Obliquidade e opacidade da subjetividade em Ricoeur: uma análise ética e hermenêutica
Resumo
Neste artigo, examina-se a constituição da subjetividade em Paul Ricoeur, compreendida como compreensão hermenêutica do texto e da alteridade. Em franca oposição à univocidade do conceito e à pretensão da consciência do cogito cartesiano, desenvolve-se a perspectiva de uma constituição da subjetividade pela via do texto, como literatura e poesia, que compreendem a metáfora e a ficção em que a imaginação criativa é alargada. A memória e a promessa aparecem como âmbitos importantes na constituição do si mesmo, como expressões de idem e ipse que compõem a identidade ricoeuriana. É na manutenção da promessa que a alteridade encontra sua expressão mais decisiva na constituição de si. O texto, por outro lado, não é neutro relativamente a julgamentos morais. Ética e estética, assim, estariam mais próximas do que geralmente se pensa. A subjetividade, desse modo, constitui-se numa via longa, indireta, opaca e oblíqua onde o sujeito é convidado a ler os signos e símbolos que compõe tanto o mundo como o si-mesmo. O movimento de compreensão não acontece mais entre um sujeito e um objeto numa relação dualista, mas sim, num movimento hermenêutico e ético de circularidade.
In this paper we offer an constitution of subjectivity in Paul Ricoeur, understood as hermeneutic understanding of the text and of otherness. In clear opposed to the univocity of the concept and the pretense of consciousness of the cartesian cogito, develops the prospect of a constitution of subjectivity by means of text, such as literature and poetry, who understand the metaphor and the fiction in which the creative imagination is enlarged. The memory and the promise of important areas appear in the constitution itself, as expressions of idem and ipse that compose the identity ricoeuriana. Is in keeping the promise that otherness finds its most decisive expression in the constitution. The text, on the other hand, is not neutral with respect to moral judgments. Ethics and aesthetics, thus would be closer than generally believed. Subjectivity, thus, is a long stretch of indirect, oblique and opaque where the subject is invited to read the signs and symbols that make up both the world as herself. The movement of understanding doesn't happen anymore between a subject and an object in a dualistic relationship, but rather, a hermeneutical and ethical movement for roundness.
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Referências
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TERMO DE DECLARAÇÃO:
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