Literatura indígena entre tradição ancestral e crítica do presente: sobre a voz-práxis indígena em termos estético-literários
Resumo
Argumentaremos que a literatura de minorias de um modo geral e a literatura indígena em particular possibilitam a publicização da voz-práxis dessas mesmas minorias (em nosso caso, aqui, dos indígenas) desde uma perspectiva que intersecciona eu e comunidade-grupo e que se funda e se constitui por meio da tríade memória (enquanto comunidade e como vítima), autoafirmação (como minoria) e resistência político-cultural (contra a marginalização, a exclusão e a violência sofridas e vividas como minorias). No que se refere à literatura indígena brasileira, argumentaremos que ela se desenvolve nessa correlação de retomada e afirmação da tradição comunitária ancestral (o que liga de modo totalmente imbricado sujeito estético-literário e comunidade de cultura) e crítica do presente (a constituição de uma voz-práxis vinculada, carnal e política, relatada autobiográfica e mnemonicamente), possibilitando-se e impulsionando-se a publicização da própria condição e o ativismo estético-político do indígena frente às instituições e aos demais sujeitos epistemológico-políticos, rompendo-se com o silenciamento em torno à questão indígena estabelecido em termos de esfera pública. Assim, nosso argumento central consiste em que a literatura de minorias e a literatura indígena se constituem diretamente como ativismo estético-literário por meio seja da utilização da – e em termos da própria vinculação à – tradição comunitária (o eu-nós lírico, político, cultural), seja da voz-práxis de denúncia e de desvelamento da condição de exclusão, de marginalização e de violência vividas – essa é, defendemos, uma condição fundamental para se analisar o sentido da autoria e da expressão estético-literária das minorias em geral e das produções indígenas em particular.
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