O ABISMO INDECIFRÁVEL
Sobre a (im)possibilidade de uma ontologia da morte involuntária
Resumo
Neste artigo considero algumas das possíveis intersecções entre a filosofia e o problema do suicídio. O propósito teórico é o de, primeiramente, analisar algumas das abordagens conceituais da “morte voluntária” presentes na história da filosofia para, num segundo momento, refletir sobre a (im)possibilidade de se estabelecer uma ontologia da autoaniquilação existencial, no sentido da inviabilidade de uma definição geral e abrangente de suas causas e determinações. Para pensar conceitualmente a questão da morte voluntária, partirei inicialmente de algumas das análises sociológicas que pensam a morte voluntária, desde Durkheim, por meio do tensionamento indivíduo-sociedade. Em seguida, considero alguns aspectos das posições fenomenológico-existenciais, a fim de pensar a morte voluntária do self, pela perspectiva do ser-para-a-morte e do absurdo da existência. Todas as tentativas de abordar as possíveis causas deste que é um dos maiores paradoxos filosóficos, a morte voluntária, parecem apresentar apenas perspectivas parciais de um fenômeno muito complexo. Articular as relações entre filosofia e suicídio, tendo em vista as possíveis ontologias da morte voluntária implica também a elucidação do problema da morte não-voluntária, como um fator condicionante da existência.
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