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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 8, n. 3, (set. 2020), p. 152-173
Não obstante, esse trabalho busca desvencilhar-se de uma pers-
pectiva militarizada dos recursos naturais. Do ponto de vista econômi-
co, Oliveira (2010) salienta as alterações do sistema econômico mundial
desde o pós 2ª Guerra Mundial, apontando a disputa pelo controle dos
principais mercados do mundo, dentre os quais destacam-se as maté-
rias-primas. Segundo esse autor, o crescimento econômico de países em
desenvolvimento impulsionou a busca por uma maior projeção política
de coparticipação nos processos decisórios internacionais. Nesse sentido,
Ramos et al. (2018) destacam a maior articulação institucional da China,
especialmente no que tange à busca por consolidar uma agenda de gover-
nança econômica paralela à dirigida pelos países desenvolvidos.
Leite (2011) destaca o dinamismo econômico chinês na esfera do co-
mércio internacional, seja atuando como polo exportador, importador ou
como investidor estrangeiro em grande escala. Alinhando seus interesses
nos ambientes doméstico e internacional, no ano de 1978, sob orientação
de Deng Xiaoping, a China seguiu rumo a uma economia voltada para o
mercado (WALL, 1996; EGLIN, 1997). Consequentemente, a emergência
chinesa alterou as estruturas produtivas globais. Particularmente, no se-
tor primário, ao criar dinâmicas que impulsionaram uma grande deman-
da de recursos naturais, a China assumiu o posto de responsável pela alta
dos preços internacionais de commodities, lugar que terminou por estabe-
lecê-la como motor da expansão industrial extrativa em nível mundial
(MORENO, 2015).
Diante disso, o artigo tem por objetivo analisar os recursos natu-
rais estratégicos sob uma perspectiva da Economia Política Internacional
(EPI), buscando compreender os Elementos de Terras Raras (ETR/TR)
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empregados como um recurso de poder econômico pelo Estado chinês.
Apesar do reducionismo das análises de EPI focarem nas relações entre
Estado e Mercado, conforme aponta Gonçalves (2005), esse é um tema
que perpassa toda a agenda dos estudos da área, seja por uma perspecti-
va mais liberal-institucional (FRIEDEN E LAKE, 2000) ou mais crítica.
Diante desse quadro, busca-se compreender o interesse da China no con-
trole sobre a cadeia produtiva dos ETR, sugerindo-se que, o controle das
reservas, depósitos e do consumo de alto valor adicionado em produção
de tecnologia high tech, confere à China maior poder de barganha, reeti-
do no seu aumento de poder econômico. A China é o país ofertante desse
recurso com maior importância no mercado, inuenciando variáveis cha-
ve no funcionamento do mesmo, tais como preço e volume negociado.
Sobre esse tema Wubbeke (2013) bem como Kalantzakos (2018) des-
tacam que os controles de exportação de ETR implementados pela China
não podem ser analisados isoladamente e sugere que a explicação geopolí-
tica, que vê os recursos naturais como instrumentos da política de poder,
só pode ser parcialmente atribuída às políticas chinesas de ETR. Segundo
o autor, é preciso considerar as demandas domésticas emergentes sobre a
dimensão ambiental e de desenvolvimento industrial. Do ponto de vista
metodológico, tal problemática será observada através do estudo do caso
da estratégia de inserção monopolista chinesa nesse mercado, a partir da
restrição da produção, com o ápice através da abertura de um painel na
Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2012 (OMC, 2015).
5. Terras raras (TR) ou Elementos de
Terras Raras (ETR) compreendem uma
série de elementos químicos que se
encontram na tabela periódica entre
o Lantânio (La;57) e o Lutécio (Lu;71).
Somados a essa série estão os metais
Escândio (Sc;21) e Ítrio (Y;39). Os ETR
caracterizam-se como um importante
insumo da cadeia produtiva comercial
global, e destacam-se, majoritariamen-
te, nos sistemas de controle de mísseis,
de defesa e de comunicação (ROCIO; da
SILVA; de CARVALHO; CARDOSO, 2013,
LEITE; ARAÚJO, 2015). Além disso, os
ETR são utilizados desde a composição
de imãs, lasers, radares, lentes de
câmeras, motores elétricos de auto-
móveis até nas blindagens de reatores
nucleares e em materiais usados no
refino do petróleo.