A língua não-padrão em traduções literárias brasileiras: nova tendência ou legado histórico?
Resumo
Há no Brasil uma tendência a elevar o registro do discurso direto em traduções literárias ao introduzir elementos linguísticos da norma culta pouco comuns na oralidade. Por outro lado, análises de traduções recentes do inglês para o português brasileiro, particularmente daquelas publicadas pós- anos 2000, demonstraram tentativas de tradução de variações linguísticas do discurso direto como alguma forma de (pseudo) variação linguística do português brasileiro. Nesse contexto questiona-se: as tentativas de utilização de variação no texto-alvo na tradução da variação do texto-fonte são realmente fenômeno recente na tradução literária? Ou seria possível encontrar elementos que apontam para uma resistência contra o uso homogeneizado da norma culta ao traduzir o discurso direto não-padrão já nas primeiras décadas do século XX? Achados indicam que a tentativa de dar voz às representações do discurso não-padrão em traduções literárias brasileiras utilizando português não-padrão é uma prática relativamente antiga, ainda que nunca tenha sido homogênea.
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