Os “selvagens bruxos” do Araguaia Paraense: Representações discursivas missionárias na Revista Cayapós e Carajás
Resumo
Este artigo versa sobre as representações discursivas dos missionários dominicanos em relação aos indígenas do Araguaia Paraense, tendo como fonte a Revista Cayapós e Carajás (RCC), editada entre 1922 e 1933. O ponto de partida são os enunciados dos missionários representados como acusações de que os indígenas seriam “selvagens” e praticantes de “bruxarias e curandeirismo”. Todavia, essas nomeações, classificações e rótulos colaboravam com a ação pacificadora, clerical e leiga, que pretendia convencer que o batismo apagaria as práticas “do feitiço e do feiticeiro”; e a catequese transfiguraria o indígena em “cidadão/cristão”. A eliminação do paganismo dos Cayapós e Carajás, englobando também outros grupos, deveria, em última instância, resultar na “conversão” dos indígenas aos costumes ocidentais. O funcionamento discursivo desenrolava-se no combate a autoridade dos “velhos”, “velhas” e “pajés”, a fim de quebrar sua hierarquia e influência social. A análise discursiva sobre a materialidade da documentação, antecedida da metodologia de tematização e classificação de “recortes” do periódico, orientou-se nas formulações teóricas de Bakhtin (1997; 2006) e Orlandi (1990), entre outros, para dimensionar os “signos ideológicos” e “praticas divisoras”, articulados dentro de um dado campo cultural.
Downloads
Referências
AUDRIN, Frei José M. O. P. Entre Sertanejos e índios do Norte. Rio de Janeiro: AGIR, 1947.
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: ______. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 279-326.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: HUCITEC, 2006.
BARTH, Fredrik. Grupos Étnicos e suas fronteiras. São Paulo: Unesp, 2011.
BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Tradução de Cunha Comerford. Rio de Janeiro: Contracapa Livraria, 2000.
FARACO, Carlos Alberto. Linguagem e Diálogo: as ideias linguísticas do círculo de BAKHTIN. São Paulo: Parábola editorial, 2009.
GALLAIS, Estevão Maria, O.P. O apóstolo do Araguaia: Frei Gil Vilanova missionário dominicano. Prelazia de Conceição do Araguaia, 1942.
GALLAIS, Estevão Maria. Entre os índios do Araguaia. Tradução de Otaviano Esselin. Salvador/BA: Livraria Progresso Editora, 1954.
LIMA, Antonio Carlos de Sousa. Um grande cerco de paz: poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995.
LIMA, Milton Pereira; SILVA, Idelma Santiago da. “Salvemos os nossos índios”: uma catequese dominicana no Araguaia (1922-1933). Rev. Hist. UEG, Morrinhos, v.8, n.2, jul./dez. 2019.
MALGALHÃES, Couto de. Viagem ao Araguaia. 3. ed. São Paulo: Brasiliana, 1934.
MOREIRA NETO, Carlos A. A Cultura Pastoril do Pau d’ Arco. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. INPA, CNPq, n. 10, março, 1960.
OLIVEIRA, João Pacheco de. O nascimento do Brasil e outros ensaios: “pacificação”, regime tutelar e formação de alteridades. Rio de Janeiro: Contracapa, 2016.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Terra à vista, discurso do confronto: velho e novo mundo. Editora Cortez, São Paulo, Campinas, 1990.
POUTGNAT; STREIFF-FENART, Philippe. Teorias da etnicidade: seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Frederik Barth. Tradução de Elcio Fernandes. São Paulo: UNESP, 2011.
RIBEIRO, Nilsa Brito. A disputa ideológica de sentidos. Letras, Santa Maria, v. 24, n. 48, p. 261-280, jan./jun. 2014.
THOMAZ, Sebastião. O.P. Gorotires. Rio de Janeiro: IMPLIMATUR, Prelazia de Conceição do Araguaia, 1936.
TURNER, Terence. Da cosmologia à história: resistência, adaptação e consciência social entre os Kayapó. Cadernos de Campo, São Paulo, v. 1, nº 1, p. 68-85, 1991.
TURNER, Terence. Os mebêngôkre Kayapós: história e mudança social de comunidades autônomas para a coexistência interétnica. In: Manuela Carneiro da Cunha (Org.). História dos índios do Brasil. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1992, p. 311-356.
VAINFAS, Ronaldo. A heresia dos índios: catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
VIDAL, Lux B. Morte e vida de uma sociedade indígena brasileira: Os Kayapó-Xikrin do Cateté. São Paulo: HUCITEC, 1977.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O Mármore e a murta: Sobre a Inconstância da Alma Selvagem. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v. 35, p. 24, 1992.
Copyright (c) 2021 Cadernos de História

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
O envio de qualquer colaboração implica, automaticamente, a cessão integral dos direitos autorais à PUC Minas. Solicita-se aos autores assegurarem:
A inexistência de conflito de interesses (relações entre autores, empresas/instituições ou indivíduos com interesse no tema abordado pelo artigo), órgãos ou instituições financiadoras da pesquisa que deu origem ao artigo.
Todos os trabalhos submetidos estarão automaticamente inscritos sob uma licença creative commons do tipo "by-nc-nd/4.0".