Auto-bio-thanato-grafia: a experiência do silêncio em Photomaton & Vox, de Herberto Helder
Resumo
Em Photomaton & Vox, Herberto Helder reúne uma série de textos de naturezas e origens diferentes, construindo um livro de folhetos com uma arquitetura complexa e instável. A montagem particular do livro alinha num mesmo nível poemas, textos de poética autoral e alguns quadros autobiográficos dispersos e fragmentários. Dispostos lado a lado, constituem uma rede de implicações que desestabiliza a leitura, fazendo com que todos sejam ironicamente colocados sob o signo da dúvida, da hipótese. Assim são também pensados como ambíguos e plurais os biografemas de um sujeito que escreve sempre sobre a sua experiência de escrita. O autobiógrafo fala enquanto o seu texto dura, movendo-se entre o silêncio anterior ao texto e o silêncio que o vai encerrar. Helder chama “(a morte própria)” ao último folheto de Photomaton & Vox e, falando ainda, inscreve aí o seu epitáfio. Depois deste, outros silêncios fecharam livros finais, que novamente foram abertos, recorrentemente, alternando escrita e silêncio, como vida e morte.
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Referências
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