Espiritualidade e saúde: polissemia, fragilidades e riscos do conceito
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Resumo
O artigo objetiva compreender como o termo “espiritualidade” tem sido utilizado na área da saúde, discutindo os problemas decorrentes e as possíveis adversidades de sua polissemia. Para tanto, dividimos o estudo em três partes. Na primeira, apresentamos as diferentes definições de “espiritualidade” nas ciências humanas, sua relação histórica com a teologia cristã, e recente ressignificação pela Nova Era. Na sequência, demonstramos como a maior parte das produções sobre a temática na área da saúde adota uma concepção reificada e essencializada de espiritualidade. Na terceira, discutimos as principais fragilidades identificadas no estudo. O termo espiritualidade está sendo utilizado nas ciências médicas para que a religião adentre seus espaços, inclusive de políticas públicas, ainda que de modo secularizado. Um paralelo com a fenomenologia da religião foi traçado para demonstrar as consequências da má conceituação de uma categoria em longo prazo. Por fim, identificamos uma supervalorização da dimensão psicológica da espiritualidade em detrimento das dimensões morais e rituais.
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