As Intermitências da morte:
José Saramago na Tanatografia que ama
Resumo
Analisamos a obra As intermitências da morte (2005), de José Saramago, articulando duas arenas estruturais da prosa: a da coletividade, explorada na primeira parte do livro, e os dramas humanos e amorosos vividos pelo violoncelista e pela morte “mulherificada”. A escrita de morte – tanatografia (SILVA JUNIOR, 2014) – viabiliza a verificação de tais elementos enquanto motores de um debate que atravessa política e filosofia, sistemas e condições humanas. Conforme é revelado nas arenas públicas e nas alcovas saramaguianas, discussões sobre o humano, a arte e o amor movimentam-se nessa profunda consciência de que ninguém disse a última palavra. Em interação com as categorias da alteridade e do inacabamento (BAKHTIN, 2006), o engajamento de Saramago compreende o caráter “desalienante” instigado pelas pulsões amorosas e pensamentais dessa novela filosófica das paixões como atividades essenciais (MARX, 2005). Das reverberações marxistas o caréter objetivo da história do humano foi afirmado e transformado. As intermitências da morte são marcadas e demarcadas pela expressão “no dia seguinte ninguém morreu” (SARAMAGO, 2005): nela, é a falta que alguém sente que leva ao outro e o caráter da história ganha camadas dialógicas e filosóficas. Se a sociedade é a soma de todos os seus relacionamentos e todos os sentidos encontram sentido no ter, no encontro com o outro constitui-se a consciência da metamorfose. Nesse sentido, José Saramago encontra na tanatografia que ama a verdadeira outra área do conhecimento – o amor.
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