EM NOME DE QUE DEUS? SERVIDÃO PSICOLÓGICA, DISCUR-SO PASTORAL E TERAPIAS DE CONVERSÃO

  • Alison Antonio Alves
  • Maria Madalena Silva de Assunção
Palavras-chave: Homossexualidade, Terapias de Conversão, Processos de Subjetivação, Religiosidade

Resumo

O trabalho a seguir apresentado objetivou conhecer as manifestações contemporâneas das terapias de conversão, popularmente conhecidas como terapias de “cura gay” e seus impactos na subjetividade daqueles que a elas se submetem. Nesta perspectiva, identificaram-se as motivações, forças e intensidades que fundamentaram a escolha dos sujeitos LGBT’s, a procurar este tipo de serviço, bem como as alternativas encontradas por eles para romper com as instituições religiosas dando vazão ao desejo, em um movimento de resistência e criação. Discutiu-se ainda sobre as terapias de conversão propriamente ditas e as correntes psicológicas que as ancoram, bem como o papel fundamental da Resolução 01/99 e do Conselho Federal de Psicologia, que regulamenta a prática psicológica. Dadas as características do objeto, privilegiou-se o método qualitativo de pesquisa, sendo o instrumento de coleta de dados a entrevista semiestruturada. As entrevistas ocorreram por meio eletrônico, na plataforma escolhida pelos entrevistados, sendo o critério de inclusão na amostra ter participado das terapias de conversão ou ter sido impactado de alguma maneira pelos discursos LGBTfóbicos proferidos por líderes religiosos. As temáticas evocadas durante as entrevistas foram analisadas e submetidas a análise de conteúdo. Os resultados encontrados mostram-se alinhados às discussões teóricas realizadas, que consideram que as razões pelas quais estes sujeitos LGBT’s aceitam submeter-se a tais tipos de serviço devem-se ao sofrimento vivenciado por desviar-se da norma, que arbitrariamente definiu a heterossexualidade enquanto legítima. Mostram ainda os impactos negativos e de sentimentos de menos valia trazidos por tais discursos. Entretanto, mostram-nos que as vezes a experiência do sagrado sobrepõe-se a vivência da sexualidade, culminando na servidão voluntária ao discurso religioso. Por fim, os resultados nos mostram as alternativas e meios encontrados por estes sujeitos para ressignificar a experiência traumática vivida.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALES BELLO, A. Teologia negativa, mística, hilética fenomenológica: a propósito de Edith Stein. Memorandum, 3, 98-111, 2002. Disponível em Acesso em 30 de Março de 2021.

ARAÚJO, I. L. Foucault e a crítica do sujeito. Curitiba: Ed. da UFPR, 2008.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BAREMBLITT, G. F. Compêndio de Análise Institucional e outras correntes: Teoria e prá-tica. Belo Horizonte, MG: Instituto Félix Guattari, 5. ed. 2002.

BARLOW, D. H., REYNOLDS, E. H., & Agras, W. S. Gender identity change in transsexu-als. Archives of General Psychiatry, 28, 569 579, 1973.
CECCARELLI, P. R. A invenção da homossexualidade. Bagoas. n. 2, 2008, p. 71-93.

CHIZZOTTI, A. A pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais: evolução e desafios. Revista Portuguesa de Educação, v. 16, n. 2, 2003, p. 221-236. Universidade do Minho Braga, Portugal.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Decreto Nº 001/99. Brasília: CFP, 1999.

CUNHA, M. C. P. Loucura, gênero feminino: As mulheres do Juquery na São Paulo do início do século XX. Revista Brasileira de História, 9(18), 121-144, 1989.

DAVIES, D. Terapia de Reorientação Sexual (Terapia Reparativa) e requerimentos para a ajuda na mudança de orientação sexual. Tradução Miguel Montenegro. PinkTherapy, 2012. Disponível em: http://www.pinktherapy.com/portals/0/downloadables/translations/ce_port.pdf Acesso em: 04 Abril 2021.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Assembleia Geral das Na-ções Unidas em Paris. 10 dez. 1948. Disponível em: . Acesso em 01 de Junho de 2020.

DELEUZE, G. Espinosa e o problema da expressão. Trad. de A. Guérinot. Paris: Minuit, 1968.

DELEUZE, G. GUATTARI, F. Mil platôs. São Paulo: Editora 34, 2002. 4 v.

DELEUZE, G.; PARNET, C. Diálogos. São Paulo: Escuta, 1998.

ESPINOSA, B. Ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2009

FOUCAULT, M. Sexo, poder e política de identidade. Entrevista com B. Gallagher e A. Wil-son, Toronto, junho de 1982. Disponível em: http://www.filoesco.unb.br/foucault.

FOUCAULT, M. História da sexualidade: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988. 1 v.

FOUCAULT, M. Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense, 2009.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Rio de Janeiro: Vozes, 2014.

FREIRE, P. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1992.

FREUD, S. Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1905/ 1996. 7 v.

GARCIA, M. R. V.; MATTOS, A. R. “Terapias de Conversão”: Histórico da (Des)Patologização das Homossexualidades e Embates Jurídicos Contemporâneos. Psicol. ci-enc. prof., Brasília , v. 39, n. spe3, e228550, 2019 . Disponível em . Acesso em: 13 fev. 2021.

GGB. MORTES VIOLENTAS DE LGBT+ NO BRASIL – 2019: Relatório do Grupo Gay da Bahia. Disponível em : < https://grupogaydabahia.com.br/relatorios-anuais-de-morte-de-lgbti/> Acesso em 01 jun. 2020.

GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janei-ro: LTC, 4ª ed. 1963.

HALDEMAN, D. C. Sexual orientation conversion therapy for gay men and lesbians: A sci-entific examination. In J. C. Gonsiorek, J. D. Weinrich (Eds.), Homosexuality: Research im-plications for public policy, Newbury Park, CA: Sage, p. 149-160, 1991.

HALDEMAN, D. C. Therapeutic antidotes: Helping gay and bisexual men recover from con-version therapies. Journal of Gay and Lesbian Psychotherapy, 5(3/4), 119-132, 2002. Dis-ponível em : Acesso em: 02 fev. 2021.

LA BOÉTIE, E. Discurso da servidão voluntária ou contra Um. Edição Bilíngue. Trad. Laymert Garcia dos Santos. São Paulo: Brasiliense, 1983.

LOURO, G. L. Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 9, n. 2, p. 541-553, 2001. Disponível em: Acesso em 04 fev. 2021.

MAINARDES, J. Pesquisa etnográfica: elementos essenciais. In: BOURGUIGNON, J. A. Pesquisa Social: Reflexões teóricas e metodológicas. Ponta Grossa: Toda Palavra, 2009.
MALOTT, R. W. (1996). A behavior-analytic view of sexuality, transsexuality, homosexua-lity, and heterosexuality. Behavior and Social Issues, 6(2), 127-140. Doi: 10.5210/bsi.v6i2.288

MANZINI, E. J. Entrevista Semi-estruturada: Análise de Objetivos e de Roteiros. In: Semi-nário Internacional Sobre Pesquisa e Estudos Qualitativos. Bauru: USC, 2004.

MINAYO, M. C. S. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Pau-lo: Editora Hucitec, 1993.

NATIVIDADE, M. Homossexualidade, gênero e cura em perspectivas pastorais
evangélicas. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, v. 21, n. 61, p. 115-132, jun. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010269092006000200006&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 31 de mar. de 2021.

RIKER, B. Entendendo a homossexualidade. Ministério ser. 2014. Disponível em: Acesso em: 14 de fev. de 2021.

RIKER, D. RIKER, B. Ministério ser: sexualidade e restauração. c2014. Quem somos? Dis-ponível em: Acesso em: 14 de fev. de 2021.

ROUDINESCO, El. Pyschanalyse et homosexualité: réflexions sur le désir pervers, l'inju-re et la fonction paternelle. Cliniques Méditerranéennes. Ramonville Saint-Agne: Éditions Ères, 2002.

SAWAIA, B. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
Publicado
20-03-2022
Como Citar
ALVES, A. A.; ASSUNÇÃO, M. M. S. DE. EM NOME DE QUE DEUS? SERVIDÃO PSICOLÓGICA, DISCUR-SO PASTORAL E TERAPIAS DE CONVERSÃO. Pretextos - Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, v. 6, n. 12, p. 193-212, 20 mar. 2022.
Seção
Artigos de temática livre