Conjurar a qualificação de violência: justificativas e práticas do recurso à coerção nas hospitalizações psiquiátricas
Resumo
Resumo
As hospitalizações sem consentimento estão no centro da acusação contra a Psiquiatria, por esta exercer coerções ilegítimas. Essa crítica é feita pelos próprios profissionais da área. Com cerca de 13% de hospitalizações em duas modalidades definidas pela Lei 90-527, de 27/06/1990 – a hospitalização de ofício e aquela resultante da demanda de um terceiro –, o exercício da coerção é parte integrante do tratamento psiquiátrico e pode incluir reclusão em quartos de isolamento, tratamentos e outras coerções relativas às condições de hospitalização (vestimentas, visitas, recomendações, etc.). A partir de entrevistas com diferentes categorias de profissionais (médicos, enfermeiros e técnicos) e de observações etnográficas nos serviços de urgência psiquiátrica e num serviço de hospitalização, analisamos, por meio de uma abordagem compreensiva, a maneira pela qual os profissionais justificam o uso da coerção e definem seus limites, de maneira a afastar a qualificação de violência.
Conjurer la qualification de violence: justifications et pratiques du recours a la contrainte lors des hospitalisations psychiatriques
Résumé
Les hospitalisations sans consentement n’ont cessé d’être au coeur de l’accusation portée contre la psychiatrie d’exercer des contraintes illégitimes, critique menée parfois par les professionnels eux-mêmes. Avec près de 13% des hospitalisations réalisées sous l’une des deux modalités définies par la loi du 27 juin 1990, l’hospitalisation d’office et à la demande d’un tiers, l’exercice de la contrainte est partie prenante du soin psychiatrique, et peut inclure placement en chambre d’isolement, administration de traitements, et autres contraintes concernant les conditions de l’hospitalisation (vêtements, visites, appels, etc.). A partir d’entretiens avec les différentes catégories de soignants (médecins, infirmiers et aides-soignants) et d’observations ethnographiques menées dans des services d’urgence psychiatrique et dans un service d’hospitalisation, nous avons analysé dans une approche compréhensive la manière dont les professionnels justifient le recours à la contrainte et en définissent les limites de façon à écarter la qualification de violence.
Abstract
Hospitalization without consent is in the core of accusations against Psychiatry as it exerts illegitimate coercions, a criticism often expressed by professionals in the area themselves. With around 13% of the hospitalizations carried out in two modes defined by the Law dated June 27, 1990 – office hospitalization and that resulting from a third party’s demand – the exercise of coercion is an integral part of psychiatric treatment and may include reclusion in isolation rooms, administration of treatments and other coercions related to hospitalization conditions (clothing, visits, recommendations, etc.). Based on interviews with various categories of professionals (doctors, nurses and technicians), as well as on ethnographic observations in psychiatric urgency services and in one hospitalization service, we analyzed, by means of a comprehensive approach, the way professionals justify the use of coercion and define its limits, so as to evade the qualification of violence.
Resumen
Las hospitalizaciones sin consentimiento están en el centro de las acusaciones contra la Psiquiatría, ya que esta ejerce coacciones ilegítimas, crítica que a veces hacen los propios profesionales del área. Cerca del 13% de las hospitalizaciones se realizan en dos modalidades definidas por la ley de 27 de junio de 1990 – la hospitalización de oficio y la que resulta de la demanda de un tercero –, el ejercicio de la coacción forma parte del tratamiento y puede incluir la reclusión en cuartos de aislamiento, administración de tratamientos y otras coacciones relativas a las condiciones de hospitalización (vestiduras, visitas, recomendaciones, etc.). Basándonos en entrevistas a diferentes categorías de profesionales (médicos, enfermeros y técnicos) y de observaciones etnográficas en los servicios de urgencia psiquiátrica y en un servicio de hospitalización, analizamos, a través de un abordaje comprensivo, como los profesionales
justifican el uso de la coacción y definen sus límites para que no llegue a ser clasificada como una violencia.
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