Chamada de Artigos - Dossiê (Des) Encontros entre o Marxismo e as Relações Internacionais: exclusões, embates, inserções
Organizadores: Caio Bugiato (UFRRJ) e Pedro Henrique Neves de Carvalho (UniBH)
Prazo para submissão de artigos: 31 de janeiro de 2021
Previsão de publicação: v.18, n.2 (2021)
O Marxismo e as Relações Internacionais (RI) têm estabelecido pouco diálogo desde a formação desta área do conhecimento à época da Primeira Guerra Mundial. Entre diversos motivos institucionais e político-ideológicos para tal, o ponto central é que as RI foram e são construídas com ideias que projetam a supremacia econômica, política e ideológica dos Estados e das classes dominantes dos países centrais do capitalismo e que articuladamente com esta formam um arcabouço intelectual que lhes é funcional, assim ofuscam as relações de dominação e exploração típicas da sociedade liberal. O Liberalismo e Woodrow Wilson, nos planos teórico e político, desempenharam a função de iniciar um processo intelectual para desvincular os fenômenos internacionais das lutas de classes e dos processos de acumulação de capital, em oposição à Revolução Bolchevique e às teorias marxistas do imperialismo (PIJL, 2014) Nesse sentido, o desenvolvimento das RI no mundo e no Brasil seguiu essa linha política ao promover teorias e análises, pautados pelo seu mainstream, que se atrevem a explicar as relações internacionais sem qualquer vínculo com o modo de produção capitalista, corroborando estratégias de dominação de Estados, governos e classes e promovendo o capitalismo como o estado natural e superior da vida humana.
Logo, é muito comum que estudantes, professores/as e pesquisadores/as ao entrar na área de RI se deparem com a ausência do Marxismo. Estes poderiam então questionar os paradeiros: das reflexões de Karl Marx (2011, 2013, 2017) sobre o mercado mundial, das de Friedrich Engels (1976) sobre a guerra ou das de ambos sobre o colonialismo (1978) ; da teoria do desenvolvimento desigual e combinado, tão propalada pela tradição trotskista (TROTSKY, 1977; MANDEL, 1985; ROSENBERG, 2010); das teorias do imperialismo, desde os/as autores/as clássicos/as (LENIN, 2005; KAUTSKY, 2002; LUXEMBURGO, 1985; BUKHARIN, 1986) aos contemporâneos/as (PANITCH, 2004; WOOD, 2014; CALLINICOS, 2009; HARVEY, 2013); das teorias da dependência (CARDOSO e FALETTO, 2004; MARINI, 2005; DOS SANTOS, 2000; BAMBIRRA, 1975; FIORI, 1995), uma das maiores contribuições da América Latina para as Ciências Sociais; das teorias do Estado (POULANTZAS, 1977; HIRSCH, 2010; JESSOP, 2008), o principal agente das relações internacionais e tão pouco problematizado no mainstream; dos conceitos de burguesia e seu caráter nacional ou transnacional (PIJL, 1998; ROBINSON, 2004); entre outros. Ou indagar sobre a relação das notáveis teoria neogramsciana (COX, 1987; GILL, 2007) e teoria do sistema-mundo (WALLERSTEIN, 1984; ARRIGHI, 1994), e outras perspectivas críticas, com o Marxismo. E até mesmo se perguntar sobre o internacionalismo proletário em RI quando surgem pesquisas sobre revoluções (HALLIDAY, 1999; VISENTINI et. al., 2013) e sobre o socialismo mundial (HUI, 2017).
Portando esta chamada de artigos pretende reunir trabalhos que em geral desenvolvam o Marxismo como teoria pertinente, distinta e sofisticada para as Relações Internacionais e/ou realizem análises críticas de conjuntura, atual e histórica, apreendendo sua complexidade. Especificamente, a chamada consiste em dois eixos articulados. O primeiro consiste na teoria marxista: epistemologia do pensamento marxista diante das RI; debates e desenvolvimentos teóricos e conceituais que estejam no interior do Marxismo e/ou em diálogo com outras teorias; crítica marxista sobre as Relações Internacionais e vice-versa; alcances do método e o papel do Materialismo Histórico para compreensão da realidade. O segundo consiste em análise de conjuntura baseada no referencial marxista que contemple as relações internacionais, as formações sociais nacionais ou as conexões entre o nacional e o internacional. Com essas orientações, convidamos amplamente para a reunião de pesquisas com intuito de abrir espaço para autores/as que se identifiquem com essa proposta e de incentivar as publicações sobre Marxismo nas Relações Internacionais no Brasil e no mundo.
Submissão e diretrizes para autores/as: http://periodicos.pucminas.br/index.php/conjuntura/about/submissions
No ato da submissão, marcar a seção do dossiê no procedimento de submissão.
Referências
ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio de São Paulo: Editora UNESP, 1994.
BAMBIRRA, Vânia. El capitalismo dependiente latinoamericano. 2. ed. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Argentina, 1975.
BUKHARIN, Nikolai. A economia mundial e o imperialismo: esboço econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1986.
CALLINICOS, Alex. Imperialism and global political economy. Polity Press: Cambridge, 2009.
CARDOSO Fernando Henrique; FALETTO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2004.
COX, Robert W. Production, power, and world order: social forces in the making of history. New York: Columbia University Press, 1987.
DOS SANTOS, Theotonio. A teoria da dependência: balanço e perspectivas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
ENGELS, Friedrich. Temas militares. Lisboa: Estampa, 1976.
FIORI, José Luís. A globalização e a novíssima dependência. In: FIORI, José Luís. Em busca do dissenso perdido. Rio de Janeiro: Insight, 1995.
GILL, Stephen (org.). Materialismo histórico e relações internacionais. Rio de Janeiro, RJ: Editora UFRJ, 2007.
HALLIDAY, Fred. Revolution and world politics. The rise and fall of the sixth great power. Durham: Duke University Press, 1999.
HARVEY, David. O novo imperialismo. 7. ed. São Paulo, SP: Edições Loyola, 2013.
HIRSCH, Joachim. Teoria materialista do Estado: processos de transformação do sistema capitalista de Estados. Rio de Janeiro, RJ: Revan, 2010.
HUI, Jiang Hui.World Socialism in the Twenty-First Century: New Structure, New Features and New Trends, International Critical Thought, 7:2, 2017.
JESSOP, Bob. El futuro del estado capitalista. Madrid: Catarata, 2008.
KAUTSKY, Karl. O imperialismo. In: TEIXEIRA, Aloisio (org.). Utópicos, heréticos e malditos. Rio de Janeiro: Record, 2002.
LENIN, Vladimir. O imperialismo, fase superior do capitalismo. São Paulo: Centauro, 2005
LUXEMBURGO, Rosa. A acumulação do capital. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
MANDEL, Ernest. O capitalismo tardio. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
MARINI, Ruy Mauro. Dialética da dependência. São Paulo: Expressão Popular, 2005.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Acerca del colonialismo. Madrid: Jucar, 1978.
MARX, Karl. Grundrisse. Manuscritos econômicos de 1857-1858. Esboços da crítica da economia política. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2011.
______. O Capital. Crítica da Economia Política. Livro I: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.
______. O Capital. Crítica da Economia Política. Livro III: o processo global da produção capitalista. São Paulo: Boitempo, 2017.
PANITCH, Leo. Global capitalism and American empire. London; Black Point, 2004.
PIJL, Kees van der. The Discipline of Western Supremacy. Modes of Foreign Relations and Political Economy, Vol. III. London: Pluto Press, 2014.
______. Transnational classes and international relations. London: Routledge, 1998.
POULANTZAS, Nicos. Poder político e classes sociais. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
ROBINSON, William I. A theory of global capitalism: production, class, and state in a transnational world. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2004.
ROSENBERG, Justin. Basic problems in the theory of uneven and combined development Part II: unevenness and political multiplicity, Cambridge Review of International Affairs, 23:1, 2010.
TROTSKY, Leon. A história da revolução russa. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1977.
VISENTINI, Paulo; PEREIRA, Analúcia; MARTINS, José; RIBEIRO, Luis;. E GRÖHMANN, Luis. Revoluções e regimes marxistas: rupturas, experiências e impacto internacional. Porto Alegre: Leitura XXI/NERINT-UFRGS, 2013.
WALLERSTEIN, Immanuel. El moderno sistema mundial. México, DF: Siglo Veintiuno, 1984.
WOOD, Ellen. Império do capital. São Paulo, SP: Boitempo, 2014.