Chamada de Artigos – Dossiê Religião e os Estudos Internacionais

02-05-2019

Organizadores: Fernando Maia (PUC-Rio) e Tiago Rossi Marques (Martin Bucer)

Prazo para submissão de artigos: 30.06.2019

Previsão de publicação: v.16, n.3 (2019)

 

No processo de separação entre a esfera Religiosa e a esfera Política, até a passagem do século XIX para o século XX, constatou-se uma forte tendência em se crer que o fenômeno religioso estaria fadado a um definitivo declínio social e público, influenciados por uma onda de secularização que legava a este fenômeno, uma atuação minguada e exclusiva à esfera privada e particular, sem grandes incidências sobre a cultura e a vida pública.

Indo na contramão das predições advindas de teorias secularistas dos séculos passados (TAYLOR, 2010), mas sem afirmar um reavivamento religioso em escala global, observou-se no “ocidente” o surgimento de um novo fenômeno, num período intitulado de “Pós-secular”, em que a religião demonstrou ressurgimento, mas não sem declínio, mutação e resistência, retornando, porém, ao centro dos debates públicos, políticos e sociais, seja em âmbito nacional ou internacional (GRAHAM, 2013). Nesse sentido, os estudos contemporâneos das Ciências Humanas e Sociais, têm apontado para o retorno da religião ao centro dos debates acadêmicos e teóricos, ganhando cada vez mais “proeminência pública como um fator significante nas políticas globais e na sociedade civil” (GRAHAM, 2014, p. 235).

Será neste debate Pós-Secularista, também presente nos estudos das Relações Internacionais (PETITO; MAVELLI, 2014; WILSON 2012), que está alocado a tese de que, seja em âmbito local, nacional ou global, a religião pode vir a ser partícipe do desenvolvimento humano e de suas mais diversas organizações sociais – não sem percalços, como apontado acima. Isto incluiria o sul global para além dos limites do “ocidente”, como aponta-nos Graham (2014, p. 237), em que países “como Brasil, China ou Índia, a religião continua a crescer sendo parte significativa na vida pública”. Este fenômeno religioso, na medida em que pode vir a desempenhar alguma influência no esforço analítico produzido no campo dos Estudos Internacionais, nos leva a indagar “se” e “de quais maneiras”, seja direta ou indiretamente, colabora para a formação teórica, paradigmática e analítica dentro dos Estudos Internacionais, num período marcado por aquilo que Scott M. Thomas (2014) chamou de “virada religiosa”. 

É nesse sentido que buscamos aqui fomentar o debate em torno da Religião e das Relações Internacionais, buscando levantar as formas e os meios, caso ocorram, pelos quais este “fenômeno” se tornaria partícipe do campo, seja em sua construção teórica, analítica ou praxiológica, mediante sua relação com “o Político” nas dinâmicas do “Internacional”. Destarte, se busca averiguar também, em que medida e de quais maneiras a Religião e suas instituições podem incidir sobre: (1) as estruturas legislativas domésticas e externas, (2) na modelagem de valores e das práticas sociais e culturais dos povos e nações, (3) nas formulações de políticas externas e tomadas de decisões, (4) no envolvimento para com as Intituições e Organizações Internacionais, nos estudos sobre (5) a segurança, a paz e a democracia, (6) nos assuntos referentes ao desenvolvimento econômico e na economia política, (7) na ecopolítica, (8) nos Direitos Humanos e no Direito Internacioanl, (9) na Ética, na Política e no Social, (10) dentre outros. O número e a distinção de atores, abordagens, teorias e religiões envolvidas no debate, convidam as mais diversas abordagens para contribuir com a construção de conhecimento sobre este tema.

Referências

GRAHAM, Elaine. Between a Rock and a Hard Place: Public Theology in a Post-Secular Age. London: SCM Press, 2013.

_____. Between a Rock and a Hard Place: Public Theology in a Post-Secular Age. Practical Theology, Vol. 7, No. 4, pp. 235-251, December 2014.

PETITO, Fabio; MAVELLI, Luca (eds.). Towards a Postsecular International Politics: New Forms of Community, Identity, and Power. Basingstoke: Palgrave, 2014.

TAYLOR, Charles. Uma Era Secular. São Leopoldo: Unisinos. 1 ed., 10 de outubro, 2010.

THOMAS, Scott M. The Religious Turn in the Study of International Relations. The Review of Faith & International Affairs, 12:4, pp.76-82, DOI:10.1080/15570274.2014.976090, 2014.

WILSON, Erin K. After Secularism: Rethinking Religion in Global Politics. New York: Palgrave Macmillan, 2012.