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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 10, n. 1, (abr. 2022), p. 61-73
nales. Por tanto, realiza una reexión sobre las condiciones de posibilidad para la
existencia de una sociología especial y para su consolidación. El camino recorrido
fue analizar los aportes involuntarios y voluntarios a la constitución de una socio-
logía de las relaciones internacionales. La conclusión nal del artículo es que existe
una sociología de las relaciones internacionales, pero incipiente y en formación.
Para que se consolide, es necesario desarrollar sus tradiciones analíticas, reexiones
sobre las relaciones internacionales y el reconocimiento social. Finalmente, las pu-
blicaciones más recientes apuntan a la tendencia a desarrollarse de estos elementos.
Palabras clave: sociologías especiales, sociología de las relaciones internaciona-
les, tradiciones analíticas, campo fenomenal, reconocimiento social.
Introdução
Já há algum tempo se questiona se existe uma sociologia das rela-
ções internacionais. Com o passar do tempo, novas obras sobre essa te-
mática apareceram e isso poderia dar a impressão de que é uma discussão
ultrapassada e que não há dúvida sobre a existência, efetiva, de uma so-
ciologia das relações internacionais. Porém, o questionamento permane-
ce existindo e o fato de terem sido publicadas mais obras sociológicas no
mercado sobre relações internacionais não signica a consolidação desta
sociologia especial. O fato de algumas grades curriculares utilizarem o
nome “sociologia e relações internacionais” ao invés de “sociologia das
relações internacionais”, reforçam a dúvida sobre sua existência ou, pelo
menos, consolidação como sociologia especial. Isso traz a necessidade de
uma reexão sobre as condições de possiblidade de uma sociologia espe-
cial2, bem como sobre as questões relativas à sua consolidação.
Para a consolidação de uma sociologia especial3, faz-se necessário
não apenas quantidades de obras, mas que algumas delas consigam dar
respostas a algumas questões fundamentais que podem consolidá-la aca-
dêmica e intelectualmente. Sem dúvida, o inverso também é verdadeiro:
a solidicação analítica através de uma ampla reexão que responda às
questões fundamentais de uma sociologia não é suciente para sua con-
solidação, pois é necessário que isso seja reconhecido socialmente, o que
ocorre por meio da quantidade de publicações4, inserção nas grades cur-
riculares, tradição analítica, formação de grupos de pesquisa e eventos,
agenda de pesquisa, etc. Isso tudo justica as duas questões que busca-
remos responder no presente artigo: existe uma sociologia das relações
internacionais?5 Se existe, ela está consolidada?
Nesse sentido, é necessário colocar em que contexto podemos con-
siderar que uma determinada sociologia especial existe e em qual situação
ela pode ser considerada consolidada. Para uma sociologia especial existir
ela precisa ter bases intelectuais desenvolvidas, tal como um conjunto de
teses (que alguns denominam “teorias”) basilares que servem de referencial
explicativo dos aspectos mais amplos do fenômeno social especíco, uma
delimitação da especicidade do fenômeno social que constitui seu campo
de pesquisa, uma tradição analítica (existência de teses basilares que são
referências e oferecem bases explicativas para os temas pesquisados), reco-
nhecimento social (grades curriculares, grupos de pesquisa, quantidade de
pesquisas e publicações em sua área, etc.). Em síntese, possuir bases intelec-
2. O processo de especialização e sua
ampliação é um fenômeno social analisado
pela própria sociologia. Esse foi o caso de
Max Weber e sua análise da racionaliza-
ção do ocidente e da especialização que é
parte dela e de Karl Marx e sua crítica da
divisão social do trabalho e do que denomi-
nou “idiotismo da especialização”. Ambos
eram grandes eruditos e Weber acabou
sendo precursor de várias sociologias
especiais, mas, ele mesmo, não desen-
volveu nenhuma, por pensar num sentido
sociológico mais amplo. Marx, por sua vez,
nem se considerava sociólogo e nunca
buscou produzir uma ciência particular, o
que o deixa bem distante das subdivisões
da sociologia, tais como são as sociologias
especiais. Porém, concorde-se ou não, a
especialização acabou se intensificando e
gerando as sociologias especiais e o nosso
objetivo aqui é analisar esse processo no
caso específico da sociologia das relações
internacionais, o que não significa concor-
dância e falta de percepção dos problemas
que isso gera tanto no âmbito social
quanto intelectual. O nosso foco analítico é
a situação dessa sociologia especial e por
isso nos limitamos a abordar o seu proces-
so de constituição e seu estado atual.
3. A distinção entre “sociologia geral” e
“sociologias especiais” já é tradicional
no interior do pensamento sociológico e
pode ser vista desde a análise clássica de
Durkheim até os manuais de sociolo-
gia. A chamada “sociologia geral” é,
fundamentalmente, a parte da sociologia
considerada mais “teórica” e “geral”, a
que trata da sociedade em seu conjunto,
dos conceitos básicos, das bases teóricas
e metodológicas dessa ciência. As obras
dos clássicos Marx, Durkheim e Weber,
apontam para essa discussão mais ampla
e geral da sociologia, tratando de questões
como o surgimento e as características
da sociedade moderna, bem como seus
elementos teóricos e metodológicos
básicos. As sociologias especiais, por
sua vez, são subdivisões da sociologia
que efetivam análises e pesquisas sobre
fenômenos sociais mais específicos no
interior da sociedade global, como a edu-
cação, a religião, a política, a economia,
a cultura, a arte, etc. Isso gera diversas
sociologias especiais, como, por exemplo,
a sociologia da educação, a sociologia da
religião, a sociologia política, a sociológica
econômica, a sociologia da cultura. Essas
sociologias especiais, por sua vez, podem
ainda gerar subdivisões internas e apenas
um exemplo, o da sociologia da cultura, é
suficiente para mostrar isso: sociologia da
arte, sociologia da ciência, entre outras.
E outra subdivisão ainda pode ocorrer, tal
como na sociologia da arte, que engloba
a sociologia do cinema, a sociologia da
literatura, a sociologia da música, etc.