dugin parece ter mudado de perspectiva, pois
em um trabalho anterior, a China não estava incluída como parceira da
Rússia, pois ela teria se afastado da tendência eurasiana existente no pe-
ríodo maoista, considerando as reformas econômicas chinesas dos anos
1980 como uma inexão para o “modelo atlantista. Havia então o proje-
to de enfraquecer a China, apresentada como um real inimigo que “pre-
cisaria ser desmantelado. O desmembramento da China começaria pela
anexação russa do Tibet, do Xinjiang, da Manchúria e da Mongólia, for-
mando um “cinturão de seg urança”. (Dugin, 1997, Liv. 1, Pt. 4, cap. 4).
No campo da geopolítica clássica, encontramos conceitos e concep-
ções que aparecem nas obras de Dugin. Halford Mackinder, base da geopo-
lítica inglesa e norte-americana, via o mundo dividido em duas zonas an-
tagônicas – o centro da massa continental eurasiana e a ilha mundial (zona
oceânica). Se uma potência controlasse a massa continental (o heartland),
ameaçaria a ilha mundial. A principal área de interesse geopolítico seria
a Eurásia, ocupada pela Rússia, podendo haver uma aliança Alemanha-
Rússia para controlar a Europa Oriental, o heartland e, em consequência a
ilha mundo, chegando ao controle mundial (Mackinder, 1904).
O “mapa geopolítico clássico de Mackinder” é citado por Dugin,
que localiza nele a Rússia e a China atuais. Segundo ele, o cerne do mun-
do global é atntico – a potência marítima mor são os EUA – e a Rússia
e a China são a Eurásia, que representa o “heartland. Os EUA, o Poder
Marítimo, lutam pelo controle da Zona Cardinal (Heartland) para domi-
nar o mundo e impor seus valores, e confrontam-se com as forças eurasia-
nas (Rússia-China) (Dugin, 2012, p. 41-42). A preocupação dos EUA seria
evitar que a Rússia e a China tenham o controle da Eurásia e ameacem o
poder norte-americano.
Outro autor utilizado por Dugin é Spykmen, que formulou o concei-
to de Rimland, semelhante ao de “crescente interior” – área da Eusia no
contorno do heartland. Segundo ele, os aspectos geogcos determinam
ao longo da história dois padrões principais de disputas entre as potências
da Eusia: o primeiro, potências do Heartland e algumas potências do
Rimland contra outras potências do Rimland aliadas a uma potência na-
val; o segundo, alianças entre potências do Heartland e potências navais
contra um poder dominante no Rimland. Enquanto para Mackinder o
controle do heartland é mais importante, para Spykmen, o Rimland seria
a chave das disputas geopolíticas mais importantes da Eusia, quem do-
minasse o Rimland deniria o futuro da Eurásia (Spykman, 1944).
A importância de Spykmen para Dugin é o seu enfoque na Eurásia,
colocando a Rússia como a potência do heartland, e a importância dada
ao controle do Rimland, tornando-o útil para a preocupação duginista
de proteger a Rússia das investidas norte-americanas no território antes
pertencente à antiga URSS ou parte de sua área de inuência – como a
Europa Oriental.
66
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 53-70
Dugin situa a Europa Ocidental em um Rimland em relação à
Eurásia, vendo-a como uma espécie de “zona-tampão” ou “apêndice es-
tratégico dos EUA no âmbito da OTAN, e considera os países europeus
ocidentais como “colônias” norte-americanas, dominados pelos interesses
estratégicos dos EUA no pós-Segunda Guerra Mundial. Mas vê a possibi-
lidade de a Europa Ocidental se aliar à Eurásia, percebendo a existência
de “dois Ocidentes” com signicados diferentes: o “Ocidente-como-EUA
seria um adversário geopolítico total da Rússia. Já o “Ocidente-como-
Europa” teria mudado seu sentido geopolítico nas últimas décadas, pas-
sando da condição de metrópole à condição de “colônia estratégica, cultu-
ral, econômica e política”, não possuindo “vontade geopolítica e geog-
ca própria” e sendo apenas uma “base auxiliar na Eurásia”. Esta situação
poderia levar ao surgimento de uma “linha antiamericana”, cujo primei-
ro passo estaria na criação da União Europeia, que pretenderia retomar
o signicado histórico e a soberania geopolítica da Europa. Do ponto de
vista da Eurásia, haveria grande interesse em retirar a Europa Ocidental
da inuência norte-americana e transformá-la em um aliado estratégico
da Rússia, mas isso só seria possível com a manutenção da unidade euro-
peia. A Rússia deveria então auxiliar a união da Europa, principalmente
apoiando os Estados da Europa Central, como a Alemanha, diante do
interesse dos EUA em provocar dissensões na região (Dugin, 1997, Liv. 1,
Pt. 5, cap. 5.1).
Outra inuência sob Dugin é o general Karl Ernst Haushofer, cujas
ideias inspiraram a expansão nazista. Ele propunha a criação de algumas
grandes áreas de dimensões continentais que, de Norte a Sul, formassem
uma zona ártica, uma temperada e uma tropical, permitindo a cada pan-
-região a autossuciência e a economia “autárquica”. Cada pan-região se-
ria constituída por Estados periféricos, fornecedores de matérias primas,
e por um Estado-guia - na pan-região americana, os Estados Unidos; na
asiática, o Japão; na europeia, a Alemanha (Losano, 2008).
Segundo a proposta duginiana, a Rússia seria a guardiã e o cen-
tro do “grande espaço” formado pela “civilização eurasiana”, e podemos
supor que os países em seu entorno dentro do espaço eurasiano seriam
subordinados a ela, podendo exercer, inclusive, o papel de fornecedores
de matérias-primas para a Rússia9.
Dugin pensa ainda em alianças em torno de determinados eixos,
para construir a ordem multipolar eurasianista. Defende a formação
do “eixo Moscou-Berlim”, visando uma “real independência do contro-
le atlantista dos EUA” por parte da Europa Central. Quanto à região do
Oceano Pacíco, o papel central seria do Japão que manteria valores tradi-
cionais e uma posição antiocidental e antiliberal, sendo importante a for-
mação do “eixo Moscou-Tóquio. Outra aliança importante seria o “eixo
Moscou-Teerã, porque o Irã seria um país antiocidental e uma grande
potência continental ligada à Ásia Central, podendo solucionar a dicul-
dade russa de acesso aos mares quentes (Dugin, 1997, Liv. 1, Pt. 4, cap. 4).
O pensador russo chama o seu projeto geopolítico de Novo Império,
um agregado de sub-impérios e civilizações articulados para a constrão
e preservação de uma ordem mundial multipolar. Analistas apontam que
o projeto duginista é distinto do projeto de Vladimir Putin. Este pensa
9. As relações econômicas da Rússia
com o espaço eurasiano demanda
pesquisas que confirmem ou não esta
relação de subordinação tal qual pen-
sada por Haushofer para as chamadas
“pan-regiões”.
67
Natalia dos Reis Cruz Aleksandr Dugin, o Projeto Neoeurasianista e a Narrava sobre a Nova Ordem Mundial
em um renascimento nacional e retorno a um estado anterior, sendo o
passado czarista o modelo. Dugin defende a construção de um novo im-
pério, e não o renascimento do antigo, e “uma profunda negação tanto do
passado quanto do presente da Rússia” (Liebel; Neto, 2016, p. 397).
No projeto de Dugin, a Rússia é a grande líder missionária na
construção desta nova ordem internacional do Novo Império, liderando
a construção de “um gigantesco bloco geopolítico continental que seja
unicado em sua estratégia”, “um corpo indivisível no sentido militar
estratégico”, com limitações políticas aos seus sub-impérios, sendo “proi-
bido servir aos interesses geopolíticos atlantistas, sair da aliança estra-
tégica, causar dano à segurança continental. Este Novo Império seria
uma “confederação de Grandes Espaços”, sendo os quatro principais o
Império Europeu no Ocidente (em volta da Alemanha e Europa Central),
o Império do Oceano Pacíco no Oriente (em torno do Japão), O Império
da Ásia Central no Sul (em torno do Irã) e o Império Russo no centro (em
torno da Rússia). A posição central seria da Rússia, pois dela dependeria
toda a ligação territorial e a homogeneidade de todos os outros com-
ponentes do gigantesco bloco continental. O princípio da confederação
valeria também para dentro dos Grandes Espaços em relação às unidades
nacionais, regionais e étnicas menores (ou países e Estados). Haveria limi-
tações substanciais à soberania destes Estados quanto às questões estra-
tégicas e às relacionadas com as especicidades dos Grandes Espaços aos
quais pertencem, embora ele arme que leva em conta “as peculiaridades
históricas, culturais, geogcas e raciais de cada região” (Dugin, 1997,
Liv. 1, Pt. 4, cap. 4).
Mas as limitações à soberania dos países que compõem os Grandes
Espaços não signicariam uma “camisa de força” contra os pequenos
Estados agrupados na “grande civilização” guardada pelo Estado centro?
Estes pequenos Estados seriam obrigados a aceitarem a concepção de ci-
vilização e os critérios adotados como traços comuns entre os diversos
povos salvaguardados pelo Estado central e a se submeterem à autorida-
de das grandes potências guardiãs? Parece um projeto substancialmente
autoritário.
Outro problema seria o componente racista da sua proposta geopo-
lítica. Segundo Glazebrook (2019), o mundo de Dugin seria composto de
etno estados racialmente puros” dominados por uma “aristocracia euro
russa supremacista branca” com subordinação da Ásia à Rússia.
É preciso compreender, porém, que os eurasianistas não possuem
uma concepção de povo russo baseado na pureza eslava branca. Os esla-
los estavam mais próximos desta concepção, já que consideravam o
início do atual povo russo na antiga “comunidade kievana” de eslavos10.
Para os eurasianistas e neo-eurasianistas, o povo russo atual, os “Grão-
Russos”, seria diferente dos antigos eslavos de Kiev, pois resultariam da
mistura cultural e étnica com os povos das estepes asiáticas, durante o
domínio Mongol e no período de construção do Império Czarista. Os
Grão-Russos herdaram aspectos da cultura mongol, inclusive a capaci-
dade de construir um sólido e centralizado império, diferente da frouxa
confederação de Estados kievanos. Haveria, inclusive, uma desconança
por parte dos nacionalistas russos xenófobos em relação aos eurasianistas,
10. Existente antes do domínio mongol.
68
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 53-70
não vendo com bons olhos propostas de incorporar como parte de uma
civilização eurasiana os povos muçulmanos asiáticos, conforme apre-
goa Dugin. Muitos o consideram um “traidor” e um “internacionalista”
(Segrillo, 2016, p. 344).
Dugin não parece preocupado em armar uma soberania branca
eslava no Grande Espaço da Eurásia. O racismo de Dugin é calcado no
novo racismo”, que orienta os discursos da “nova direita” europeia, nota-
damente o pensamento de Alain de Benoist11, uma referência intelectual
importante em sua obra. Para esta “Nova Direita”, a retórica não deve se
basear na ideia de hierarquia entre raças e povos ou em concepções de su-
perioridade ou inferioridade, mas na defesa das identidades puras. É um
discurso “diferencialista” e “pluralista”, que demarca os espaços de cada
povo, no caso de Dugin, de cada civilização.
Segundo Segrillo (2016, p. 345), Dugin acompanhou a viragem
ideogica da “Nova Direita” de uma visão biológica das diferenças entre
os povos para uma diferença cultural, um “neorracismo diferencialista”,
exaltando-se o “direito de ser diferente”. Mas a terminologia de Dugin é
ambígua, pensando a etnia como resultado de fatores biológicos e cultu-
rais. E, embora discurse contra o “chauvinismo étnico, se preocupa com
a manutenção das identidades étnicas, opondo-se à mistura entre elas.
Basta atentarmos para as suas referências teóricas a respeito da
questão étnica. O antropólogo austro-alemão Richard Thurnwald, uma
de suas inuências, tinha uma abordagem política colonial baseada na
biologia racial, posicionando-se contra a mistura racial, tendo delineado
os princípios da organização colonial, que deveria basear o desenvolvi-
mento nacional-socialista das colônias africanas (Rohrbacher, 2024).
o podemos negligenciar a presença do racismo no pensamento
de Dugin, ainda que ele apareça na forma do “novo racismo” da “Nova
Direita.
5 CONCLUSÃO
Dugin constrói uma narrativa Ocidente versus Oriente quanto
aos valores civilizacionais - o Ocidente individualista e universalista e
o Oriente holístico. Baseia-se em Rene Guenon (partidário do Oriente),
e em Julius Evola (crítico da modernidade e dos EUA), ambos parte do
Tradicionalismo (Dugin, 2012, p. 42).
O projeto neoeurasiano é uma adaptação que Dugin faz do eurasia-
nismo dos anos 1920 e do pensamento eslavólo, com ajuda das ideias da
geopolítica cssica, aplicando-as às disputas interimperialistas atuais en-
tre Rússia e EUA. Tem como base a chamada Quarta Teoria Política, que
pretenderia superar o Liberalismo, o Comunismo e o Fascismo, embora
aproveitando seus elementos “positivos”.
A retórica duginista defende um projeto hegemônico russo, não no
sentido de impor a civilização russa e eurasiana ao mundo, mas centrado
na Rússia como o centro de um Novo Império, composto por diversos
sub-impérios. Para fora, a diversidade e a pluralidade – já que a luta é con-
tra o adversário com tendências a unipolarização -, para dentro dos sub-
-impérios, as amarras de um ideal de “civilização, que incluiria apenas o
11. Um dos fundadores da Nova Direita.
Criou o conceito de Etnopluralismo,
baseado na existência de comunidades
étnico culturais individuais e frontei-
riças.
69
Natalia dos Reis Cruz Aleksandr Dugin, o Projeto Neoeurasianista e a Narrava sobre a Nova Ordem Mundial
considerado “tipo comum da civilização, e a Rússia como a grande força
hegemônica e sustentáculo do mundo multipolar.
A retórica da diversidade e da pluralidade sustenta a sua defesa do
multipolarismo na ordem internacional. No entanto, Dugin representa
uma ideia racista que se baseia na manutenção das diferenças, desde que
estejam apartadas umas das outras. Sua ideologia apresenta um racismo
baseado na não mistura entre culturas e civilizações diferentes, cons-
truindo um projeto de apartheids geográcos, e defendendo uma diversi-
dade de base étnica (no sentido do novo racismo), na qual o diferente só é
aceito fora dos muros erguidos.
A conclusão é a de que o discurso duginista contra a hegemonia dos
EUA e dos valores ocidentais encobre um projeto de imperialismo russo
dentro do espaço eurasiano, que impõe um conceito de civilização eura-
siana e amarra os pequenos Estados a ele em uma camisa de força, e um
projeto de hegemonia global russa, já que o Grande Espaço da Eurásia
sob domínio russo seria o centro e sustentáculo do mundo multipolar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALI, Tariq. Confronto de Fundamentalismos – Cruzadas, Jihads e Modernidade. Rio de Janei-
ro: Record, 2002.
ARON, Raymond. Paz e guerra entre as nações. UNB/IPRI, 2002.
BARROS, George. The West Overestimates Aleksandr Dugin’s Inuence in Russia. Providen-
ce, 8 de julho de 2019. Disponível em: https://providencemag.com/2019/07/west-overestimates-
-aleksandr-dugins-inuence-russia/. Acesso em 2 de maio de 2024.
CAMARGO, Felipe Rodrigues de. A geopolítica da Rússia nos governos de Vladimir Putin:
as ações econômico-político-militares e a Teoria Neo-eurasiana. Rio Claro, 2018. Dissertação
(Mestrado em Geograa) – Instituto de Geocncias e Ciências Exatas, Universidade Estadual
Paulista (Unesp).
CRUZ, Sebastião Velasco. Mundo em Transe. Notas sobre a Crise e o Futuro da Ordem In-
ternacional. Estudos e Análises OPEU, No. 20, 2023. Disponível em: https://www.opeu.org.
br/2023/03/03/mundo-em-transe-notas-sobre-a-crise-e-o-futuro-da-ordem-internacional/.
Acesso em 3 de maio de 2024.
DUGIN, Aleksandr. Eurasian mission: An introduction to Neo-eurasianism. Arktos, 2014.
DUGIN, Aleksandr. Fundamentos da geopolítica: o futuro geopolítico da Rússia. Moscou: Ar-
ktogeia, 1997.
DUGIN, Aleksandr. Quarta Teoria Política. Tradução: Nova Resistência. 2012.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. v. I. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
ÉVOLA, Julius. O Retrocesso das Castas. Legio Victrix – Blog de Metapolítica, História,
Filosoa e Cultura Dissidentes. 8/12/2012. Disponível em: https://legio-victrix.blogspot.
com/2012/12/o-retrocesso-das-castas.html. Acesso em 16 de setembro de 2022.
FERRARESI, Franco. Threats to Democracy: The Radical Right in Italy after the War. New
Jersey: Princeton University Press, 2012.
FUKUYAMA, Francis. O m da História e o último homem. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
GLAZEBROOK, Dan. Vestindo a esquerda de camisas pretas: Alexander Dugin e a ascensão
do fascismo “politicamente correto” Parte II. El Coyote, 15/07/2019. Disponível em: h t t p s : //
elcoyote.net/politica/vestindo-a-esquerda-de-camisas-pretas-alexander-dugin-e-a-ascensao-do-
-fascismo-politicamente-correto-parte-ii/. Acesso em 12 de março de 2024.
GUENON, Rene. A Crise do Mundo Moderno. São Paulo: Irget, 2009.
HAGE, José Alexandre A. O Que é a Doutrina Putin? A Questão Estratégica Russa e a Seguraa
Nacional Ampliada. Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais, Vol.
11, No. 22, pp. 10-31, Jul./Dez., 2022.
70
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 53-70
HUNTINGTON, Samuel. Civilizações ou o que? Paradigmas do mundo pós-Guerra Fria. Polí-
tica Externa. São Paulo, vol. 2, n. 4, p. 169-178, março de 1994.
KOREY, William. Russian Antisemitism, Pamyat, and the Demonology of Zionism. Amster-
dam: Harwood Academic Pub., 2007.
LARRABEE, F. Stephen; KARACIK, Theodore. Foreign and security policy decisionmaking
under Yeltsin. National Defense Research Institute. Washington, D.C., RAND, 1997.
LIEBEL, Vinícius; NETO, Odilon Caldeira. Uma Visão do Leste: Autoritarismo e Conservado-
rismo na Ucrânia e na Rússia – Entrevista com Andreas Umland. História e Cultura, Franca,
vol. 5, n. 3, pp.388-401, dez., 2016.
LOSANO, Mario G. Karl Haushofer (1869-1946): o pai da geopolítica das ditaduras europeias. In
Verba Juris, ano 7, n. 7, jan./dez. 2008.
MACKINDER, H. J. The geographical pivot of history. The Geographical Journal, vol. 170, n.
4, pp. 298 – 321, december, 1904.
PRIMAKOV, Evguêni. Vstrêtchi na perekrióstkakh. Moscou: ZAO Izdatelstvo Tsentrpoligraf, 2015.
ROHRBACHER, Peter. Richard Thurnwald’s Position in the Nazi Period: Some Methodological
Considerations in the History of Anthropology. History of Anthropology Review, 1 de mar-
ço de 2024. Disponível em: https://histanthro.org/notes/richard-thurnwald/. Acesso em 10 de
maio de 2024.
SAID, Edward. O choque de ignoncias. Folha de São Paulo Mundo. São Paulo, SP. Dezembro
de 2001. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1710200128.htm. Acesso
em 6 de março de 2022.
SAINT-PIERRE, Héctor. 2022: O Ano da Inexão Histórica. Opera Mundi, São Paulo, 20 de
fevereiro, 2024. Disponível em https://operamundi.uol.com.br/opiniao/85698/2022-o-ano-da-
-inexao-historica, Acesso em 27 de fevereiro de 2024.
SANTORO, Maurício. Entrevista. A Guerra na Ucnia e a Nova Ordem Mundial. Ciência
Hoje, abril, 2022. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/a-guerra-na-ucrania-e-a-no-
va-ordem-mundial/. Acesso em 3 de maio de 2024.
SCHMITT, Carl. Grande-Espaço contra Universalismo, in VIEIRA, Luiz Vicente; Costa, Danilo
Vaz-Curado. Carl Schmitt contra o Império. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009.
SCHMITT, Carl. Tierra y Mar. Madrid: Instituto de Estudios Políticos, 1952.
SEDGWICK, Mark. Contra o Mundo Moderno. O Tradicionalismo e a história intelectual se-
creta do século XX. Belo Horizonte: Ed. Âyiné, 2020.
SEGRILLO, Angelo. Europa ou Ásia? A questão da identidade russa nos debates entre ocidenta-
listas, eslavólos e eurasianistas e suas consequências hoje na política da Rússia entre Ocidente
e Oriente. Curitiba: Editora Prismas, 2016.
SHEKHOVTSOV, Anton. The Palingenetic Thrust of Russian Neo-Eurasianism: Ideas of Re-
birth in Aleksandr Dugin’s Worldview. Totalitarian Movements and Political Religions, vol.
9, n.4, pp. 491-506, 2008.
SPYKMAN, Nicholas J. The Geography of Peace. New York: Harcourt Brace &, 1944.
TEITELBAUM, Benjamin. Guerra pela eternidade: o retorno do tradicionalismo e a ascensão
da direita populista. Campinas, São Paulo: Editora Unicamp, 2020.
VASCONCELOS, Francisco. As Origens Intelectuais do Fascismo e suas Reinvenções: entre a
“revolução conservadora” e o Tradicionalismo. Plural, Revista do Programa de Pós-Graduação
em Sociologia da USP, São Paulo, v. 29, n. 1, pp. 208-231, jan./jun., 2022.
ZHEBIT, Alexander. Sobre a história da política externa da Rússia: o “paradigma” de Primakov.
Topoi. Rio de Janeiro, Vol. 20, No. 41, pp. 421-445, 2019.
71
Carlos Andrés Luján ¿Qué piensan los lanoamericanos sobre el sistema mundial?
¿Qué piensan los latinoamericanos sobre
el sistema mundial?
O que os latino-americanos pensam sobre o sistema mundial?
What do Latin Americans think about the world system?
Carlos Andrés Luján1
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2023v11n2p71-89
Recebido em: 04 de dezembro de 2023.
Aprovado em: 15 de abril de 2024.
Resumen: El presente artículo se centra en el estudio de las percepciones que
los latinoamericanos tienen del sistema internacional en base a una encuesta de
opinión pública realizada en línea a 12.000 personas con educación secundaria
o superior de 10 países de la región. El marco teórico utilizado es el Realismo
Neoclásico en cuanto considera tanto variables exógenas como domésticas para
la determinación de las políticas internacionales de los países. El conocimiento
de las opiniones de la ciudadanía es fundamental para establecer el contexto
decisorio de la política internacional de cada país. La pregunta central de la in-
vestigación es sobre si los latinoamericanos perciben la región como un área de
inuencia exclusivamente estadounidense o como un territorio en disputa entre
dos o más actores internacionales. La evidencia apunta en la dirección de que la
opinión pública latinoamericana más educada visualiza con claridad tres trans-
formaciones del sistema internacional: una disminución de la importancia de los
Estados Unidos en la región, la irrupción de China a nivel global y regional, y la
presencia de otros actores estatales relevantes en el concierto mundial.
Palabras clave: Latinoamérica, opinión pública, sistema internacional.
Resumo: Este artigo centra-se no estudo das percepções que os latino-america-
nos têm do sistema internacional com base em uma pesquisa de opinião pública
realizada online com 12.000 pessoas com ensino secundário ou superior de 10
países da região. O referencial teórico utilizado é o Realismo Neoclássico na
medida em que considera variáveis exógenas e domésticas para a determinação
das políticas internacionais dos países. O conhecimento das opiniões dos cida-
dãos é essencial para estabelecer o contexto de tomada de decisão da política
internacional de cada país. A questão central da pesquisa é se os latino-america-
nos percebem a região como uma área de inuência exclusivamente americana
ou como um território em disputa entre dois ou mais atores internacionais. As
evidências apontam na direção de que a opinião pública latino-americana mais
instruída visualiza claramente três transformações do sistema internacional:
uma diminuição da importância dos Estados Unidos na região, a emergência da
China a nível global e regional, e a presença de outros atores estatais relevantes
no concerto global.
Palavras-chave: América Latina, opinião pública, sistema internacional.
1. Doctor en Ciencias Humanas, con
énfasis en Ciencia Política. Docente e
investigador de la Facultad de Derecho
y de la Facultad de Ciencias Sociales
de la Universidad de la República de
Uruguay. Miembro del Sistema Nacional
de Investigadores del Uruguay.
72
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 71-89
Abstract: This article focuses on the study of Latin Americans´perceptions on
international system. It is based on a public opinion survey conducted online
with 12,000 people with secondary or tertiary education from 10 countries in
the region. The theoretical framework is Neoclassical Realism that considers
both exogenous and domestic variables for the determination of countries’
international policies. Knowledge of citizens’ opinions is essential to understand
the decision-making context of each country’s international policy. The central
question of the research is whether Latin Americans perceive the region as an
exclusively American area of inuence or as a territory in dispute between two
or more international actors. The evidence points out that the most educated
Latin American public opinion clearly visualizes three transformations of the
international system: a decrease in the importance of the United States in the
region, the emergence of China at the global and regional level, and the presen-
ce of other relevant state actors in the global concert.
Keywords: Latin America, public opinion, international system.
Introducción
En el orden mundial del siglo XXI, profundamente interconecta-
do, los factores internacionales revisten una gran importancia. Para los
académicos especializados en Relaciones Internacionales la inuencia
de Occidente sobre Latinoamérica -ejercida a través de Estados Unidos y
Europa- está hoy siendo disputada por China. No obstante, el n de la he-
gemonía americana en el mundo en general y en Latinoamérica en par-
ticular no es homogéneamente percibido por los habitantes de la región.
De ahí el interés que reviste el alisis de las opiniones de los latinoame-
ricanos sobre el sistema internacional, sus polos y su dimica: ¿asistimos
hoy a un mundo con más de un polo?, ¿qué potencias son visualizadas
como líderes en los diversos temas de la agenda global?, ¿cuáles son los
mejores socios para América Latina?
En un momento de transformaciones globales sin precedentes, el
foco del presente artículo está puesto en las percepciones de los latinoa-
mericanos respecto al sistema internacional. En base a una encuesta de
opinión pública realizada en diez países de la región a nes del 20212, este
artículo busca aportar conocimiento sobre esta compleja temática desde
un ángulo poco explorado y contribuir al debate público sobre las relacio-
nes internacionales de América Latina.
Se trata de estudiar si en la región sigue vigente la imagen de la in-
contestable hegemonía estadounidense a nivel mundial o ha sido sustitui-
da por una gura de polos en pugna. La evidencia recogida parece indicar
que tal sustitución se ha producido y que hoy coexisten dos percepciones
sobre el número de polos que disputan a Estados Unidos su lugar en el
sistema internacional: la primera percepción es binaria y valora que la
confrontación es sino-americana, en una suerte de un nuevo bipolarismo;
la segunda corresponde a un multipolarismo asimétrico en el que Estados
Unidos y China son los polos principales y otras potencias tercian en el
juego mundial (Unión Europea, India, Rusia, por citar los más notorios).
Los datos de opinión pública sistematizados en este estudio ilumi-
nan cómo se percibe el declive del liderazgo estadounidense en la región
y revelan qué potencias están asumiendo esa posición. La opinión pública
2. Esta encuesta espercial fue realizada
por la Coorporación Latinobarómetro
bajo la direccion de Marta Lagos.
73
Carlos Andrés Luján ¿Qué piensan los lanoamericanos sobre el sistema mundial?
es parte del contexto en el que las élites nacionales toman sus decisiones
dado que en países democráticos, como lo son la gran mayoría de los de
la región, las preferencias de la opinión pública inciden en los resultados
electorales y en la agenda de gobierno.
Luego de esta introducción el texto se estructura en cuatro seccio-
nes. En las dos primeras se presentan el marco teórico y la metodología
seguida en la investigación. La tercera sección considera los principales
hallazgos que surgen del alisis de los datos y, por último, se plantean
las principales conclusiones del estudio.
Marco teórico
Este artículo se apoya en el Realismo Neoclásico, con las referen-
cias obligadas a los trabajos de Lobell, Ripsman y Taliaferro (2009, pp.
1-31) y Ripsman, Taliaferro y Lobell (2016, pp. 1-196) quienes han recon-
gurado esta corriente de pensamiento luego de su lanzamiento por
Rose a nes del siglo pasado (1998, pp. 144-172) y los señeros aportes de
Schweller (2003, pp. 311-347). A diferencia del Realismo Estructural -sea
el Neorealismo walztiano (Waltz, 1988, pp. 1-336) o el Realismo Ofensivo
de Mearsheimer3 (2001, pp. 1-402)- que sólo toma en cuenta las variables
exógenas en el alisis de la política internacional de un país –esto es, las
dimicas internacionales asociadas a la distribución de capacidades en la
estructura mundial-, el Realismo Neoclásico sopesa también las variables
endógenas -las percepciones de los tomadores de decisión, la orientación
de la cultura estratégica de cada país, las relaciones Estado-sociedad y la
valoración de las instituciones nacionales.
La matriz teórica elegida permite incorporar en el alisis la di-
mensión doméstica de los Estados y visibiliza las corrientes de opinión
internas, su peso en las preferencias societales y políticas y su potencial
impacto en las élites gobernantes. Si se hubieran adoptado otras corrien-
tes del realismo -sea en sus vertienetes ofensivas o defensivas- estas con-
sideraciones se hubieran perdido. A su vez, un enfoque reectivista como
el de las Teorías Feministas de las Relaciones Internacionales no hubiera
sido rendidor dado que no se encontraron diferencias sustantivas entre las
posturas de mujeres y hombres.
Sobre esta base conceptual, el alisis del posicionamiento de Estados
Unidos en el sistema internacional y sus vínculos con Latinoamérica se
nutrió de los aportes de Gonlez et al. (2023, pp. 17-136) sobre la cumbre
de las Américas, el dlogo entre Estados Unidos y la región y la situación
posterior a la retirada de Estados Unidos de Afganistán -momento en que
se implementó el trabajo de campo de la encuesta (2022, pp,1-7, 2021a, pp.
14-26). Complementariamente, el texto de O’Keefe (2020, pp. 194-212) per-
mitió entender las características de sistema interamericano hoy.
Respecto al vínculo entre Estados Unidos y China fueron clave las
contribuciones de Johnston y Shen (2015, pp. 9-22) sobre las miradas mu-
tuas, y los comentarios de Mearsheimer (2021, pp. 48-58) y Layne (2020, p.
8 y 2018, p. 94) sobre la disputa global.
En cuanto a China, Doshi (2021, pp. 428-549) plantea una evaluación
de su “gran estrategia”, Manko (2022, pp. 207-268) facilita una mirada
3. Mearsheimer es considerado el
fundador del Realismo Ofensivo.
74
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 71-89
histórica de China como imperio asiático y Regueiro y Marin (2022, pp. 59-
86) y Martínez y Zapata (2023, pp. 278-318) aportan una mirada desde la re-
gión latinoamericana sobre el posicionamiento de China en el mapa global.
El papel de la Unión Europea en la región se trabajó a partir de las
contribuciones de Bianculli (2020, pp. 254-265) y González Sarro (2020,
pp. 1121-1167), de Rosales en el tema económico (2020, pp. 1-30), las de
Sanahuja (2020, pp. 338-403) en el plano social y las realizadas por van
Klaveren (2020, pp. 285-300) en el plano estratégico. Haider y Clemente
(2020, pp. 45-56) y Szilágyi (2020, pp. 33-47) estudiaron las relaciones in-
terregionales, Quispe-Remón (2020, pp. 111-140) profundizó en el vínculo
especíco de la Unión Europea con la Comunidad Andina de Naciones y
Gonlez et al. (2022, pp. 1-7) delinearon cómo se ve la Unión Europea
desde Latinoarica.
El examen de las relaciones internacionales de América Latina
abrevó en los textos de Caetano et al. (2019, pp. 181-207) para el momento
previo a la encuesta, de González (2021b, pp. 48-65) para el momento de la
encuesta, y de Molano Cruz y Briceño (2022, pp. 31-58) para el momento
post-hegemónico en el que hoy se inserta la región en el mundo, como
bien ha desarrollado Tussie (2019, pp. 107-119).
A su vez, tres estudios han sido clave en relación a la opinión públi-
ca latinoamericana: el realizado por López Varas (2021, pp. 165-178) sobre
el interés de la población de siete países latinoamericanos en los asuntos
internacionales; el elaborado por Onuki y su equipo respecto a las percep-
ciones de los latinoamericanos y la construcción de una identidad regional
(Onuki, Mouron y Urdinez, 2016, pp. 1-18); y el trabajo sobre la opinión pú-
blica brasileña y la política internacional de Brasil de Tavares de Almeida
(2016, pp. 29-45). Complementariamente, Feliú, López Burian y Urdinez
(2023, pp. 333-352) aportaron evidencia sobre la incidencia de los medios
de comunicación sobre la opinión pública en procesos de elaboración de
la política exterior, Urdinez (2023) contribuyó al conocimiento del posicio-
namiento de la opinión pública brasileña respecto a China y Johnson y Lin
(2023, pp. 69-91) hicieron lo propio para el caso de Colombia.
Metodología
La principal fuente de esta investigación fue una encuesta de opinión
pública sobre temas internacionales4 que estuvo dirigida a la población
compuesta por las personas mayores de edad, con educación media o su-
perior, residentes en Latinoamérica. La encuesta fue recabada en el último
cuatrimestre del 2021 y se completó en línea en base a paneles ya construi-
dos por el Latinobarómetro en cada país. La muestra fue de 12.000 casos
en diez países latinoamericanos seleccionados: Argentina, Bolivia, Brasil,
Chile, Colombia, Costa Rica, Guatemala, México, Uruguay y Venezuela5.
El nivel de conanza fue del 95% y el margen de error de 3%. La mues-
tra representativa utilizada permitió la generalización de la información a
los diez países latinoamericanos de la encuesta a través de una inferencia
descriptiva. El trabajo de campo fue realizado a pocos días del retiro de
Estados Unidos de Afganistán6, por lo cual la agenda internacional estaba
muy presente en los medios masivos de comunicación de Latinoamérica.
4. Al tratarse de una encuesta especial
sobre temas internacionales, para evitar
elevados niveles de no respuesta, se
optó por relevar la opinión de personas
con un mínimo de educación formal.
Los datos del pre-test fueron clave para
tomar esta decisión metodológica por
parte del autor.
5. Se incluyeron en el estudio todos los
países medianos y grandes de la región
y se los complementó con otros países
pequeños de distintas subregiones del
continente -Centroamérica, Cono Sur y
la subregión andina. Los casos por país
fueron 1.200.
6. El relevamiento de datos fue hecho
por el Latinobarómetro entre el 10 de
setiembre y el 4 de octubre del 2021 y el
retiro de Estados Unidos de Afganistan
culminó el 31 de agosto del 2021.
75
Carlos Andrés Luján ¿Qué piensan los lanoamericanos sobre el sistema mundial?
El relevamiento se completó a nes del 2021, en forma previa a la guerra de
Ucrania y a los conictos existentes en el Medio Oriente hoy.
El cuestionario relevó las valoraciones de los latinoamericanos so-
bre el liderazgo mundial de Estados Unidos, China y la Unión Europea en
múltiples dimensiones, desde la económica hasta la ambiental, pasando
por la militar, la social y la cultural. También se indagó sobre las visiones
del relacionamiento de los países latinoamericanos con los centros de po-
der, su inuencia económica e inversiones en la región y su pertinencia
como socios en diversos temas. Además, se recabaron las opiniones res-
pecto a la vigencia de la democracia y a los modelos de desarrollo más
deseables para una sociedad7.
La variable exógena considerada fue la distribución de capacidades
de las grandes potencias. Ella permite captar el creciente poder relativo
de China respecto a Estados Unidos reseñado por Mearsheimer (2021, pp.
53-54) y Layne (2020, p. 7 y 2018, pp. 89-111) a nivel global y por Regueiro
y Marin (2022) y Martínez y Zapata (2023, pp. 282-283) a nivel regional.
De las variables endógenas o domésticas destacas por los lentes teó-
ricos del Realismo Neocsico, el presente artículo incluyó el relaciona-
miento Estado-sociedad en el entendido que las respuestas a la encuesta
brindan una muy buena aproximación a este aspecto.
Las preguntas de investigación de este artículo son las siguientes:
¿cómo perciben los latinoamericanos la región?, ¿en qué medida hay un
predominio de una visión de Latinoamérica como un área de inuencia
exclusivamente estadounidense?, ¿cuán extendida está la percepción de la
región como un territorio en disputa entre dos o más actores internaciona-
les?; ¿cuáles son los pesos de una y otra visión entre los latinoamericanos?
En otras palabras, se busca conocer en qué medida en Latinoamérica se
percibe la transformación del sistema internacional en un “orden internacio-
nal no hegemónico” (Hirst et al., 2024). En términos más especícos, se inda-
ga en torno al posicionamiento de China, Estados Unidos y la Unión Europea
en las visiones de los latinoamericanos sobre el sistema internacional.
La evidencia sistematizada en este artículo8 permite subrayar que
la opinión pública latinoamericana más educada percibe con claridad tres
transformaciones del sistema internacional: una disminución de la im-
portancia de los Estados Unidos en la región, la irrupción de China a nivel
global y regional, y la presencia de otros actores estatales relevantes en el
concierto mundial.
Análisis
Estados Unidos, China y la Unión Europea en la opinión
pública latinoamericana
En opinión de los latinoamericanos Estados Unidos ostenta el li-
derazgo mundial en los temas militares y de seguridad; China lo hace
en materia desarrollo tecnológico, ciencia y educación; China y Estados
Unidos comparten el liderazgo en temas económicos; y la Unión Europea
emerge como líder en temas normativos y sociales. Tal como consta en la
7. La elaboración del formulario fue
realizada por un equipo de investigación
conformado por Guadalupe Gónzalez,
Mónica Hirst y el autor. El equipo tomó
en cuenta cuestionarios anteriores del
Latinobarómetro para incorporar pregun-
tas similares que luego permitieran ver
las consistencia de los datos recabados.
Véase https://www.latinobarometro.
org/latOnline.jsp 2020.
8. Para elaborar este artículo el autor
realizó un procesamiento específico de
los microdatos de la encuesta.
76
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 71-89
Gráca 1, para los latinoamericanos a comienzos de la década del 20 del
presente siglo ya no hay un único país que detente el liderazgo mundial
en todas las áreas: Estados Unidos aparece desaado, China aún va a la
saga en materia militar -aunque ya compite de igual a igual con Estados
Unidos en economía y lo supera en Ciencia y en Desarrollo Tecnológico-,
y la Unión Europea no logra terciar en las anteriores dimensiones y sólo
queda bien posicionada en temas normativos y sociales.
De acuerdo al Realismo Neoclásico, una primera variable domés-
tica de importancia es la percepción de los líderes respecto a la situación
internacional. En tal sentido, estos datos de opinión pública y la biblio-
grafía consultada sobre las élites gobernantes (Regueiro y Marin, 2022, p.
60; Martínez y Zapata, 2023) revelan que la población y las élites latinoa-
mericanas son contestes en cuanto a la relevancia de Estados Unidos, la
importancia de la competencia económica sino-estadounidense, la fuerte
presencia de China en el campo tecnológico y el destacado papel de la UE
en los aspectos normativos.
Gráfica 1. Liderazgo mundial de Estados Unidos, China y la UE en diversas áreas.
Entre China, Estados Unidos y la Unión Europea ¿Cuál considera que es el líder mun-
dial en cada uno de los siguientes aspectos? (%) Fuente: Encuesta Especial Latinoba-
rómetro, 2021.
Cuando se analizan las opiniones referidas al relacionamiento de los
países latinoamericanos con los centros de poder se constatan variaciones
interesantes entre países: Costa Rica, Chile, Uruguay e incluso México
tienen buenas o muy buenas relaciones con los tres polos (Estados Unidos,
China y la Unión Europea); Argentina, Bolivia y Venezuela tienen mejor
relación con China que con Estados Unidos; y en Brasil y Colombia pre-
dominan las opiniones positivas sobre las relaciones con Estados Unidos
y, en segunda instancia, con la Unión Europea.
77
Carlos Andrés Luján ¿Qué piensan los lanoamericanos sobre el sistema mundial?
Esto signica que ni Estados Unidos ni China ni la Unión Europea
detentan solos un buen relacionamiento con la región. Más aún: los tres
polos de poder registran oscilaciones en su vinculación con los distintos
países. En particular, interesa marcar que Estados Unidos es la potencia
que presenta más variaciones según el país del que se trate (Gráca 2).
En opinión de los latinoamericanos las relaciones de los distintos
países con los polos de poder no son excluyentes. No perciben tal relacio-
namiento como el juego de “suma cero” instalado durante la Guerra Fría
cuando la cercanía de los países latinoamericanos con Estados Unidos
tenía como contrapartida la mala relación con la URSS y, viceversa, el
acercamiento a los soviéticos (caso de Cuba) signicaba la ruptura de todo
vínculo con Estados Unidos. En otras palabras, las respuestas de los en-
cuestados no abonan la visión de una segunda Guerra Fría en curso. La
excepción es Venezuela donde los juicios positivos sobre las relaciones
con Estados Unidos o la Unión Europea son muy escasos y son superlati-
vos los referidos a China, seguramente por la confrontación del gobierno
de Venezuela con Occidente y por los apoyos que el país recibe de China.
En cuanto a las relaciones con los polos de poder nuevamente se
percibe una convergencia entre la opinión pública y las percepciones de
los líderes según lo plantean Bianculli (2020, p. 257) y Gonlez Sarro
(2020, pp. 1121-1167) sobre la UE; Regueiro y Marin (2022, pp. 59-86) y
Martínez y Zapata (2023, pp. 76-77) sobre China y Gonlez et al. (2020,
48-63) sobre Estados Unidos. Cabe recordar que el Realismo Neoclásico
se basa en el juego de dos niveles (internacional y doméstico) y considera
fundamental las relaciones con los polos del sistema internacional.
Gráfica 2. Las relaciones con los polos de poder por país
¿Cómo calificaría las relaciones de su país con la Unión Europea, China y Estados
Unidos? (% que respondió “Más bien buenas” o “Muy buenas”) Fuente: Encuesta
Especial Latinobarómetro, 2021.
78
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 71-89
Por otro lado, las percepciones sobre la inuencia económica de
Estados Unidos en la región superan ampliamente las referidas a China, con
la mitad de los encuestados que se inclinan por Estados Unidos frente a la
cuarta parte que lo hace por China. Ni Rusia ni los países europeos ni la India
aparecen con porcentajes signicativos en esta competencia. Para los latinoa-
mericanos el juego por la supremacía económica es un juego de dos y sólo
dos (Mapa 1). Aun con una percepción de competencia clara en la dimensión
económica a nivel global, en la región la supremacía económica estadouni-
dense es valorada como muy importante. La inuencia de Estados Unidos es
incontrastable en la región, aunque no es incontestable. China es un compe-
tidor de fuste. Posteriores mediciones permitin ver si estos rasgos son parte
de una tendencia o corresponden a un momento especíco en el que podrían
congelarse –o incluso revertirse- los pesos relativos observados.
Mapa 1. Mayor influencia económica en los países de la región
¿Quién ejerce mayor influencia económica en su país? (%) Fuente: Encuesta Especial
Latinobarómetro, 2021.
En este marco general hay que notar que la visión sobre la inuen-
cia económica varía por países. China es considerada el país más inuyen-
te por los venezolanos, los bolivianos y, en menor medida, los uruguayos
-siendo Venezuela el único país para el cual Rusia es un referente. En con-
traposición, en Colombia, Guatemala y México es Estados Unidos el país
con una inuencia económica indiscutida. En Chile casi la mitad de los
encuestados asignan la mayor inuencia a Estados Unidos pero más de
un tercio se inclina por China. En Brasil la inuencia de Estados Unidos
y China es casi similar, aunque el primero tiene siete puntos más de pre-
ferencias (Gráca 3). En otras palabras, la inuencia económica estadou-
nidense no es homogéneamente valorada en la región puesto que sólo en
la mitad de los países incluidos en el estudio se percibe a Estados Unidos
con un peso económico muy superior al de China.
79
Carlos Andrés Luján ¿Qué piensan los lanoamericanos sobre el sistema mundial?
Las percepciones en materia económica muestran una mirada con-
vergente entre la población y las élites, según lo reseñado por Rosales
(2020, pp. 5-8). Ambas ven la centralidad de Estados Unidos pero remar-
can la fuerte presencia China en el mundo en general (Mearsheimer,
2021, p. 48) y en la región en particular. Lo anterior se da tanto en cuanto
a la inuencia económica general como en cuanto a las inversiones.
Gráfica 3. Mayor influencia económica por país
¿Quién ejerce mayor influencia económica en su país? (%) Fuente: Encuesta Especial
Latinobarómetro, 2021.
La gráca 4 muestra que cantidades similares de encuestados per-
ciben los benecios de la inversión china y los de la inversión estadouni-
dense (tres quintos y dos tercios, respectivamente). La inversión extranje-
ra reeja una fuerte competencia sino-estadounidense en la región, una
disputa reñida en la cual los países europeos pasan a un segundo plano.
La presencia rusa es relevante pero está muy concentrada en Venezuela y,
de los países latinoamericanos, sólo Brasil es percibido como un inversor
destacado en la región.
Las valoraciones de los benecios de la inversión extranjera respal-
dan la idea de una visión del mundo con multipolarismo asimétrico, en
el cual Estados Unidos y China pelean el primer lugar pero hay otros ac-
tores en liza -los europeos como España y Alemania, euroasiáticos como
Rusia o de la propia región como Brasil.
80
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 71-89
Gráfica 4. Inversión Extranjera
¿Cuál inversión extranjera es más beneficiosa para su país? (%) Fuente: Encuesta
Especial Latinobarómetro, 2021.
La visión de liderazgo mundial antes reseñada es totalmente
congruente con la referida a los mejores socios. En los países latinoa-
mericanos China es considerada el principal socio en los temas tecno-
gicos, lugar que ocupa Estados Unidos en el combate al narcotfi-
co, la salud y las vacunas. En el campo del comercio, las inversiones e
infraestructura, los encuestados perciben también una fuerte disputa
sino-americana. Por su parte, la Unión Europea es valorada como el
mejor socio en dos problemas de alta preocupación en América Latina:
el medio ambiente y la lucha contra la desigualdad (Gráfica 5). A la
hora de pensar en socios prioritarios no hay, pues, una potencia domi-
nante en el conjunto de áreas consideradas: no lo es Estados Unidos,
no lo es China y la Unión Europea sólo conserva su atractivo en las
áreas socio-ambientales.
Esta información ratica lo ya dicho con respecto a los lideraz-
gos. No hay único socio posible para todos los temas, Estados Unidos
ya no ejerce la hegemonía (fuerza más consenso) en todas las dimensio-
nes, aunque tampoco lo hacen ni China ni la Unión Europea. Esta mi-
rada de la opinión pública es convergente con la realidad internacional
(Bremmer, 2012).
Las estrategias de los países en materia internacional consti-
tuyen una segunda de las variables domésticas clave para el Realismo
Neoclásico. De ahí la necesidad de calibrar cl es el mejor socio en cada
área. En tal sentido, los datos de opinión pública revelan que la Unión
Europea es percibida como el mejor socio para el cuidado medioambietal
y la lucha contra la pobreza, lo que ha sido una estrategia compartida
por los tomadores de decisión de los países latinoamericanos y europeos,
como ilustra Sanahuja (2020, pp. 306-310). Por su parte, Gonlez (2023,
pp. 48-67) rearma que en economía la competencia se da entre China,
por un lado, y Estados Unidos y la UE, por otro.
81
Carlos Andrés Luján ¿Qué piensan los lanoamericanos sobre el sistema mundial?
Gráfica 5. Mejor socio por áreas
Entre China, Estados Unidos y la Unión Europea ¿Cuál considera que es el mejor socio
para su país en cada una de las siguientes áreas? (%) Fuente: Encuesta Especial
Latinobarómetro, 2021.
Las preferencias de los entrevistados sobre cuáles serían los mejores
socios en el contexto internacional percibido son claras. Primero, pree-
ren que sus países se asocien con la Unión Europea en temas normativos
(medio ambiente; lucha contra la pobreza y la desigualdad); recurran a
la Unión Europea y a Estados Unidos respecto al fortalecimiento de la
Democracia, la salud y la provisión de vacunas contra el COVID-19; se
concentren la asociación con Estados Unidos en el narcotráco; busquen
apoyos en Estados Unidos y China para las obras de infraestructura y
para la amplicación del comercio y las inversiones; y se centren en China
en lo que tecnología digital reere.
La encuesta arroja posionamientos de la opinión pública muy cer-
canos a los acontecimientos de la realidad, en especial en lo que se reere
a los apoyos en salud y vacunas que la región recibió durante la pandemia.
Democracia y modelos de desarrollo para América Latina
En América Latina la democracia es identicada principalmente
con las naciones del Atlántico Norte, al tiempo que Rusia y China son
consideradas más cercanas a regímenes no democráticos (Mapa 2). En
concreto, en una escala en la que 10 es el valor asignado a una democracia
plena, Estados Unidos, Francia y Alemania se ubican muy cerca del valor
8, lo que puede asimilarse a una democracia plena con imperfecciones.
Por su parte, Rusia no es vista como un autoritarismo neto pero sí se co-
loca por debajo del punto medio de la escala (5,5)9. Por último, China, con
sus 4 puntos de promedio, no es vista como un autoritarismo total pero
sí con varios de los rasgos más salientes de este tipo de régimen político.
9. Cabe recordar que el relevamiento
fue anterior a la invasión de Rusia a
Ucrania y, en ese momento, Rusia ya no
calificaba como una democracia plena.
82
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 71-89
Mapa 2. La democracia en diversos países
En una escala de 1 a 10, donde 1 es “no es una democracia” y 10 es “una democracia
plena” ¿Dónde ubicaría Ud. a cada uno de los siguientes países? (Promedio) Fuente:
Encuesta Especial Latinobarómetro, 2021.
El cuadro 1 sistematiza las valoraciones de los encuestados sobre las
democracias de sus respectivos países y divide a la población en tres catego-
rías: quienes asignan una valoración baja a su propio régimen (entre uno y
tres puntos), quienes le dan una puntuación media (cuatro a seis) y quienes
le otorgan una puntuación alta (siete a diez). Los regímenes políticos mejor
autovalorados son los Costa Rica y Uruguay, seguidos por los de Argentina,
Chile, Brasil y México. Se ubican en un tercer escalón Colombia, Guatemala
y Bolivia. Por último, Venezuela consigue un nivel similar al de China.
Es interesante puntualizar que los costarricenses y los uruguayos
tienen una valoración muy similar de sus propios regímenes políticos (8,2
y 8,8 respectivamente), que es incluso levemente superior a la valoración
que tienen los latinoamericanos sobre los regímenes de Estados Unidos y
Francia (7,7 en ambos casos, como consta en el Mapa 2).
El alisis de la opinión pública latinoamericana sobre los regímenes
políticos de los países occidentales y los de los países de la región arroja que
los valores son, en general, muy cercanos y corresponden a democracias.
Debe notarse, no obstante, que el clivaje Democracia vs. Autoritarismo no
es el único utilizado en la región puesto que, como se vio, los latinoameri-
canos muestran pragmatismo a la hora de elegir socios en los más variados
temas y al valorar los benecios de la inversión extranjera.
En este punto aparecen las opiniones sobre la tercera de las variables
domésticas realzadas por el Realismo Neoclásico en sus alisis: las insti-
tuciones nacionales. Como se puede apreciar, las democracia es valorada
en gran parte de los países de la región pero esa valoración (positiva, neu-
tra o negativa) de los regímenes políticos de otros países no opera como
obstáculo para establecer un buen relacionamiento con ellos e incluso con-
siderarlos buenos socios en diversos planos. Como se ve, las valoraciones
de la opinión pública los regímenes políticos no distan signicativamente
de las que realizan los especialistas en la materia (Nord et al., 2024).
83
Carlos Andrés Luján ¿Qué piensan los lanoamericanos sobre el sistema mundial?
Cuadro 1. La valoración de la democracia en cada país
Países Valores 1 a 3 Valores 4 a 6 Valores 7 a 10 NS/NR Promedio
Argentina 15 26 56 3 6,7
Bolivia 45 31 23 1 4,2
Brasil 14 28 48 10 6,4
Colombia 38 29 29 4 4,7
Costa Rica 5 14 79 2 8,2
Chile 17 31 49 3 6,3
Guatemala 34 34 27 5 4,7
México 21 34 42 3 5,7
Uruguay 3 9 87 1 8,8
Venezuela 74 11 12 3 2,6
En una escala de 1 a 10, donde 1 es “no es una democracia” y 10 es “una democracia
plena”, ¿dónde ubicaría a su país? Fuente: Encuesta Especial Latinobarómetro, 2021.
En forma complementaria a la valoración del régimen político
cabe preguntarse qué países sirven de modelo de desarrollo para la re-
gión. El gco 6 muestra a Estados Unidos como un modelo deseable
para casi la mitad de los latinoamericanos, Alemania para dos de cada
cinco encuestados y China, al igual que Japón, para tres de cada diez.
Estos cuatro países se posicionan a la cabeza de este ranking de modelo
de desarrollo.
Cuando se desagrega la información por países se observa que
Brasil, Bolivia, Costa Rica, Guatemala y Venezuela consideran a
Estados Unidos como el principal modelo de desarrollo. Colombia ubi-
ca en esa posición tanto a Estados Unidos como a Alemania. Argentina,
Chile, México y Uruguay sitúan a Alemania en el lugar más destacado,
mientras que el modelo de desarrollo con amplio apoyo (dos quintos
de los entrevistados) es China en Costa Rica, Guatemala y México. En
otras palabras, los latinoamericanos están lejos de la unanimidad en
cuanto al modelo de desarrollo deseable. Nuevamente Estados Unidos
no es el único referente en la región y compite con Alemania, Japón
y China.
En este punto aparece la cuarta variable doméstica considera-
da por el Realismo Neoclásico: la relación entre Estado y Sociedad.
Buena parte de las sociedades latinoamericanas prefieren el modelo
de desarrollo representado por Estados Unidos, en el mismo nivel
otros manifiestan su preferencia por el modelo alemán -asociado al
Estado de Bienestar- y una proporción menor se inclina por el mo-
delo chino de Estado poderoso. Las preferencias en la región miran
al Norte, sean los modelos anglosajones, los europeos continentales
-parte medular del Norte 1 (Hirst et al, 2024) o las ahora pujantes eco-
nomías asiáticas (China como caso notorio, núcleo del Norte 2 para las
autores referidos).
84
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 71-89
Gráfica 6. Modelos de desarrollo según país
Pensando en el futuro, ¿cuáles países cree usted que serían un buen modelo de desar-
rollo para su país? (%) Fuente: Encuesta Especial Latinobarómetro, 2021.
Autonomía relativa de la Unión Europea e importancia internacional
futura de América Latina
¿Cómo visualizan los latinoamericanos la relación de Estados
Unidos con la Unión Europea?, ¿en qué medida consideran que son socios
con asimetrías tan importantes que llevan a la subordinación de la segun-
da respecto al primero? Los datos de la encuesta muestran con claridad
que antes de la invasión de Rusia a Ucrania, la mayoría absoluta de los
latinoamericanos opinaba que la Unión Europea actuaba con autonomía
respecto a Estados Unidos (gráca 7).
Esta percepción de autonomía relativa es clave a la hora de catalo-
gar a la Unión Europea como un actor diferenciado de Estados Unidos en
el sistema internacional y subraya que, en la tercera década del siglo XXI,
el juego mundial no puede ser pensado exclusivamente como una con-
frontación sino-americana porque también participan en él otros actores
del sistema mundial. Los acontecimientos recientes en torno a la guerra
de Ucrania abren la interrogante sobre cnto de dicha autonomía se ha
incrementado, mantenido o disminuido con el conicto.
Ahora bien, las preferencias de los latinoamericanos por la Unión
Europea o China como socios reeren a varios temas (gráca 5). Los cam-
bios geopolíticos generados por la guerra de Ucrania en Europa y la con-
vergencia de políticas entre estadounidenses y europeos en el seno de la
OTAN, podrían conducir a una merma de los juicios mayoritarios de los
latinoamericanos sobre la autonomía estratégica de la Unión Europea.
Concomitantemente, la guerra también ha puesto de maniesto la re-
levancia de otros actores a nivel mundial: China, Rusia, India e incluso
Brasil. Por lo anterior, la idea de una supremacía estadounidense indiscu-
tida, parece estar desvaneciéndose gradualmente.
85
Carlos Andrés Luján ¿Qué piensan los lanoamericanos sobre el sistema mundial?
Aquí aparece con claridad en la opinión pública latinoamericana
la cuestión de la autonomía estratégica de la Unión Europea respecto a
Estados Unidos como hegemón de Occidente. Dichas opiniones son con-
gruentes con lo planteado por Layne (2018, pp. 94-99) respecto al regreso
de las grandes potencias como visión prevaleciente de académicos y to-
madores de decisión hoy.
Gráfica 7. Nivel de autonomía estratégica de la UE
Quisiera que me diga, si está muy de acuerdo, de acuerdo, en desacuerdo, o muy
en desacuerdo con la siguiente frase: “La UE siempre sigue a Estados Unidos” (%)
Fuente: Encuesta Especial Latinobarómetro, 2021.
Por último, ¿qué importancia le atribuyen los latinoamericanos a
su región?, ¿consideran que podría operar como un actor relevante en el
orden internacional emergente? La encuesta muestra que los encuesta-
dos asignan a América Latina una importancia media en el mundo (en
promedio, 6.6 puntos en 10), la ven como un actor internacional de re-
lativo realce. A diferencia de otros rubros, esta percepción sobre el peso
de Latinoamérica en el sistema internacional varía poco entre países: los
más optimistas son los mexicanos y guatemaltecos y los más pesimistas
los argentinos (Mapa 3). Esto permite pensar que América Latina podría
constituirse en un actor medianamente relevante del sistema si se conso-
lidara un multipolarismo extendido en el que las regiones operaran como
jugadores globales en el sistema internacional bajo la condición de que la
región lograra superar su actual fragmentación.
Finalmente, cabe señalar que la percepción de población sobre
la importancia futura de la región es totalmente congruente con la vi-
sión de los gobiernos, de acuerdo a lo consignado por Molano y Briceño
(2022, p. 39).
86
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 71-89
Gráfica 8. Importancia mundial de América Latina en los próximos 5 años
Pensando en los próximos 5 años ¿qué tanta importancia cree que tendrá América
Latina en el mundo? En una escala donde 1 es “nada de importancia” y 10 “tendrá
una gran importancia” (%) Fuente: Encuesta Especial Latinobarómetro, 2021.
87
Carlos Andrés Luján ¿Qué piensan los lanoamericanos sobre el sistema mundial?
Conclusiones
El artículo subraya que la opinión pública latinoamericana más
educada percibe con claridad tres transformaciones del sistema interna-
cional: las dudas sobre la hegemonía mundial estadounidense -o al me-
nos sobre su declive-, la irrupción de China a nivel global y regional, y la
presencia en la región de otros actores internacionales relevantes en el
concierto mundial.
Para los latinoamericanos la hegemonía de Estados Unidos en to-
dos los planos es cosa del pasado. La visión del sistema internacional pos-
t-disolución de la Unión Soviética parece estar diluyéndose; de acuerdo a
los datos de opinión pública hay algunos indicios de que el mundo es per-
cibido como bipolar y otros que apuntan a un multipolarismo emergente.
China es un fuerte competidor de Estados Unidos a nivel global
pero no lo ha desplazado ni en el mundo ni en América Latina. El lide-
razgo de las grandes potencias depende de los temas de los que se trate.
Estados Unidos lidera en los temas “duros” o de “alta política, militar,
seguridad -narcotráco- y compite con China en el plano económico.
China es percibida a la cabeza en los temas vinculados a las ciencias y
las tecnologías digitales. La Unión Europea es un actor diferenciado de
Estados Unidos para la mayoría de los latinoamericanos pero sus ámbi-
tos de acción y preponderancia son acotados a temas sociales, políticos,
culturales y ambientales. En términos de Hirst et al (2024) estamos en
presencia de un “orden no hegémonico” en el mundo y la opinión pública
latinoamericana parece percibirlo.
Las relaciones con los tres polos de poder son percibidas como bue-
nas, aunque la inuencia económica y las inversiones son una disputa
sino-estadounidense.
En lo que tiene que ver con la democracia las evaluaciones con cla-
ras: los países noratnticos son valorados como los más democráticos, en
niveles similares a la autopercepción que los latinoamericanos tienen de
los regímenes políticos de sus propios países. Venezuela es la excepción
porque es evaluada en forma parecida a China y Rusia.
Los modelos de desarrollo más destacados son el estadounidense y
el alemán, seguidos por el chino y el japonés. Esto muestra que, en ma-
teria de desarrollo, los países asiáticos pueden perlarse como modelos
a tener en cuenta, más allá de las diferencias culturales –aun cuando el
régimen político chino sea catalogado como autoritario.
A lo largo de este texto se ha hecho hincapié en cuatro variables
domésticas clave para el Realismo Neoclásico y se ha planteado cómo
las conguraciones de la opinión pública latinoamericana pueden amor-
tiguar o amplicar las variables externas –sean regionales y/o internacio-
nales- que operan sobre la política internacional de los países de la región.
A futuro una posible línea de investigación a desarrollar surgirá de
la segunda encuesta especial sobre temas internacionales que será realiza-
da por el Latinobarómetro luego de la nalización de la guerra en Ucrania,
probablemente sobre nes de este lustro. Contar con dos encuestas permi-
tirá un alisis intertemporal que retrate las percepciones de los latinoa-
mericanos sobre las continuidades, ajustes y cambios del orden mundial.
88
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 71-89
Bibliografía
Bremmer, Ian. Every Nation for Itself. Winners and Losers in a G-Zero World, Nueva York:
Penguin. 2012.
Bianculli, Andrea C. Politicization and Regional Integration in Latin America: Implications
for EU–MERCOSUR Negotiations? Barcelona: Institut Barcelona d’Estudis Internacionals. 2020.
Caetano, Gerardo et al. Liderazgos y regionalismos en las relaciones internacionales latinoame-
ricanas, en Revista CIDOB d’Afers Internacionals 121, Barcelona. Pág. 181-207. 2019.
Doshi, Rush. The Long Game. China´s grand strategy to displece american order. New York:
Oxford University Press. 2021.
Fel, Pedro; López Burian, Camilo y Urdinez, Francisco. Legislative Behavior, Mass Media,
and Foreign Policy Making: The Case of Paraguay. Latin American Research Review, Published
online by Cambridge University Press. 2023.
Gardini, Gian Luca y Tavares de Almeida, María Hermínia. Foreign Policy responses to the
rise of Brasil. Balancing Power in Emerging State Nueva York: Palgrave Macmillan. 2016.
Gonlez, Guadalupe. (Co)Bulding a strategic agenda for the Americas, https://americas-
-tiempos-adversos.colmex.mx/agenda-estrategica/ Ciudad de México: El Colegio de México,
A.C. 2023.
Gonlez, Guadalupe et al. Cómo América Latina ve a Europa, en Revista NUSO, Buenos Ai-
res, Pág. 1-7. https://nuso.org/articulo/como-AL-ve-a-europa/ 2022.
Gonlez, Guadalupe et al. Afganisn y América Latina frente a la primacía desaada de Esta-
dos Unidos, en Revista NUSO, Buenos Aires. 2021a.
Gonlez, Guadalupe et al. Critical junture, power transition and Latin American vacuum, en
Revista NUSO, Buenos Aires, Special Publication. 2021b.
Gonlez Sarro, Iván. Veinte años de relaciones estratégicas de la Unn Europea con América
Latina y el Caribe (1999-2019): Alisis de la evolución de sus “tres pilares fundamentales. Foro
Internacional (FI), LX, 2020, núm. 3, cuad. 241, 1121-1167. 2020.
Haider, Wolfgang y Clemente, Isabel. Revisiting bi-regional relations: The EU-Latin Ameri-
can dialogue and diversication of interregional cooperation. Hamburgo: EU-LAC Founda-
tion. 2020.
Hirst, Mónica; Russell, Roberto; Sanjuan, Ana María y Tokatlian y Juan Gabriel. América Latina
y el Sur Global en tiempos sin hegemonías. Revista CIDOB dAfers Internacionals, n.º 136 (abril
de 2024), pp. 133-156. DOI: doi.org/10.24241/rcai.2024.136.1.133. 2024.
Johnson, Gregg y Lin, Zhimin. Does China’s Rise inuence anti-Americanism? Evidence from
Colombia. Revista Latinoamericana De Opinn Pública, 12(1), 6991. https://doi.org/10.14201/
rlop.31137. 2023.
Johnston, Alastair Iain y Shen, Mingming. Perception misperception american and chinese
views of the other. Washington, DC: Carnegie Endowment for International Peace. Publica-
tions Department. 2015.
Layne, Christopher. The USChinese power shift and the end of the Pax Americana. Interna-
tional Aairs. Nueva York: Oxford University Press. 2018.
Layne, Christopher. Coming Storms. The Return of Great-Power War. Foreign Aair. 2020.
Lobell, Steven E.; Ripsman, Norrin M. y Taliaferro, Jerey W. Neoclassical Realism, the State,
and Foreign Policy. Cambridge: Cambridge University Press. 2009.
pez Varas, Miguel Ángel. El intes de los latinoamericanos por los asuntos internaciona-
les. Revista Latinoamericana De Opinión Pública, 10(1), 165–178. https://doi.org/10.14201/
rlop.22922. 2021.
Manko, Jerey. Empires of Eurasia. How Imperial Legacies Shape International Security,
New Haven y Londres: Yale University Press. 2022.
Martínez Herndez, Aldo; Adrián y Zapata, Sandra. El alineamiento político de los países la-
tinoamericanos ante la inuencia hegemónica de Estados Unidos y la potencia emergente de
China: un análisis desde el realismo. En Rl Salgado Espinoza (coord.). Alisis de Política
Exterior desde América Latina: Enfoques, Diseños metodológicos y Casos. Quito: FLACSO
Ecuador. 2023.
89
Carlos Andrés Luján ¿Qué piensan los lanoamericanos sobre el sistema mundial?
Mearsheimer, John. The Tragedy of Great Power Politics, New York: W.W. Norton & Com-
pany. 2001.
Mearsheimer, John J. The Inevitable Rivalry America, China, and the Tragedy of Great-Power
Politics. Foreign Aairs. 2021.
Molano Cruz, Giovanni y Briceño Ruiz, José. El regionalismo en Arica Latina después de la
post-hegemonía, Centro de Investigaciones sobre América Latina y el Caribe-UNAM, Instituto
de Estudios Políticos y Relaciones Internacionales-UNAL. México. 2022.
Nord, Marina, Martin Lundstedt, David Altman, Fabio Angiolillo, Cecilia Borella, Tiago Fer-
nandes, Lisa Gastaldi, Ana Good God, Natalia Natsika, and Staan I. Lindberg. Democracy Re-
port 2024: Democracy Winning and Losing at the Ballot. University of Gothenburg: V-Dem
Institute. 2024. Disponible en https://www.v-dem.net/publications/democracy-reportsd
O’Keefe, Thomas Andrew. The Inter-American System in an Era of Declining United States
Hegemony. New York: Middle Atlantic. Review of Latin American Studies, 2020 Vol. 4, No.
2, 194-212. 2020.
Onuki, Janina; Mouron, Fernando y Urdinez, Francisco. Latin American Perceptions of Regional
Identity and Leadership in Comparative Perspective. San Pablo: Contexto Internacional. 2016.
Quispe-Remón, Florabel. Las relaciones entre la Unión Europea y la Comunidad Andina de
Naciones: los tratados de libre comercio. Revista Iberoamericana de Estudios de Desarrollo/
Iberoamerican Journal of Development Studies, Volumen 9, número 2. 2020.
Regueiro Bello y Marin Srez, Claudia. La perspectiva estadounidense sobre China como rival
estratégico en Merino, Gabriel Esteban; Regueiro Bello, Lourdes e Iglecias, Wagner Tadeu (Edi-
tores). China y el nuevo mapa del poder mundial. Una perspectiva desde América Latina.
Buenos Aires: CLACSO. 2022.
Ripsman, N., Taliaferro, J., y Lobell, S. Neoclassical Realist Theory of International Politics.
Oxford: Oxford University Press. 2016.
Rosales, Osvaldo. Economía y geopolítica en Arica Latina: la urgencia de estrechar vín-
culos con la Unión Europea. Madrid: Fundación Carolina. 2020.
Rose, Guideon. Neoclassical Realism and Theories of Foreign Policy. En World Politics.
Washington, DC: The Johns Hopkins University Press. 1998.
Sanahuja, José Antonio. América Latina y la Unión Europea: agendas sociales frente a pugnas
geopolíticas. pp. 301-316, en Wolf Grabendor y Andrés Serbin (Editores). Los Actores Globales
y el (re)descubrimiento de América Latina. Barcelona: Icaria Editorial. 2020.
Schweller, Randall. The Progressiveness of Neoclassical Realiam en Colin Elman and Mirian
Fendius Elman (Editores).Progress in International Relation Theory: Appraising the Field
Cambridge Mass: MIT Press, 2003.
Szigyi, István. The European Union and Latin America: A Bi-regional Strategic Alliance. His-
tory Research. Vol. 8, No. 2, 2020, pp. 33-47. 2020.
Tussie, Diana. La reconguración global: Su capítulo en vivo para América Latina en Josette
Altmann Borbón (editor). América Latina frente a la reconguración global, San José de Costa
Rica: FLACSO. 2019.
Urdinez, Francisco. They own our country! voter reaction to anti-China rhetoric: The case of
the presidential election in Brazil in 2018. Santiago de Chile: Electoral Studies 86. journal. ho-
mepage: www.elsevier.com/locate/electstud. 2023.
van Klaveren, Alberto. América Latina y Europa: ¿queda algo de una relación estratégica? pp.
285-300, en Wolf Grabendor y Andrés Serbin (Editores). Los Actores Globales y el (re)descu-
brimiento de América Latina Barcelona: Icaria Editorial. 2020.
Waltz, Kenneth. Teoría de la política internacional. Buenos Aires: Grupo Editor Latinoame-
ricano. 1988.
90
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
Más allá de lo técnico: Explorando la
dimensión política de la función contra-
cíclica del financiamiento del desarrollo
Beyond the technical: Exploring the political dimension of
the counter-cyclical role of development finance
Além do técnico: explorando a dimensão política do papel
anticíclico do financiamento do desenvolvimento
Pablo Hidalgo-Romero
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2023v11n2p90-112
Recebido em: 26 de junho de 2023
Aceito em: 02 de maio de 2024
R
Una de las funciones de los bancos regionales de desarrollo (BRD) es brindar
recursos durante crisis económicas mediante nanciamiento contracíclico (FCC)
para mitigar sus efectos negativos. Se ha posicionado la idea de que los BRD son
instituciones apolíticas, imparciales y que actúan de forma estrictamente técnica.
El abordaje académico del FCC se ha realizado principalmente desde un enfo-
que técnico. Las investigaciones que analizan la interacción de lo técnico con lo
político son escasas y las principales contribuciones realizadas desde la economía
política global estudian al FCC de forma tangencial. Por lo tanto, existe una gran
oportunidad para realizar aportes que discutan y analicen esta función de los
BRD y su vínculo con el desarrollo de los países. Esta investigación examina al
FCC aprobado por el BID para países de Sudamérica durante la pandemia del
COVID-19, mediante análisis estadístico y análisis de correspondencias múltiples.
Los resultados sugieren que países con orientación de derecha recibieron nan-
ciamiento condicionados a reformas de tipo neoliberal, en contraste, países de
“izquierda” recibieron nanciamiento para inversión y contención de la crisis úni-
camente con condiciones nancieras, en consecuencia, se demuestra que los facto-
res políticos son determinantes para activar la función contracíclica de los BRD.
Palabras clave: nanciamiento contracíclico, nanciamiento del desarrollo,
poder, reformas neoliberales. Códigos JEL: F34, F40, F50, F53, F59
A
One of the functions of regional development banks (RDB) is to provide resour-
ces during economic crises through countercyclical nancing (CCF) to mitigate
their negative eects. The idea has been established that RDBs are apolitical and
impartial institutions that act strictly on technical grounds. The academic appro-
ach to CCF has primarily been conducted from a technical perspective. Research
91
Pablo Hidalgo-Romero Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión políca de la función contra-cíclica del nanciamiento del desarrollo
examining the interaction of the technical and political aspects is limited, and
the main contributions made from the global political economy tangentially stu-
dy CCF. This research examines the CCF approved by the Inter-American De-
velopment Bank for South American countries during the COVID-19 pandemic
through statistical and multiple correspondence analyses. The results suggest
that right-leaning countries received funding conditioned on neoliberal-type
reforms. In contrast, left-leaning countries received funding for investment and
crisis containment solely with nancial conditions. Consequently, it is demons-
trated that political factors are crucial in activating the countercyclical function
of the BRD.
Keywords: Counter-cyclical nancing, development nancing, power, neoliberal
reforms.
R
Uma das funções dos bancos regionais de desenvolvimento (BRD) é fornecer
recursos durante crises econômicas por meio de nanciamento contracíclico
(FCC) para mitigar seus efeitos negativos. Estabeleceu-se a ideia de que os BRDs
são instituições apolíticas e imparciais que agem estritamente com base técnica.
A abordagem acadêmica do FCC tem sido principalmente conduzida a partir
de uma perspectiva técnica. A pesquisa que examina a interação dos aspec-
tos técnicos e políticos é limitada, e as principais contribuições feitas a partir
da economia política global estudam tangencialmente o FCC. Esta pesquisa
examina o FCC aprovado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento para
países sul-americanos durante a pandemia de COVID-19 por meio de análises
estatísticas e de correspondência múltipla. Os resultados sugerem que países
com orientação de direita receberam nanciamento condicionado a reformas
de tipo neoliberal. Em contraste, países com orientação de esquerda receberam
nanciamento para investimento e contenção da crise apenas com condições
nanceiras. Consequentemente, é demonstrado que os fatores políticos são
cruciais para ativar a função contracíclica dos BRDs.
Palavras-chave: Financiamento contracíclico, nanciamento do desenvolvimen-
to, poder, reformas neoliberais.
Introducción
Las crisis económicas constituyen periodos donde las economías
del Sur Global, caracterizadas por ser frágiles y rezagadas, enfrentan
grandes desafíos. En este contexto, los bancos multilaterales de desar-
rollo (BMD) y los bancos regionales de desarrollo (BRD) emergen como
actores potencialmente idóneos para ofrecer apoyo contracíclico a través
de la provisión de recursos nancieros, asistencia técnica y transferencia
de conocimientos (VIVARES, 2013). Sin embargo, existen una serie de
restricciones que limitan el mandato contracíclico de estas instituciones
como puede ser su calicación crediticia (CASH, 2022) o su alineación po-
lítica (KILBY, 2013a), esto provoca que quien requiere de mayor nancia-
miento no siempre es quien más lo obtiene (HIDALGO-ROMERO, 2022).
Estas instituciones proporcionan nanciamiento de tres formas:
mediante garantía soberana, destinada a enfrentar problemas estructu-
rales mediante préstamos programáticos [~]basados en el cumplimiento
de metas; mediante nanciamiento de proyectos de inversión en sectores
clave del desarrollo; y mediante nanciamiento “no soberano” dirigido a
92
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
empresas privadas. La condicionalidad asociada a cada una de estas for-
mas es distinta y es un elemento clave que permite explorar la relación de
poder entre el Estado con los BRD/BMD (JOSEPH, 2000).
La literatura sobre nanciamiento del desarrollo, políticas de ajus-
te estructural y condicionalidad ha sido abundante (COELHO, 2002;
JOSEPH, 2000; STANLEY; FERNDEZ, 2018), aunque los análisis so-
bre nanciamiento contracíclico (FCC), de manera especíca, son esca-
sos (MOLINARI; PATRUCCHI, 2020). Usualmente este tema se ha abor-
dado desde una perspectiva técnica (AVELLÁN et al., 2022; AVELLÁN;
GALINDO, 2018) y los alisis desde el campo de la EPG han sido poco
frecuentes (HUMPHREY, 2017; VACA HERNDEZ, 2022). Finalmente,
los estudios previos se centraron en analizar la crisis nanciera de 2008
(BABB, 2009; HELLEINER, 2011), menos comunes son los análisis sobre
el FCC durante la crisis del COVID-19. En consecuencia, esta investiga-
ción contribuye a llenar esta brecha en la literatura.
El objetivo de esta investigación es examinar la relación entre el
tipo de nanciamiento aprobado por el BID y la orientación política del
gobierno receptor durante la pandemia del COVID-19. En denitiva, se
busca responder a la pregunta de cómo inuye la orientación política del
gobierno receptor en el tipo del nanciamiento del BID considerando su
condicionalidad asociada.
La hipótesis que dirige este estudio plantea que los países dispues-
tos a sacricar su autonomía y que siguen una perspectiva neoliberal de
desarrollo tendrán una mayor inclinación a buscar recursos de desembol-
so rápido, como los “préstamos basados en políticas” (PBL), en contraste,
con aquellos países que siguen una orientación política divergente. Por
lo tanto, se anticipa que los primeros recibirán una mayor cantidad de
recursos de manera más rápida en comparación con los segundos, lo que
les conferirá una capacidad superior para afrontar las crisis en cuestión.
Para estructurar esta investigación, se seguirá este esquema: pri-
mero, se abordará la discusión sobre economía política global y el nan-
ciamiento del desarrollo y contracíclico. Posteriormente, se expondn
los materiales y métodos empleados. Luego, se expondn los resulta-
dos obtenidos mediante los distintos métodos estadísticos utilizados.
Seguidamente, se discutin los hallazgos sobre el FCC en el marco de la
crisis económica provocada por el COVID-19. Por último, se expondrán
las conclusiones derivadas de la investigación.
Salvavidas financiero: El poder del financiamiento contracíclico (FCC) en
el desarrollo económico
Economía política global
El campo de la economía política global (EPG) sostiene que lo polí-
tico y lo económico no pueden estudiarse de forma separada, sino que se
encuentran altamente interconectados y para estudiar a lo primero es ne-
cesario considerar a lo segundo y viceversa (COELHO, 2002). Asimismo,
como un campo plural de investigación toma conceptos de diferentes
93
Pablo Hidalgo-Romero Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión políca de la función contra-cíclica del nanciamiento del desarrollo
tradiciones teóricas generadas en el Sur Global para explicar su realidad
político-económica. Busca determinar quién gana y quién pierde, de qué
manera y en qué momento dentro de las interacciones entre los merca-
dos, Estados e instituciones nancieras internacionales (entre ellos los
BRD) y diseccionar las relaciones de poder conguradas en dicho contex-
to (QUILICONI, 2022).
Este campo es ecléctico ya que aglutina una gran cantidad de apor-
tes que provienen de diversas tradiciones teóricas tanto a nivel epistemo-
gico como ontológico (SIL; KATZENSTEIN, 2011). Es crítico, ya que de-
construye la realidad para explicar cómo y por qué suceden como suceden
los eventos, y, nalmente, es heterodoxo puesto que valora otro tipo de
métodos además de los métodos tradicionales positivistas (TUSSIE, 2020).
Además, propone varias líneas de investigación que atraviesan
conceptos importantes como desarrollo y conicto, tanto a nivel nacio-
nal como internacional, así como globalización y transiciones de poder
(COHEN, 2019). Asimismo, examina las fuentes de poder político y sus
diferentes usos para nes económicos, lo cual es clave para compren-
der la relación de nanciamiento entre los estados y los BMD/BRD, ya
que, las nanzas no están directamente relacionadas con la producción
y han adquirido autonomía como un poder independiente que controla
la economía real de manera autocrática (COX, 1994). Y dada la interde-
pendencia inherente en las dimicas cambiantes del mercado, es crucial
considerar cómo este tipo de instituciones inuyen en la política estatal
(UNDERHILL, 2000).
Las crisis económicas generan una reorganización del poder nan-
ciero, aumentando la necesidad de nanciamiento. Este escenario dicul-
ta la satisfacción de la demanda de recursos por parte de los prestatarios,
lo que incide negativamente en su evaluación de riesgo y limita su capaci-
dad para actuar de manera contracíclica conforme a su mandato institu-
cional (MOLINARI; PATRUCCHI, 2020). Sin embargo, este escenario no
implica que todos los países sean rechazados en la obtención de recursos
nancieros; aquí es donde la EPG juega un papel fundamental al explicar
los factores que determinan la asignación de recursos nancieros a algu-
nos solicitantes y no a otros.
Por otra parte, la distribución de poder es un concepto central en
este campo, la cual es determinada por las posiciones de los países dentro
de las estructuras globales (WINECOFF, 2020). No obstante, las crisis
tienen la capacidad de redistribuir el poder entre los actores, modicar
su posición en la estructura y orientar su modelo de desarrollo hacia un
determinado paradigma (DECIANCIO; QUILICONI, 2020).
Relacionado a lo anterior, emerge el concepto de “poder estructu-
ral” el cual se reere a la capacidad de un actor de moldear y congurar
la estructura en la cual operan los otros actores (STRANGE, 1988), donde
los BRD son parte de un complejo de instituciones que son capaces de
alterar y escribir las reglas del nanciamiento del desarrollo, entre ellas,
la promoción de una agenda de reformas neoliberales (VIVARES, 2013).
En esta línea, Wineco (2020) examina este concepto y destaca que
la posición dominante de Estados Unidos en el sistema se mantendrá a
largo plazo, incluyendo su inuencia sobre los BRD como herramientas
94
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
de ejercicio del poder. Así, los países periféricos podrían modicar su po-
sición en el sistema debido a las crisis, aunque es poco probable que se
desplacen hacia el centro. En contraste, Helleiner y Wang (2018) señalan
que este poder está siendo desaado por países con una posición signi-
cativa en la estructura, como los BRICS.
Para poder entender la dimica de la relación de nanciamiento
Estado-BRD es oportuno utilizar el concepto de nancial statecraft (FS),
el cual se reere a:
[...] el uso, por parte de los gobiernos de los Estados soberanos, de palancas
nacionales de inuencia directa e indirecta sobre los activos nancieros, los mer-
cados y los actores con el n de lograr objetivos de política exterior más amplios
[...] (ARMIJO; KATADA, 2014, p. 18).
Las autoras Armijo y Katada (2014) plantean dos tipos de FS. El pri-
mero, es ofensivo, donde un Estado puede aprovechar su poder nanciero,
o incluso geopolítico, para imponer su voluntad y/o condicionar el compor-
tamiento de otro Estado. Esto puede ser complementado con la noción de
asimetrías de poder de Coelho (2002) quien sostiene que son espacios produ-
cidos conforme los intereses de quienes disputan o dominan en el plano eco-
nómico y político y para ello hacen uso de los instrumentos que disponen.
El segundo es defensivo, donde países con menor poder relativo pue-
den utilizar ciertas estrategias para sacar ventajas negociadoras de la rela-
ción nanciera asimétrica (LABAQUI, 2014) o, al menos, son capaces de
minimizar los costos derivados de la misma (HIDALGO-ROMERO, 2022).
Un objetivo central del FS, para los países prestatarios, es mantener
la autonomía en su política económica alejado de la inuencia de grandes
instituciones nancieras (KATADA; SOHN, 2014). Esta puede alcanzarse
mediante diversas estrategias como la creación de instituciones alternati-
vas como las propuestas por los BRICS (ARMIJO; KATADA, 2017) siste-
mas de pago alejados del dólar (NÖLKE, 2022), o un proceso de regiona-
lismo nanciero (IKENBERRY; LIM, 2017)
Por otra parte, en cuanto a la literatura sobre condicionalidad del
nanciamiento, un grupo de autores señalan que estas instituciones brin-
dan nanciamiento y exigen cierta condicionalidad de forma consensua-
da donde el desarrollo de la negociación es principalmente de orden téc-
nico (GOLD, 1983; HUMPHREY; MICHAELOWA, 2013).
En contraste, otro grupo aborda el tema desde la EPG. Este grupo
sostiene que las decisiones de las instituciones nancieras internacionales
se encuentran fuertemente inuidas por criterios políticos (KILBY, 2013b),
donde un elemento fundamental para entender dichas decisiones se en-
cuentra en la orientación política que tienen los Estados (HAGGARD;
KAUFMAN, 2018), misma que debe ser cercana con EE.UU, al momento
de ser evaluados. (BABB, 2003, 2009; MOMANI, 2004)
Un tercer grupo destaca que, si bien los criterios de alineación po-
lítica son determinantes, los Estados pueden sacar ventaja de la situación
estructural, con lo cual, la imposición de medidas de forma vertical no
siempre sucede y, de hecho, han habido casos en los cuales el nancia-
miento no necesariamente condiciona el actuar del Estado en otros espa-
cios de interacción política internacional (OBYDENKOVA; RODRIGUES
VIEIRA, 2020; STRAND; ZAPPILE, 2015).
95
Pablo Hidalgo-Romero Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión políca de la función contra-cíclica del nanciamiento del desarrollo
Financiamiento del desarrollo y nanciamiento contracíclico (FCC)
El Financiamiento del desarrollo es entendido como un “complejo
de recursos asignados al mejoramiento de las estructuras y dimicas
socioeconómicas dentro de una entidad política especíca” (STANLEY;
FERNDEZ, 2018, p. 101).
Este proceso es gestionado a nivel internacional por los BMD/BRD
quienes proveen recursos nancieros, técnicos y transferencia de conoci-
mientos a sus prestatarios (OCAMPO, 2006). Esto presupone la existen-
cia de un proceso de negociación entre el Estado con el BRD (NEMIÑA,
2013), o también llamado “diálogo político” (BIERSTEKER, 1990), en el
cual intervienen aspectos económicos-nancieros, como también, polí-
ticos. En este punto la discusión sobre el tamaño del estado es un punto
central que expresa la naturaleza neoliberal de la condicionalidad asocia-
da (BIERSTEKER, 1990).
En este contexto, el nanciamiento contracíclico (FCC) hace parte
de las funciones principales por las cuales fueron creados los BRD. De he-
cho, el FCC se maniesta como la provisión de recursos nancieros y téc-
nicos por parte de estos bancos en momentos de alta incertidumbre bus-
cando promover la estabilidad económica (CIPOLETTA; ABDO, 2021).
Las crisis económicas alteran las capacidades económicas de los
Estados y limitan su rango de opciones políticas (HAGGARD; KAUFMAN,
2018). Esto tiene repercusiones en la oferta y demanda del nanciamiento
para sostener los procesos de desarrollo (ARMIJO; KATADA, 2017). En
este sentido, el componente político que compone a esta función es clave
para entender la conducta de estos actores en un contexto complejo.
Estudiar al FCC permite estudiar la dimica de poder entre el
Estado y los BRD dadas las restricciones de mercado señaladas previa-
mente (KILBY, 2013a). En efecto, las crisis no golpean a todos por igual,
países de renta baja podrían recibir mayor volumen de nanciamiento,
en comparación a países de renta media, aunque sus condicionalidades
pueden ser muy distintas (CASH, 2022).
Los BRD han sido establecidos como ejecutores del rol de nan-
ciamiento contracíclico (CIPOLETTA; ABDO, 2021) donde su acción es-
tratégica los ha convertido en un actor central para la recuperación eco-
nómica y social siempre y cuando exista un plan de implementación de
políticas contracíclicas por parte de los gobiernos (KAHLER, 1985).
El BID denomina al FCC como “nanciamiento contingente”, cuyo n
es brindar apoyo inmediato para hacer frente a los efectos de una crisis eco-
nómica potencial o real. No obstante, el FCC también puede expresarse de
forma implícita con el nombre de “préstamos basados en políticas” (PBL) en
instituciones como el BID o el Fondo Monetario Internacional (BABB, 2009).
Estos préstamos se dan a países con problemas de presupuesto, aportando
liquidez y con condiciones (usualmente neoliberales) para impulsar reformas
en ciertos sectores económicos, acordados con anticipación (BABB, 2003).
Además, la evidencia sugiere que los PBL del BID son otorgados con mayor
facilidad cuando hay un programa activo con el FMI (AVELLÁN et al., 2022).
Finalmente, el FCC, dentro del marco del nanciamiento del de-
sarrollo, emerge como una herramienta fundamental para impulsar o
96
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
preservar los procesos de desarrollo de los países. Este enfoque conlleva
condiciones de mercado o neoliberales y está inuenciado tanto por va-
riables económicas como por consideraciones políticas.
3. Materiales y métodos
3.1 Muestra utilizada
Esta investigación tiene un enfoque metodológico cuantitativo,
con el propósito de explorar la relación entre distintas variables que inter-
vienen en el proceso de nanciamiento contracíclico proporcionado por
el BID a los países de América Latina.
Para esto se ha considerado trabajar con 2 tipos de muestra, una
muestra general y una submuestra especíca. La primera muestra cor-
responde a todos los proyectos nanciados por el BID desde 2020 a 2022,
durante la irrupción de la pandemia del COVID-19 a todos los países de
Sudamérica (excluyendo a Guyana y Surinam y Venezuela), donde dicha
muestra contiene información de 130 proyectos que equivalen a 20.300
millones de dólares de nanciamiento (BID, 2022).
Asimismo, se han tomado de la misma muestra general, los 41 pro-
yectos con mayor monto de nanciamiento aprobado por el BID en el
mismo período. Estos proyectos corresponden a FCC cuyo objetivo prin-
cipal ha sido mitigar los efectos de la crisis derivada de la pandemia del
COVID-191. Es importante resaltar que esta submuestra representa a cer-
ca del 75% del monto total de aprobación del BID durante este periodo.
Esta submuestra se compone de la siguiente manera como se evi-
dencia en la tabla 1.
Tabla 1: Operaciones y monto financiado por el BID
País Proyectos financiados entre 2020 y 2022 Monto financiado por país (MM USD)
Argentina 8 $2.300
Bolivia 2 $950
Brasil 5 $2.430
Chile 4 $1.400
Colombia 6 $2.700
Ecuador 7 $2.180
Paraguay 5 $1.185
Perú 3 $1.500
Uruguay 1 $350
Total general 41 $14.995
Fuente: Elaboración propia con base en la submuestra de 41 proyectos
aprobados por el BID
Para la construcción de la base de datos fue necesario realizar un
alisis documental proyecto por proyecto, es decir, se revisó la documen-
tación de los 41 proyectos con mayor monto de nanciamiento durante
la crisis del COVID-19 para identicar sus particularidades y rescatar sus
1. Esta base de datos se encuentra
publicada en la web oficial del Banco
Interamericano de Desarrollo en la
sección de proyectos, la misma toma
en cuenta los proyectos que han sido
aprobados por el BID e implementados
por los Estados de América Latina desde
el año 2000 en adelante.
97
Pablo Hidalgo-Romero Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión políca de la función contra-cíclica del nanciamiento del desarrollo
variables principales. Estos proyectos proporcionan una base sólida para
realizar generalizaciones conables al concluir el estudio.
3.2 Métodos
Para analizar la información se empleó estadística descriptiva, útil
para resaltar características relevantes de indicadores y una prueba chi-
-cuadrado para evaluar la relación entre nanciamiento y orientación po-
lítica en el FCC, que permita determinar la independencia o dependencia
entre las variables (MOSES; KNUTSEN, 2012).
En segundo lugar, se realizó una caracterización a partir del
Alisis de correspondencia simple (bivariado) y múltiple, en su variante,
el Joint Correspondence Analysis (JCA), este método forma parte de la es-
tadística exploratoria multivariable que, como su nombre lo indica, per-
mite manejar un gran número de variables categóricas y resumirlas en
dos dimensiones (BAZELEY, 2020) con el objetivo de resaltar el grado
o profundidad de las relaciones entre las distintas variables cualitativas
(PARRA, 1996).
Adicionalmente, este método busca resumir un espacio de propie-
dades generando nuevas variables-resumen denominadas factores (o ejes)
que ponen en evidencia las diferencias entre los individuos en estudio de
acuerdo con las combinaciones de las características que presentan(PAR-
RA, 1996).
Para interpretar el gco que brinda este método, se deben tener
en cuenta las asociaciones existentes. Las asociaciones positivas se des-
criben mediante el posicionamiento cercano de los puntos en el espacio.
En otras palabras, cuanto más próximos estén los puntos, mayor será su
asociación o vínculo. Por otro lado, cuando los puntos se encuentran más
alejados, indica una asociación negativa (BAZELEY, 2020).
3.3 Variables de estudio
Para analizar las diversas formas en como el nanciamiento ha sido
otorgado en el contexto de crisis se ha tomado en cuenta variables que se
detallan en la tabla 2.
98
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
Tabla 2: Descripción de variables de análisis
Variable Descripción
Financiamiento Monto de financiamiento otorgado por el BID durante los años 2020, 2021 y 2022 durante la crisis derivada de la pandemia del COVID-19
Variable Descripción Categorías
Orientación política Orientación política del gobierno receptor del financiamiento
“derecha-neoliberal”
“izquierda”
No definido
Sector productivo Corresponde al sector productivo destinatario del financiamiento
Medio ambiente
Exportaciones
Migración
Pobreza
Salud
Ciencia y tecnología
Energía renovable
Mercados financieros PYMES
Negocios
Política Fiscal
Política Laboral
Reforma modernización
Seguridad social
Infraestructura, agricultura y agua
Tipo de préstamo Tipo de préstamo recibido por el Estado receptor del financiamiento
Préstamo basado en políticas (PBL)
“contención de la crisis”
Inversión
País País que recibe el financiamiento del BID
Argentina
Brasil
Uruguay
Chile
Bolivia
Paraguay
Perú
Ecuador
Colombia
Fuente: Elaboración propia
En relación con la variable de “orientación política”, se llevó a cabo
un alisis del comportamiento de los países en lugar de basarse úni-
camente en su autodenición. Por ejemplo, Lenín Moreno de Ecuador
inicialmente se presentó como de “izquierda” pero durante su gobierno
aplicó ajustes neoliberales. En el caso de Perú, debido a su inestabilidad
política no fue posible clasicarlo de manera precisa. Por esa razón, se
lo consideró “no denido” y se lo excluyó para garantizar precisión en
el análisis.
Para mayor precisión se han establecido una serie de condiciones de
comportamiento que permitan determinar su orientación política, tales
como:
a) La rma de una carta de intención con el FMI durante el periodo
de gobierno y/o la aplicación de reformas estructurales.
99
Pablo Hidalgo-Romero Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión políca de la función contra-cíclica del nanciamiento del desarrollo
b) Firma de acuerdos de cooperación militar o estratégica del país
con EE.UU
c) Propuesta o implementación de una reforma tributaria de tipo
neoliberal.
d) Propuesta o implementación de medidas de austeridad scal de
tipo neoliberal
La variable “sector productivo” indica la asignación de recursos
aprobados por el BID, destacando sectores representativos para un ali-
sis detallado de su distribución y uso en el nanciamiento. Por su parte,
la variable “país” está compuesta por todos los países de América del Sur
con excepción de Guyana, Surinam y Venezuela y, para ciertos alisis
Perú.
De igual forma, la variable “tipo de préstamos” se dividió en tres
categorías: “préstamos basados en políticas” (PBL) que se reere a nan-
ciamiento de rápido desembolso con condicionalidad neoliberal; “conten-
ción de crisis” para situaciones macroeconómicas críticas, sin condiciones
neoliberales obligatorias; e “inversión” destinado a proyectos como in-
fraestructura y servicios.
4. Resultados y Discusión
4.1 Resultados de la muestra general
Según los resultados obtenidos de la base de datos general de 130
proyectos, se observa que, durante la crisis, el nanciamiento otorgado
por el BID en términos nominales se destinó en mayor medida a paí-
ses como Brasil (3.905 millones USD), Colombia (3.167 millones USD),
Argentina (3.203 millones USD) y Ecuador (2.510 millones USD). Cabe
destacar que los Estados, generalmente aquellos con mayores capacidades
materiales, incluida una población más grande, tienden a tener una ma-
yor proporción de nanciamiento.
100
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
Ilustración 1: Financiamiento del BID y PIB por país
Fuente: Elaboración propia
La ilustración 1 revela que el nanciamiento otorgado por el BID
no siempre es proporcional al tamaño de la economía de los países, como
lo indica la línea de tendencia. En efecto, los casos de Colombia, Ecuador
y Paraguay resultan llamativos, ya que han sido nanciados de forma sig-
nicativa sin guardar relación con su economía. Este es un primer indicio
de que el nanciamiento no responde únicamente a la capacidad nancie-
ra de un país sino a otros factores.
Al analizar este resultado y considerar la relación proporcional en-
tre el nanciamiento aprobado por el BID entre 2020 y 2022 en compara-
ción con el Producto Interno Bruto (PIB) de 2021, según se presenta en la
tabla 3, se puede observar que Paraguay posee el índice más alto, alcan-
zando un 4.4%. Le sigue Bolivia con un 2,93%, Ecuador con un 2,36%,
Uruguay con un 1,72% y Colombia con un 1,01%.
Tabla 3: Financiamiento aprobado por el BID frente al PIB de 2021
País Financiamiento BID 2020-2022
(MM USD)
PIB 2021
(MM USD) Financiamiento/PIB 2021
Paraguay $ 1.739 $ 39.492 4,40%
Bolivia $ 1.182 $ 40.408 2,93%
Ecuador $ 2.510 $ 106.166 2,36%
Uruguay $ 1.022 $ 59.295 1,72%
Colombia $ 3.167 $ 313.922 1,01%
Perú $ 1.907 $ 223.103 0,85%
101
Pablo Hidalgo-Romero Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión políca de la función contra-cíclica del nanciamiento del desarrollo
País Financiamiento BID 2020-2022
(MM USD)
PIB 2021
(MM USD) Financiamiento/PIB 2021
Argentina $ 3.203 $ 485.295 0,66%
Chile $ 1.703 $ 316.881 0,54%
Brasil $ 3.905 $ 1.609.957 0,24%
Total general $ 20.339
Fuente: Elaboración propia con base en la muestra general de 130 proyectos
aprobados por el BID
Aquí se observan varias particularidades, ya que Paraguay y
Ecuador tuvieron gobiernos neoliberales, mientras que, Bolivia tuvo un
gobierno de “izquierda” entre nales de 2020 y 2022. Ambos tipos de go-
biernos acudieron al BID para obtener nanciamiento y lo recibieron de
forma signicativa en relación con su PIB.
4.2 Resultados de la submuestra de 41 proyectos
Por otra parte, la submuestra de 41 proyectos con mayor monto
de nanciamiento del BID durante la pandemia del COVID-19 arroja los
siguientes resultados:
El primer análisis se reere al potencial vínculo entre la orientación
política con el sector de la economía nanciado. Podemos ver que existe
cierto tipo de especialización y vínculo entre estas dos variables, como se
puede observar en la tabla 4.
Tabla 4: Financiamiento por sector y orientación política (MM USD)
Sector económico “Derecha-neoliberal” “Izquierda” No definido Total
Medio ambiente $ 1.100 $ - $ - $ 1.100
Exportaciones $ 200 $ - $ - $ 200
Migración $ 300 $ - $ - $ 300
Pobreza $ 1.750 $ 1.150 $ - $ 2.900
Salud $ 250 $ 770 $ - $ 1.020
Ciencia y tecnología $ - $ 230 $ - $ 230
Energía renovable $ 840 $ 200 $ - $ 1.040
Mercados financieros PYMES $ 1.200 $ 500 $ - $ 1.700
Negocios $ 1.550 $ - $ 400 $ 1.950
Política Fiscal $ 1.310 $ - $ 500 $ 1.810
Política Laboral $ - $ - $ 600 $ 600
Reforma modernización $ 1.000 $ - $ - $ 1.000
Seguridad social $ 300 $ - $ - $ 300
Infraestructura, agricultura y agua $ 230 $ 615 $ - $ 845
Total $ 10.030 $ 3.465 $ 1.500 $ 14.995
Fuente: Elaboración propia con base en la submuestra de 41 proyectos
aprobados por el BID
Los gobiernos de orientación “derecha-neoliberal” han canaliza-
do su nanciamiento principalmente hacia sectores clave, como el ali-
vio de la pobreza (1.750 MM USD), negocios (1.550 MM USD) y refor-
mas en política scal (1.310 MM USD), entre otros. Este enfoque resulta
102
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
llamativo, ya que se evidencia una atención tanto al sector social, como
se reeja en el nanciamiento destinado al alivio de la pobreza, como a
reformas relacionadas con los negocios y la política scal. Este último
aspecto es más frecuente en gobiernos de orientación “derecha-neolibe-
ral” (BIELSCHOWSKY; TORRES, 2018; RIGGIROZZI, 2020). Si bien este
tipo de gobiernos buscan atender al sector social, es habitual encontrar
nanciamiento a proyectos vinculados con negocios y temas macroeco-
nómicos (RIGGIROZZI, 2020).
En contraste, los gobiernos de orientación de “izquierda” han re-
cibido nanciamiento principalmente en dos sectores clave: alivio de la
pobreza (1.150 MM USD) y proyectos relacionados con el sector de la sa-
lud (770 MM USD). Asimismo, ambos tipos de gobiernos (“izquierda” y
derecha-neoliberal”) han solicitado nanciamiento al BID para el mis-
mo sector, que se centra en transferir recursos a través de bonos o transfe-
rencias monetarias. En consecuencia, las variables políticas son cruciales
para comprender las diferencias en estos proyectos nanciados.
Efectivamente, los resultados revelan que el 43% de la nanciación
destinada a aliviar la pobreza, asignada a gobiernos de “derecha-neolibe-
ral, se enfoca en PBL que implican la implementación de reformas. Esto
contrasta con el enfoque de nanciamiento sin condicionalidad neolibe-
ral dirigido al mismo sector solicitado por los gobiernos de “izquierda”.
4.3 Relación entre la variable de orientación política con el tipo de préstamo
En cuanto al alisis del tipo de crédito en relación con la orien-
tación política, se puede ver en la tabla 5 que existe una preferencia por
el tipo de préstamo dependiendo el tipo de orientación política. La “de-
recha-neoliberal” ha accedido principalmente a PBL donde la condicio-
nalidad es sumamente “dura” en términos neoliberales, la cual “incluye
acciones previas y los criterios de ejecución, medidas cuantitativas y/o
estructurales cuyo incumplimiento amerita la suspensión de los desem-
bolsos.” (NEMIÑA, 2013, p. 93)
Tabla 5: Orientación política y tipo de préstamos
Orientación política Orientación política Total
“Derecha-neoliberal” “Izquierda” “No definido”
“contención de la crisis” 27,4% 70,7% 0,0% 34,7%
Inversión 4,9% 29,3% 0,0% 10,0%
PBL 67,7% 0,0% 100,0% 55,3%
Total 100% 100% 100% 100%
Fuente: Elaboración propia.
Mientras que los gobiernos de “izquierda” han accedido a nan-
ciamiento para “contención de la crisis” cuya principal característica es
que no exige una condicionalidad neoliberal estricta, sino más bien, es de
tipo operativa cuya particularidad es que “incluye las metas cuantitativas
indicativas y los parámetros estructurales de referencia, cuyo incumpli-
miento no implica sanción en términos formales.” (NEMIÑA, 2013, p.93).
103
Pablo Hidalgo-Romero Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión políca de la función contra-cíclica del nanciamiento del desarrollo
Dicho esto, se puede inferir que los gobiernos de derecha están dis-
puestos a asumir los costos de cesión de autonomía que exige la condi-
cionalidad “dura”, mientras que, los gobiernos de “izquierda” no están
dispuestos asumir costos tan rígidos, lo que los enmarca en operaciones
nancieras con un componente político menor.
Se observa que para afrontar los momentos de crisis todos los
países han acudido al BID para recibir nanciamiento. Sin embargo,
unos países han recibido relativamente más que otros en términos no-
minales y en términos de condicionalidad. En este punto cabe señalar
lo que sostiene Babb (2009) quien plantea que un Estado con gran de-
pendencia de nanciamiento es susceptible a la inuencia política del
acreedor. Esto se puede ver en los gobiernos de “derecha-neoliberal
quienes han accedido a cantidades considerables de recursos con una
condicionalidad costosa.
Por su parte, países como Bolivia o Argentina no han accedido a
nanciamiento con condicionalidad neoliberal, lo cual les ha permitido
acceder a recursos, en montos relativamente inferiores, pero en condi-
ciones políticamente favorables, minimizando la inuencia política del
acreedor acorde a lo que plantea Coelho (2002).
En particular, Bolivia se distingue por haber obtenido un nancia-
miento de 1.182 MM USD, equivalente al 2,93% de su PIB. Además, es re-
levante su reserva internacional, la cual representó aproximadamente el
9% en relación al PIB, según World Bank (2022). Esta situación le conere
la capacidad de adoptar una estrategia nanciera defensiva, permitiéndo-
le obtener nanciamiento mientras minimiza la inuencia política y, en
cierta medida, evita el poder estructural que se instrumentaliza en las
reformas neoliberales (STRANGE, 1998).
De igual forma, al haber contado con dicha reserva su poder eco-
nómico se incrementó lo que funcionó como “escudo” en el momento
de la crisis, ya que así pudo minimizar los costos políticos y acceder al
nanciamiento del BID en condiciones favorables, con lo cual, fortaleció
su posición. Esto va acorde lo que plantean Armijo, Mühlich, y Tirone
(2014) quienes indican que un país pequeño con una cantidad de reservas
signicativa puede resistir a las crisis y reducir su vulnerabilidad ante pre-
siones de instituciones nancieras internacionales.
Por otra parte, se ha conrmado que el nanciamiento no está rela-
cionado con el tamaño económico, como se demostró anteriormente. Se
empleó la prueba de chi-cuadrado para analizar las variables de orienta-
ción política y tipo de préstamo, evaluando su independencia. Esta prue-
ba estadística examina la relación entre variables categóricas y verica si
las frecuencias observadas son coherentes con la independencia entre esas
variables (ZIBRAN, 2007; SAMIUC, 2018).
Al realizar esta prueba con las variables “tipo de préstamo” y
orientación política” se ha obtenido lo siguiente, según se detalla a
continuación:
104
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
Tabla 6: Prueba Chi-cuadrado
Orientación política “contención de la crisis” Inversión PBL Total
Derecha 2.750 490 6.790 10.030
“izquierda” 2.450 1.015 0 3.465
No definido 0 0 1.500 1.500
Total 5.200 1.505 8290 14.995
Pearson chi2= 6,4+e09 Pr=0,000
Fuente: Elaboración propia.
• Ho: Las variables son independientes
• Ha: Las variables NO son independientes
Como se observa en la tabla 6, dado que la probabilidad observada
es p=0,000<0,05, se rechaza la hipótesis nula y se acepta la hipótesis al-
ternativa (ZIBRAN, 2007). En consecuencia, se concluye que la variable
orientación política” está vinculada al “tipo de préstamo” otorgado por
el BID, evidenciando una interdependencia entre factores políticos y eco-
nómicos en el marco del FCC. Esta conexión es crucial desde la perspecti-
va de EPG, ya que demuestra estadísticamente la inuencia de elementos
políticos en este nanciamiento, trascendiendo el ámbito técnico y subra-
yando su fuerte carga política.
En este sentido, el argumento presentado por el BID de que el uso
de nanciamiento en forma de PBL es más frecuente en países pequeños
en contexto de conmociones económicas (BID, [s.d.]) no se cumple en este
caso especíco. Es decir, se demuestra que el nanciamiento en forma de
PBL no está relacionado con el tamaño de la economía sino con la orien-
tación política, algo que contrasta con el discurso técnico que promueve
este BRD.
Esto es crucial, ya que sugiere que los países con orientación polí-
tica de “derecha-neoliberal” tienen una mayor disposición para asumir
costos (sobretodo políticos) más altos, asociados con la aplicación de re-
formas de política. A corto plazo, esto puede resultar benecioso para el
gobierno, ya que les permite nanciar su balanza de pagos. Sin embargo,
a mediano plazo, puede ser perjudicial para la sociedad en su conjunto,
debido a que la implementación de reformas neoliberales regularmen-
te exacerba la desigualdad al interior de los países y, al mismo tiempo,
incrementa la inuencia política de los acreedores sobre los prestatarios
(BLAND; KILBY, 2012).
4.4 Análisis de correspondencias
En esta investigación se ha utilizado tanto el alisis de correspon-
dencias simple como el análisis de correspondencia múltiple (ACM), en su
variante, el joint correspondence analysis (JCA) para analizar de manera con-
junta las variables cualitativas mencionadas y así observar su dimica.
El primer análisis realizado es el alisis de correspondencia simple
entre las variables tipo de préstamos y orientación política según se mues-
tra en la ilustración 2.
105
Pablo Hidalgo-Romero Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión políca de la función contra-cíclica del nanciamiento del desarrollo
Ilustración 2 : Análisis de correspondencia simple (tipo de préstamo y orientación política)
Fuente: Elaboración propia.
Esta ilustración nos muestra una primera asociación positiva en-
tre los PBL con gobiernos de orientación “derecha-neoliberal. Además,
muestra una asociación negativa entre los gobiernos de “izquierda” fren-
te a los PBL y, al mismo tiempo, resalta que los gobiernos de “izquierda”
en un contexto de crisis buscarán obtener nanciamiento para “conten-
ción de la crisis” o para “inversión” en los cuales no se asocia una con-
dicionalidad neoliberal. Esto lo conrma Remmer (1998) quien plantea
que cuando el gobierno es de “izquierda”, la probabilidad de aplicación
de reformas neoliberales se reduce signicativamente (REMMER, 1998).
Al analizar este argumento con el enfoque de EPG y el cuerpo teó-
rico de nancial statecraft este hallazgo resulta crucial, ya que los Estados
buscan de alguna manera obtener un benecio en momentos de crisis
aprovechando el poder que les brinda sus capacidades económicas en di-
cho contexto (OBYDENKOVA; RODRIGUES VIEIRA, 2020). Cabe recor-
dar que el mercado nanciero es considerado un vehículo para la expan-
sión de la prosperidad (STEIL; LITAN, 2006), pero también, es un espacio
de interacción del poder donde es ejercido por unos sobre otros a través
de los BRD (VIVARES, 2013).
Para los gobiernos de “derecha”, el benecio radica en obtener re-
cursos de forma rápida y solventar los desequilibrios de balanza de pagos,
106
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
para la “izquierda”, signica recibir recursos minimizando el costo polí-
tico y maximizando su utilidad al insertarlos en el proceso de desarrollo
(HIDALGO ROMERO, 2017).
Por otra parte, el segundo alisis de correspondencia simple se
realizó con las variables país y tipo de préstamo detalladas en la ilus-
tración 3.
Ilustración 3 : Análisis de correspondencia simple (país y tipo de préstamo)
Fuente: Elaboración propia.
El alisis muestra una fuerte correlación entre los PBL y países
como Colombia, Ecuador, Chile y Uruguay, que tuvieron gobiernos de
derecha-neoliberal. Ecuador, en particular, recibió un nanciamiento
signicativo a través de estos préstamos, conrmando los resultados del
primer análisis. Además, se observa una relación positiva entre Brasil y
Bolivia en términos de préstamos para la contención de la crisis, destacan-
do su enfoque en aliviar la pobreza y fortalecer sectores vulnerables sin
aplicar reformas neoliberales.
Brasil se distingue en América del Sur por su gran tamaño eco-
nómico y la presencia del Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), alineado con sus intereses de desarrollo. Esta entidad
compite con instituciones multilaterales, permitiendo a Brasil utilizarla
estratégicamente para alcanzar sus objetivos sin estar completamente su-
jeto al poder estructural de las instituciones de Bretton Woods.
Como resultado, Brasil, a pesar de haber sido gobernado por un
gobierno de orientación “derecha-neoliberal, no se encuentra obligado
107
Pablo Hidalgo-Romero Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión políca de la función contra-cíclica del nanciamiento del desarrollo
a solicitar PBL, lo cual reduce su vulnerabilidad frente a instituciones -
nancieras internacionales, en denitiva, este país aplicó una estrategia de
nancial statecraft defensiva para proteger sus intereses y mantener una
mayor autonomía en materia nanciera (IKENBERRY; LIM, 2017).
La ilustración 3 revela una relación negativa entre los PBL y los
créditos destinados a la “contención de la crisis”. Los países que preeren
PBL muestran poco interés en “contención de la crisis” o inversión, ree-
jando dos enfoques opuestos para el desarrollo en momentos críticos: re-
formas estructurales por países de “derecha-neoliberal” y nanciamiento
para apoyar a los sectores vulnerables por países de “izquierda” (CID;
MARINHO, 2022).
Ahora bien, al analizar en conjunto todas las variables del estudio
se evidencian varias relaciones relevantes como se detalla en la ilustración
4. En primer lugar, este análisis recoge un 75.1% de la información, lo cual
nos indica que contiene una gran parte de los datos que se busca exami-
nar y es apropiado para realizar el estudio (ABDI; WILLIAMS, 2010).
Ilustración 4: Gráfico bidimensional del Joint Correspondence Analysis
Fuente: Elaboración propia.
108
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
En la ilustración 4 se presentan varias asociaciones positivas. La
primera se reere a los PBL que están estrechamente vinculados a países
como Ecuador, Colombia, Uruguay y Chile. Estos países han adoptado
una orientación política de “derecha-neoliberal, que se caracteriza por la
implementación de reformas en áreas como la modernización del Estado
y política scal. Esto indica que los BRD están orientados a nanciar un
modelo de desarrollo neoliberal, en el cual las reformas buscan promover
un crecimiento liderado por las fuerzas del mercado (VIVARES, 2013).
La segunda asociación positiva está en países como Brasil y Bolivia
quienes han solicitado préstamos de “contención de la crisis”. Estos fon-
dos se destinan a sectores que buscan reducir la pobreza y estimular los
mercados nancieros, demostrando un uso estratégico de recursos para
mitigar los impactos de la crisis mediante el fortalecimiento de los secto-
res económicos más fgiles (RCENA, 2010; CID; MARINHO, 2022).
La tercera asociación positiva está conformada por la orientación
política de “izquierda” estrechamente vinculada con Argentina y par-
cialmente con Bolivia, donde los principales sectores nanciados fueron
salud y ciencia y tecnología. Argentina no tiene preferencia por un tipo
de préstamo especíco, aunque no es elegible para acceder a PBL debido
a las restricciones de acceso a multilaterales (NEMIÑA; VAL, 2020), si lo
fue para obtener nanciamiento de “contención de la crisis” (BID, [S.d.]),
como se observó previamente los recursos recibidos nominalmente pue-
den parecer abundantes (3.203 MM USD) pero en términos relativos al
tamaño de su economía medida por su PIB es bajo.
La ilustración 4 también presenta asociaciones negativas que evi-
dencian el contraste en los modelos de desarrollo que uno u otro grupo
de países se encuentra implementando. Los países de “derecha-neolibe-
ral” buscan fortalecer al sector privado, potencias los negocios y realizar
reformas scales y laborales, mientras que, países de “izquierda” promue-
ven una visión más neoestructuralista ya que priorizan salud, ciencia y
tecnología programas de transferencias monetarias que permitan soste-
ner el consumo. (FFRENCH-DAVIS, 1988)
5. Conclusiones
Las crisis económicas constituyen períodos en los cuales las capa-
cidades económicas y nancieras, como elementos conguradores del
poder estatal, se ven alteradas de manera signicativa. Durante estos mo-
mentos, los países que presentan problemas macroeconómicos previos a
la crisis se ven debilitados de forma severa, mientras que otros países que
disponen de reservas y recursos adicionales tienen la capacidad de eludir
la inuencia estructural del sistema nanciero internacional y efectuar
acciones estratégicas.
En esta línea, el nanciamiento proporcionado por los BRD duran-
te momentos de crisis desempeña un papel fundamental en la capacidad
de la respuesta estatal. Sin embargo, es importante tener en cuenta que
este tipo de nanciamiento puede incluir condicionalidad que oriente a
los países hacia un enfoque de desarrollo neoliberal liderado por el merca-
do. Se ha posicionado la idea de que los BRD al ser establecidos a través de
109
Pablo Hidalgo-Romero Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión políca de la función contra-cíclica del nanciamiento del desarrollo
la participación de gobiernos, países prestatarios y donantes, asegura que
su carácter sea “imparcial” tanto desde una perspectiva política como
ideológica (RODRIK, 1995).
Esta investigación analizó al nanciamiento contracíclico otorgado
por el BID durante la crisis de la pandemia del COVID-19, el cual tuvo di-
ferentes matices en función de la orientación política, el sector económico
nanciado y el tipo de préstamo concedido. Mediante métodos estadísti-
cos como la prueba chi-cuadrado, el análisis de correspondencia simple
y el JCA se demostró que lo nanciero y lo político no se encuentran
desvinculados. En efecto, este tipo de nanciamiento permitió visualizar
una impetuosa interacción entre las variables políticas y económicas.
Especícamente, se determinó que existe una relación entre la va-
riable “orientación política” con la variable “tipo de préstamo”, lo cual
sugiere que los países de “derecha-neoliberal” accederán a préstamos de
rápido desembolso, como son los PBL y asumin costos de condiciona-
lidad neoliberal, mientras que, los países de “izquierda” solicitaran nan-
ciamiento para “contención de la crisis” e inversión y se enfocaran más en
sectores sociales, lo cual no signica que este nanciamiento sea contrací-
clico solamente por haber sido aprobado durante la pandemia, ya que los
periodos de desembolso e implementación en los proyectos de inversión
son más largos y su efecto en la economía es diferido (AVELLÁN et al.,
2022).
Asimismo, se puede armar que el FCC está compuesto principal-
mente por el nanciamiento de rápido desembolso y no única y exclusi-
vamente por nanciamiento para “contención de la crisis”.
Por otra parte, se evidenció que los países actuaron bajo la racio-
nalidad de su orientación política en el contexto de la crisis. Ecuador,
Paraguay y Colombia, en el caso de la “derecha”, aplicaron reformas
neoliberales, mientras que Argentina, desde la “izquierda”, apostó por
nanciamiento para potenciar su proceso de desarrollo desde una visión
neoestructuralista. Además, se destacó la capacidad de Bolivia y Brasil
para evadir el poder estructural determinado por el sistema nanciero
internacional, dadas sus capacidades macroeconómicas y el uso de los re-
cursos recibidos de forma estratégica.
En consecuencia, países de orientación “derecha-neoliberal” conta-
ron con FCC de forma rápida, mientras que, países de “izquierda” solo,
activaron el mandato contracíclico parcialmente, mediante el nancia-
miento paracontención de crisis.
Como agenda de investigación a futuro, es crucial estudiar los fac-
tores en las negociaciones nancieras en contextos de crisis y evaluar el
impacto de las reformas neoliberales en la condicionalidad del FCC bajo
un enfoque de EPG, a n de deconstruir los sucesos y estudiar la dimi-
ca del poder subyacente en dichos procesos.
En denitiva, la presente investigación desmiente la noción de que
los BRD son inherentemente apolíticos y, por el contrario, demuestra que
su comportamiento en tiempos de crisis se encuentra altamente revestido
por factores políticos.
110
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
6. Referencias bibliográficas
ABDI, H.; WILLIAMS, L. Correspondence Analysis. Em: SALKIND, N. Encyclopedia of Re-
search Design. Thousand Oaks: SAGE, 2010.
ARMIJO, L.; KATADA, S. Theorizing the Financial Statecraft of Emerging Powers. New
Political Economy, 2014.
ARMIJO, L.; KATADA, S. New Kids on the Block: Rising Multipolarity, More Financial Sta-
tecraft. Em: ARMIJO, L.; KATADA, S. The nancial statecraft of emerging powers. [s.l.] Palgra-
ve macmillan, 2017. p. 1–20.
ARMIJO, L.; MÜHLICH, L.; TIRONE, D. The systemic nancial importance of emerging
powers. Journal of Policy Modeling, v. 36, n. S1, p. S67–S88, 1 jan. 2014. Acesso em: 14 jun. 2023.
AVELLÁN, L.; BRITO, S.; LEON-DIAZ, J.; LOTTI, G. Trends and Features of Policy-Based
Lending at the Inter-American Development Bank. Washington D.C: 2022.
AVELLÁN, L.; GALINDO, A. Los desafíos de la contraciclicidad para las multilaterales. Im-
pacto, 2018. Disponível em: <https://blogs.iadb.org/efectividad-desarrollo/es/los-desaos-de-
-la-contraciclicalidad-para-las-multilaterales/>. Acesso em: 15 jul. 2022.
BABB, S. The IMF in sociological perspective: A tale of organizational slippage. Studies in
comparative international development, v. 38, p. 3–27, 2003.
BABB, S. Behind the Development Banks: Washington Politics, World Poverty, and the
Wealth of Nations. [s.l.] University of Chicago Press, 2009.
BANCO INTERAMERICANO DE DESARROLLO (BID). report_projects Información detalla-
da de proyectos Washington D.C. Banco Interamericano de Desarrollo, nov. 2022.
RCENA, A. Policies for mitigating the impact of the crisis in Latin America and the Ca-
ribbean. ECLAC Notes, v. 22, p. 1–8, 2010.
BAZELEY, P. Qualitative data analysis: Practical strategies. Qualitative Data Analysis, p.
1–584, 2020.
BID. BID reitera compromiso con Argentina e incrementa apoyo para atender necesidad de
liquidez. Banco Interamericano de Desarrollo, 2022. Disponível em: <https://www.iadb.org/
es/noticias/bid-reitera-compromiso-con-argentina-e-incrementa-apoyo-para-atender-necesida-
d-de-liquidez>. Acesso em: 15 jun. 2023.
BID. Préstamos basados en políticas. Banco Interamericano de Desarrollo, [s.d.] Disponível
em: <https://www.iadb.org/es/acerca-del-bid/nanciamiento-al-sector-publico/prestamos-ba-
sados-en-politicas>. Acesso em: 8 dez. 2022.
BIELSCHOWSKY, R.; TORRES, M. Desarrollo e igualdad: el pensamiento de la CEPAL en
su séptimo decenio. Textos seleccionados del período 2008-2018. Santiago de Chile: Naciones
Unidas, 2018.
BIERSTEKER, T. J. Reducing the role of the state in the economy: A conceptual exploration of
IMF and World Bank prescriptions. International Studies Quarterly, v. 34, n. 4, p. 477–492, 1990.
BLAND, Elizabeth; KILBY, Christopher. Informal inuence in the Inter-American Development
Bank. Department of Economics, Villanova School of Business, Villanova University: 12 jan. 2012.
CASH, D. Sovereign debt sustainability: Multilateral debt treatment and the credit rating
impasse. 1. ed. [s.l.] Taylor and Francis, 2022. 1–155 p.
CID, C.; MARINHO, M. Dos años de pandemia de COVID-19 en Arica Latina y el Caribe:
reexiones para avanzar hacia sistemas de salud y de protección social universales, inte-
grales, sostenibles y resilientes. , 22., no 63. Santiago de Chile: jun. 2022.
CIPOLETTA, G.; ABDO, T. Financiamiento de la banca de desarrollo en el marco de la crisis
del COVID-19 en América Latina y el Caribe. Serie: Financiamiento para el desarrollo, v. 272,
2021. Disponível em: <www.cepal.org/apps>.
COELHO, J. Economia, poder e inuencia externa : o grupo Banco Mundial e as politicas de
ajustes estruturais na America Latina, nas decadas de oitenta e noventa. 2002. UNICAMP,
Campinas, 2002.
COHEN, B. Advanced introduction to international political economy. 2. ed. [s.l.] Elgar Ad-
vanced Introductions Series, 2019.
COX, R. W. Global restructuring: Making sense of the changing international political eco-
nomy. Political economy and the changing global order, v. 45, 1994.
111
Pablo Hidalgo-Romero Más allá de lo técnico: Explorando la dimensión políca de la función contra-cíclica del nanciamiento del desarrollo
DECIANCIO, Melisa; QUILICONI, Cintia. Widening the ‘global conversation’: Highlighting
the voices of IPE in the Global South. All Azimuth: A Journal of Foreign Policy and Peace, v.
9, n. 2, p. 249–266, 2020.
ZIBRAN, Minhaz Fahim. Chi-squared test of independence. Department of Computer Science,
University of Calgary, Alberta, Canada, v. 1, n. 1, p. 1–7, 2007.
FFRENCH-DAVIS, R. Esbozo de un planteamiento estructuralista. Revista de la CEPAL, n.
34, p. 3744, 1988.
GOLD, J. Political considerations are prohibited by articles of agreement when the fund
considers requests for use of resources. IMF Survey, v. 23, p. 146–148, 1983.
HAGGARD, S.; KAUFMAN, R. R. The politics of economic adjustment: international cons-
traints, distributive conicts and the state. [s.l.] Princeton University Press, 2018.
HELLEINER, E. Understanding the 2007–2008 Global Financial Crisis: Lessons for Scholars
of International Political Economy. Annual Review of Political Science, v. 14, n. 1, p. 67–87, 9
maio 2011. Disponível em: <https://doi.org/10.1146/annurev-polisci-050409-112539>.
HELLEINER, E.; WANG, H. Limits to the BRICS’ challenge: credit rating reform and insti-
tutional innovation in global nance. https://doi.org/10.1080/09692290.2018.1490330, v. 25, n.
5, p. 573–595, 3 set. 2018. Disponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/0969
2290.2018.1490330>. Acesso em: 5 dez. 2022.
HIDALGO ROMERO, P. Incidencia del modelo de desarrollo de Colombia y Ecuador en la
asistencia del BID 2007-2015. 2017. FLACSO, Quito, 2017.
HIDALGO-ROMERO, P. ¿Igual para todos? Contraste en la asistencia del BID a Ecuador y
a Colombia (2007-2015). Em: VIVARES, E. Desafíos y dilemas de nanciar el desarrollo en Su-
darica. 1. ed. Buenos Aires: Teseo, 2022. p. 219–256.
HUMPHREY, C. He who pays the piper calls the tune: Credit rating agencies and multilateral
development banks. Review of International Organizations, v. 12, n. 2, p. 281–306, 1 jun. 2017.
HUMPHREY, C.; MICHAELOWA, K. Shopping for Development: Multilateral Lending,
Shareholder Composition and Borrower Preferences. World Development, v. 44, p. 142–155,
1 abr. 2013. . Acesso em: 9 ago. 2022.
IKENBERRY, J.; LIM, D. China’s emerging institutional statecraft: The Asian Infrastructure In-
vestment Bank and the prospects for counter-hegemony. Copenhague: Brookings Institution, 2017.
JOSEPH, J. W. Stasis and change in the IMF and World Bank: international context and ins-
titutional dynamics. The Social Science Journal, v. 37, n. 1, p. 4366, 2000.
KAHLER, M. Politics and international debt: explaining the crisis. International Organiza-
tion, v. 39, n. 3, p. 357–382, 1985.
KATADA, S. N.; SOHN, I. Regionalism as nancial statecraft: China and Japan’s pursuit of
counterweight strategies. The Financial Statecraft of Emerging Powers: Shield and Sword in
Asia and Latin America, p. 138–161, 2014.
KILBY, C. An empirical assessment of informal inuence in the World Bank. Economic De-
velopment and Cultural Change, v. 61, n. 2, p. 431–464, 2013a.
KILBY, C. The political economy of project preparation: An empirical analysis of World
Bank projects. Journal of Development Economics, v. 105, p. 211–225, 2013b. Disponível em:
<https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0304387813001107>.
LABAQUI, I. Who’s afraid of reversing neoliberal reforms? Financial statecraft in Argentina
and Venezuela. The nancial statecraft of emerging powers: Shield and sword in Asia and Latin
America, p. 21–46, 2014.
MOLINARI, A.; PATRUCCHI, L. Multilateral Development Banks: Counter-cyclical Manda-
te and Financial Constraints. Contexto Internacional, v. 42, n. 3, 2020.
MOMANI, B. American politicization of the International Monetary Fund. Review of Inter-
national Political Economy, v. 11, n. 5, p. 880904, 1 out. 2004. Disponível em: <https://doi.org
/10.1080/0969229042000313064>.
MOSES, J.; KNUTSEN, T. Ways of knowing: Competing methodologies in Social and Politi-
cal Research. China: Palgrave Macmillan, 2012.
NEMIÑA, P. Estrategias de negociación del FMI y la Argentina durante el período 2003-
2004. Temas y Debates, v. 0, n. 22, p. 87–113, 26 fev. 2011. Disponível em: <https://temasydeba-
tes.unr.edu.ar/index.php/tyd/article/view/20>.
112
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 90-112
NEMIÑA, Pablo Luis; VAL, María Emilia. La renegociación de la deuda argentina durante la
pandemia COVID-19. Implicancias y perspectivas para los países en desarrollo. Documen-
tos de trabajo, v. 30, p. 1–30, nov. 2020.
NÖLKE, A. Geoeconomic infrastructures: Building Chinese-Russian alternatives to
SWIFT. Em: Capital Claims: Power and Global Finance. [s.l.] Routledge, 2022. p. 147–166.
OBYDENKOVA, A. v.; RODRIGUES VIEIRA, V. G. The limits of collective nancial statecra-
ft: Regional development banks and voting alignment with the United States at the United
Nations General Assembly. International Studies Quarterly, v. 64, n. 1, p. 13–25, 1 mar. 2020.
OCAMPO, J. Regional Financial Cooperation: Experiences and Challenges. Em: OCAMPO,
J. A. Regional Financial Cooperation. Washington D.C: Brooking Institution Press, 2006.
PARRA, J. Modelo de análisis de correspondencias múltiples. Revista de ciencias sociales, v.
2, n. 2, p. 183–196, 1996.
QUILICONI, C. Economía Política Global latinoamericana: un campo de estudio eferves-
cente entre el desarrollo y el regionalismo. Relaciones Internacionales, n. 50, p. 127–144, 28 jun.
2022. Disponível em: <https://revistas.uam.es/relacionesinternacionales/article/view/15240>.
Acesso em: 18 abr. 2023.
REMMER, K. The Politics of Neoliberal Economic Reform in South America, 1980-1994.
Studies In Comparative International Development, v. 33, n. 2, p. 3–3, 22 jun. 1998. Disponível
em: <https://go.gale.com/ps/i.do?p=AONE&sw=w&issn=00393606&v=2.1&it=r&id=GA-
LE%7CA55567286&sid=googleScholar&linkaccess=fulltext>. Acesso em: 15 jun. 2023.
RIGGIROZZI, P. Social Policy, Inequalities and the Battle of Rights in Latin America. Deve-
lopment and Change, v. 51, n. 2, p. 506–522, 1 mar. 2020. Disponível em: <https://onlinelibrary.
wiley.com/doi/full/10.1111/dech.12571>. Acesso em: 12 jun. 2023.
RODRIK, D. Why is there Multilateral Lending? NBER Working Papers. [s.l.] National Bureau
of Economic Research, Inc, jun. 1995. . Disponível em: <https://EconPapers.repec.org/RePE-
c:nbr:nberwo:5160>.
SAMIUC. Chi cuadrado. 2018. Disponível em: <http://www.samiuc.es/estadisticas-variables-
-binarias/valoracion-inicial-pruebas-diagnosticas/chi-cuadrado/>. Acesso em: 20 dez. 2022.
SIL, R.; KATZENSTEIN, P. Beyond Paradigms: Analytic Eclecticism in the Study of World
Politics - Rudra Sil, Peter J. Katzenstein - Google Libros. New York: Palgrave Macmillan,
2011.
STANLEY, L.; FERNDEZ, J. The Changing Problem of Regional Development Finance in
Latin America. Em: VIVARES, E. Regionalism, Development and the Post-Commodities
Boom in South America. [s.l.] Palgrave mcmillan, 2018.
STEIL, B.; LITAN, R. Financial Statecraft: The role of nancial markets in American Fo-
reign Policy. 1. ed. [s.l.] Brookings Institution, 2006.
STRAND, J. R.; ZAPPILE, T. M. Always Vote for Principle, Though You May Vote Alone:
Explaining United States Political Support for Multilateral Development Loans. World De-
velopment, v. 72, p. 224–239, 1 ago. 2015. . Acesso em: 17 set. 2022.
STRANGE, S. States and markets. [s.l], 1988.
TUSSIE, D. The tailoring of IPE in Latin America. Em: VIVARES, E. The Routledge handbook
of political economy. New York: Routledge, 2020.
UNDERHILL, G. R. D. Conceptualising the changing global order. 2000.
VACA HERNDEZ, W. T. Interacción entre mecanismos nancieros regionales y mode-
los políticos suramericanos 2001-2016: Casos Ecuador y Perú. 2022. Disponível em: <http://
repositorio.acsoandes.edu.ec/handle/10469/18562>. Acesso em: 17 set. 2022.
VIVARES, Ernesto. El Banco Interamericano de Desarrollo en la década neoliberal. [s.l.]
FLACSO, 2013. 360 p.
WINECOFF, W. K. The persistent myth of lost hegemony,” revisited: structural power as a
complex network phenomenon. European Journal of International Relations, v. 26, n. 1_suppl,
p. 209252, 1 set. 2020. Disponível em: <https://doi.org/10.1177/1354066120952876>.
WORLD BANK. Total de reservas (incluye oro, US$ a precios actuales) - Bolivia . Disponí-
vel em: <https://datos.bancomundial.org/indicator/FI.RES.TOTL.CD?locations=BO>. Acesso
em: 13 jun. 2023.
113
Rodrigo Ayupe Bueno da Cruz KARAM, Jerey; MAJED, Rima. The Lebanon Uprisings of 2019: Voices of Revoluon
(Os Protestos de 2019 no Líbano: Vozes da Revolução) [Las Protestas de 2019 en el Líbano: Voces de la Revolución]. London: IB Taurus, 2023, 341 pages.
KARAM, Jeffrey; MAJED, Rima. The
Lebanon Uprisings of 2019: Voices of
Revolution (Os Protestos de 2019 no Líbano:
Vozes da Revolução) [Las Protestas de
2019 en el Líbano: Voces de la Revolución].
London: IB Taurus, 2023, 341 pages.
Rodrigo Ayupe Bueno da Cruz1
DOI: 10.5752/P.2317-773X.2023v11n2p113-117
Recebido em:17 de novembro de 2023
Aprovado em: 17 de novembro de 2023
BOOK REVIEW
The publication “The Lebanon Uprisings of 2019,” edited by Rima
Majed and Jerey Karam and published in 2023, compiles insights from
scholars, journalists, and political activists. It explores the events of the
October Revolution of 2019, also known as Thawra. This uprising took
the form of social demonstrations spread across various parts of Lebanon,
seeking to challenge the existing political and economic structures, espe-
cially amid one of the country’s most severe economic crises.
This book adopts an interdisciplinary perspective in its examina-
tion of Thawra. On one hand, it closely engages with social and economic
sciences as it explores the internal dynamics of Lebanon. On the other
hand, it aligns with international relations, with several contributors pla-
cing Lebanons revolutionary process within the context of regional re-
volts that originated from the Arab Spring in 2010. This highlights that
the resistance against the Lebanese regime, while unique in its aspects, is
not an isolated phenomenon; rather, it is inuenced by the broader wave
of protests unfolding in neighboring countries.
In its introductory section, the book examines the protests through
a theoretical lens that perceives the revolution as an ongoing process. In
contrast to conventional viewpoints in social sciences and international
relations, which typically dene “revolution” based on its immediate
outcomes involving swift changes in political and social structures, the
approach taken in this book considers the uprisings in Lebanon since 2011,
along with other Arab revolts, as an ongoing process characterized by
revolutionary situations. The notion of Revolutionary Situation originates
from Charles Tilly’s “From Mobilization to Revolution” (1978) where he
1. Postdoctoral researcher specializing
in Anthropology at Federal Fluminen-
se University (Universidade Federal
Fluminense, UFF). His current research
activities extend across two institutions:
the Middle East Studies Center (Núcleo
de Estudos do Oriente Médio, NEOM-
-UFF) and the Middle East and Maghreb
Studies Group (Grupo de Estudos do
Oriente Médio e do Magrebe, PUC-Mi-
nas). Email: royupe@hotmail.com
114
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 113-117
delineates a distinction between revolutionary situations and revolutio-
nary outcomes. The former involves the political crisis context triggered
by the inuence of a specic opposition movement, posing a challenge
to state power. On the other hand, the latter encompasses the successful
transfer of power to revolutionary actors (Tilly, 1978, p.190-193).
Tilly’s theory provides an intriguing framework for analyzing the
Lebanese context, particularly in light of the protests that have unfolded
in the country since 2011. During this period, an opposition movement
emerged, mobilizing new waves of protests in 2013, 2015, and culmina-
ting in its peak in 2019. Despite the fact that none of these episodes of po-
pular mobilization resulted in a complete transfer of power, the editors of
“Lebanon Uprisings of 2019” interpret these occurrences as revolutionary
situations due to their impact on Lebanese politics and society. Notably,
the work acknowledges that these revolutionary situations are not isola-
ted incidents; instead, their interconnected agendas reveal a deliberate re-
jection of Lebanons existing political system and economic model. This
repetition of agendas signies an ongoing revolutionary process within
the country.
After the introductory theoretical discussion, the book shifts its fo-
cus to a second theme, exploring the recent historical context that has
shaped the development of opposition movements and the mobilization
of social protests since 2011. Given that the Lebanese revolutionary pro-
cess is essentially an anti-system struggle, the chapters dedicated to this
topic are crucial. They provide a historical narrative, examining both po-
litical and economic aspects, to delineate the features of the system that
protesters aspire to dismantle.
Within the political domain, the authors explore the conguration
of sectarianism, constitutionally acknowledged as confessionalism2. Since
the country’s independence, this model has resulted in the establishment
of a sectarian elite that consolidates control over state resources and dis-
tributes them within their network of clients. As a result, a segment of
the population is deprived of basic rights. On the economic aspect, the
authors highlight the adoption of neoliberalism from the 1990s onward.
This economic framework, stressing decreased state regulation and limi-
ted social intervention, has sparked a succession of protests since its ini-
tiation (Baumann, 2016). Notably, amid the escalating crisis in 2019, dissa-
tisfaction with neoliberalism surged to unprecedented levels, serving as a
catalyst for the eruption of Thawra.
Continuing on this contextual theme, the book provides a notewor-
thy contribution to the study of revolutions by introducing the concept of
neoliberal sectarianism,” as elucidated by Rima Majed in her examina-
tion of the political-economic landscape in both Lebanon and Iraq. Majed
emphasizes that neoliberal sectarianism is not merely a combination of
the sectarian political system and the neoliberal capitalist model; rather,
it emerges as a phenomenon constructed at the intersection of these two
forces. The author contends that, in the absence of state provisions for
social welfare and redistribution, coupled with the deregulation of labor
relations under neoliberalism, sectarian elites position themselves as the
exclusive alternative for certain sectors of society seeking security and
2. In Lebanon, sectarianism has been a
historically shaped framework dating
back to the Ottoman era. During this
period, religious communities, predo-
minantly Christian and Muslim, started
being treated as distinct and opposing
sociopolitical entities. Following the
attainment of Independence from France
in 1943 and the establishment of the
National Pact, sectarianism became
entrenched in the political landscape
through the implementation of the
consociational model, known as con-
fessionalism. This system involved the
distribution of power among politicians
from 18 officially recognized religious
communities (Makdisi 2000; Cammett,
2014).
115
Rodrigo Ayupe Bueno da Cruz KARAM, Jerey; MAJED, Rima. The Lebanon Uprisings of 2019: Voices of Revoluon
(Os Protestos de 2019 no Líbano: Vozes da Revolução) [Las Protestas de 2019 en el Líbano: Voces de la Revolución]. London: IB Taurus, 2023, 341 pages.
subsistence. Consequently, she argues that the revolutionary process in
these countries underscores how protestors express opposition not only
to the sectarian political system but also to the liberal economic model,
regardless of the terminology used to describe it (Majed, 2023, p.78).
A third crucial theme in the work focuses on the existence of
counter-revolutionary forces within Thawra. Several authors examine
various strategies employed by a sectarian elite to thwart the revolutio-
nary momentum and uphold the existing political and economic order.
Noteworthy among these strategies is repression, manifested through
either violence or legalistic discourse. Additionally, the political elite has
undertaken initiatives to “sectarianize” (Hashemi and Poster, 2016) revo-
lutionary forces, aiming to instigate sectarian opposition among protes-
ters. This is often achieved through the extension of social benets in ex-
change for political support and the encouragement of opposition against
rival leaders. Lastly, one must consider the actions of opposing regional
and global powers that support their allies in Lebanese politics, thereby
serving as guardians of the status quo and acting as counter-revolutionary
forces in the country.
In the Lebanese context, it is essential to scrutinize the organi-
zation and activities of counter-revolutionary forces, as highlighted by
Jerey Karam, who argues that counter-revolution constitutes an inhe-
rent component of Lebanons revolutionary process (KARAM, 2023,
p.90). The author suggests that the mere presence or success of these
forces’ actions should not be automatically construed as a failure of the
revolution. Instead, the observed reality reects a dialectical relationship
between these opposing forces. Consequently, embracing this dialectical
perspective towards the Lebanese revolution provides valuable insights
for analyzing social protests within the broader regional context, particu-
larly given the parallel nature of such phenomena across numerous Arab
countries since the Arab Spring.
The fourth pivotal theme addressed in the book explores the various
strategies employed during the 2019 social protests. One of these tactics
involves the appropriation of specic urban locations by Thawra protes-
ters, such as squares, buildings, and monuments with national symbolic
signicance. Through this method, protesters not only enhanced the vi-
sibility of their opposition movement but also practically established the
concept of a revolutionary community. The coexistence and interaction
in these public spaces served as a platform where “imaginaries of union
are rehearsed and experienced” (Harb, 2023, p. 109). Additionally, pro-
testers adopted the revolutionary strategy of blocking streets in various
parts of the country. According to Nizar Hassan, this proved to be “the
most prominent and undoubtedly the most impactful of the revolutio-
nary tactics as it paralyzed the country” (Hassan, 2023, p.174).
Another signicant strategy employed by demonstrators, and one
that persists, involves the utilization of alternative media and digital
platforms to convey revolutionary ideas. Claudia Kozman, for instance,
illustrated how unconventional media acted as alternative information
sources, generating content that scrutinizes the power structures within
the country. Furthermore, various digital platforms and social networks
116
estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 11, n. 2, (jun. 2023), p. 113-117
played a crucial role in coordinating new protests and broadening civic
engagement among the Lebanese population, both in virtual spaces and
in the physical realm (Kozman, 2023, p.120-130).
As a fth focal theme, the work is insightful for featuring a set of
chapters that analyze the contributions of social actors and political ac-
tivists, including women, unionized workers, environmental advocates,
and individuals with disabilities. Furthermore, international actors, such
as refugees residing in Lebanon and members of the Lebanese diaspora,
are acknowledged for their involvement in the protests to varying de-
grees. Overall, it is crucial to commend the chapters for placing emphasis
on illustrating that within the context of Thawra, there exists a conver-
gence between the distinct struggles of these movements and the overar-
ching resistance against the sectarian-neoliberal model.
The convergence of struggles among various social actors aligns
with Charles Tilly’s proposition, as referenced by the editors at the be-
ginning of the work, that revolutionary situations entail an opposition
coalition challenging state power (Karam and Majed, 4). Despite their
historical pursuit of collective rights tied to specic agendas (such as wo-
men, workers, and individuals with disabilities) since the country’s inde-
pendence, several authors in this work emphasize a distinctive feature
of Thawra: the expansion of alliances among these diverse groups into
an unprecedented anti-system coalition. However, the work also de-
monstrates that these coalitions were temporary within the context of
Thawra, as counter-revolutionary forces succeeded in sectarianizing and
undermining the movement.
As a comprehensive examination, “The Lebanon Uprisings of 2019”
stands as a work of signicant analytical excellence, oering an in-depth
exploration of one of the most crucial events in the country’s recent his-
tory. This distinction arises from both its theoretical framework, which
scrutinizes Thawra within the procedural model of revolutions, and its
thematic exploration across chapters addressing the historical, political,
and economic context of the movement. The work further delves into the
dynamic interplay between revolution and counter-revolution, the prin-
cipal tactics employed during the protests, and the role played by diverse
social actors in shaping a revolutionary process in Lebanon. Signicantly,
the excellence of the work stems not only from the scholarly chapters
but also from the narratives shared by the voices of the revolution. These
accounts are presented by political activists who intricately describe their
experiences on the ground.
Therefore, this book emerges as a vital reference for gaining in-
sights into the revolutionary process unfolding in Lebanon. Additionally,
The Lebanon Uprisings of 2019, with its theoretical perspective and ex-
tensive analysis, contributes substantively to the wider academic discus-
sions surrounding the “revolutions” across the Middle East and North
Africa following the Arab Spring.
In conclusion, the pronounced focus on the procedural dimension
of the Lebanese revolution in this work lays the groundwork for further
exploration of this topic in the post-Thawra era, particularly as the revolu-
tionary process endures in the country. Despite refraining from initiating
117
Rodrigo Ayupe Bueno da Cruz KARAM, Jerey; MAJED, Rima. The Lebanon Uprisings of 2019: Voices of Revoluon
(Os Protestos de 2019 no Líbano: Vozes da Revolução) [Las Protestas de 2019 en el Líbano: Voces de la Revolución]. London: IB Taurus, 2023, 341 pages.
new high-impact social protests similar to those in 2019, the opposition
movement has sustained its activity, chiey through a fundamental as-
pect of its repertoire not extensively addressed in the book, namely, its
political organization aimed at gaining governmental representation.
This involves the establishment of parties, electoral lists, and coalitions
for participation in parliamentary elections. A recent result of this organi-
zational endeavor manifested in the success of securing 13 parliamentary
seats in the May 2022 elections, representing the largest number achieved
since the inception of the revolutionary process.
References
BAUMANN, Hannes. Social Protest and the political economy of sectarianism in Lebanon, Glo-
bal Discourse, 6:4, p.634-649, 2016.
CAMMETT, Melanie. Compassionate Communalism: Welfare and Sectarianism in Lebanon. Ithaca
and London: Cornell University Press, 2014.
HARB, Mona. How Urban Space Shapes Collective Action: The Lebanon Uprising of 2019, in:
Jerey Karam and Rima Majed (eds) The Lebanon Uprisings of 2019: Voices of Revolution, p.109-120.
London: IB Taurus, 2023.
HASHEMI, Nader and POSTEL, Danny. Sectarianization: Mapping the new politics of the Middle
East. Nader Hashemi and Danny Postel (eds). (Oxford: Oxford University Press), 2017.
HASSAN, Nizar. The Power and Limits of Blocking Roads: How the October Uprising Dis-
rupted Lebanon, in: Jerey Karam and Rima Majed (eds) The Lebanon Uprisings of 2019: Voices of
Revolution, p. 174-188. London: IB Taurus, 2023.
KARAM, Jerey; MAJED, Rima. The Lebanon Uprisings of 2019: Voices of Revolution. London: IB
Taurus, 2023.
KARAM, Jerey; MAJED, Rima. Framing the October Uprising in Lebanon: An Unfolding Re-
volutionary Situation, in: Jerey Karam and Rima Majed (eds) The Lebanon Uprisings of 2019:
Voices of Revolution, p. 1-17. London: IB Taurus, 2023.
KARAM, Jerey. The Shadow Guardians of the Status Quo: The Lebanon Uprising of 2019 and
the International Politics of Counterrevolution, in: Jerey Karam and Rima Majed (eds) The
Lebanon Uprisings of 2019: Voices of Revolution, p. 89-109. London: IB Taurus, 2023.
KOZMAN, Claudia. Alternative Media and Digital Platforms Empowerment Tools for Civic
Engagement, in: Jerey Karam and Rima Majed (eds) The Lebanon Uprisings of 2019: Voices of
Revolution, p.120-130. London: IB Taurus, 2023.
MAJED, Rima. “Sectarian Neoliberalism” and the 2019 Uprising in Lebanon and Iraq, in: in:
Jerey Karam and Rima Majed (eds) The Lebanon Uprisings of 2019: Voices of Revolution, p. 76-89.
London: IB Taurus, 2023.
MAKDISI, Ussama. The Culture of Sectarianism: community, history, and violence in nineteenth-
-century Ottoman Lebanon. Berkeley: University of California Press, 2000.
TILLY, Charles. From Mobilization to Revolution. New York: Randon House, 1978.