Sob o signo de uma nostalgia projetiva: a poesia angolana nacionalista e a poesia pós-colonial
Resumo
Não me parece excessivo afirmar que, hoje, a literatura angolana, reagindo à intrigante e nada apaziguadora (pelo menos até 2002) dinâmica da situação pós-colonial do país, vive um período de singular ecletismo estético e produtividade reflexiva. Tal se deve a uma dialogia transtextual e intergeracional e à necessidade de repensar o país, tarefa a que a literatura se assume como vanguarda, continuando a ser veículo privilegiado da atividade reflexiva, agora quase substituindo os cientistas sociais (historiadores, sociólogos, politólogos) no registro e análise dos acontecimentos e fenômenos que ainda não foram erigidos a "objeto" de estudo. No entanto, apesar de a literatura angolana continuar ainda a cerzir a identidade na senda da história e das imagens e memória dela, os pressupostos e os destinadores hoje são "outros", ou antes, essa alteridade já não remete apenas para os sujeitos "do exterior", mas também contempla aqueles "mesmos" que são partícipes de um estado de coisas. Isto é, as novas gerações de escritores assumem de forma incisiva a "internalização" do olhar e não descuram as "novas" relações de poder. Este ensaio põe em diálogo a poesia consagrada dos poetas da "geração da Mensagem", em especial a poesia de Agostinho Neto (Sagrada esperança), e a poesia pós-colonial, da "geração das incertezas, a saber: Adriano Botelho de Vasconcelos, Abismos do silêncio (1996) e Tábua (2004); José Luís Mendonça, Quero acordar a alva (1997) e Ngoma do negro metal (2000); João Maimona, A idade das palavras (1997) e Retrato das mãos (incluído em Festa da monarquia, 2001); Paula Tavares, Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001) e Ex-votos (2003) e Maria Alexandre Dáskalos, Jardim de delícias (1991) e Lágrimas e laranjas (2001).
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