Cidade e cidadela: a nação reimaginada em Janela de Sónia de Manuel Rui

  • Ludmila Guimarães Maia Universidade de São Paulo
Palavras-chave: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Literatura Angolana. Manuel Rui. Estudos Culturais. Medo.

Resumo

Janela de Sónia (2009), do escritor angolano Manuel Rui, narra a saga de uma família refugiada na guerra civil em Angola, lutando pela sobrevivência, enquanto vai construindo um verdadeiro império com os destroços de uma cidade. A medida em que a fazenda transforma-se de um espaço abandonado em uma empresa próspera, vemos desvelar-se, ao mesmo tempo, uma metonímia da reconstrução do país e uma metáfora da capital Luanda. Legitimado pela ação de nacionalização de bens praticada pelo governo pós-independência, o protagonista Samuel logra não só reconstruir a fazenda, senão também se transformar no grande provedor de bens escassos, contribuindo igualmente com a reconstrução da cidade da Caála. A imagem ambígua do personagem reflete a realidade do país no pós-independência, quando a transferência do poder das mãos dos colonos para a elite colonizada não significou a ruptura das estruturas de controle do capital e de dominação da população. Luanda representa a autonomia conquistada pelos revolucionários e o modelo de ordem e prosperidade em meio ao caos bélico, não obstante, sendo a instância legal primeira do país, atua também como uma ameaça à posse legítima da fazenda. O objetivo deste trabalho é analisar como se dá o processo de reconstrução do campo e da cidade no contexto bélico pós-independência, tendo em conta a tensão gerada entre esses dois espaços, e compreender como o autor logra construir, ao mesmo tempo, uma metonímia da reconstrução do país e uma metáfora da capital Luanda, no cenário ambientado no interior de Angola.

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Biografia do Autor

Ludmila Guimarães Maia, Universidade de São Paulo

Doutora e Mestre em Estudos Literários, ênfase em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Literatura Comparada. Pós-doutoranda na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, com o projeto O medo como impulsor no processo de reconstrução de identidades culturais nas narrativas de Angola e Moçambique, sob a supervisão da Profa. Dra. Rita Chaves. Tradutora e Professora autônoma de Português Língua Estrangeira, Cultura Brasileira e Portuguesa, Espanhol Língua Estrangeira e Cultura Espanhola. Tem experiência na área de Letras, Estudos Comparados de Literatura, Estudos Culturais, Identidade Cultural, Imaginário Coletivo.

Referências

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Publicado
21-12-2018
Como Citar
MAIA, L. G. Cidade e cidadela: a nação reimaginada em Janela de Sónia de Manuel Rui. Scripta, v. 22, n. 46, p. 115-126, 21 dez. 2018.