Chamada de Artigos - Dossiê (Des) Encontros entre o Marxismo e as Relações Internacionais: exclusões, embates, inserções

24-08-2020

Organizadores: Caio Bugiato (UFRRJ) e Pedro Henrique Neves de Carvalho (UniBH)

Prazo para submissão de artigos: 31 de janeiro de 2021

Previsão de publicação: v.18, n.2 (2021)          

          O Marxismo e as Relações Internacionais (RI) têm estabelecido pouco diálogo desde a formação desta área do conhecimento à época da Primeira Guerra Mundial. Entre diversos motivos institucionais e político-ideológicos para tal, o ponto central é que as RI foram e são construídas com ideias que projetam a supremacia econômica, política e ideológica dos Estados e das classes dominantes dos países centrais do capitalismo e que articuladamente com esta formam um arcabouço intelectual que lhes é funcional, assim ofuscam as relações de dominação e exploração típicas da sociedade liberal. O Liberalismo e Woodrow Wilson, nos planos teórico e político, desempenharam a função de iniciar um processo intelectual para desvincular os fenômenos internacionais das lutas de classes e dos processos de acumulação de capital, em oposição à Revolução Bolchevique e às teorias marxistas do imperialismo (PIJL, 2014)  Nesse sentido, o desenvolvimento das RI no mundo e no Brasil seguiu essa linha política ao promover teorias e análises, pautados pelo seu mainstream, que se atrevem a explicar as relações internacionais sem qualquer vínculo com o modo de produção capitalista, corroborando estratégias de dominação de Estados, governos e classes e promovendo o capitalismo como o estado natural e superior da vida humana.

            Logo, é muito comum que estudantes, professores/as e pesquisadores/as ao entrar na área de RI se deparem com a ausência do Marxismo. Estes poderiam então questionar os paradeiros: das reflexões de Karl Marx (2011, 2013, 2017) sobre o mercado mundial, das de Friedrich Engels (1976) sobre a guerra ou das de ambos sobre o colonialismo (1978) ; da teoria do desenvolvimento desigual e combinado, tão propalada pela tradição trotskista (TROTSKY, 1977; MANDEL, 1985; ROSENBERG, 2010); das teorias do imperialismo, desde os/as autores/as clássicos/as (LENIN, 2005; KAUTSKY, 2002; LUXEMBURGO, 1985;  BUKHARIN, 1986) aos contemporâneos/as (PANITCH, 2004; WOOD, 2014; CALLINICOS, 2009; HARVEY, 2013); das teorias da dependência (CARDOSO e FALETTO, 2004; MARINI, 2005; DOS SANTOS, 2000; BAMBIRRA, 1975; FIORI, 1995), uma das maiores contribuições da América Latina para as Ciências Sociais; das teorias do Estado (POULANTZAS, 1977; HIRSCH, 2010; JESSOP, 2008), o principal agente das relações internacionais e tão pouco problematizado no mainstream; dos conceitos de burguesia e seu caráter nacional ou transnacional (PIJL, 1998; ROBINSON, 2004); entre outros. Ou indagar sobre a relação das notáveis teoria neogramsciana (COX, 1987; GILL, 2007) e teoria do sistema-mundo (WALLERSTEIN, 1984; ARRIGHI, 1994), e outras perspectivas críticas, com o Marxismo. E até mesmo se perguntar sobre o internacionalismo proletário em RI quando surgem pesquisas sobre revoluções (HALLIDAY, 1999; VISENTINI et. al., 2013) e sobre o socialismo mundial (HUI, 2017).

            Portando esta chamada de artigos pretende reunir trabalhos que em geral desenvolvam o Marxismo como teoria pertinente, distinta e sofisticada para as Relações Internacionais e/ou realizem análises críticas de conjuntura, atual e histórica, apreendendo sua complexidade. Especificamente, a chamada consiste em dois eixos articulados. O primeiro consiste na teoria marxista: epistemologia do pensamento marxista diante das RI; debates e desenvolvimentos teóricos e conceituais que estejam no interior do Marxismo e/ou em diálogo com outras teorias; crítica marxista sobre as Relações Internacionais e vice-versa; alcances do método e o papel do Materialismo Histórico para compreensão da realidade. O segundo consiste em análise de conjuntura baseada no referencial marxista que contemple as relações internacionais, as formações sociais nacionais ou as conexões entre o nacional e o internacional. Com essas orientações, convidamos amplamente para a reunião de pesquisas com intuito de abrir espaço para autores/as que se identifiquem com essa proposta e de incentivar as publicações sobre Marxismo nas Relações Internacionais no Brasil e no mundo.

Submissão e diretrizes para autores/as: http://periodicos.pucminas.br/index.php/conjuntura/about/submissions

No ato da submissão, marcar a seção do dossiê no procedimento de submissão.

Referências

ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de São Paulo: Editora UNESP, 1994.

BAMBIRRA, Vânia. El capitalismo dependiente latinoamericano. 2. ed. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Argentina, 1975.

BUKHARIN, Nikolai. A economia mundial e o imperialismo: esboço econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1986.

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CARDOSO Fernando Henrique; FALETTO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2004.

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DOS SANTOS, Theotonio. A teoria da dependência: balanço e perspectivas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

ENGELS, Friedrich. Temas militares. Lisboa: Estampa, 1976.

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HARVEY, David. O novo imperialismo. 7. ed. São Paulo, SP: Edições Loyola, 2013.

HIRSCH, Joachim. Teoria materialista do Estado: processos de transformação do sistema capitalista de Estados. Rio de Janeiro, RJ: Revan, 2010.

HUI, Jiang Hui.World Socialism in the Twenty-First Century: New Structure, New Features and New Trends, International Critical Thought, 7:2, 2017.

JESSOP, Bob. El futuro del estado capitalista. Madrid: Catarata, 2008.

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WALLERSTEIN, Immanuel. El moderno sistema mundial. México, DF: Siglo Veintiuno, 1984.

WOOD, Ellen. Império do capital. São Paulo, SP: Boitempo, 2014.