“Eu, os guerrilheiros”: lingua(gem) e subjetividade em O livro dos guerrilheiros, de Luandino Vieira
Resumo
O livro dos guerrilheiros, de Luandino Vieira, é um romance que encena ser uma espécie de caderno de anotações do guerrilheiro-escrivão do grupo de guerrilheiros do comandante Andiki. A partir de mucandas, mujimbos e anotações diversas, o narrador-escritor Dimantinho Kinhoka – o guerrilheiro Kene Vua – narra as histórias de cada um dos seis guerrilheiros que o acompanharam lealmente na missão do Kalongololo, em 1971, bem como a sua própria. Enquanto as lutas pela independência de Angola – assim como toda experiência de luta armada em nome de um projeto de nação – exigem que a construção subjetiva, em certa medida, secundarize-se, em nome da construção identitária nacional, Kinhoka sublinha em sua narrativa a dimensão subjetiva da experiência de guerra. Tendo em vista essa característica desse romance de encenar a dimensão singular da experiência de guerrilha, bem como seu traço metanarrativo, este trabalho objetiva verificar o modo como Luandino Vieira evidencia e reflete, a partir da construção de um narrador-escritor, sobre a participação de histórias individuais na história da luta angolana pela independência. Para tanto, recorrer-se-á às concepções de linguagem e subjetividade de Benveniste (1989a; 1989b; 1976a; 1976b) e às noções de “ato ficcional”, de Iser (2002a), e de “autor implícito”, de Booth (1983).
Palavras-chave: Guerrilha. Subjetividade. Linguagem. Enunciação. Literatura angolana.
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Referências
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