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Fabio Luis Barbosa dos Santos Economia políca da integração regional
ção com o Brasil, a economia indiana é relativamente fechada, e novos
setores tem sido abertos ao capital internacional, inclusive universidades,
hospitais, bancos e o comércio varejista (MENON, 2017).
Ao mesmo tempo, o governo constituiu um Project Development
Fund para apoiar indústrias indianas interessadas em instalar-se em polos
manufatureiros nos países CLMV. Esta política, contraditória com a ban-
deira Make in India, é justicada com o argumento de que a competitivi-
dade da indústria indiana aumentará, trazendo no longo prazo, práticas
e tecnologias mais avançadas para o país. Também a África tem atraído
indústrias indianas, como é o caso de uma fabricante de transformadores
que anunciou a instalação de uma unidade em Zâmbia em 2018, bene-
ciando-se do cobre local.
Neste contexto, a atuação do Exim Bank intensica-se: no início
de 2018, o banco levantou U$ 10 bilhões por meio de emissão de títulos
no mercado londrino, que serão destinados a projetos de exportação e
investimentos no exterior por meio de linhas de crédito de longo prazo
(MONEY CONTROL, 2018)
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. Em particular, os negócios na África tem
se expandido. Já em 2015, o banco anunciara a criação da Kuzuza Project
Development Company (KPDC), que trabalha para viabilizar projetos de in-
fraestrutura com participação indiana na África, continente que, segundo
um estudo do Banco Mundial, requer investimentos da ordem de U$ 90
bilhões por ano (SRIVATS, 2015).
No bojo do crescente envolvimento mercantil com a África, foi lan-
çado em 2017 o Asia-Africa Growth Corridor (AAGC), um acordo de coope-
ração econômica entre os governos da Índia, Japão e os países da África.
Segundo o documento original, objetiva-se uma colaboração para desen-
volver a infraestrutura africana, inclusive digital, tendo em vistas poten-
cializar os nexos entre os países através do oceano Índico (RIS, 2017). Vi-
sualiza-se um corredor marítimo com ramicações sobre os territórios,
em uma evidente reação à One Belt, One Road Initiative chinesa, que prevê
um braço estendendo-se sobre o mesmo Oceano Índico. Unidos pelo te-
mor chinês, Índia e Japão concertam esforços para expandir negócios na
e com a África, visando também assegurar o suprimento de matérias-pri-
mas e alimentos que necessitam, ao mesmo tempo em que contrabalan-
çam a expansão chinesa na África e no Oceano Índico
4
.
Finalmente, o governo considera a aderir à Regional Comprehensi-
ve Economic Partnership (RCEP), constituindo uma área de livre-comér-
cio entre os dez países da ASEAN e o seis países com que ASEAN tem
acordos de livre-comércio (Austrália, China, Índia, Japão, Coreia do Sul e
Nova Zelândia). A RCEP é vislumbrada como uma alternativa à Trans-Pa-
cic Partnership (TPP), iniciativa que engloba diversos países americanos
e asiáticos, mas que exclui China e Índia. Entretanto, setores expressivos
do capitalismo indiano, que incluem industriais aglutinados na Confede-
ration of Indian Industry (CII), são contrários à proposta, principalmente
pelo receio da concorrência chinesa (CHATURDEVI, 2017). Para Arpi-
ta Mukherjee, a RCEP não oferece qualquer interesse econômico para
o país, mas este pesquisador adverte que, como o BJP não acredita em
planejamento nem em pesquisa, tende a tomar decisões cada vez menos
informadas (MUKHERJEE, 2017).
3. De modo similar ao que ocorreu
com o BNDES em 2003, quando uma
alteração estatutária permitiu uma linha
de crédito estimulando a internacio-
nalização das “campeãs nacionais”,
é permitido desde 2005 aos bancos
indianos apoiar aquisições operadas por
empresas nacionais no exterior.
4. Simultaneamente, os Estados Unidos
propõem um corredor econômico
Indo-Pacífico, visando conectar o sul da
Ásia ao sudeste asiático, integrando os
oceanos Índico e Pacífico (YHOME, K;
CHATURVEDY: 2017, p. 28).