O que os pobres fazem para sobreviver. (Im)Polidez e classismo no Twitter brasileiro

  • Ana Larissa Adorno Marciotto Oliveira Universidade Federal de Minas Gerais
  • Marisa Mendonça Carneiro Universidade Federal de Minas Gerais
  • Gustavo Ximenes Cunha UFMG

Resumo

Pesquisas sobre (im)polidez (CULPEPER; HAUGH; KÁDÁR, 2017) substituíram amplamente o termo ‘cultura’ pelo conceito de ‘comunidade de prática’, ou pelo termo guarda-chuva ‘práticas interacionais’ (MILLS, 2015, p. 30; MILLS; KÁDÁR, 2011). Sob essa ótica, este estudo tem como objetivo examinar as hashtags relacionadas ao tema #O que os pobres fazem para sobreviver, que incluem #coisasquepobrefaz e três outras variantes, # #pobrezaéissoaí, #pobreza e #pobre. Para isso, foram coletados dados de postagens do Twitter, publicadas em português do Brasil, e listadas entre os trending topics em 2017 e em 2019. Depois de coletar as postagens e as hashtags que as acompanhavam, foi realizada uma análise qualitativa do corpus, com o objetivo de descrever e de categorizar as estratégias de impolidez observadas. Nessa fase da pesquisa, mais de 400 tweets contendo hashtags foram analisados. Os resultados mostraram que hashtags tinham como objetivo principal a troca de mensagens humorísticas, associadas à divisão de classes no Brasil. Ao mesmo tempo, nossos dados demonstraram que as hashtags também sinalizavam um comportamento verbal recorrente, compartilhado por uma comunidade de prática, reunida sob uma tag (BRUNS; BURGESS, 2011; STARBIRD; PALEN, 2011). Além disso, as hashtags tinham um propósito duplo: enquanto empregavam impolidez e sarcasmo para reforçar normas sociais válidas, também promoviam um debate jocoso sobre classismo e ideologia no Brasil.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ana Larissa Adorno Marciotto Oliveira , Universidade Federal de Minas Gerais

Professora da Faculdade de Letras da UFMG e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (POSLIN/UFMG). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (nível 2). 

Marisa Mendonça Carneiro, Universidade Federal de Minas Gerais

Professora da Faculdade de Letras da UFMG e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (POSLIN/UFMG).

Gustavo Ximenes Cunha, UFMG

Professor da Faculdade de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da UFMG.

Referências

BLITVICH, P. G. C. Globalization, transnational identities, and conflict talk: the super-diversity and complexity of the Latino identity. Journal of Pragmatics, Amsterdam, v. 134, p. 120-133, 2018.

BOURDIEU, P. La distinction: critique sociale du jugement. Paris: Les Éditions de Minuit, 1979.

BOUSFIELD, D. Impoliteness in interaction. Amsterdam: John Benjamins Publishing, 2008.

BROWN, P.; LEVINSON, S. Politeness: some universals in language use. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.

BRUNS, A.; BURGESS, J. E. The use of Twitter hashtags in the formation of ad hoc publics. In: 6TH EUROPEAN CONSORTIUM FOR POLITICAL RESEARCH (ECPR) GENERAL CONFERENCE 2011. Proceedings [...]. New York, 2011, p. 89-104.

CRYSTAL, D. Internet Linguistics. A Student Guide. New York: Routledge, 2011.

CULPEPER, J. Impoliteness and entertainment in the television quiz show: The Weakest Link. Journal of Politeness Research, Berlin, v. 1, n. 1, p. 35-72, 2005.

CULPEPER, J. Politeness and impoliteness. Pragmatics of society, Berlin, v. 5, p. 393-467, 2011.

CULPEPER, J. Towards an anatomy of impoliteness. Journal of pragmatics, Amsterdam, v. 25, n. 3, p. 349-367, 1996

CULPEPER, J.; HARDAKER, C. Impoliteness. In: CULPEPER, J.; KÁDÁR, D. (eds.). The Palgrave Handbook of Linguistic (Im) politeness. London: Palgrave Macmillan, 2017. p. 199-225.

CULPEPER, J.; HAUGH, M.; KÁDÁR, D. Z. (org.). The Palgrave handbook of linguistic (im) politeness. London: Palgrave Macmillan, 2017.

CUNHA, G. X.; TOMAZI, M. M. O uso agressivo da linguagem em uma audiência: uma abordagem discursiva e interacionista para o estudo da im/polidez. Calidoscópio, São Leopoldo, v. 17, n. 2, p. 297-319, 2019.

EAGLETON, T. Ideology. New York: Routledge, 2014.

FREYRE, G. Casa-grande & senzala. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1973.

GOFFMAN, E. La mise en scène de la vie quotidienne: les relations en public. v. 2. Paris: Les éditions de minuit, 1973.

GOFFMAN, E. Symbols of class status. The British Journal of Sociology, London, v. 2, n. 4, p. 294-304, 1951.

GRAINGER, K. “We’re not in a club now”: a neo-Brown and Levinson approach to analyzing courtroom data. Journal of Politeness Research, Berlin, v. 14, n. 1, p. 19-38, 2018.

HAUGH, M. Impoliteness and taking offence in initial interactions. Journal of Pragmatics, Amsterdam, v. 86, p. 36-42, 2015.

KÁDÁR, D. Z.; HAUGH, M. Understanding politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.

KÁDÁR, D. Z.; MILLS, S. (org.). Politeness in East Asia. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.

KIENPOINTNER, M.; STOPFNER, M. Ideology and (Im)politeness. In: CULPEPER, J.; KÁDÁR, D. (org.). The Palgrave Handbook of Linguistic (Im)politeness. London: Palgrave Macmillan, 2017. p. 61-87.

LABOV, W. Language in the inner city: Studies in the black English vernacular. Oxford: Blackwell, 1972.

LABOV, W. The study of language in its social context. Advances in the Sociology of Language, Berlin, v. 1, p. 152-216, 1971.

LAYTON, M.; SMITH, E. Is it race, class, or gender? the sources of perceived discrimination in Brazil. Latin American Politics and Society, Cambridge, v. 59, n. 1, p. 52-73, 2017.

LEECH, G. The pragmatics of politeness. Oxford: Oxford University Press, 2014.

LOVELL, P. Race, Gender, and Work in São Paulo, Brazil, 1960–2000. Latin American Research Review, Pittsburgh, v. 41, n. 3, p. 63–87, 2006

MILLS, S. Gender and Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

MILLS, S. Language, culture and politeness. SHARIFIAN, F. (org.). The Routledge handbook of language and culture. Abingdon: Routledge, 2015. p. 129-140.

MILLS, S.; KÁDÁR, D. Z. (org.). Politeness in East Asia. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.

OLIVEIRA, A. L. A. M.; CARNEIRO, M. M. # CAGUEI: agressividade no twitter. Revista (Con) textos Linguísticos, Vitória, v. 12, n. 22, p. 7-20, 2018.

OSTERMANN, A. C. Comunidades de prática: gênero, trabalho e face. In: HEBERLE, V. M.; OSTERMANN, A. C.;

FIGUEIREDO, D. C. (org.) Linguagem e gênero no trabalho, na mídia e em outros contextos. Florianópolis: Editora da UFSC, 2006. p. 15-47.

SILVA, G. M. Folk Conceptualizations of Racism and Antiracism in Brazil and South Africa. Ethnic and Racial Studies, Abington, v. 35, n. 3, p. 506–522, 2012.

SOTO, L. M.; ARANCIBIA, M. C. Descortesía ideológica y construcción de imagen social em uma entrevista polémica. Cadernos de Linguagem e Sociedade, Brasília, v. 18, n. 3, p. 6-32, 2017.

SCOTT, K. The pragmatics of hashtags: Inference and conversational style on Twitter. Journal of Pragmatics, Amsterdam, v. 81, p. 8-20, 2015.

STARBIRD, K.; PALEN, L. Voluntweeters: Self-organizing by digital volunteers in times of crisis. In: PROCEEDINGS OF THE SIGCHI CONFERENCE ON HUMAN FACTORS IN COMPUTING SYSTEMS. 2011. Proceedings [...]. London, 2011. p. 1071-1080.

TELLES, E.; BAILEY, S. Understanding Latin American Beliefs About Racial Inequality. American Journal of Sociology, Chicago, v. 118, n. 6, p. 1559-1595, 2013.

YANG, L. et al. We know what@ you# tag: does the dual role affect hashtag adoption? In: 21ST INTERNATIONAL CONFERENCE ON WORLD WIDE WEB. Proceedings [...]. London, 2012. p. 261-270.

Publicado
29-06-2021
Como Citar
OLIVEIRA , A. L. A. M.; CARNEIRO, M. M.; CUNHA, G. X. O que os pobres fazem para sobreviver. (Im)Polidez e classismo no Twitter brasileiro. Scripta, v. 25, n. 53, p. 562-585, 29 jun. 2021.